Santa Cruz 2019: Escola estoura tempo, enfrenta problemas com carro e atrapalha andamento, após queda de atriz

Desfile Acadêmicos de Santa Cruz 2019. Foto: Leandro Milton/Srzd

Quarta escola desfilar no primeiro dia do Carnaval, a Acadêmicos de Santa Cruz representou, em seu desfile na Marquês de Sapucaí, a história da atriz Ruth de Souza. Com o retorno de Cahê Rodrigues à escola após 16 anos, o que deveria ser uma celebração em vida, foi marcado por uma série de problemas, que começaram já no início do desfile.

A passagem contou com diversos problemas. A atriz Isabel Fillardis, que interpretou Ruth em sua vida adulta na comissão de frente, levou um tombo no primeiro box de jurados. A chuva, que atrapalhou diversas escolas, deixou o asfalto da Marquês de Sapucaí escorregadio, penalizando a escola. Embora a queda, Isabel se levantou, reverenciou os jurados e seguiu a coreografia previamente ensaiada, rendendo aplausos do público.

Em toda a Marquês de Sapucaí, a agremiação da Zona Oeste do Rio de Janeiro precisou correr e tapar buracos, o que não impediu o estouro do tempo de dois minutos – o que deve penalizar a escola em dois décimos .

Outros problemas também aconteceram, como carros alegóricos danificados e longos buracos, que atrapalharam a evolução, fatores que podem deixar a escola em apuros, com perdas de pontos.

Para a comentarista do SRzd, Rachel Valença, apesar de todos os problemas na Santa Cruz, o trabalho da agremiação deve ser evidenciado: “Pouco importa se na segunda alegoria faltou o elemento mais alto, deixando um vazio. Tampouco importam queijos vazios ou pequenas falhas de harmonia. Acaba de passar uma escola de samba. Tinha um belíssimo samba, uma bateria firme e muita emoção. Obrigada, Acadêmicos de Santa Cruz”, relata a especialista.

Comissão de frente

Desfile Acadêmicos de Santa Cruz 2019. Foto: Leandro Milton/Srzd

Coreógrafos: Marcelo Chocolate e Marcelo Moragas

Primeiro destaque do desfile da Santa Cruz, a comissão de frente trouxe Ruth de Souza e sua mãe, simulando a saída de Minas Gerais, terra natal da artista, e sua “descoberta” no Rio de Janeiro. Com bailarinos vestindo figurinos que personificavam as canoas utilizadas para navegação no Rio Paraíba do Sul, remetendo à infância da homenageada, a ala mostrou o desabrochar de Ruth com sua chegada ao Rio de Janeiro.

Recém-chegada à cidade, em 1945, a então jovem Ruth foi morar com sua mãe em uma vila de lavadeiras e jardineiras em Copacabana, um dos bairros mais tradicionais da cidade. A comissão milimetricamente teatralizada, de autoria de Marcelo Chocolate e Marcelo Moragas, trouxe a atriz Isabel Fillardis interpretando Ruth em sua vida adulta.

Chovia durante todo o desfile da Santa Cruz, e o chão escorregadio fez a atriz cair logo que saiu do módulo cênico. Na coreografia original, ela saía correndo em direção aos jurados. Talvez por euforia, a estrela de diversas novelas não calculou bem quando parou de correr, o que levou à queda. Com o impacto, Isabel bateu com a cabeça no chão, e precisou de alguns segundos para se recuperar. Após o susto, dois bailarinos a ajudaram a se levantar, que respondeu se ajoelhando e molhando seus cachos com as águas do chão. O momento de superação foi aplaudido de pé pelo público à frente do primeiro modulo de jurados, mas deve penalizar a escola em alguns décimos.

Para mostrar que “estava de volta”, a partir do segundo módulo de jurados, Isabel se pôs de pés no chão, performou a coreografia de maneira ávida, como gostaria de ter feito desde o início.

Para o comentarista do SRzd de comissão de frente, Márcio Moura, o trabalho dos coreógrafos deve ser evidenciado: “O bonito trabalho dos coreógrafos Marcelo Chocolate e Marcelo Moragas trouxe uma comissão onde a plástica cenográfica era o grande diferencial. Bailarinos vestindo barcos criaram desenhos que ocupavam toda a parte a frente da cabine. Com elementos de mão, criam um caminho de flores e daí surge a atriz Isabel Fillardi. A queda da atriz à frente do primeiro módulo, no entanto, pode tirar preciosos décimos da agremiação”.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Desfile Acadêmicos de Santa Cruz 2019. Foto: Leandro Milton/Srzd

Carlos Eduardo “Muskito” e Roberta Freitas, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, fez uma espécie de reverência à Ruth. Com fantasias nas cores verde e dourado, a dupla tratou a atriz como uma rainha, apesar de ela mesma se descrever como “coadjuvante”. Uma forma claramente singela de se auto-denominar tamanha maestria da artista.

E o casal executou o desafio de dançar na chuva da melhor maneira, embora a chuva tenha deixado um pouco de medo em relação à evolução.

