Grande Rio 2020: De volta às origens, escola faz seu melhor desfile dos últimos anos e sonha com título inédito

Desfile Grande Rio 2020 Foto: Juliana Dias/SRzd

Por Beatriz Chaves e João Carlos Martins

Grande Rio Grande

Depois de 26 anos sem uma temática africana. A Grande Rio, trouxe o Quilombo Caxias para contar a história de um dos conterrâneos mais ilustres da cidade: Joãozinho da Gomeia. A plástica na estreia no Grupo Especial dos carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad também foi um dos fatores para o comentado desfile da escola. A tricolor enfrentou alguns problema de harmonia, mas nada tirou brilho da agremiação. A agremiação voltou a ser grande de fato e agora sonha com inédito campeonato na quarta-feira.

Fala, Rachel!

O carnaval apresentado pela Grande Rio foi de excelente nível. O público cantou com vontade o bom samba, bem interpretado por Evandro Malandro. Pena que falhas de evolução podem talvez atrapalhar a avaliação, mas sem dúvida foi o melhor desfile da escola nos últimos 20 anos.

Comissão de frente

Apresentação trouxe a essência do enredo. Chamada de ‘Ponto Riscado’, a coreografia de Helio e Beth Bejani, inicialmente com mães de santo e suas saias giratórias, e depois, transformando-as em índios, como um ritmo mestiço. O tripé tinha bastante água na base, o que possibilitou contato com o público que se molhava a cada módulo.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Taciana Couto e Daniel Werneck representaram o ‘Padê de Exu Libertador’,relacionado com um poema do escritor Abdias do Nascimento. A roupa trazia elementos das religiões afro-brasileiras, principalmente as cores da escola que são as mesmas cores do candomblé de caboclo de Joãozinho da Gomeia.

Segundo a comentarista do SRzd Eliane Souza, o casal se apresentou de forma harmoniosa:

“O casal da Grande Rio apresentou o bailado do mestre-sala e da porta-bandeira com acréscimo da dança afro-religiosa conforme o desenvolvimento do enredo. Daniel Werneck e Taciane Couto utilizaram os passos e gestual acrescido como pausa na execução do bailado no intervalo entre as cabines julgadoras de maneira harmoniosa.
A apresentação do pavilhão aos julgadores aconteceu de maneira espontânea e com muita alegria, deixando aparente a boa relação de parceria do casal.”

Alegorias e adereços

A dupla de carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora fizeram boa estreia no conjunto alegórico da Tricolor de Caxias. O visual era de entendimento fácil, ao  iniciar cada setor, rapidamente se inseria ao contexto de vida do homenageado.

De acordo com o comentarista do SRzd Wallace Safra, o conjunto era homogêneo:

“O conjunto de alegorias da Escola estavam homogêneos , singulares e fortes da sua construção.
Os Carnavalescos utilizaram em boa parte de suas esculturas a madeira em sua base fosca, possibilitando maior empatia com o enredo proposto. Bom resultado plástico, mas com alguns desencontros com os figurinos de chão da Escola. Destaque para a alegoria 2 “Xirê: foi na roça da Gomeia, aos pés de uma gameleira”

Fantasias

As fantasias eram bem volumosas, cores variadas e significados diversos. Referências da cultura indígenas e negra presentes no candomblé de caboclo. Oriundos da Série A do Carnaval Carioca com a Cubango, os carnavalescos mostram um vasto catálogo na fantasia da escola.

Para o comentarista do SRzd Wallace Safra, as fantasias foram regulares:

“Com o enredo Tatalondirá. O canto do caboclo no quilombo de Caxias” a agremiação contou a história de Joãozinho da Gomeia. Líder religioso, negro e homossexual, superou tudo e a agremiação mostrou tudo com coerência na avenida. A Escola apresentou um desenvolvimento regular de fantasias, desde a concepção, até o resultado plástico e finalizações. Apesar do aparente cuidado com acabamento em alguns setores viesse um descuido com acabamentos. O Carnavalesco usou o abusou do plástico, vimi e nas penas artificiais, além das penas de pato nos desenvolvimentos de costeiros, golas e cabeças.
As transições foram agradáveis aos olhos, a diversificação de materiais alternativos foi numa marca do desfile. Conjunto bom e coerente.

Enredo

Felicidade estampada no rosto de cada componente pelo retorno da Grande Rio as suas tradições afro. A escola homenageou Joãozinho da Gomeia com “Tatá Londirá – O Canto do Caboclo no Quilombo Caxias”. O tema foi muito bem desenvolvido e mostrou criatividade e originalidade, tanto no desenvolvimento, quando na apresentação da Sapucaí. A leitura se exibiu de forma clara e coesa. Vale destacar a mensagem de tolerância e respeito religioso que a agremiação passou com a temática na Avenida.

Samba-enredo

O samba de Derê, Robson Moratelli, Rafael Ribeiro e Toni Vietnã foi cantado na Avenida com maestria por Evandro Malandro, que mostrou estar cada vez mais inserido na escola pelo segundo ano consecutivo. A obra é uma das melhores – se não a melhor – do Carnaval e dificilmente perderá pontos na apuração. A composição impulsionoua apresentação e funcionou para arquibancadas e componentes.

Bateria

A Invocada do careca Mestre Fafá estava Ramsés II, fez um bom desfile seguido dos seus ritmistas também vestidos como faraó, traje usado por Joãozinho da Gomeia no baile do Theatro Municipal no ano de 1962. A recém- retornada Paolla Oliveira também deu o que falar como Cleópatra.

A bateria da Grande Rio fez um desfile muito seguro, mesmo tendo o som com muita instabilidade ao longo da pista. Algo precisa ser feito, pois esse erro do sistema do som é recorrente e pode acabar com o trabalho do ano inteiro. A bateria apresentou bossas musicais com muita firmeza em todos os módulos. O Incrível trabalho do Mestre Fafá foi ajudado com o ótimo samba e acertou em cheio no andamento. Já no seu segundo ano, a bateria sob o comando do Mestre, se consolida como uma das melhores do Rio.

Harmonia

A escola cantou e danço animadamente, era claro observar a identificação dos membros mais genuínos de Caxias. O samba permaneceu na medida inicial em comum com a bateria. Porém, um  ponto que pode atrapalhar a tricolor, foram os componentes convidados nas lateral, que em sua maioria, não respeitavam a execução dos principais quesitos na cabeça da escola.

Evolução

As alas estavam animadas e entrosadas. Destaque ficou para alas que começavam a partir do segundo setor. Mas a evolução pode ser um problema no caminho da Grande Rio. A agremiação abriu um buraco grande no início do desfile, e também, a falta de direção em uma das suas alegorias, esbarrando na grade de proteção, pode incomodar. Por conta disso, ela precisou acelerar o passo ao final do desfile,

Ficha técnica

Enredo: Tatalondirá. O Canto do Caboclo no Quilombo de Caxias
Presidente: Milton Abreu  do Nascimento (Perácio)
Carnavalesco:  Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Intérprete: Evandro Malandro
Mestre de Bateria: Fabrício Machado (Fafá)
Rainha de Bateria: Paolla Oliveira
Comissão de Frente: Hélio e Beth Bejani
Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Taciana Couto e Daniel Werneck

Nota da galera

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