Girl power! Beija-Flor aposta em diretora mulher no comando da Harmonia

Simone Sant’anna virou diretora em posto raramente ocupado por mulheres. Ela divide o comando de um time 60% feminino. Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação

Em Nilópolis, município da Baixada Fluminense em que a Beija-Flor cultiva suas raízes há sete décadas, 53% da população é composta por mulheres. O dado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) se reflete cada vez mais no quadro da escola de samba, que este ano aposta no poder feminino para reforçar a condução dos seus quesitos de Harmonia e Evolução. Desde maio do ano passado, a dirigente Simone Sant’anna assumiu, junto com Valber Frutuoso, a responsabilidade de ajudar a conduzir o canto e o cortejo da azul e branco. Juntos, eles comandam cerca de 80 pessoas — 60% delas mulheres — que ajudam a replicar orientações entre os desfilantes e, entre outras tarefas, a manter a organização entre as alas e a fluência da apresentação.

“Ser uma mulher na Harmonia é saber escutar e, ao mesmo tempo, fazer todos entenderem como deve funcionar o trabalho em equipe. Sempre com muito respeito. Carregamos a responsabilidade por dois quesitos e todos precisam saber que é muito trabalho. Muitas vezes vejo diretores achando que já sabem tudo, mas acredito que a cada desfile e ensaio aprendemos algo. No fim, somos como uma grande família e amigos”, explicou Simone, que figura nos quadros da escola desde 1994 e agora possui o cargo de Diretora Geral de Harmonia, posição rara para uma mulher no Grupo Especial hoje.

Para garantir que a comunidade nilopolitana siga ostentando o título de “rolo compressor” da Passarela do Samba, Simone, junto com Frutuoso, diz que não hesita em exigir respeitosamente e com firmeza o comprometimento dos componentes.

“Cobro muito a nossa comunidade: na presença, canto, evolução, alinhamento. Mas tudo com muito carinho e respeito por cada um deles. Graças a Deus temos uma comunidade aguerrida, que abraça tudo o que pedimos”, comemorou Simone.

Colega destaca respeito da comunidade por diretora

Frutuoso, que já figurava na Direção Geral de Harmonia antes de Simone, exalta a chegada da colega. Para o diretor, a comunidade e a equipe da Beija-Flor possuem um grande respeito pela “história que ela (Simone) conquistou dentro da escola”. A tendência, na visão dele, é que as mulheres cada vez mais dominem o mundo em cargos de comando, como já começou a acontecer na agremiação.

“A mulher tem determinadas percepções que fogem do olhar masculino. Sempre trabalhei em equipes com muitas mulheres, no samba ou em minha atuação profissional fora dele. É importante para as atividades que elas participem e contribuam ativamente. O Carnaval, em seu aspecto tradicional, ainda tem mais homens em posições de comando, mas isso está mudando. Na própria Beija-Flor, hoje temos mais mulheres na Harmonia”, ressaltou o dirigente.

Independentemente do gênero dos ocupantes, os cargos de comando de um desfile estão, conforme explica Frutuoso, sempre permeados pela pressão. No caso da Harmonia, por exemplo, o trabalho é crucial para que a escola cante forte e cruze o Sambódromo sem falhas, garantindo oito notas máximas em dois quesitos. Quando se fala da Beija-Flor este ano, a responsabilidade é ainda maior já que a direção da azul e branco está determinada a conseguir um resultado mais favorável que o do ano anterior.

“Sempre vai existir a pressão. Ela é natural do próprio Carnaval e é um peso que vai existir sempre. Se você tem um carnaval fantástico como da Beija-Flor este ano, o peso de sustentar isso com o canto é enorme — justifica Valber, que completa: — Fizemos um trabalho de resgate de autoestima com a comunidade e aproveitamos o resultado do ano passado para mostrar qual é o lugar em que realmente queremos estar, com todo respeito as outras escolas”, disse o diretor.

A Beija-Flor encerra os desfiles do Grupo Especial do Rio na Segunda-Feira de Carnaval com o enredo “Se essa rua fosse minha”, dos carnavalescos Alexandre Louzada e Cid Carvalho.

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