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Sossego 2019: Escola passeia por religiões em busca de liberdade e evidencia ex-prefeito após censura de Crivella

Fechando o primeiro dia dos desfiles da Série A do Carnaval 2019, já desfilando na manhã de sábado (2), a Acadêmicos do Sossego fez um belo desfile na Marquês de Sapucaí. Defendendo a liberdade religiosa com o enredo “Não se meta com a minha fé. Acredito em quem quiser”, a escola levou à Sapucaí uma crítica social direcionada àqueles que não respeitam as religiões alheias e as crenças defendidas por elas.

Antes de abrir o desfile, uma faixa de clamor chamando a atenção do atual prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, foi exibida na Avenida. “Respeitamos a religião do Prefeito Marcelo Crivella e queremos respeito com o Carnaval. O Rio pede PAZ”, dizia a faixa, que foi aplaudida pelo público em sua extensão na Sapucaí.

Acadêmicos do Sossego 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

A Sossego pegou um tema bastante polêmico para discutir e representar em seu Carnaval, e foi isso o que ela fez. Desenvolvido pelo novato carnavalesco Leandro Valente, o desfile da agremiação foi marcado por diversos episódios de críticas políticas, que se mesclam com intolerância religiosa.

Não foi um desfile perfeito; alguns problemas derivados do andamento da escola na Avenida a deixaram abrir brechas, que deram um pouco de trabalho para a direção de harmonia para corrigir.

Para a comentarista do SRzd, Rachel Valença, a Acadêmicos do Sossego fez um bom desfile, embora tenha apresentado problemas: “Uma noite que começou complicada por um temporal que transformou a pista em rio caudaloso termina agora com a correta apresentação da Sossego. Apenas correta. Ou quase. Porque, em frente ao setor 7, um enorme espaço livre, causado pela dificuldade de avanço do terceiro carro, comprometeu a unidade da evolução.”

Comissão de frente

Acadêmicos do Sossego 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

A personificação do enredo, a comissão de frente da Acadêmicos do Sossego pegou diferentes crenças e encenou a repressão religiosa de uma forma bem caracterizada. Fazendo alusão a diversas religiões, a coreografia de Vinícius Rodrigues fez da simplicidade a sua história, sem nenhum apoio cênico. Quinze bailarinos performaram a coreografia milimetricamente ensaiada, que gerou uma série de aplausos. Foi a melhor comissão de frente da primeira noite? Não. Mas foi bonita, e preencheu o quesito.

Com fantasias que pareciam daquelas vendidas em grandes comércios populares – ou as alugadas nas mais diversas lojas de fantasias do país -, a comissão de frente realmente fez um bom desempenho, mas não empolgou.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Márcio Moura, a comissão de frente da Acadêmicos do Sossego foi auto-explicativa: “Vinicius Rodrigues, estreando no comando da comissão de frente da Acadêmicos do Sossego, trouxe uma batalha baseada na intolerância religiosa. Optou por uma leitura clara nos figurinos que exemplificavam as religiões, facilitando, assim, o entendimento de seu trabalho”.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Acadêmicos do Sossego 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

O primeiro casal de mestre-sala e porta bandeira, Marcinho Souza e Bruna Santos, chamou atenção logo no início do desfile. Simbolizando a Razão (ela) e a Emoção (ele), a dupla contava com grandes destaques em suas vestes: ele, um grande coração no peito envolto por luzes LED vermelhas, e ela, com um grande cérebro exposto na cabeça, executado da mesma maneira tecnológica que seu parceiro. A novidade, embora bastante simples, elevou o tom do desfile.

No entanto, no primeiro box de jurados, o adereço iluminado de Bruna não acendeu. Como elemento plástico, pode ser que haja perda de um décimo, mas não atrapalhou o compasso da dança.

A talvez privilegiada Acadêmicos do Sossego pegou uma pista sem chuva, mas embora as nuvens da Cidade Maravilhosa tivessem deixado a Marquês de Sapucaí em calmaria, o chão da Passarela do Samba permanecia ainda bastante molhado, o que poderia dificultar o andamento da dança. O fato facilitador, no entanto, é que a fantasia do casal estava mais leve que as dos outros mestres-salas e porta-bandeiras que desfilaram na primeira noite da Série A, já que a chuva tende a duplicar os pesos das já pesadas fantasias.

