Por dentro do barracão: Ilha prepara desfile artesanal, autêntico e com abre-alas grandioso

Uma das esculturas que irão compor alegoria da União da Ilha para o Carnaval 2019. Foto: SRzd

Para falar do Ceará sem cair no lugar comum, já que o tema passou tantas vezes pela Avenida, a União da Ilha foi buscar no próprio estado a matéria-prima do seu Carnaval. Afinal, ninguém melhor que o cearense para retratar sua terra. Por dentro do barracão da escola, há muito artesanato do Ceará, que confere autenticidade ao projeto. Um abre-alas grandioso também impressiona. Tudo isso para dar vida ao enredo “A peleja poética entre Rachel e Alencar no avarandado do céu”.

Artesanato pra dar e vender

O SRzd passeou pela fábrica de alegorias e fantasias da escola na Cidade do Samba com o carnavalesco Severo Luzardo, que, em entrevista exclusiva, revelou alguns dos segredos do projeto de 2019. Ele definiu o serviço no barracão em “artesanato”. O curioso é que grande parte do trabalho manual foi realizado pelos moradores do Ceará. Depois de pronto, o material foi enviado ao Rio para abrilhantar o desfile da agremiação.

“Tem um carro que tem redes e mantas. Elas foram feitas e tingidas pelas mãos deles, em teares manuais. As varandas, que são o Macramé, é algo dificílimo e demorado de fazer. Foram 300 metros. Mobilizou uma cidade inteira chamada Jaguaruana. Os bordados de filé movimentaram uma cidade chamada Jaguaribe. Todo mundo de lá bordou para o material poder chegar até aqui. Eles queriam ver a coisa deles no desfile”, contou Severo, ao se referir sobre o carro de número 2: “A arte que faz história”, o mais artesanal da escola.

A parceria entre Ceará e Ilha deu certo e tem reflexos no barracão. A escola ganhou 15 mil peças de artesanato do estado para serem usadas na confecção das fantasias. O figurino da velha guarda está sendo produzido no estado nordestino, pelo renomado estilista Ivanildo Nunes. Outra ala que promete causar no desfile da tricolor é um grupo de 100 mulheres que desfilará de lingerie da marca cearense Nayane Rodrigues.

“Eu transitei muito no Ceará e fui fazendo negociações. Assim, eu consegui muitos materiais, tecidos e estampas. Uma estamparia de lá chamada Attualitá comprou o projeto e começou a criar a estampa comigo para os tecidos, que são a base de tudo. Depois foram chegando os adereços, as rendas, as palhas, as coisas artesanais”, explicou o carnavalesco, que graças ao apoio do estado aliado à criatividade necessária para a folia carioca conseguiu driblar a crise.

“Se eu fosse comprar esses materiais em uma feira aqui no Rio de produtos artesanais do Ceará, custariam dez vezes mais. Claro que tem uma crise financeira que toda hora travava o processo, e tínhamos que recorrer a um plano B, sobretudo pela falta dos materiais em quantidade. Então, os produtos vindos do Ceará ajudaram muito.”

Detalhes de alegoria de número 3 da escola. Foto: SRzd

Mas o bonito e caprichado trabalho artesanal, presente em grande parte das alegorias e fantasias da Ilha, não serviu apenas para conferir beleza à plástica da escola. Para Severo, o fato dos carros e figurinos terem mãos cearenses na produção tornou o projeto mais fiel e pode colaborar para nota 10 no quesito enredo.

“Desde o início a gente pensava: como fazer um Carnaval do nível de Rachel e Alencar? Porque eles escreveram maravilhosamente bem sobre suas terras e seus lugares. Como a gente conseguiria, em respeito a esses dois grandes escritores, chegar a esse nível de arte que eles colocaram nas suas obras? O caminho da autenticidade deixou tudo com mais verdade. Hoje, a gente se sente seguro em entrar com um Carnaval falado por eles, das obras deles, e feito pela gente deles.”

Abre-alas de 19 metros de altura e “tapete” nas cores da escola

Dizem que a primeira impressão é a que fica. E a Ilha tem levado isso ao pé da letra. A escola prepara uma abertura imponente para seu desfile na segunda-feira de Carnaval, quando será a quarta agremiação a se apresentar. O abre-alas da escola, O Dragão de Ipu e o Tesouro Holandês, atingirá impressionantes 50 metros de comprimentos e 19 de altura. A gigantesca escultura de um dragão, no topo da alegoria, promete superar o Rei Kitembo do abre-alas da escola de 2017, que chegou a 18 metros.

“Talvez esse carro seja o meu preferido. É uma lenda cearense. Conta que um holandês deixou um tesouro guardado aos pés do São Sebastião na Catedral de São Sebastião. E os dragões tomaram conta desse tesouro”, explicou Severo Luzardo.

O carro, em vermelho e dourado, também traz outra novidade vinda do Ceará: a carnaúba. Com o apoio do Memorial, o abre-alas da Ilha é todo revestido por palha. A produção envolveu cerca de 600 cearenses. “Todo esse trabalho desde a colheita da palha ao carro finalizado vai virar um documentário. Você envolver a população com o produto mais incrível que eles têm, que é a carnaúba, é algo incrível”, contou o carnavalesco.

Outra aposta de Severo é no encerramento do desfile. Ele contou ao SRzd que, nas viagens de avião que fez pelo estado, conseguiu observar um fato curioso que unia tradição à modernidade e decidiu retratar na alegoria “Fios da vida tecendo o futuro”: “Eu uso uma escultura de uma rendeira com uma criança do lado. Ela está no barro, mas todo o resto do carro é espacial. É a ligação com o futuro e as energias eólicas e solares. Você pode ter um futuro sustentável e preservar as tradições”, disse.

Apesar do enredo cultural e com apelo literário, a Ilha não perderá sua característica de ser leve, alegre e colorida. As fantasias, vistas de cima, formarão um “tapete” nas cores da escola. Um setor será vermelho, outro azul, e assim por diante. “Temos uma cartela de cores muito bem estudadas. O pessoal pode esperar originalidade”, concluiu o carnavalesco.

Conheça o desfile

Primeiro setor – Lendas
Abre-alas: O Dragão de Ipu e o Tesouro Holândes

Segundo setor – Sabores, comidas e artesanatos
Tripé: Feiras e Mercados
Alegoria 2: “A arte que faz história”

Terceiro setor – Festas populares
Alegoria 3: Procissão marítima de São Pedro

Quarto setor – Belezas naturais
Alegoria 4: Cariri

Quinto setor – Moda
Alegoria 5: “Fios da vida tecendo o futuro”

Alas: 29
Número de componentes: 3400

O colorido também toma conta do barracão da escola. Foto: SRzd

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