Morre Tia Maria do Jongo, fundadora do Império Serrano

Tia Maria do Jongo é a homenageada da Roda Cultural desta sexta-feira (31). Foto: Reprodução

O mundo do samba se despede neste sábado (18) de Tia Maria do Jongo, uma das baluartes da história do Carnaval brasileiro. Ela morreu no Rio de Janeiro, aos 98 anos, enquanto participava de uma atividade na Casa do Jongo, na Serrinha, local onde batalhou para manter de pé.

Irmã de Sebastião Molequinho e Tia Eulália, Tia Maria era a única fundadora viva do Império Serrano. Filha de escravos, ela recebeu o nome pelo qual é conhecida após ingressar no Jongo da Serrinha, em 1977, através de convite do Mestre Darcy. Tia Maria se tornou a principal referência do movimento.

Via rede social, a agremiação do coração da jongueira lamentou a morte de Tia Maria: “Perdemos nossa mãe! Silencia o tambor, o Jongo se despede da sua maior referência”, publicou o Império Serrano, de luto.

O jornalista Robson Aldir, ex-integrante da equipe de Carnaval e esportes do SRzd, lamentou a perda da baluarte: “Hoje o samba está vivendo um profundo luto. Nos deixou Tia Maria do Jongo, matriarca da Serrinha, do Império Serrano e de todos os imperianos. Descendente direta dos pretos libertos das fazendas do Vale do café do estado do Rio que migraram para a capital e ocuparam a encosta de Madureira. Ali eles mantiveram a tradição dos antepassados e praticam até hoje o jogo, a manifestação cultural que deu origem ao samba. Esta referência da sagrada arte negra partiu para a ancestralidade. Obrigado, Tia Maria do Jongo”.

Tia Maria do Jongo na Sapucaí pela verde e branca da Serrinha. Foto: Divulgação

Confira a nota da Casa do Jongo sobre a morte de Tia Maria:

A Assessoria de Imprensa da Casa do Jongo da Serrinha comunica a todos, com muita tristeza, a passagem da nossa matriarca, a rainha do Jongo, Tia Maria, para outro plano espiritual.

Na manhã deste sábado (18 de maio), na aula de Jongo para adultos, a jongueira, de 98 anos, sentiu-se mal e foi levada ao PAM de Irajá, onde não resistiu.

Maria de Lourdes Mendes deixa órfão o filho Ivo, 2 netos (as) e os 4 bisnetos (as), além de toda a comunidade jongueira da Serrinha.

Na última terça-feira (14/05), Tia Maria foi agraciada e ovacionada em pleno Copacabana Palace ao receber o Prêmio Sim à Igualdade Racial, na categoria Arte em Movimento, pilar Cultura, onde concorreu com o ator Fabrício Boliveira e o rapper Djonga. Na entrega do prêmio, Tia Maria subiu no palco e com aquela já tradicional simpatia e sorriso largo, agradeceu e convidou a todos a passarem uma tarde na Casa do Jongo. “Obrigada! O Jongo da Serrinha agradece e terá um grande prazer, se vocês um dia puderem passar uma tarde com a gente lá. O jongo é bom! Vocês vão gostar”, finalizou, bastante contente.

Tia Maria nasceu em 1920, dez anos depois de sua mãe ter migrado de Minas Gerais para o Rio e se estabelecido na Serrinha, na periferia do Rio, que na época era uma área rural. “A minha mãe já veio para o Rio dançando jongo, cantando jongo. Eu digo que já nasci jongueira.”

Além do Jongo, Tia Maria também foi uma das fundadoras da escola de samba Império Serrano. A verde e branco de Madureira nasceu no quintal da sua casa e a jongueira era a última fundadora viva do Império.

A causa da morte ainda não foi informada. Todas as questões de velório e sepultamento, informaremos posteriormente.

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