Renascer 2019: Vermelho e branco faz desfile vibrante com enredo sobre celebração para Iemanjá

Desfile Renascer de Jacarepaguá 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

Todo dia 02 de fevereiro, diversos devotos marcam presença com suas oferendas nas celebrações em homenagem à Iemanjá nas praias do Rio Vermelho – Salvador, Bahia. A festa, que é uma das maiores e mais populares festividades religiosas do país, foi levada à Marquês de Sapucaí pela Renascer de Jacarepaguá com o enredo “Dois de Fevereiro no Rio Vermelho”, criado pelos carnavalescos Raphael Torres e Alexandre Rangel. Segunda escola a desfilar no sábado (02), às 23h30, a vermelho e branco fez uma passagem dentro do esperado e animou o público.

A comentarista do SRzd, Rachel Valença, valorizou a bateria, que realizou um desempenho excepcional, e elogiou a escola que fez um desfile vibrante, apesar do samba que não era dos mais emocionantes:

“A passagem da Renascer, vibrante, foi um alento. Bateria cadenciada, prestigiada pela presença, ao lado do seu mestre, dos grandes Marcão e Casagrande. Que chocalhos! Que molho! Nem deu pra sentir falta daquilo que o dinheiro curto não conseguiu pagar. O samba, no começo muito mal interpretado, numa gritaria desencontrada, ganhou firmeza a medida que se desenrolava, firme. A escola, pioneira na lamentável prática de encomendar samba, já convive bem com o fato de não cultivar uma ala de compositores. Vida que segue.”

O presidente da agremiação, Antônio Carlos Salomão, ao ser questionado sobre o ano difícil para as escolas financeiramente, defende que é necessário repensar o modelo atual: “Olha só, eu acho que chegou no auge da coisa, entendeu? Esse modelo já foi por água abaixo”. Sobre a possibilidade de uma volta ao Grupo Especial, ele soou confiante antes do desfile começar, “Olha só, quem menos errar aqui vai levar. Então, se fizermos o trabalho direitinho, vamos lá”. 

Comissão de frente

Desfile Renascer de Jacarepaguá 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

Para representar as oferendas que são levadas aos mares para a divindade do Candomblé homenageada do enredo, a comissão de frente, mais uma vez coreografada por Tony Tara, veio fantasiada de “presentes para Iemanjá”. O figurino contava com 7 fantasias de barcos de oferendas, caracterizados como elemento cenográfico “balaios de oferendas”, e os demais componentes da comissão portavam fantasias brancas de fiéis da religião. Com 15 integrantes no total, a comissão surpreendeu quando, no meio da apresentação, uma componente se transformava em Iemanjá.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Márcio Moura, a comissão de frente da Renascer de Jacarepaguá fez uma boa performance, com coreografia que se sobressaiu e se mostrou exemplar frente aos desafios de uma escola da Série A:

“Tony Tara é um daqueles coreógrafos inquietantes. Sabe coreografar como ninguém com as limitações da série A. Inventivo, gosta de abusar dos elementos cenográficos para contar sua história. Pescadores escondidos em oferendas, filhos de santos em uma dança bem marcada deram à coreografia uma leveza ímpar. Destaque da mãe de santo que vira Iemanjá aos olhos do público. Sem truques. Só teatralidade!”

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Desfile Renascer de Jacarepaguá 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

O casal de mestre-sala e porta-bandeira da escola veio fantasiado de “calunga grande, o mar de Iemanjá” e simbolizou o mar que era visto como um grande calunga, cemitério, pelos escravos trazidos da África.

Luíz Augusto e Thainá Teixeira, casal estreante na agremiação, passaram pela Avenida com fantasias brancas com detalhes pretos, característicos da arte primitiva africana, com destaque para a ponteira da bandeira que era em formato de concha. A dupla bailou acompanhado por guardiões que representavam cavalos-marinhos.

Para a comentarista do SRzd no quesito, Eliane Santos Souza, o primeiro casal da Renascer mostrou um belo bailado, mas percebeu um certo desconforto da porta-bandeira com o peso da fantasia:

“Luiz Augusto e Thainá Teixeira apresentaram o bailado do mestre-sala e da porta-bandeira entrecortado por passos e gestos de outras manifestações de dança. A performance do casal foi realizada com sincronia dos movimentos obrigatórios e bastante sintonia do par nas finalizações dos movimentos coordenados. Percebi, do meu ponto de localização, um desconforto da porta-bandeira ao sustentar o pavilhão, todavia, ela superou o entrevero e foi prestimosa na condução do mesmo. Luiz Augusto escreveu suas “letras” com elegância, desenvolvendo, com firmeza, os passos característicos na execução do “beija-flor”, um dos desdobramentos do “cruzado”, um dos passos da coreografia do mestre-sala”.

Alegorias e adereços

Desfile Renascer de Jacarepaguá 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

Para narrar a história da celebração da festa de Iemanjá, a Renascer de Jacarepaguá trouxe para o Sambódromo 4 carros alegóricos. Embora fossem relativamente pequenos, os carros vieram com uma plástica vibrante, com muitas cores e elementos visuais interessantes.

O destaque ficou para o último carro, “Odoyá, festa no mar”, que representou os barcos de oferendas e distribuiu rosas brancas pela Sapucaí. O terceiro carro da escola, “Odoyá, Rio Vermelho”, trouxe uma igreja que estava avariada, possivelmente por causa da chuva, mas, além dela, não pareceu haver outros danos visuais.

