Salgueiro 2019: Falando de Xangô, escola faz desfile brilhante e é clamada

Desfile Salgueiro 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

A Acadêmicos do Salgueiro fez o público pular em sua entrada na Avenida. Trazendo mais um desfile afro, com o enredo “Xangô”, a escola da Tijuca apresentou um Carnaval muito bem-estruturado e luxuoso, que apostou em cores fortes e na evidência de um vermelho forte, característica comum dos carnavais da escola.

Sob comando de Alex de Souza, que segue pelo segundo ano na Vermelha e Branca, o carnavalesco mostra sua extensão profissional com um trabalho louvável, de fácil leitura e muito bem apresentado na Avenida, sem tirar nem pôr.

Para a comentarista do SRzd Rachel Valença, o desfile da Acadêmicos do Salgueiro teve resultado positivo: “Quem não deve não teme, canta o samba do Salgueiro. A escola não ficou a dever nada. Samba valente, de meter medo, muito cantado pela escola e pela arquibancada, e as baianas simplesmente incríveis, todas de branco e saia recoberta de escamas do mar baiano. Mas, sobretudo, uma escola motivada por uma mudança que é sempre saudável. O terreiro tremeu na Passarela do Samba”.

Comissão de frente

Desfile Salgueiro 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Sérgio Lobato volta à Sapucaí apenas um dia após apresentar sua comissão de frente na Acadêmicos do Cubango, que fechou os desfiles da Série A do Carnaval carioca. Apostando em um grande tripé, que mostrava o templo do Deus Xangô, o profissional teve êxito em uma Comissão de Frente que uniu beleza e o contar de histórias.

Os guardiões do Templo abrem as portas e Xangô, personificado, pelo sincretismo religioso, por São Jerônimo, aparece, com um grande leão ao seu lado.

De acordo com a lenda, Xangô era o rei de Òyó – região que hoje é a Nigéria – e possuía um caráter autoritário e violento, além de ser extremamente viril, atrevido, vaidoso e justiceiro; conhecido por praticar uma justiça dura e cega, como uma rocha – que aliás é outro elemento que o representa: a rocha. E simbolizando este estágio, descem grandes “homens-pedra”.

O terceiro momento da comissão foi representado por outro templo, mostrando o poder do sambista, onde o ator Eri Johnson, salgueirense de coração, surgiu sambando.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Márcio Moura, a comissão do Salgueiro foi um trabalho de simbolismos: “Sergio Lobato trouxe uma coreografia forte e cheia de simbolismos. Um enorme tripé serviu de palco para três momentos: a aparição de São Jerônimo (o santo católico que no sincretismo esta associado a Xangô). No alto do tripé surge um bailarino de Xangô forte e expressivo, acompanhado por bailarinos que estavam escondidos como numa pedreira. E o terceiro momento com passistas e uma figura central, que ao se desvendar vemos que é o ator Eri Jonhson. Tudo muito rápido, teatral e inusitado”.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Desfile Salgueiro 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Sidclei Santos e Marcella Alves, teve uma ótima execução na Avenida, driblando a chuva fraca que caiu principalmente nos primeiros 20 minutos de desfile, que deixaram a pista molhada. O trabalho da dupla não foi dificultado.

Para a comentarista do SRzd no quesito, Eliane Santos Souza, o casal do Salgueiro fez um ótimo desfile: “Espetacular a performance do par! Sidclei Santos e Marcella Alves trouxeram o bailado do mestre-sala e da porta-bandeira em sua forma autêntica, com acréscimo de passos e gestual da dança afro-religiosa do Orixá Xangô! Eles desenvolveram passos, movimentos e gestos característicos, em uma excelente sintonia, com total sincronismo na execução dos movimentos coordenados, dançando ininterruptamente com vigor e alegria, se comunicando e saudando o público da passarela do samba. O repouso da dança acontecia em cortesias e meneios do mestre-sala e da execução de uma releitura do ‘patinete’ com passos falseados da porta-bandeira, que executou, sem apoio, o ‘balanço’, com muita destreza e segurança. Seus giros, horário e anti-horário, aconteceram na mesma proporção, evidenciando o equilíbrio da sambista, cuja bandeira se mantinha desfraldada. Gentileza, cortesia e delicadeza de gestos, sem se desligar da potência da dança do samba, puderam ser apreciadas na apresentação destes veteraníssimos sambistas! Axé!”.

Alegorias e adereços

Desfile Salgueiro 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Apostando no luxo e em cores fortes, a Acadêmicos do Salgueiro levou cinco carros alegóricos para a Avenida neste Carnaval. Trazendo uma espécie de três tripés acoplados ao carro principal, o abre-alas foi inspirado pelo mito africano “Ilê-ifé Óba Óòbi’ Odùwa”, que faz referência aos quatro elementos: Terra, Água, Fogo e Ar.

Já o segundo carro, “Xangô de Pernambuco”, mostrou como o culto à Xangô é inserido no Nordeste brasileiro, desde sua chegada da África. O Deus africano é um dos mais importantes em diversas religiões.

A terceira alegoria, “Sancta Sedes”, apresentou a maneira como os negros escravos brasileiros, vindo da África, conseguiam expressar seus cultos aos Orixás, que eram reprimidos. Para criar uma identificação com o catolicismo, foram criadas imagens de associação aos santos da Igreja”.

“Bahia de todos os deuses”, o quarto carro alegórico da escola, trouxe uma menção ao enredo defendido pela escola em 1969, “Bahia de Todos os Deuses”, que fez uma homenagem à um antigo e icônico componentes da agremiação, o professor Júlio Machado, que se fantasiou de Xangô naquele ano.

