São Clemente peca em desfile e está fora da briga pelo título

Desfile São Clemente 2022. Foto: Matheus Siqueira/SRzd

Despedaçado coração. Quarta escola a desfilar neste sábado (23), a São Clemente levou para a Avenida a vida e a trajetória artística do ator e comediante Paulo Gustavo.

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Com o enredo Minha Vida é uma Peça, assinado pelo carnavalesco Thiago Martins, o desfile relembrou todos os sucessos do artista que morreu devido a complicações da Covid-19 no último ano. Apesar de um desfile emocionante, a escola apresentou muitos erros e teve que correr para não estourar o tempo.

Fala, Rachel!

“O desfile da São Clemente teve muitos senões técnicos. Sem muitos pontos fortes, teve no entanto uma grande qualidade: fugiu à mesmice. É muito salutar para a qualidade do desfile das escolas de samba a diversidade dos enredos. Acabamos de ouvir no Salgueiro um “sambo pra resistir” e agora a São Clemente nos diz que “rir é resistir”. E ambos têm razão. Como é bom virar essa chave”.

Fala, Luiz!

“Um desfile muito aquém do que se esperava. Eu esperava um enredo muito mais irreverente e brincalhão. A opção foi uma coisa mais no meio do caminho. Fantasias bem acabadas, mas sem passar muito bem o enredo. Não conseguiu ser luxuosa, nem conseguiu ser original. Ficou num meio termo e ainda tiveram vários problemas de harmonia e evolução. Faltou direção artística e de Carnaval. Briga para não cair”.

Comissão de frente

A comissão de frente do coreógrafo Junior Scapin foi inspirada na preparação do ator para a transformação dos seus personagens.

A comissão era composta por integrantes que vestiam vestidos de diversas cores. O elemento cenográfico representava o camarim onde os componentes se trocavam e Dona Hermínia, personagem mais conhecida do ator, era revelada.

No alto do carro, o cenário lembrava o teatro, com cortinas vermelhas e um sofá amarelo. Quando as cortinas se abriam, Dona Déa, mãe do ator, acenava para o público.

Apesar das surpresas na encenação, a comissão apresentou muitos problemas ao longo da Avenida. Logo na primeira cabine de jurados, as luzes do elemento cenográfico se apagaram e passaram assim por toda a Sapucaí. No segundo módulo, mais problemas; o vestido de um dos integrantes rasgou durante a apresentação, além da cortina no topo do carro que também caiu.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Vinicius Pessanha e Jack Pessanha, simbolizavam os guardiões do portal-teatro do céu. Com fantasias brilhantes e nas cores amarelo e roxo, eles carregavam também asas nas costas. Eles realizaram apresentações que foram marcadas pela leveza e sincronismo.

No terceiro módulo a bandeira chegou a enrolar, mas nada que apagasse o brilho do casal que foi muito elogiado pela comentarista do SRzd, Eliane Santos: “Uma performance realizada, com leveza, em sincronismo perfeito dos movimentos obrigatórios do par. O bailado foi acrescido por movimentos diferenciados e passos diversos, bem distribuídos no espaço destinado a dança. O mestre-sala Vinicius Pessanha caprichou no Meio Sapateado, no qual exibiu passos rápidos e curtos, seguido da Pegada de Mão, oferecendo desta forma apoio para sua dama girar no Balanço. Observado o entrosamento bonito do par que evidenciou sua sintonia ao executar os passos e gestos durante o seu bailar; os giros, no Abano, de Jack Pessanha foram realizados com leveza e ela demonstrou segurança neste fazer. A Apresentação da Bandeira aconteceu com alegria e gentileza”.

Alegorias e adereços

Abrindo o desfile, a São Clemente apresentou uma alegoria que simbolizava a chegada de Paulo Gustavo no céu. Cercado de nuvens e esculturas de anjos e drag queens, o abre-alas trouxe uma alusão a recepção do ator no paraíso da comédia, sendo recebido por outros grandes comediantes que já partiram. No alto do carro havia uma escultura do ator com asas de anjo nas cores do arco-íris.

Na segunda alegoria estava representada a maior obra do ator: “Minha Mãe é Uma Peça”. Com uma escultura da personagem Dona Hermínia, o carro era composto por integrantes que refaziam cenas inesquecíveis da trilogia de filmes que marcaram o cinema nacional. Nas laterais haviam imagens do ator além de rolos de filmes.

Thales Bretas, viúvo do ator, foi destaque no terceiro carro que representava o amor do casal, sentimento que gerou dois filhos: Gael e Romeu. A alegoria era composta por vários brinquedos de crianças a fim de personificar o espaço infantil dos filhos.

A quarta alegoria representava outros dois grandes sucessos do ator, o programa de TV 220 Volts e o stand up Hiperativo. Já a última alegoria celebrava a carreira de sucesso do ator. Inspirado nas cenografias que ele utilizava em seus espetáculos, a escola remontou os palcos de Paulo Gustavo a fim de homenagear o legado deixado pelo artista. Juliana Amaral, irmã do ator, veio como destaque.

