Por dentro do barracão: Salgueiro investe no vermelho e terá uma atração de circo em cada carro

18/02/2020 às 23h40 - Por João Carlos Martins

Detalhes do barracão do Salgueiro para 2020. Foto: SRzd

Respeitável público, o circo do Salgueiro vai passar pela Avenida Marquês de Sapucaí na próxima segunda-feira (24). Para homenagear o primeiro palhaço negro do Brasil, Benjamim de Oliveira, a agremiação do Andaraí transformará cada alegoria em uma atração de circo. Tem animais, trapezistas, músicos e, claro, palhaços. A escola também vai usar e abusar do vermelho e branco. Por sorte, são as cores que predominam no circo. A aposta é certeira: falar de alegria para sorrir na quarta-feira (26).

Por dentro do barracão, uma estética diferente do que o Salgueiro trouxe nos últimos anos. Nada de retratar o negro com sofrimento e cores sombrias. Benjamim foi representado com muito vermelho e branco e tons coloridos. A plástica é aquilo que a gente imagina de um circo: lonas, carrosséis, trapézios, animais, luzes, malabares. Todo o universo encantador do local foi transportado para o barracão do Salgueiro, que se destaca pelo bom gosto e criatividade.

Detalhes do barracão do Salgueiro para 2020. Foto: SRzd

SORRINDO E RESISTINDO

A poucos dias do desfile oficial, o carnavalesco do Salgueiro, Alex de Souza, recebeu o SRzd em um barracão praticamente pronto. Detalhes separam a agremiação do trabalho concluído – e que belo trabalho. Alex não é muito de sorrir, mas está nitidamente feliz com o resultado desse Carnaval. Ele confessou ter se apaixonado pela história de Benjamim de Oliveira. Dá pra notar que o carnavalesco conseguiu expressar esse sentimento em cada alegoria e fantasia da vermelha e branca.

“Acho que o importante da nossa apresentação é levar alegria, ser algo alto astral, conseguir agradar às crianças, aos adultos, trazer a memória afetiva do circo e do palhaço. Temos o lado sério, da representatividade negra, mas não retratamos isso de uma maneira triste e oportunista. O Benjamim passou por todas as dificuldades com sorriso no rosto e é um exemplo para qualquer pessoa, independente da cor”, disse Alex.

Para o carnavalesco, “a classe artística negra que tanto reclama de protagonismo” se sentirá representada quando o Salgueiro passar. A intenção, contudo, é uma exaltação diferente do que as agremiações costumam fazer na Sapucaí quando uma temática negra é levantada. No desfile do Salgueiro, a história de vida do palhaço é misturada com as atrações de um circo. A ideia é convidar todo mundo para assistir e ter vontade de participar daquele espetáculo.

“É um enredo que aborda a representatividade negra nas artes cênicas, mas o Benjamim é uma figura que se descola do universo negro que é retratado nas escolas de samba: escravidão, África, orixás. Eu tenho um artista completíssimo. Ele foi cantor, ator, diretor, músico, palhaço. Claro que ele teve uma história de vida difícil. Mas ele viveu e sobreviveu a isso tudo e se tornou a figura principal dos circos por onde ele passou.”

FIQUE DE OLHO
ABRE-ALAS E ÚLTIMO CARRO

A conclusão que se pode tirar do barracão do Salgueiro é que é um trabalho muito bonito, leve, lúdico e criativo. Quem assistiu ao belo desfile da União da Ilha de 2014, assinado por Alex de Souza, vai perceber um pouco do resgate estético que o carnavalesco fez. A plástica da vermelha e branca quer transportar o ‘respeitável público’ a um próprio circo salgueirense.

“Cada carro é como se fosse uma carroça de circo. A Sapucaí vai virar uma cidade que está recebendo um circo. As pessoas vão vendo nas carroças as atrações. E em cada ala virão os artistas mandando beijo para o público”, explicou Alex de Souza.

O abre-alas é acoplado e promete ser um dos destaques do desfile. Ele traz esculturas de vários animais e dois elefantes gigantes. Predominam o vermelho, o branco e o dourado. O último carro também reserva impacto, com um grande palhaço que homenageará Benjamim de Oliveira. Na alegoria, também virão artistas negros para saudar o personagem do enredo.

Com uma plástica caprichada e bem abacada, Alex contou que precisou reaproveitar e reciclar materiais de outros carnavais para superar a crise econômica. “Posso dizer que tivemos muita sustentabilidade aqui no Salgueiro”, afirmou. Apesar disso, ele conseguiu dar um tom sofisticado na estética da escola, principalmente nas fantasias: “As roupas são leves e muito bem vestidas. Tem um toque de circo antigo, mas atualizado para hoje em dia”.

Com o homenageado tendo nascido em 1870, o circo retrô foi a inspiração do carnavalesco para criar o projeto da escola, que desfilará com suas cores predominantes. “Temos muita coisa em cima de cartazes de época, fotos, imagens de circos antigos, americanos, ingleses, franceses e também brasileiros. E o vermelho e branco também é muito presente nesse circo. Eu já acho lindas as cores do Salgueiro, mas tive que inserir outras para contrastar.”

O DESFILE

Primeiro setor: “A gente introduz a figura dele entrando no circo, o que chamamos de circo zoológico, dos números de animais, coisa que não existe hoje em dia. A gente abre com isso, porque Benjamim de Oliveira também foi tratador de animais”.

Segundo setor: “Depois temos a atração dos espetáculos aéreos: trapézios, malabares, contorcionismo, porque ele também viveu isso”.

Terceiro setor: “Falamos de quando ele fugiu do circo e se meteu com uma trupe de ciganos, que tinham uma companhia de circo. Fora que os ciganos também tinham as tendas nas portas do circo para verem a sorte das pessoas”.

Quarto setor: “Falamos da parte musical. Benjamim também era músico, cantor, compositor. Revelamos esse lado dele”.

Quinto setor: “Temos o circo teatro, com os personagens que ele criou e interpretou”.

Sexto setor: “Encerramos com o palhaço, trazendo essa coisa alegre e de alto astral, com uma grande homenagem à classe artística negra”.

FICHA TÉCNICA

Enredo: O Rei Negro do Picadeiro
Carnavalesco: Alex de Souza
Posição: 3ª a desfilar na segunda-feira de Grupo Especial, 24 de fevereiro
Alegorias: 5
Tripés: 2
Alas: 30
Componentes: 3500