Fantasias da Mangueira polemizam e escola é atacada em redes sociais: ‘Que o barracão pegue fogo’

Bastaram duas fantasias para começarem a ‘inventar mil pecados’ para a Mangueira. A escola, que divulgou dois figurinos para o Carnaval 2020 neste domingo (27), viu as roupas causaram polêmica nas redes sociais e se tornou protagonista de um embate entre quem aprovou e quem desaprovou as criações do carnavalesco Leandro Vieira, para o enredo “A verdade vos fará livre”, que conta a história de Jesus Cristo ‘vivenciada’ nos dias atuais.

Divulgadas em primeira mão pelos jornais O Globo e Extra, as fantasias estamparam milhares de compartilhamentos no Facebook e comentários que vão desde “Maravilhoso! A arte deve questionar e subverter sempre” a “Que o barracão pegue fogo”.

No site do Jornal Extra, comentários de ódio às fantasias da Mangueira também foram registrados. ‘Tudo condenado a viver com o capeta’ e ‘Carnaval: o apogeu de satanás e seus seguidores’ foram algumas das opiniões, deixadas ao lado da reportagem, que mostraram que o Cristo da verde e rosa ainda vai dar o que falar até a Quarta-Feira de Cinzas.

Figurinos causam reflexão

Nem só de críticas e elogios viveram as fantasias da Mangueira divulgadas neste domingo (27). Os figurinos criados por Leandro Vieira alcançaram um de seus objetivos: provocar o pensamento e a reflexão. Na página oficial do carnavalesco, duas pessoas relataram casos diferentes que vivenciaram ao se deparar com as fantasias da Mangueira.

Em um dos comentários, uma fã de Leandro Vieira disse que, apesar de respeitar e admirar o carnavalesco, a religião não a permitiu de abrir a mente para a ideia da verde e rosa. Leandro respondeu, pedindo que ela “faça um exercício com ele até o Carnaval”.

Em outro comentário, um cristão confessou que, num primeiro momento, achou a fantasia apelativa, mas ao ler e entender a justificativa do carnavalesco, compreendeu o sentido da ideia e achou coerente. Leandro, também de família cristã, agradeceu e afirmou que “só chega ao conhecimento verdadeiro aquele que se aprofunda”.

As fantasias

Os dois figurinos que tomaram conta das discussões deste domingo (27) são versões atualizadas de personagens bíblicos. Em um deles, intitulado “Maria Madalena Ano 2.000”, a personagem ganha contornos estéticos LGBT, ao vestir uma roupa nas cores do arco-íris e carregar um estandarte escrito “Irmão, vai tacar pedra?”.

“‘No imaginário popular, Maria Madalena ficou muito associada ao pecado. Mas sua figura histórica é a da mulher oprimida que foi defendida por Cristo. Ela seria apedrejada, e Jesus disse: ‘quem não tem pecado que atire a primeira pedra’. Cristo sempre se colocou ao lado dos oprimidos, nunca dos opressores. E é esse, o princípio do enredo da Mangueira: Cristo como difusor da fraternidade e combatente da opressão.’ O país que mais mata homossexuais no mundo é o mesmo país que se registra como sendo 90% cristão. Há nessa informação um dado no mínimo discrepante. É dessa discrepância que nasce a centelha criativa que me leva a criar a ‘Maria Madalena da Mangueira'”, explicou o carnavalesco Leandro Vieira.

O outro figurino leva o nome de “Maria da Dores Brasil” e representa a mãe de Jesus Cristo. Na atualização, o carnavalesco traz a personagem enlutada, com a frase “Estado assassino” na bandeira do Brasil, para mostrar de quem é a culpa pela morte de Cristo e de tanto outros ‘julgados bandidos’.

“Há dois mil anos atrás, Cristo foi julgado bandido, seu corpo torturado e quem o matou, foi o Estado. Muitas vezes o Estado é sim assassino. Não faltam exemplos para justificar que ele – O Estado – nunca deixou de “pegar alguém pra Cristo. A fantasia, “Maria das Dores Brasil” é então uma tradução da mãe do Cristo “original” mas também, uma extensão do sofrimento de milhares de outras mães nas periferias brasileiras que tiveram filhos vítimas de políticas públicas de violência e despreparo”, justificou Leandro em rede social.