Fator Laíla e Beija-Flor: Bom para alguns, ruim para todos, por Robson Aldir

Laíla. Foto: SRzd

O grande fato do Carnaval 2018, a saída do Laíla da Beija-Flor depois de mais de uma dezena de títulos e uma relação monumental construída tijolo a tijolo com o povo simples de Nilópolis, gerou impactos profundos e as consequências aconteceram neste Carnaval.

A primeira, evidencia a intensa participação do “Griô” no título de 2018. Ainda na celebração da vitória, alguns tentaram defender a ideia que aquele campeonato era fruto de fulano ou beltrano, que havia uma nova estética, um novo modelo, e que a força da escola era independente de qualquer nome, discurso que buscava claramente afastar a imagem de Laíla do título. Agora, creio, ficou bem claro para todos.

Saída de Laíla da Beija-Flor. Quem ganha e quem perde!

A segunda conclusão é que essa mudança de rota se transformou num caminho repleto de pedras e sobressaltos para todos os lados. Claro que teve gente que gostou dessa mudança de comando, até mesmo para o próprio Laíla pode ter sido boa, já que financeiramente ele teve a possibilidade de buscar novos ganhos. Mas artisticamente, não.

Na Beija-Flor, Laíla tinha uma companhia ensaiadíssima, pronta para qualquer desafio, sabedora da missão dada e fixada por ele anos a fio. A escola sentiu o peso dessa ausência. Alegoria, samba-enredo, evolução e harmonia são as especialidades dele, e justamente nestes quesitos a Beija-Flor sofreu.

Por outro lado, tem a Unidos da Tijuca, a atual casa do veterano sambista. A chegada dele foi um verdadeiro impacto no cenário, não só para os admiradores do Carnaval carioca, mas também internamente. Isso porque a Tijuca tinha uma equipe afinadinha, ainda da época de Paulo Barros, e que vinha conseguindo bons resultados. Era questão de tempo a consagração.

Em 2016, por exemplo, bateu na trave. Quem acompanha o dia a dia da Cidade do Samba sabe bem que a escola do Borel tem um dos barracões mais organizados do espaço, talvez o mais organizado de todos.

As entradas de Laíla e Fran Sérgio mexeram com as peças internas do tabuleiro e, claramente, houve desconforto na nova acomodação da comissão de Carnaval. Isso é normal, é um cenário novo que se apresenta, mas essa transição não permitiu o Laíla ser LAÍLA, assim mesmo em caixa alta. Ele funciona muito quando tem uma escola totalmente nas mãos. Laíla não teve a Tijuca nas mãos.

Trabalhar com a classe média é muito diferente que trabalhar com o povão, especialmente da base da Baixada Fluminense. Existem mais possessão, fome de vitória, vísceras. Claro que a classe média Tijucana tem muita gana pelo título, mas a forma de conduzir a batuta é diferente diante das distintas características. Está sendo um aprendizado para todos.

Robson Aldir. Foto: Leandro Milton/SRzd
Robson Aldir. Foto: Leandro Milton/SRzd

Os caminhos estão traçados e sem volta, sim, porque uma retomada, tanto para a Beija-Flor quanto para a Tijuca, pode ser tão ou mais traumática que a ruptura. A escola de Nilópolis tem quadros suficientes para “arrumar” a casa e buscar uma nova ordem interna, e a Tijuca tem no seu líder máximo, o presidente Fernando Horta, sabedoria e habilidade suficientes para por a locomotiva nos trilhos. São duas potências, e as potências sabem sempre o que fazer.

*Robson Aldir integrou a Rádio SRzd e hoje faz parte do quadro de comunicadores da Rádio Tupi.

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