Especial Consciência Negra: relembre o vice-campeonato do Paraíso do Tuiuti em 2018

Desfile Paraíso do Tuiuti 2018. Foto: Juliana Dias/SRzd

Comissão de frente do Paraíso do Tuiuti em 2018. Foto: Juliana Dias/SRzd

Do samba-enredo, passando pela comissão de frente, até chegar no vice-campeonato. O desfile do Paraíso do Tuiuti em 2018 não se tornou histórico somente para a agremiação, que alcançou neste ano sua melhor colocação. A apresentação de “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?” é um dos marcos da história recente do Carnaval carioca. Nesta terça-feira (20), feriado de Consciência Negra, o SRzd relembra o caminho da azul e amarela no último ano e o legado que deixou ao povo brasileiro.

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Logo do enredo da Tuiuti para 2018. Foto: Divulgação

Em 5 de maio de 2017, a agremiação lançou o enredo. Uma semana depois, o carnavalesco Jack Vasconcelos divulgava a sinopse. O tema abordava a Lei Áurea como uma falsa libertação da escravidão e mostrava que o negro, até hoje, vive em “cativeiro social”. O enredo foi muito elogiado pelos comentaristas do SRzd Rachel Valença, Hélio Rainho e Luiz Fernando Reis. A análise feita por eles, em agosto de 2017, quebrou recordes e, até o fechamento da publicação, conta com mais de 46 mil visualizações.

O samba foi encomendado a Dona Zezé, Aníbal, Jurandir, Moacyr Luz e Cláudio Russo. Lançado em 29 de junho, caiu nas graças do público e crítica. Mas foi na Marquês de Sapucaí, em fevereiro, que se tornou uma das maiores e mais representativas obras do povo negro. Os versos “Liberte o cativeiro social/Não sou escravo de nenhum senhor/Meu Paraíso é meu bastião/Meu Tuiuti, o quilombo da favela/É sentinela da libertação” ainda ecoam quase um ano depois.

A atuação dos intérpretes Nino do Milênio, Celsinho Mody e Grazzi Brasil deixou a obra mais forte. Nos ensaios de rua, a partir de janeiro de 2018, era perceptível que a composição ‘funcionaria’ na Avenida. Foi o que contaram os compositores do samba.

Relembra o samba-enredo:

Irmão de olho claro ou da Guiné
Qual será o seu valor? Pobre artigo de mercado
Senhor, eu não tenho a sua fé e nem tenho a sua cor
Tenho sangue avermelhado
O mesmo que escorre da ferida
Mostra que a vida se lamenta por nós dois
Mas falta em seu peito um coração
Ao me dar a escravidão e um prato de feijão com arroz
Eu fui mandiga, cambinda, haussá
Fui um Rei Egbá preso na corrente
Sofri nos braços de um capataz
Morri nos canaviais onde se plantava gente

Ê Calunga, ê! Ê Calunga!
Preto velho me contou, preto velho me contou
Onde mora a senhora liberdade
Não tem ferro nem feitor

Amparo do Rosário ao negro benedito
Um grito feito pele do tambor
Deu no noticiário, com lágrimas escrito
Um rito, uma luta, um homem de cor…
E assim quando a lei foi assinada
Uma lua atordoada assistiu fogos no céu
Áurea feito o ouro da bandeira
Fui rezar na cachoeira contra bondade cruel

Meu Deus! Meu Deus!
Seu eu chorar não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social

Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião
Meu Tuiuti o quilombo da favela
É sentinela da libertação

Apesar do sucesso de enredo e samba, ninguém imaginaria que o Tuiuti fosse emocionar o Sambódromo na madrugada de 12 de fevereiro de 2018, quando foi a quarta escola a desfilar do domingo de Grupo Especial. Apontada como uma das favoritas ao rebaixamento, saiu da Sapucaí como candidata ao título.

“O Paraíso do Tuiuti vem sempre apresentando bons carnavais. Sempre com seus enredos culturais e históricos, e a Paraíso do Tuiuti, mais uma vez, vem fazendo um belo Carnaval. E, hoje, vestindo o chinelo da humildade, onde eu venho sempre lutando, para que a minha escola seja vista como uma escola de samba do Grupo Especial. Porque chegar, algumas chegam, permanecer que é o detalhe”, disse o presidente Renato Thor ao SRzd, minutos antes da escola entrar na pista.

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Difícil é escolher um único destaque do desfile da representante de São Cristóvão. A comissão de frente de Patrick Carvalho, não só ganhou nota máxima do júri, como praticamente todos os prêmios do ano, incluindo o troféu SRzd – Carnaval. O impacto da teatralização deixou a coreografia tão real que arrancou lágrimas de quem estava na pista, frisas, arquibancadas e camarotes.

O samba foi entoado pelo público, que ao final do desfile batia palmas no refrão principal e gritava “É campeã!”. O enredo, com direito a crítica à reforma trabalhista e ao presidente Michel Temer foi entendido e carimbou 40 pontos. Mesma nota do casal de mestre-sala e porta-bandeira, Danielle Nascimento e Marlon Flores, que, com sangue nos olhos, estrearam em grande estilo na agremiação.

Com 269,5 pontos, o Paraíso do Tuiuti conseguiu o vice-campeonato, ficando um décimo atrás da Beija-Flor. No sábado das campeãs, 18 de fevereiro de 2018, voltou a emocionar a Sapucaí e comemorou o resultado histórico.

Veja fotos do desfile oficial:

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