Considerado o Deus da Justiça, o quarto carro personifica o senso justiceiro por qual é conhecida a entidade, com um tribunal representado em sua face frontal e componentes vestidas de policiais nas laterais.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o conjunto alegórico rendeu uma ótima aceitação na Avenida: “Um começo de desfile impactante e arrebatador, com grandeza e muitas referências aos enredos antológicos da escola sob a regência de Arlindo Rodrigues. A cabeça da escola sustentou-se em nível mais grandioso do que os setores finais, com alguns carros apresentando problemas de acabamento como candelabros quebrados. Mas foi um belíssimo trabalho plástico de um grande carnavalesco, traduzido com emoção e propriedade. Também primou pelo bom gosto boa usos de cores, sabendo colorir sem os exageros que têm virado recorrência nos desfiles contemporâneos”.

Fantasias

Desfile Salgueiro 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Cores fortes e várias tonalidades de vermelhos, desde os mais fortes aos mais fracos, o conjunto de fantasias do Salgueiro deve ser enaltecido, devido à beleza, riqueza em detalhes e fácil leitura.

Uma das alas mais interessantes foi justamente a última, que apostou na diversidade, tanto nos componentes, quanto nos pedidos como justiça, aceitação, em prol dos direitos das mulheres, dos movimentos LGBTQ+, entre outros.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Wallace Safra, o conjunto de fantasias do Salgueiro deve ser enaltecido:”Com o enredo ‘Xangô’ Do carnavalesco Alex de Souza, o Acadêmicos do Salgueiro faz um tributo ao Rei da justiça, desde a África até o Brasil. A escola apresentou um trabalho luxuoso e primoroso no desenvolvimento de suas fantasias. No primeiro setor, a agremiação investiu em capim dourado e preto, complementado com um belo trabalho de arte plumária de alto nível, com faisões em suas finalizações. Nos demais setores o carnavalesco manteve o desenvolvimento com arte plumarias e com acabamento rico em materiais e em acabamentos minuciosos. Os figurinos das composições seguiram a mesma linha de apresentação. Trabalho impecável”.

Enredo

Desfile Salgueiro 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Um enredo comum à escola, a homenagem à Xangô, orixá de 2019, foi o grande trabalho da escola para este ano, seguindo com êxito trabalhos louváveis do Salgueiro nos últimos 10 anos de disputa no Grupo Especial, sempre figurando entre as primeiras colocações.

O trabalho plástico, unido ao canto forte, mostram porquê o Salgueiro é uma das agremiações mais aguardadas de todo o Carnaval, clamada por todos na Avenida.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o enredo do Salgueiro tratou Xangô de forma biográfica: “A conhecida competência de Alex de Souza em desenvolver enredos e sinopses com aprofundado teor de pesquisa favoreceu a narrativa sobre o orixá Xangô além dos estereótipos místicos e lugares comuns dos enredos atuais sobre entidades. Uma biografia perfeita narrada com clareza e originalidade”.

Samba-enredo

Desfile Salgueiro 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Em todos os setores e no desfile, legiões de fãs cantaram o o samba da escola, composição de Demá Chagas e cia. O refrão “Mora na pedreira, é a lei na Terra / Vem de Aruanda pra vencer a guerra / Eis o justiceiro na nação Nagô / Samba corre gira, gira pra Xangô” contagiou a Avenida.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, o samba-enredo da Acadêmicos do Salgueiro, foi ovacionado: “O Samba de Enredo com letra e melodia mostrou como se faz Samba para desfilar, bem cantado e aceito pelas arquibancadas o Samba ajudou na Harmonia, na Evolução e no desfile como um todo”.

Bateria

Desfile Salgueiro 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Uma das baterias mais tradicionais do Carnaval, a Furiosa fez o que sabe fazer de bom: impressionar. Em todo o desfile, a cadência acompanhou o samba e deu o tom explosivo do desfile

Para o comentarista do SRzd no quesito, Bruno Moraes, a bateria do Salgueiro foi uma ótima fusão ao samba: “A Bateria Furiosa do Salgueiro, impulsionou o bom samba da escola. Bossas seguras e alas de tamborim e chocalho excelentes. Ótima estreia dos Mestres Guilherme e Gustavo”.

Harmonia

Desfile Salgueiro 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Muito bem-organizada e com um lindo desfile, o Salgueiro ensinou a todos como se faz um Carnaval belíssimo em um desfile perfeito, sem imprevistos.

Pontos positivos para a Direção de Harmonia, comandada por Jomar Casemiro, o Jô.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, a harmonia do Salgueiro teve um ótimo desempenho: “A harmonia do Salgueiro soube, com seu trabalho, organizar a escola e trazê-la compacta e cantando o belo Samba que homenageia Xangô o Orixá Justo, esse Samba funcionou e ajudou a Harmonia da escola, que executou um primoroso desfile”.

Evolução

Desfile Salgueiro 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Com samba cantado, o Salgueiro teve uma evolução invejável, com um trabalho super estruturado digno de mostrar como se faz um desfile grandioso, com uma enorme quantidade de alas, alegorias, fantasias e tudo mais, mas sem perder a emoção. Foi realmente muito bonito.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, a evolução do Salgueiro funcionou: “A harmonia funcionou, pois a escola, tendo o ritmo da Bateria Furiosa por trás do belo samba, fez com que a Evolução fosse bem executada”.

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