Leandro Vieira divulga fantasias da Mangueira e promete contorno heróico aos populares

Figurino da Mangueira para o Carnaval 2019. Foto: Divulgação

No enredo criado por Leandro Vieira, carnavalesco da Mangueira, o senso crítico tem dado o norte da proposta estética que aos poucos o artista tem revelado através de suas redes sociais. Leandro e a verde-e-rosa vivem uma sintonia mútua de cumplicidade: o carnavalesco parece ter sido moldado para conceber para o espírito daquela comunidade, e a comunidade parece ter nascido para personificar aquilo que o carnavalesco cria. Não à toa, o artista e a comunidade vivem uma lua de mel que já dura quatro anos.

Através das redes pessoais Leandro tem incentivado a comunidade a vestir-se com a gana e a força dos heróis que ele pretende revelar ao grande público. Nos últimos dias, o artista tem exaltado a luta indígena e quilombola, revelando parte do projeto de figurinos que ele quase sempre guarda em segredo, para que a comunidade verde e rosa tome conhecimento daquilo que ele produz no barracão.

As imagens – sempre acompanhadas de textos explicativos – de um modo geral fazem com que os seguidores e a comunidade se questionem sobre o conhecimento dos nomes dos heróis e das lutas que de alguma forma não foram difundidas no imaginário coletivo. Para o artista, trata-se de uma oportunidade para difundir nomes exemplares num meio onde a representatividade é fundamental.

Quero que eles personifiquem heróis de lutas nem tão distantes assim

“Não quero que a comunidade vista apenas uma fantasia. Quero que eles personifiquem heróis de lutas nem tão distantes assim, tampouco, encerradas. Que ao findar o Carnaval fique parte da fantasia que vestiram. Que ao tirar a fantasia, fique, como uma purpurina difícil de soltar da pele, a memória de Esperança García, Cunhambebe, Maria Felipa, Aqualtune, Sepé Tiaraju e tantos outros mais”, disse Leandro.

“Você já ouviu falar nos nomes de Zeferina, Esperança García ou Adelina Charuteira? Conhece a história de Aqualtune ou a luta de Acotirene? Pois bem, elas foram mulheres negras que protagonizaram lutas quilombolas organizando a resistência feminina no Brasil escravagista. Suas lutas e seus nomes ainda são uma página a ser escrita. Elas fazem parte de “um país que não tá no retrato” como tão bem define o samba da Estação Primeira para o carnaval de 2019. Serão muitas “Acotirenes”. Muitas “Zeferinas”. Muitas “Adelinas”. Serão também, ‘Marias, Mahins, Marielles, Malês'”, escreveu o carnavalesco no Facebook.

Fantasia da Mangueira para o Carnaval 2019. Foto: Divulgação

“Você já ouviu falar nos nomes de Cunhambebe ou Sepé Tiaraju? Conhece a “Guerra de Açu” ou a “Confederação dos índios Cariris”? Sabe das gotas de sangue derramadas por cada centímetro de terra indígena não demarcada? Sabe os nomes das etnias exterminadas em batalhas que resultaram em lutas inglórias? Tanto sangue de índio derramado e a gente não sabe quem eles são. Suas dores, seus nomes, sua arte, sua resistência secular. São mortos “nossos.” Legiões de homens comuns. Heróis que os nomes não foram para os livros e a memória não se perpetuou. Guerreiros que não experimentaram a “indolência.” Os “primeiros” a portarem aquilo que “resiste” em cada um de nós”, publicou Leandro Vieira.

A ideia é dar contorno estético épico e heróico aos nomes de populares

Em conversa com o SRzd, o carnavalesco explicou a proposta estética em relação às fantasias da agremiação para o próximo desfile, quando a Mangueira será a sexta a se apresentar na segunda-feira de Carnaval: “A ideia é dar contorno estético épico e heróico aos nomes de populares que não encontraram abrigo nas páginas dos livros. Por um outro lado, quando a abordagem é direcionada aos ditos “heróis consagrados” no imaginário coletivo, o contorno plástico é jocoso. Uma caricatura quase anedótica que expõe ao riso um “poder” inventado”.

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