Tijuca 2019: Com dia claro, comunidade dá show e põe Borel na briga

Desfile Unidos da Tijuca 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Com as arquibancadas já bem vazias, a Tijuca entrou na Avenida com o dia claro e encerrou sua passagem com raios de Sol. Quem foi embora da Sapucaí, contudo, pode ter perdido a campeã do Carnaval. Impulsionada por uma comunidade forte, que fez bonito em harmonia e evolução, a azul e amarelo do Borel trouxe o pão no enredo “Cada macaco no seu galho. Ó, meu pai, me dê o pão que eu não morro de fome”.

Além do show de canto e dança na pista, a bateria de mestre Casagrande e o excelente samba-enredo, aliado ao ótimo desempenho de Wantuir, que retorna à escola onde marcou época, põe a Tijuca na briga pelas primeiras posições na Quarta-feira de Cinzas.

Desfile Unidos da Tijuca 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Para a comentarista do SRzd Rachel Valença, no entanto, faltou Carnaval à apresentação da azul e amarelo. Para ela, a tônica religiosa foi excessiva: “Com um belo samba, a Unidos da Tijuca tinha tudo para brilhar: bom puxador, bateria excelente, componentes empenhados. O que faltou? Carnaval. E sobrou cena de novela da TV Record. O pavão passou lindo, sem interagir com a Santa Ceia. Mas o restante da escola era quase triste”.

Comissão de frente

Desfile Unidos da Tijuca 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

“Disse o Senhor: Eis que vos farei chover pão dos céus” foi a comissão de frente da Unidos da Tijuca, coreografada pelo estreante no Grupo Especial Jardel Augusto Lemos. Baseada na teatralização, o grupo encenava uma cena de miséria e, ao final, recebia pães do céu, de um Jesus que estava em um tripé.

O elemento cenográfico, porém, não teve outra utilização e pecou em acabamento. A apresentação também não conseguiu muita comunicação com o público da Sapucaí.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Com belíssima fantasia em amarelo, intitulada “Fé, Alex Marcelino e Raphaela Caboclo voltaram a dançar juntos e reeditar a parceria de outros carnavais. A sintonia entre a dupla ficou clara, como bem reparou a comentarista do SRzd no quesito, Eliane Santos Souza. Para ela, o casal da Tijuca encantou durante as apresentações na Sapucaí.

“A passagem do casal Alex Marcelino e Raphaela Caboclo foi um belo acontecimento. Apresentando o bailado ancestral, pudemos conferir a coreografia do mestre-sala que presenteou o público com movimentos como a ‘carrapeta’, na qual os passos rápidos e miúdos vinham sempre anunciando giros e piruetas elaboradas com segurança; um ‘cruzado’ desdobrado em ‘beija-flor’, logo desfeito em movimentos de rotação e translação, de maneira ágil e fluente; ‘apresentação de bandeira’ feita com segurança, possibilitando a porta-bandeira deslizar com apoio no ‘aviãozinho’. O mestre-sala, veterano e experiente, portando um bastão, conduzia a dança com maestria e a porta-bandeira com gentileza, demonstrando determinação em seus gestos. Raphaela, segura e delicada, realizou com fluidez o ‘abano’ com giros, horário e anti-horário, proporcionalmente distribuídos.”

Alegorias e adereços

Desfile Unidos da Tijuca 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

A nova comissão de Carnaval da Tijuca, formada por Fran-Sérgio, Marcus Paulo, Hélcio Paim e Annik Salmon, capitaneados por Laíla, trouxe uma nova roupagem às alegorias da agremiação. Mais carregadas em adereços e esculturas, o conjunto se diferenciou do padrão trazido pela Tijuca em outros carnavais.

A grandiosidade foi mantida, principalmente no abre-alas, “Pelos olhos do pavão”. O carro acoplado trouxe a Santa Ceia e o símbolo da escola em destaque. Figura carimbada de outros desfiles, o navio negreiro também marcou presença no desfile da Tijuca, intitulado de “Comendo o pão que o diabo amassou”. A alegoria quatro, “Multiplica o sagrado pão”, trouxe uma grande escultura de Jesus.