Os guardiões do casal trouxeram uma coreografia que complementavam todo o trabalho dos artistas principais.

Para a comentarista do SRzd no quesito, Eliane Santos Souza, o primeiro casal da Acadêmicos de Santa Cruz foi um trabalho com bastante influências de danças de religiões afro-brasileiras: “O bailado do mestre-sala e da porta-bandeira foi apresentado pelo casal com firmeza e permeado de passos e movimentos da dança afro-religiosa. Apesar da barra da saia ter arriado as plumas, o que poderia ter causado um dano na execução da dança, Roberta Freitas superou a adversidade acusada pela chuva, dançando. O repouso da coreografia acontecia na realização de movimentação de releitura do minueto ou de passos marcados da dança de salão. Mosquito e Roberta Freitas executaram durante a “apresentação da bandeira” o ijexa, o suave dançar do candomblé ketu, em perfeita harmonização com os movimentos obrigatórios e característicos do bailado. Assim como o casal realizou com sincronia movimentos de apoio quando, ela deslizando no ‘aviãozinho’, e ele, na ‘pegada de mão, rodavam com segurança, apesar do chão molhado”.

Alegorias e adereços

Desfile Acadêmicos de Santa Cruz 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Para o desfile, a Santa Cruz levou à Avenida quatro carros alegóricos, que apresentaram problemas ou deformidades no desfile. O primeiro carro, que trazia a homenageada, era acoplado a um maior. Mas esta acoplagem, diferentemente do comum, quando é feita por barras de ferro fixas, foi feita por uma corda, que servia de maneira meramente ilustrativa para não perder pontos, já que tripés não são permitidos nos desfiles da Série A.

Já o segundo carro, que representou o momento em que Ruth inicia sua carreira no cinema em 1948, a convite de Jorge Amado, a parte superior do carro entrou na Marquês da Sapucaí sem finalização, o que pode render a perda de alguns décimos.

Já o terceiro carro iniciou seu desfile de forma apreensiva, e deixou os componentes, e o Corpo de Bombeiros, em alerta. Visivelmente torto para o lado esquerdo, a alegoria apresentou diversos problemas durante o percurso, o que gerou apreensão. No meio do desfile, a alta densidade da fumaça que saía do carro fez o desfile parar, abrindo um buraco que prejudicou o andamento desde a segunda metade até o final. Embora o incidente, não foram registrados feridos. Mas é fato que os componentes inalaram muita fumaça.

Já o quarto carro alegórico fez uma menção a diversas representações negras, que fizeram a diferença por seus posicionamentos em prol da aceitação. A atriz Zezé Motta, a jornalista Maju Coutinho e a poetiza Carolina de Jesus foram algumas das homenageadas em fotografias estampadas nas laterais da última alegoria.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o conjunto alegórico da Santa Cruz possui bons destaques: “Didático, funcional e com ótimo efeito, o conjunto alegórico teve impacto e alternou materiais rústicos com uso de brilhos e efeitos mais sofisticados. A escultura da homenageada, no carro que encerrava o desfile, apresentou um acabamento um pouco primário se comparado aos demais elementos cenográficos dos carros anteriores. No todo, um belo projeto de Carnaval executado pelo talentoso carnavalesco Cahê Rodrigues”.

Fantasias

Desfile Acadêmicos de Santa Cruz 2019. Foto: Leandro Milton/Srzd

Com fantasias um tanto quanto simples, porém didáticas e de fácil leitura, Cahê Rodrigues trouxe sua expertise para a Série A, após anos à frente da tradicional Imperatriz Leopoldinense. O contraponto entre uma escola do Grupo Especial e uma da Séria A resume-se, em suma, na quantidade de dinheiro disponível para um carnavalesco fazer um Carnaval. E este fator pôde ser percebido durante o desfile da Santa Cruz.

Com algumas fantasias se desfazendo, alas inteiras desfilaram de pés no chão, e foi comum ver sapatilhas ou pedaços das fantasias pelo chão do sambódromo.

Com tons terrosos, que passeavam entre um verde cor de grama a marrons e tons terrosos, a Santa Cruz teve sua passagem de maneia homogênea, sem nenhum ponto forte ou grande destaque em relação a fantasias. No mais, “cumpriu tabela” no quesito.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Wallace Safra, o conjunto de fantasias teve uma criatividade digna de se mensurar: “Com o enredo ‘Ruth de Souza – Senhora liberdade, abre as asas sobre nós’ do carnavalesco Cahê Rodrigues, a escola homenageou a atriz Ruth de Souza. Com uma plástica homogênea e criativa, os figurinos apresentaram forte utilização no uso de diferentes materiais, cabeças bem acabadas e desenvolvidos para efeito visual de avenida. Destaque para a ala de passistas no Pantoja Russet Orange da paleta coral e muito bem realizado”.

