Emocionadas, personalidades negras da Beija-Flor comentam enredo antirracista da agremiação

Selminha Sorriso no Carnaval 2015, quando a Beija-Flor fez seu último enredo africano. Foto: Raphael David/Riotur

Após anunciar um enredo antirracista para o Carnaval 2021, a Beija-Flor deu espaço a negros que compõem a escola. Em live via rede social, Bianca Behrends, do departamento cultural, Neguinho da Beija-Flor, intérprete, e Selminha Sorriso, porta-bandeira, conversaram sobre o enredo “Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor” e falaram sobre casos de racismos vivenciados.

+ Saiba mais sobre o enredo ‘Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor’

Bianca Behrends

Bianca Behrends. Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação

“É importante a gente frisar o quanto a Beija-Flor, ao longo da sua história, vem falando de representatividade. Esse tema é tão histórico e tão contemporâneo, com milhares de pessoas no mundo todo falando sobre racismo. A gente tem, até hoje, uma questão de escravidão social. A gente vê muitas vezes a comparação de favelas e comunidades com senzalas contemporânea. Não estamos falando de posicionamento político-partidário. Mas o posicionamento político, de um movimento ativista sobre aquilo que não podemos aceitar, nós devemos nos posicionar, sim. A Beija-Flor é formada predominantemente por pessoas pretas, pobres e da Baixada Fluminense, que não deixa de ser uma Pequena África. A nossa comunidade bate no peito toda a vez que falamos de negritude, talvez a gente tenha muita propriedade pra falar disso, porque essa é a nossa realidade.”

Neguinho da Beija-Flor

Neguinho da Beija-Flor. Foto: Alice Venturi

“Estou maravilhado com esse enredo, é a Beija-Flor entrando na causa da discriminação, chego a ficar emocionado. Estamos vendo tudo o que está se passando, o negro sendo massacrado… vamos cumprir um papel e dar nosso grito contra isso. Eu sempre sofri na pele a discriminação. A gente sente isso nos aviões, a gente senta perto do cara, o cara fica meio daquele jeito. Apesar das pessoas me considerarem bem sucedido, eu ainda sinto a desvalorização, seja nos cachês, nos patrocínios. Há uma diferença muito clara entre o preto e o branco. Eu costumo dizer que quando eles deixam negro chegar a coronel é porque ele tem competência pra ser general.”

Selminha Sorriso

Selminha Sorriso. Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação

“O samba tem esse papel democrático de fazer valer a voz do povo e a escola de samba sempre deu voz ao povo negro. Tudo é muito mais difícil pra gente. É um enredo onde estamos nos identificando muito. Se não fosse através da escola de samba, eu não teria o respeito que eu tenho hoje. Se não fosse a Beija-Flor, eu não teria as oportunidades que eu tive. Hoje, eu sou bacharel em Direito e 2º Sargento do Corpo de Bombeiros. Uma história que gosto de contar é que teve uma enquete uma vez sobre os maiores brasileiros de todos os tempos e eu fui correndo votar na Princesa Isabel, porque contaram pra mim que ela que havia libertado os escravos. Depois que eu falei com um amigo meu, que me contou a versão verdadeira, entendi que foi uma pressão política que a fez assinar a Carta de Alforria. Isso acontece porque nós aprendemos a história pelos brancos.”

Assista à live da Beija-Flor na íntegra:

 

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Enredo 2021

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