Para a comentarista do SRzd no quesito, Eliane Santos Souza, o primeiro casal da Acadêmicos do Sossego cumpriu uma série passos que podem ter atribuído boas notas dos jurados: “Marcinho Souza e Bruna Santos passearam pela Avenida, cumprimentando o público com simpatia. O casal realizou o movimento obrigatório para o mestre-sala, a ‘apresentação da bandeira’, com segurança. Marcinho exibiu os passos e gestos característicos da dança durante sua evolução no ‘cruzado’, com um suave ‘beija-flor’, desdobrado em passos miúdos, giros, meneios e mesuras, fugas e falsas queda, antes de oferecer a mão à porta-bandeira, para que ela deslizasse com apoio no ‘aviãozinho’.”

Alegorias e adereços

Acadêmicos do Sossego 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

A Acadêmicos do Sossego surpreendeu com os cuidados minuciosos e atenção a seus quatro carros. O abre-alas, que trouxe um grande navio com o tema “estamos no mesmo barco”, fez uma crítica cômica em relação às mazelas que o país vem sofrendo, em tom de apelo cômico.

Já o segundo carro fez uma brincadeira com o “Día de los Muertos”, o feriado mais conhecido do México – uma espécie de Dia de Finados aqui no Brasil, em que as pessoas já mortas são lembradas e sua vida exaltada. Os simbolismos foram representados por uma grande caveira mexicana, em contraponto à Jesus, maior símbolo do Cristianismo.

Acadêmicos do Sossego 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

A terceira alegoria da agremiação trouxe uma grande mesquita – templo sagrado -, trazendo em seu topo uma enorme escultura de Buda, entidade suprema do Budismo.

Mas foi no quarto e polêmico último carro que a “magia” se fez. Antes representado com uma imagem simbólica remetendo ao atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella, com chifres de demônio, após censura do governo da cidade, a imagem foi substituída por uma versão divina do ex-prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes. Conhecido por ser entusiasta do Carnaval, o ex-governante acabou deixando saudades às agremiações em meio a cortes de verbas e cessões, como o fim (pontual) dos ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí, por meio do atual comando. Nas frisas e arquibancadas, pôde-se ver uma aclamação da imagem.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o conjunto alegórico da Sossego foi um respiro de jovialidade do novo carnavalesco: “O maior mérito de Leandro Valente foi fugir de lugares comuns, trazendo um conjunto de soluções criativas, concepção e caracterização inusitada como no carro da mesquita universal, cuja pintura artística foi um primor. O carro que fechou o desfile parecia trazer em lugar do atual prefeito em forma de demônio o ex-prefeito em versão divinizada: uma tirada sugestiva e irônica como a cara do Carnaval.”

Fantasias

Acadêmicos do Sossego 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

Colorida! Esta é a melhor definição prática e clara das fantasias da Acadêmicos do Sossego, que brincou com diversas desconstruções em seu desfile. Trazendo cores fortes e apostando nos detalhes, como rostos pintados, a escola apostou na funcionalidade. E funcionou.

Com um desfile fácil de ser lido, o expectador não precisava de embasamento íntimo ou ligação com a escola para entender o avançar do enredo e as críticas pelo carnavalesco com o contar da história. Um conceito inteligente que uniu o útil ao agradável e deixou muitos fãs da festa empolgados.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Wallace Safra, o conjunto de fantasias da Acadêmicos do Sossego foi inteligente: “A escola trouxe para a Avenida o enredo ‘Não se meta com a minha fé, acredito no que eu quiser’ do carnavalesco Leandro Valente, um grande manifesto sobre a intolerância religiosa. Com um início de desfile explosivo, a escola apresentou figurinos com boa distribuição de paletas de cores, grande uso de materiais alternativos. Plástica simples, mas funcional na Avenida. Destaque para a primeira ala ‘Mar Sideral’ com um trabalho de babados em fasfalhos de diversas cores que proporcionou um impacto visual rico para o público, provocando um início de plástica boa e agradável”.

Enredo

Acadêmicos do Sossego 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

Baseado em críticas, em pedido pró-aceitação. Foi desta maneira que Leandro Valente, estreante na Sossego, apresentou seu enredo. Dividido em 4 setores e 19 alas, a Sossego parecia muito bem dividida na Avenida, com diversas alas coreografadas e bastante trabalho pessoal da direção de harmonia.