Paro a comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o conjunto alegórico da vermelho e branco pode ter se excedido ao tentar evitar o minimalismo:

“Embora sem defeitos ou danos visíveis no acabamento, o conjunto alegórico tentou em alguns momentos superar o minimalismo com brilhos excessivos ou equivocou-se em desproporções entre suas esculturas e os demais elementos representados. As esculturas não tiveram requinte e os carros não tinham maior impacto. Um trabalho correto, mas sem muita expressividade”.

Fantasias

Desfile Renascer de Jacarepaguá 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

Com um grande número de alas, 21, as fantasias trazidas pelos carnavalescos Raphael Torres e Alexandre Rangel foram simples, porém exuberantes. Características pelas cores apresentadas em cada setor, elas dialogaram bem com a narrativa introduzida pelo enredo.

No primeiro setor, “A travessia da calunga grande”, os figurinos eram marcados pelo preto e branco das artes primitivas africanas. Já no segundo setor, “Dique do Tororó, morada de Oxum”, o colorido das fantasias que representavam os Orixás deixou um belo arco-íris pela Avenida. Vale ressaltar também as fantasias exuberantes das musas que desfilaram pela escola.

Desfile Renascer de Jacarepaguá 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

Paro a comentarista do SRzd no quesito, Wallace Safra, o conjunto de fantasias da Renascer de Jacarepaguá as fantasias foram detalhistas na costura e utilizaram materiais alternativos:

“Com o enredo “Dois de Fevereiro no Rio vermelho” dos carnavalescos Raphael Torres e Alexandre Rangel, a Escola apresentou figurinos com foco em costura, optando por vestimentas sem muita altura, com materiais e soluções alternativas. Podemos destacar as Baianas, que com um figurino nas paletas branca e preta “Calunga grande, o mar de iemanjá””.

Enredo

Desfile Renascer de Jacarepaguá 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

Terceira escola a desfilar na Série A com enredo de temática sobre religiões de matriz africana, a escola apostou na celebração para Iemanjá que acontece em Salvador, no Rio Vermelho, para se destacar sobre as demais. “Dois de Fevereiro no Rio Vermelho”, foi apresentado pelos carnavalescos Raphael Torres e Alexandre Rangel.

A apresentação, que foi dividida em 4 setores, deixou claro para o público o que cada elemento visual representava e funcionou para sustentar o enredo. Apesar disso, a escola buscou partir de um ponto de vista diferente, mas acabou permanecendo no lugar comum, sem trazer novidades para a história que é tão contada na Sapucaí.

Paro a comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o enredo da Renascer de Jacarepaguá é louvável, mas pecou ao não apresentar originalidade:

“A proposição de um enredo com enfoque na festa de dois de fevereiro sugeria uma abordagem mais original que as recorrentes representações dos enredos recentes sobre orixás. Lamentavelmente não foi o que ocorreu. Uma sucessão de clichês e repetições que não tornaram o espetáculo visual interessante ou envolvente à altura da enorme comoção da escola com o tema. Onde sobrou alma faltou plástica. A leitura tornou-se fácil dados os caminhos também fáceis com que os carnavalescos desenvolveram o enredo, sem oferecerem alguma originalidade ou diferencial. Louvem-se a adequação dos carros e a didática de fácil leitura”.

Samba-enredo

Desfile Renascer de Jacarepaguá 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

Composto por Moacyr Luz, Claudio Russo e Diego Nicolau, o samba-enredo “Dois de fevereiro no Rio Vermelho”, encomendado pela agremiação, apresentou uma leve resistência, mas caiu no gosto dos espectadores. A escola, que vinha com um canto forte, foi essencial para fazer o samba funcionar na Avenida.

Na concentração, Claudio Russo falou com SRzd e considerou o samba completo: “Eu acho que o samba tem uma poética bonita, mas também tem uma melodia para frente e vai conduzir bem a escola”. 

Bateria

Desfile Renascer de Jacarepaguá 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

Em seu primeiro ano, Junior Sampaio teve uma estreia de sucesso na vermelho e branco. Afinado e exemplar, o grupo de ritmistas, que desfilaram fantasiados de “candomblé”, com roupas brancas, auxiliou o samba de maneira coordenada e animou o público.

A rainha de bateria Silvia Schureque, que está na agremiação desde o ano passado, passou belamente à frente do grupo com a fantasia “axé”.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Claudio Francioni, a bateria da Renascer de Jacarepaguá teve um resultado excelente:

“A bateria da Renascer fez um desfile irretocável. Com bossas criativas e bem executadas, o estreante Mestre Sampaio impôs suas características mas manteve o altíssimo nível dos últimos anos”.

Harmonia

Desfile Renascer de Jacarepaguá 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

Animada, a escola passou contagiando o público nas arquibancadas que correspondia ao espírito do desfile. Os componentes, entusiasmados, cantavam forte o samba que podia ser ouvido por todos os setores.

Evolução

Desfile Renascer de Jacarepaguá 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

A vermelho e branco de Jacarepaguá fez a sua passagem corretamente, sem deixar buracos na avenida nem estourar o tempo. No final, a escola teve que correr um pouco para não perder décimos como diversas escolas da noite anterior que passou dos 55 minutos permitidos.

Comentários

 




    gl