Laíla analisa futuro do Carnaval e dispara: ‘Tô perto de parar’

Laíla. Foto: SRzd – Fausto D’Império

Se ninguém imaginava Laíla fora da Beija-Flor, que dirá do Carnaval. Há mais de 60 anos fazendo parte da festa, Luiz Fernando Ribeiro do Carmo é figura indissociável da folia carioca. Perto de completar 77 anos, o experiente sambista e atual diretor de Carnaval da Ilha vê com receio o futuro do ‘Maior Espetáculo da Terra’ e acredita que em breve chegará a hora de se despedir.

+ Laíla prepara ‘Carnaval de coragem’ na Ilha: ‘A escola precisava mudar e agora vai disputar o título’

+ Laíla reclama de críticas ao samba da Ilha e lembra episódio com Boni: ‘Eu não apanho calado’

“Tô perto de parar. Com essa idade que estou, sei que não posso ir muito longe. Ainda não parei porque ,dentro desses anos todos de Carnaval, eu não tenho sustento pra me bancar sem esse trabalho. Não joguei dinheiro fora, mas também não ganhei muito”, afirmou Laíla.

Vencedor nato, o diretor coleciona títulos e desfiles memoráveis pelas escolas que passou. No Salgueiro, iniciou uma parceria de sucesso com o carnavalesco Joãozinho Trinta, nas décadas de 60/70, que rendeu vários campeonatos para a vermelha e branca. A partir de 1976, se transferiu com o carnavalesco para Beija-Flor, onde construiu uma das mais belas trajetórias do Carnaval. Dos 14 títulos da azul e branca, Laíla participou de 13.

Laíla. Foto: SRzd
Laíla saiu da Beija-Flor após 2018. Foto: SRzd

“Eu tenho quase 77 anos, mas tenho uma cabeça maravilhosa. Eu não sou o jovem atirado que não sabe e quer fazer, nem o velho que quer realizar o que tenha perdido da memória. Eu não estou morto. Enquanto estou vivo e fazendo o que eu faço, eu quero ganhar. Mas sempre respeitando os velhos mandatários do Carnaval, que foram massacrados por serem bicheiros, mas fizeram muito em benefício do samba”, disse.

Após divergências na Beija-Flor, Laíla deixou a agremiação depois do desfile de 2018. Fez parte da Unidos da Tijuca, em 2019, e agora comanda direção e comissão Carnaval na União da Ilha. Desde que chegou à tricolor, o diretor promoveu várias mudanças na maneira organizacional da escola e investiu em peso na melhora dos quesitos relacionados à comunidade, como harmonia e evolução.

“Sempre tive resistência pela minha maneira de trabalhar. Mas eu tenho caminhos para conduzir e tenho pulso forte. Modéstia à parte, eu saco muito mesmo. E disso isso porque eu me respeito. Sempre trabalhei na minha vida. Vê tudo que eu já fiz em benefício do Carnaval, das comunidades e do povo. Sambista eu nasci, e aprendi a fazer Carnaval”, desabafou Laíla.

‘O desfile de escola de samba vai sucumbir’

Laíla. Foto: Eduardo Hollanda
Laíla. Foto: Eduardo Hollanda

Passando por grave crise econômica e sem respaldo da prefeitura, as escolas de samba passam por maus bocados para terminar o Carnaval 2020. Para Laíla, o problema mais grave das agremiações está na forma como deixaram de valorizar a comunidade e os verdadeiros sambistas. O diretor fez um balanço das transformações da folia carioca usando o exemplo das alas comerciais e acredita que o rumo da festa precisa mudar pra já.

“Lá atrás, uma fantasia custava o preço da execução. Depois, passaram a vender fantasias e criaram as alas comerciais, se esquecendo dos sambistas. Nos bailes de luxo de antigamente, as pessoas descobriram que não valia a pena gastar lá podendo desfilar gastando menos no Carnaval. Aí tudo cresceu. Mas esqueceram que escola de samba precisa de sambista, de gente que gosta. Só que essas pessoas descobriram que viajar é mais barato que desfilar. Uma fantasia que era R$ 100, hoje é R$ 2, 3 mil. Fora o lado religioso, que arrebatou muita gente. Nós não formamos sambistas para suportar esse Carnaval de hoje. Lá atrás, brigaram comigo porque eu queria dar fantasia pra comunidade, mas Sr. Anísio apoiou e a Beija-Flor se tornou a potência que é hoje. O sambista hoje pensa muito em dar porrada no outro, por conta de vaidade. Se não mudar, desfile de escola de samba vai sucumbir.”







Comentários

 




    gl