Morte de Luizinho Drumond: qual o futuro da Imperatriz?

Luizinho Drumond na apuração da Série A de 2020. Foto: Leandro Milton/SRzd

A região que reúne diversos bairros da Zona Norte do Rio de Janeiro, que num passado remoto abrigava um grande parque de indústrias, local constituído basicamente por uma população operária, território conhecido como Zona da Leopoldina, uma referência a linha férrea que tem o nome da imperatriz do Brasil no primeiro reinado, perdeu um personagem que tinha se transformado numa verdadeira lenda urbana da cidade.

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Essa região, hoje sem a força industrial de outrora e tomada por um gigantesco processo de favelização, viu nascer grande talentos do Brasil, especialmente no futebol e na música. Carlos Alberto Torres, o capitão da seleção de 70, e Romário, o baixinho da Copa de 94, são dessa região.

Na música, o fenômeno criativo da Leopoldina é ainda mais intenso, pois foi ao pé de uma tamarineira da Rua Uranos, em Ramos, que nasceu um gênero musical que tomou conta do país, o pagode.

Apesar de todo esse potencial de expoentes, o nome mais comentado nas ruas e esquinas da Zona da Leopoldina sempre foi o de Luizinho Drumond, o personagem que se foi. O jogo do bicho, ainda que ilegal, gerava na região atividade e distração para milhares de pessoas, corrupção e dinheiro sujo para uma outra parte, casos de violência e de ocupação de território que chocaram a cidade, e o fomento do samba.

Luizinho foi o grande incentivador de sambistas da Leopoldina. Ele transformou a Imperatriz numa potência do Carnaval carioca, proporcionando plataforma para diversos artistas de várias manifestações, não só musical, que a partir dali ganharam o Brasil e o mundo. Luizinho, junto com Anísio Abraão David e Castor de Andrade, mudou o eixo de dominação das escolas de samba da cidade. Antes deles, o Carnaval tinha a proeminência da Mangueira, Portela, Salgueiro e Império Serrano. Depois do surgimento dos três contraventores no cenário carioca, o protagonismo passou para Imperatriz, Beija-Flor e Mocidade. Foi graças a essa ação que o Carnaval carioca ganhou envergadura e alcance, rompendo as fronteiras de todo o planeta pelo tamanho do espetáculo em que a festa da Sapucaí se transformou. Foram anos de glória para o samba como um todo.

Na vida nada é eterno, nos últimos anos foi fácil perceber que essas três agremiações vinham perdendo força no Carnaval carioca. A Beija-Flor, em 2019, amargou um décimo primeiro lugar depois de ter ficado fora da noite das campeãs em duas oportunidades anteriormente recentes, fatos inéditos. A fragilização da saúde de Anísio vem pesando na escola ultimamente. Já a Mocidade viveu uma das crises administrativas mais severas da história das escolas de samba depois do desaparecimento de Castor de Andrade.

Na Imperatriz, a escola já não figurava como postulante a um título faz algum tempo. Na crise administrativa da Liesa do ano passado, Luizinho se viu isolado, a escola foi rebaixada para a Série A, e o vigoroso patrono chegou a anunciar o afastamento das atividades na agremiação. Os leopoldinenses se apavoraram com a possibilidade daquela ‘primeira morte’ da figura de Luizinho na vida da Imperatriz, e o temor não foi sem motivo. Havia uma certeza no ar que a Imperatriz não iria suportar aquela ausência tamanha fragilização do momento da verde e branco de Ramos.

Era preciso uma reconstrução e nos corações leopoldinenses havia a esperança de um ‘despertar’ daquele sentimento de superação do fiel patrono. Luizinho voltou e a escola reencontrou o brilho ao produzir um grande espetáculo em 2020 na reedição do enredo em homenagem a Lamartine Babo na Série A, voltando com grandes credenciais para o Grupo Especial. Parecia estar tudo indo muito bem, pois além do belo desfile, a escola viu as novas apostas de Luizinho funcionarem perfeitamente, como o novo diretor de Carnaval, Marcos Aurélio Fernandes, e a nova rainha de bateria, a cantora Iza.

Agora, o processo de reconstrução da Imperatriz foi interrompido pelo desaparecimento do patrono e todo aquele mar de incertezas do auge da crise de 2019 volta a ameaçar os corações leopoldinenses. Pela postura muito reservada por causa da atividade no jogo, Luizinho nunca deixou claro quem seria o seu sucessor natural.

Os filhos Luiz Antônio e Cátia Drumond sempre atuaram intensamente nos bastidores. Outra filha, Simone Drumond, também sempre foi muito presente na rotina da escola, porém de forma mais representativa do que efetiva. A única certeza que há no clã Drumond é que o filho que chegou a ser vereador do Rio de Janeiro, Marquinhos, não tem qualquer interesse na gestão da verde e branco.

Sem Luizinho, a família seria capaz de impulsionar a Imperatriz? Outras forças do quadro social poderiam assumir essa condução? São muitas questão no cenário, porém a grande pergunta que fica entre os leopoldinenses nesse momento de despedida do maior líder é: Qual o futuro da Imperatriz? O tempo dirá!










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