Na Marquês de Sapucaí, pareceu um trabalho formatado de forma íntima, como se o carnavalesco apresentasse anos de casa, uma fusão que funcionou muito bem neste primeiro desfile.

Sem nenhum grande problema aparente, a Sossego é uma daquelas escolas que, certamente, figurará entre as 10 melhores da Série A, garantindo seu lugar no grupo.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o enredo da Acadêmicos do Sossego foi de fácil leitura e entendimento: “Mais um enredo com engajamento cujo carnavalesco, com talento e originalidade, soube conduzir sem ‘panfletarismo’ ou apelações. Leandro Valente retorna ao cenário da Sapucaí confirmando sua preocupação com um trabalho artístico de altíssimo nível, didático e pautado pelo bom gosto. Leitura clara de toda a proposição”, define o especialista.

Samba-enredo

Acadêmicos do Sossego 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

A estreia de Guto e Juliana Pagung à frente do carro de som veio a somar, nesta que é a empreitada de trazer vozes femininas aos cantos de diversas escolas de samba, tanto na Série A, quanto no Grupo Especial. E, para o desfile, foi essa somatização que aconteceu, e de forma constantemente natural.

Apesar de algumas pequenas falhas de reprodução em caixas de som localizadas em determinados lugares da Sapucaí, o que não deve calhar em nenhum desconto de pontos, já que se trata de estrutura técnica apresentada pela Lierj, o casal e seus vocais de apoio seguiram o previsto em um trabalho louvável no comando.

Acadêmicos do Sossego 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

Foi um trabalho 100% do zero, estreia da dupla na escola da Zona Oeste, mas que teve boa execução durante o desfile.

Bateria

Acadêmicos do Sossego 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

A estreia do Mestre Laion traçou bons momentos no desfile da Acadêmicos do Sossego. Com direito à diversas “paradinhas”, a bateria trouxe elementos interessantes para o desfile de 2019.

Com um trabalho visivelmente ensaiado, que deve lhes ter custado horas de trabalho, a afinação correu bem e conta com diversos destaques.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Claudio Francioni, a bateria da Acadêmicos do Sossego foi bem-executada: “Mestre Laion estreou com o pé direito na Avenida. A bateria da Sossego fez uma boa apresentação, apostando em uma afinação mais leve dos surdos e em bossas longas. Destaque para o uso das cuícas momentos antes da retomada após uma paradinha”.

Acadêmicos do Sossego 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

Outro destaque na bateria ficou por conta de Dany Storino, que foi bastante astuta no ingresso à Sapucaí. Para evitar quedas ou ter seu samba prejudicado, a rainha de bateria da escola usou fitas adesivas coladas em seus sapatos, para aumentar a aderência. Se foi confortável, não dá para saber, mas que a medida foi engenhosa perante o medo iminente da queda de chuva, foi. E deixou a dançarina um pouco mais aliviada e desenvolta em sua passagem pelo desfile.

Harmonia

Acadêmicos do Sossego 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

No quesito harmonia, a Acadêmicos do Sossego pode ficar um pouco preocupada. Talvez pelo possível cansaço dos componentes e do público no dia que já raiava, o samba foi pouco cantado e não arrepiou.

Mas embora a falta de empolgação nos próprios componentes – incluindo as alas de venda, onde grande parte dos componentes sequer sabia a letra -, o carro de som evoluiu muito bem perante às peripécias da bateria, que surpreenderam o público. Não foi um desfile eletrizante do início ao fim, tampouco ruim.

Evolução

Acadêmicos do Sossego 2019. Foto: Juliana Dias/Srzd

Bem evoluída, mas com alguns buracos: foi desta maneira que a Acadêmicos do Sossego fechou o primeiro dia de desfiles da Série A do Carnaval Carioca. Sem incidência de chuva, foi “salva” pelo tempo, mas sofreu os mesmos problemas que suas co-irmãs com a falta de escoamento da água que insistia em permanecer empoçada na Avenida.

Nenhum grande problema pôde ser visto, exceto um buraco quase no fim do desfile próximo ao quarto e último box de jurados.

Daniel Outlander

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