Por dentro do barracão: Império da Tijuca dribla crise e mantém plástica grandiosa e de fácil leitura

Detalhes do barracão do Império da Tijuca. Foto: SRzd

Como todo ano tem crise financeira na Série A, algumas escolas já se acostumaram com a situação e lidam com ela de uma forma mais amigável. É o caso do Império da Tijuca. Em mais uma temporada de falta de verbas, o carnavalesco Jorge Caribé, em parceria com a diretoria da agremiação, tirou o problema de letra e conseguiu manter todo o projeto que planejou para a escola desfilar com o enredo “Império do Café, o Vale da Esperança”.

Por dentro do barracão, alegorias grandiosas, como o abre-alas, chamam atenção. A mescla de materiais de temática africana, marca do carnavalesco, com o colorido do carro de número três torna a plástica diferenciada e de fácil leitura, como bem defendeu Caribé ao SRzd durante a visita da reportagem ao galpão da escola.

Detalhes do barracão do Império da Tijuca. Foto: SRzd

“É um enredo didático, histórico e de fácil leitura visual. A maior dificuldade continuou sendo a demora pela assinatura do contrato com a prefeitura e a falta de verba. Mas a escola começou o trabalho cedo, em maio. E tínhamos muita coisa guardada no almoxarifado. Fomos reciclando tudo até onde deu. Tanto que estou deixando o almoxarifado vazio. Coitado do ano que vem”, riu o carnavalesco, que deixou claro que não houve patrocínio por parte do Vale do Café, e sim ajuda em algumas partes do desfile.

“Veio um tipo de colaboração do Vale do Café, mas não patrocínio. Alguém de lá pegou uma ala, ajudou em alguma escultura. E nisso eu levantei a mão pro céu, porque nessa situação, qualquer apoio é válido.”

Em um enredo que traz, ao mesmo tempo, negritude e africanidade, requinte e luxo dos barões, e colorido do folclore, Caribé optou por deixar tudo o mais claro possível e confia na leitura das alegorias e fantasias para garantir a nota máxima.

“É tudo bem simples, porque você vai ver negro vestido de negro, mucama vestida de mucama, barão vestido de barão. Pode não ter os veludos mais lindos e as plumas mais belas, mas quem olhar, tanto jurado quanto público, vai compreender o que é”, comentou.

Ele também ressaltou, mais uma vez, a importância de valorizar a temática africana no desfile de escola de samba. Em 2018, também no Império da Tijuca, Caribé falou sobre o orixá Omolu. “Eu rezo e agradeço todo dia por poder fazer enredo com temática africana. Então, podem esperar muita palha, muitos búzios, muita latinha, tudo que vocês já conhecem de mim de outros carnavais”, afirmou.

Detalhes do barracão do Império da Tijuca. Foto: SRzd

Projeto 100% e carros grandiosos

A tamanho das alegorias no barracão do Império da Tijuca impressiona. O abre-alas deve bater 50 metros de comprimento. Em meio à crise, a escola conseguiu manter a plástica grandiosa pela estrutura que restou de 2014, quando estava no Grupo Especial.

“A agremiação já tem carros motorizados e com estrutura de elite. Tem muitos encaixes, que facilitam pra gente aumentar e crescer. São carros grandiosos. A escola gosta disso. Tem escola que o presidente manda a gente tirar, aqui ele manda aumentar”, justificou Jorge Caribé.

O carnavalesco resumiu o trabalho plástico para o Carnaval 2019 em “maravilhoso” e contou a estratégia adotada para não cortar o projeto e levar 100% da ideia original para a Avenida no sábado de Série A, quando será a quinta escola a desfilar.

“Nada foi cortado ou substituído. Primeiro, nós fomos as compras. Depois, montamos o projeto. Nós temos um carro com quatro cavalos e ele era com quatro cavalos desde o início. Não precisamos cortar por falta de dinheiro.”

Bastante adiantada e prestes a encerrar os trabalhos no local, o Império da Tijuca guardas surpresas para o encerramento do desfile. A expectativa da escola é pelo título. “Nosso último carro é a estação ferroviária e vai trazer cheirinho de café pra Avenida. Nessa alegoria vem a mãe do Cazuza, porque ele estudou na Universidade de Vassouras”, contou Caribé.

Detalhes do barracão do Império da Tijuca. Foto: SRzd

Conheça o desfile

1º setor

“A abertura da gente é a parte que eu mais gosto, que fala da chegada dos 300 mil negros africanos para o plantio do café. Nossa abertura é uma África pequena dentro do Vale do Café. Um carro abre-alas com dois chassis, que fala do sangue do negro e do suor sesse trabalho. Ele que fez germinar essa planta tão importante para o Brasil.”

2º setor

“Entramos na parte dos barões do café, do requinte da Corte, quando eles aprendem a consumir o café em doces, no café da manhã, da tarde. Temos a alegoria que é a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, que é a padroeira. Temos duas coincidência na abertura: no início, trazemos a fazenda de café, e o Morro da Formiga era uma fazenda de café, tanto que temos o café na bandeira do Império da Tijuca. Depois, temos Nossa Senhora da Conceição, que é a padroeira da escola, fundada em 8 de dezembro.”

Detalhes do barracão do Império da Tijuca. Foto: SRzd

3º setor

“É o setor do folclore, que mistura a crença do negro com a crença do branco. Temos os cortejos, as romarias, a Festa do Divino, a Folia de Reis. Toda essa parte folclórica e colorida que existem no Vale e no Morro da Formiga. Uma outra coincidência.”

4º setor

“Fechamos com o legado que o café deixou para o Vale. Hoje, eles vivem do turismo, da história. Os casarões viraram casas de visitação. Hoje, o Vale tem indústrias automobilísticas, universidades, escola de cervejaria, criação de cavalo Mangalarga. São muitas coisas que o café deixou. São atrativos que fazem as pessoas irem pra lá e conhecer a região.”

Detalhes do barracão do Império da Tijuca. Foto: SRzd

Confira a série ‘Por dentro do barracão’

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