Grande também foi a presença da teatralização nos carros, que deu vida ao significado de cada alegoria. A realidade foi tanta em alguns momentos que foi possível avistar pessoas chorando nas frisas.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, os carros da Tijuca, contudo, não conseguiram funcionar de modo completo: “Um bom conjunto alegórico que, no entanto, pareceu ter sido projetado para a noite, dado o efeito com pouco impacto. A plástica não aconteceu para o público na Avenida”.

Fantasias

Desfile Unidos da Tijuca 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Os figurinos também assinados pela comissão de Carnaval cumpriram seu papel no desfile. Não trouxeram luxo, já que o enredo não pedia. Leves, as fantasias permitiram a boa evolução dos componentes.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Wallace Safra, o conjunto de fantasias foi homogêneo, mas simples: “A escola desenvolveu um trabalho funcional dentro de sua proposta. Com foco em materiais alternativos como palha e acetato, as fantasias não ousaram, no entanto, seguiram uma singularidade em sua totalidade em tons pardos. As vestimentas marcaram pelas aplicações em flores e acabamentos originais”.

Enredo

Ao falar sobre a simbologia do pão em diversas partes da história, o enredo da Tijuca trouxe desde o aspecto religioso às críticas sociais e da fome que atinge a sociedade. O tema também passeou pela história, com direito a navio negreiro, escravidão e civilizações europeias.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o enredo ficou claro, mas não combinou com o raiar do dia: “Leitura fácil e execução eficiente de um enredo que, talvez por ser apresentado já com o dia raiando, pareceu um pouco pesado e de difícil absorção pelo público, ao contrário do que se imaginava”.

Samba-enredo

Desfile Unidos da Tijuca 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Um dos grandes sambas do ano, a obra da Tijuca passou bem na Avenida com o ótimo desempenho de Wantuir. A composição mescla tons altos e baixos, e consegue momentos de explosão, apesar da tônica religiosa e certas passagens em forma de lamento. A letra cumpriu seu papel no enredo e comunidade colaborou para não deixar o samba cair.

Bateria

Desfile Unidos da Tijuca 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

A Tijuca pode, por mais um ano, ir tranquila para apuração no que diz respeito à bateria. Escola com o melhor desempenho no quesito nos últimos anos, a agremiação certamente não terá problemas em garantir os 40 pontos. As bossas executadas pela Pura Cadência ainda conseguiram uma proeza: empolgar o pequeno público presente em frisas e arquibancadas, mesmo às 7 horas da manhã.

O comentarista do SRzd no quesito, Bruno Moraes elogiou o desempenho dos ritmistas: “A bateria da Pura Cadência fez mais uma apresentação de gala. Com andamento confortável e ótimas apresentações aos julgadores. Na última cabine, Casagrande executou todas as bossas disponíveis. Os ritmistas brincaram Carnaval.”

Harmonia

Desfile Unidos da Tijuca 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

O que já era esperado, virou uma certeza. A comunidade do Borel deu show na Marquês de Sapucaí. Mesmo com o dia claro e desfilando depois do tempo previsto, graças ao atraso inicial da noite pela chuva, os componentes tijucanos não esmoreceram e soltaram a voz na Passarela do Samba.

Com destaque para a parte final do samba e os refrões, o canto da Tijuca foi avassalador e só provou que a comunidade da escola é uma das mais fortes do Carnaval.

Ponto positivo também para o excelente entrosamento entre o competente carro de som e a bateria de mestre Casagrande, sempre perfeita e segura no desempenho na pista.

Evolução

Desfile Unidos da Tijuca 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

A escola brincou na Avenida. Apesar do samba trazer alguns tons de lamento, a tristeza passou longe dos desfilantes. As alas estiveram empolgadas e fizeram um baita desfile de chão. As únicas ressalvas ficaram por conta de uma aceleração do andamento no momento em que o quarto carro passava pelo segundo módulo. Algumas alas perderam o alinhamento, mas logo foram corrigidas.

Comentários

 




    gl