Perfil: Elaine Lima, Beija-Flor e Jesus Cristo! 25 de dezembro

Com uma vida difícil, família pobre, mas rica em amor e união, Elaine Lima, destaque performática da Beija-Flor, teve uma criação para lá de rigorosa: doutrina, educação e respeito foram quesitos e bandeiras defendidas por seu avô. Mesmo diante dos problemas financeiros, a moça teve oportunidades que não foram desperdiçadas: a dança, a música, o samba:

“Minha infância foi de dificuldades, porém, tive oportunidade de dançar Ballet, de ter aulas instrumentais de saxofone e conhecer o mundo do samba. Junto a meus primos tive uma criação muito rigorosa pelo meu avô materno, que foi delegado da Polícia Civil em Nilópolis e nos ensinou a respeitar as pessoas mais velhas, só levantar da mesa apenas quando o chefe da família levantasse, manter sempre a leitura, entre outras coisas que para ele eram primordiais na nossa educação”, contou.

Elaine Lima na ala mirim. Foto: Arquivo Pessoal
Elaine Lima na ala mirim. Foto: Arquivo Pessoal

Quis o destino que Elaine nascesse no Natal e por predestinação no dia de aniversário da escola do coração de toda a família: Beija-Flor de Nilópolis. Trinca de aniversariantes em 25/12: Jesus, Beija-Flor e Elaine Lima. Parabéns!

“Eu tive o privilégio de nascer no dia do nascimento do nosso senhor Jesus Cristo e também da minha tão amada escola de samba Beija-Flor de Nilópolis, que foi fundada em 25 de dezembro de 1948”, comemora.

Desfile em homenagem a Boni em 2014. Elaine representou a era digital. Foto: Arquivo Pessoal
Desfile em homenagem a Boni em 2014. Elaine representou a era digital. Foto: Arquivo Pessoal

Com uma família repleta de sambistas, onde a “Deusa da Passarela” era unanimidade, não havia fatores que pudessem impedir um laço entre a menina e a agremiação de Nilópolis:

“Minha história no Carnaval começou antes mesmo de eu nascer. Minha mãe, meu pai e meus primos já desfilavam na escola. O meu pai, Edson Lima, fazia parte da bateria e muitas vezes chegava em casa com a mão sangrando. Minha avó paterna, Lurdes, se queixava de tanta preocupação. Minha mãe, Jurema Lemos, era enfermeira, mas depois que eu nasci deixou o emprego para trabalhar em casa como costureira e manicure, pois tinha que tomar conta de mim. Ela, minhas primas e tias desfilavam como passista no Bloco Dos Cem, Bloco Águia de Ouro e na Beija-Flor. Isso antes de meu nascimento. Comecei a frequentar a escola com cinco anos de idade, levada por minha mãe que já não desfilava como passista e sim como diretora. Chegava com roupas  confeccionadas pela minha mãe, pois não tínhamos muitos recursos para comprar roupas, então me arrumava como uma boneca com saia pregueada branca e cabelos cacheados. Eu brincava com outras crianças da comunidade naquele barro vermelho e me sujava toda e ainda levava puxões de orelha da minha mãe”, relembra.

Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal

A vida porém nos reserva momentos duros, inesquecíveis, difíceis, mas que precisam ser superados:

“Próximo de completar sete anos de idade, meu pai veio a falecer num acidente de moto. Ele preparava minha festa de aniversário. Foi um momento de muita tristeza na nossa família”, lamenta.

Na Beija-Flor passou pela ala mirim, ala de comunidade, fez aulas de porta-bandeira, queria ser passista e foi composição de alegoria. Foi Milton Cunha então, carnavalesco da época, que designou o destino de Elaine Lima:

“O meu primeiro desfile foi em 1985 com o enredo: ‘A Lapa de Adão e Eva’. Não tenho nem fotos, pois naquela época era muito caro e somente pessoas de boas condições financeiras podiam adquirir tal lembrança. No ano seguinte, em 1986, com o enredo ‘O mundo é uma bola’, com os carros gigantescos que o saudoso Joãozinho Trinta nos proporcionou, todo espelhado, começou o temporal com muitos relâmpagos e a Marquês de Sapucaí enchia. A água chegou até os meus joelhos. Eu queria ir embora pois chorava muito e fiquei muito assustada. Daí em diante, até 1989, desfilei na ala mirim comandada pelo Aroldo. Em 1990, passei para alas da comunidade. Cheguei a fazer aulas de porta-bandeira, mas o que eu queria mesmo era ser passista. Tentei em 1995 e fiquei toda alegre por estar ali com pessoas queridas daquela época como Marcos Cigano, Iracy, Zoião, Renata, entres outros. O nosso carnavalesco da época, Milton Cunha, era muito festeiro, já chegava organizando brincadeiras e rodas de samba com os passistas da agremiação.

Ele me escolheu para vir em um dos carros no enredo ‘Bidu Saião e o Canto Lírico de Cristal’ e eu queria continuar a ser passista, mas ele achou melhor que viesse no lugar designado por ele. Desde então fui composição até 2003. No ano seguinte, com o enredo ‘Manôa Manaus’, passei a vir como destaque interpretando um personagem muito importante no enredo: a Yara.

O ano que mais marcou a minha trajetória foi o ano de 2007 com o enredo ‘Áfricas’ que eu vim no tabuleiro da Tia Ciata, representando o orixá Oxum. Foi uma surpresa tão grande vir com o rosto coberto que mal esperava tamanho sucesso nas mídias.”

Elaine Lima representando a Orixá Oxum. Foto: Arquivo Pessoal
Elaine Lima representando a Orixá Oxum. Foto: Arquivo Pessoal

Veja o que Elaine Lima representou como destaque performático entre 2008 à 2016:

*Destaque performático é uma representação de um personagem importante no enredo apresentado com características que o diferenciam dos destaques de luxo, como: jogo de luz, dança, mudança de parte do figurino, surpresas, interação com o público e efeitos especiais. Pode vir na alegoria ou no chão, à frente dela.

2008 – Equinócio Solar: Vim no obelisco do marco zero

2009 – Quem banha o corpo lava a alma: Fiz aulas de pole dance particular com a professora de dança Nair Babo para representar o banho  de gato.

2010 – Brasília: vim representando o formato da cidade de Brasília que é um avião.

2011 – Roberto Carlos: vim representando a rainha do mar no navio onde o cantor realiza seus shows.

2012 – São Luis: Vim representando a escravidão sendo chicoteada por seis homens.

2013 – Mangalarga Marchador: Fiz aulas de dança cigana para representar a fogueira no carro dos ciganos.

2014 – Boni: Vim representando a era digital como um robô do futuro.

2015 – Guiné Equatorial: Vim careca representando uma rainha africana que trazia junto à Corte as riquezas no navio puxado com cordas.

2016 – Marquês de Sapucaí: Fiz cinco ensaios por semana para desfilar com os olhos vendados para representar a deusa da Justiça.

E para 2017 espero surpreender com uma nova performance.

Ano de 2009 representando o Banho de Gato. Foto: Arquivo Pessoal
Ano de 2009 representando o Banho de Gato. Foto: Arquivo Pessoal
Ano de 2009 representando o Banho de Gato. Foto: Arquivo Pessoal
Ano de 2009 representando o Banho de Gato. Foto: Arquivo Pessoal

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