Enredo

Desfile Acadêmicos de Santa Cruz 2019. Foto: Leandro Milton/Srzd

Com o enredo “Ruth de Souza – Senhora liberdade, abre as asas sobre nós”, do carnavalesco Cahê Rodrigues, a Acadêmicos de Santa Cruz encenou a vida de uma das artistas negras mais bem-sucedidas do país. Com uma carreira muito bem estruturada na TV e no Cinema, Ruth de Souza foi clamada de maneira emocionante. É legal ver uma escola tratando em vida tamanha artista. Aos 97 anos, a mineira coleciona trabalhos de sucesso, e inspirou uma série de artistas de diversas gerações.

Ruth nasceu no interior de Minas Gerais e se mudou para o Rio de Janeiro após a morte do pai. Chegando ao Rio, foi morar em uma vila de lavadeiras e jardineiras, no bairro de Copacabana. Na cidade, se apaixonou pelo teatro, começando sua carreira no Teatro Municipal, em 1945. Após seu momento nos palcos, estreou nos cinemas por influência de Jorge Amado, em 1948, no filme “Terra violenta”, adaptação do seu romance “Terra do sem fim”.

Dividida em quatro setores, a Santa Cruz evoluiu no quesito da maneira como deveríamos esperar, um trabalho que deve ser evidenciado. Cahê fez uma ótima evolução dentro de suas limitações financeiras, que não ultrapassaram os limites da criatividade.

Mas, sim, os diversos problemas foram claramente visíveis em todos os momentos do desfile, o que deve prejudicar a escola em suas notas finais. Vale lembrar que esta é a segunda passagem do carnavalesco na escola da Zona Oeste. A primeira, em 2003, com o enredo “Do universo teatral à ribalta do carnaval”, fez a escola ser rebaixada, regressando do Grupo Especial à Série A.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o enredo da Santa Cruz fez jus à proposta da homenagem: “Louvável tributo a uma grande dama da dramaturgia nacional, homenagem em vida. Acerto de Cahe Rodrigues no desenvolvimento de uma homenagem que não temeu ser biográfica, retratando momentos que espelham a grandeza da divina dama Ruth de Souza. Uma história comovente contada de forma comovida. Sublime e eficiente, tocante e poética, uma bela apresentação temática: uma aula de como se faz um enredo biográfico na Avenida.

Samba-enredo

Desfile Acadêmicos de Santa Cruz 2019. Foto: Leandro Milton/Srzd

A passagem da Santa Cruz não deixou de lado a apatia do público, que mais focava na gama de problemas que a escola enfrentou, que propriamente na voz forte. O samba, que contava a história de Ruth de Souza, emocionou parte do público, principalmente quando à frente da estrela no abre-alas.

Os componentes tentaram driblar os problemas durante o desfile, de fato, cantando o samba que parecia forte. A estreia de Roninho à frente do carro de som da escola se mesclou com versos compostos por gigantes do samba: Samir Trindade, Elson Ramirez e Júnior Fionda, compositores do samba-enredo.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, o samba da Santa Cruz foi bem executado: “O samba foi bem cantado pela voz guia, facilitando o canto dos componentes”.

Bateria

Desfile Acadêmicos de Santa Cruz 2019. Foto: Leandro Milton/Srzd

Homenageando antigos mestres de bateria, a Acadêmicos de Santa Cruz deixou um som aquém do que era esperado, e isso pôde ser percebido durante a execução na Avenida.

A bateria do Mestre Riquinho, que veio personificando Kikito, foi prejudicada em alguns momentos.

Desfile Acadêmicos de Santa Cruz 2019. Foto: Leandro Milton/Srzd

Para o comentarista do SRzd no quesito, Claudio Francioni, a bateria da Santa Cruz foi prejudicada: “A bateria da Santa Cruz fez um desfile razoável. Também prejudicada pela chuva, teve suas afinações prejudicadas. Em uma bossa no refrão, Mestre Riquinho fez uma homenagem aos mestres Paulão e Jorjão, falecidos ano passado”.

Harmonia

Desfile Acadêmicos de Santa Cruz 2019. Foto: Leandro Milton/Srzd

Com problemas em três carros e diversos buracos para preencher, foi um desafio inestimável para a harmonia executar um trabalho louvável. As diversas tentativas não impediram uma série de penalizações, que renderão a provável perda de pontos importantes para a escola.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, a harmonia da Santa Cruz foi desafiadora: “A harmonia teve muito trabalho, pois três carros apresentaram problemas e não conseguiam fazer a conversão no joelho para entrar na Armação (setor 1) o que causou estresse geral na escola”.

Evolução

Desfile Acadêmicos de Santa Cruz 2019. Foto: Leandro Milton/Srzd

Visivelmente enxuta, e com 20 alas, a Acadêmicos de Santa Cruz teve diversos problemas latentes em sua passagem pela Passarela do Samba. Problemas com o andamento do desfile geraram diversos buracos e fizeram a escola correr para terminar o desfile.

Apesar da destreza da direção de harmonia da escola, não foi possível impedir que a agremiação estourasse o tempo do desfile em dois minutos, o que deve gerar perda de dois décimos (um para cada minuto), como punição.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, a evolução da Santa Cruz foi prejudicada: “A evolução da Santa Cruz foi prejudicada, não só pela chuva, como também pelos problemas com os carros”.

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