“As alegorias foram outra boa surpresa, bem acabadas, grandes e com muitos efeitos, seguiu o caminho de mostrar a vida do ator com bom humor, sem deixar o requinte de lado.  Destaco o grande abre-alas, constituído de duas alegorias e um complemento frontal”, disse Jaime Cezário, comentarista do SRzd.

Fantasias

As fantasias eram de fácil entendimento e contavam muito bem a vida e obra do artista. Começando pela representação da chegada do ator ao céu, passando pelas obras e grandes sucessos que ele deixou, até o encontro com o marido, Thales Bretas. E para fechar, um setor que homenageava os amigos e parceiros de Paulo Gustavo.

“As fantasias da escola da zona sul estavam surpreendentemente ricas e grandes. O objetivo era através da pegada humorística do homenageado fazer todos, pelo tempo que durasse o desfile, esquecer dos seus problemas do dia a dia e dar boas gargalhadas. Destaco a bela ala de baianas e  a ala “meu carrinho de bebe” que estava bem engraçada”, comentou Cezário.

Enredo

“A São Clemente novamente chegou à Avenida com sua tradicional irreverência. Logicamente não podia ser diferente, pois o tema da escola foi o grande artista, comediante Paulo Gustavo. A escola de Botafogo tentou desenvolver o desfile abordando aspectos da carreira e da vida pessoal do autor. Infelizmente, o enredo não foi bem desenvolvido em razão da ausência de elementos condutores da narrativa que pudessem transmitir maior diversidade e melhor compreensão. A explanação do enredo na passarela poderia ter sido melhor”, disse Marcelo Masô, comentarista do SRzd.

Samba-enredo

O samba levado para a Avenida pela São Clemente é de autoria de Cláudio Filé, James Bernardes, Arlindinho Cruz, Braguinha, Colaço, Marcus Lopes, Caio Tinguinha, Danilo Gustavinho, Kaike Vinícius e Igor Leal.

A obra, defendida pelos intérpretes Leozinho Nunes e Maninho, apesar do bom trabalho, não rendeu e não empolgou o público, como avalia o comentarista do SRzd, Cadu Zugliani.

“O samba da São Clemente peca na construção, em especial da letra, e fica no meio do caminho entre um samba-homenagem e o estilo da São Clemente. Também não consegue momentos de comunicação forte e acabou não empolgando a Avenida apesar do bom trabalho musical da escola e da grande popularidade de Paulo Gustavo”, disse ele.

Bateria

Os ritmistas da Fiel Bateria usavam vestidos nas cores da escola e bobes no cabelo, representando Dona Hermínia. A rainha de bateria, Raphaela Gomes, usava peruca e roupa rosa, como a personagem Angels, interpretada pelo artista no programa Vai que Cola.

Segundo o comentarista do SRzd, Claudio Francioni, a bateria trouxe uma sonoridade bem leve na sua apresentação. “A bateria de mestre Caliquinho trouxe uma sonoridade bem leve, com marcações e afinações bem altas. Entrou com um andamento acelerado pra ajudar o samba da escola, porém baixou um pouco quando entrou em desfile e sustentou bem até o final. Apresentou as bossas em frente aos três módulos. No segundo, um pequeno desencontro entre as marcações, logo corrigido. Vale ressaltar que havia um som altíssimo de um camarote próximo à cabine, um absurdo inaceitável. No último módulo, precisou sair em velocidade do recuo pra não estourar o tempo e acabou se apresentando correndo”, comentou.

Harmonia

Os componentes se mostraram animados durante o desfile, mas apesar disso o canto não foi forte o suficiente e não empolgou o público da Sapucaí. A parte do samba que mais se destacou foi a do refrão final, principalmente na frase “Paulo Gustavo pra sempre”.

Segundo a comentarista do SRzd, Célia Souto, “a escola não apresentou um entrosamento equilibrado no que se refere ao ritmo, andamento e melodia”.

Evolução

A São Clemente pecou muito no quesito evolução. Já no setor 1 o abre-alas apresentou problemas impactando o andamento de toda a escola. Durante um bom tempo no início do desfile a escola ficou parada, o que acabou ocasionado uma corrida no final para conseguir encerrar dentro do tempo estabelecido pelo regulamento.

“Não houve equilíbrio entre as alas sendo assim a escola não fluiu na Avenida, o andamento do chão ficou prejudicado por algumas paradas durante o desfile”, conclui a comentarista Célia Souto.

Ficha técnica

Enredo: “Minha Vida é uma Peça!”
Presidente: Renato Gomes
Carnavalesco: Tiago Martins
Intérprete: Leozinho Nunes e Maninho
Mestre de Bateria: Caliquinho
Rainha de Bateria: Raphaela Gomes

Comissão de Frente: Junior Scapin
Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Vinicius Pessanha e Jack Pessanha

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