Leandro Vieira fala sobre Luizinho e relembra histórias do Carnaval da Imperatriz

Leandro Vieira. Foto: Divulgação

Carnavalesco da Imperatriz em 2020, Leandro Vieira usou as redes sociais para publicar texto de despedida de Luizinho Drumond, presidente da verde e branca. O artista relembrou histórias vividas com o dirigente durante a preparação do último Carnaval, onde a agremiação saiu vitoriosa da Série A e retornou ao Grupo Especial.

Confira o texto de Leandro:

O velho Drumond partiu. Com ele, uma página do carnaval das escolas de samba. Com ele, uma página das relações que os cariocas mais pobres estabeleceram com a “fezinha” diária na interpretação dos sonhos e com a adivinhação dos números. Para a cultura popular, Luizinho foi uma espécie de mecenas. Mecenas que gostava de vestir gente pra desfilar no carnaval. Mecenas de alegorias e adereços. Mecenas de paetês, espelhos e plumas.

Em 2020, o seu último carnaval, tive a oportunidade de conhecê-lo com um pouco mais de intimidade. O Luizinho era uma figura. Uma figura de oitenta anos que era a cara do carnaval “da antiga”. Foi com ele que aprendi, numa fala muito marcante, que o que valia era a palavra dita assumida como compromisso. Que não se podia rasgar a palavra que era dada como acordo, mas que era possível rasgar qualquer contrato que tratava de acordos. Coisa de gente da antiga, rara no Carnaval atual. Pra mim, que sempre gostei de conversa fiada, o coroa era um contador de histórias. E se não bastasse isso, Luizinho conjugava a história que contava com um humor cheio de fina ironia.

Gostava de falar de um tempo que passou. Das caríssimas fazendas – era assim que ele chamava o que a gente hoje chama de tecido – que ele comprava para que o Arlindo Rodrigues vestisse a Imperatriz Leopoldinense. Gostava de falar de samba, de compositores e das escolhas. Gostava do vozeirão de intérpretes que levavam o samba na avenida, usando aqui suas palavras, “sem ajuda e no gogó”. Quando mencionava a questão, gostava de falar no nome do Jorge Goulart, um cantor da rádio nacional que puxava samba na avenida.

Não é exagero afirmar que, com a sua partida, uma áurea mítica deixa também o carnaval carioca. Luizinho está para a Imperatriz como o Natal está para a Portela. Impossível dissociar a biografia do homem com a história do Grêmio. Juntos, são a “corda e a caçamba”.

Eu podia seguir falando muito mais dele. Do nosso carnaval junto. De como foi proveitoso. Mas enquanto escrevo, só me vem na memória a sua família. Aliás, isso é curioso: eu nunca vi o Luizinho sem que ele estivesse com alguém de sua família. Tenho certeza que para eles a dor deve estar sendo imensa exatamente porque eles sempre estavam juntos. Nesses casos, a ausência é uma dor sentida. Por certo, hoje é um dia triste. Eles perderam um pai, um marido, um avô, um bisavô. Nessas dores de família, todos nós, sem excessão, somos iguais. De carne, osso, sentimento e nada mais.

Agradeci em vida o tanto que devia a ele. Oportunidades, conselhos; e, sim, generosidade gratuita. Para os seus, a família que carrega seu sobrenome, eu queria deixar apenas o meu abraço. Um abraço carinhoso e apertado.










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