Portela 2019: Comunidade se emociona, mas desfile não chega a nível de Clara Nunes
Grande era a expectativa em torno do desfile da Portela no Carnaval de 2019. Afinal de contas, a azul e branco de Madureira homenagearia sua maior baluarte: a cantora Clara Nunes. O samba fez seu papel e a comunidade mais ainda. A harmonia da escola, impulsionada pelo ótimo desempenho da bateria e atuação inspirada de Gilsinho, foi o ponto alto da agremiação. Mas erros durante o desfile fizeram com que a apresentação não chegasse ao nível esperado pelo portelense, que saiu da Avenida feliz pela lembrança de Clara, mas com dúvidas se a agremiação consegue entrar na briga pelo título.
Para a comentarista do SRzd Rachel Valença, o desfile da Portela funcionou pelo brio dos desfilantes, ajudados por leves figurinos criados pela carnavalesca Rosa Magalhães: “A Portela foi responsável pelo primeiro grande momento do carnaval do Grupo Especial deste ano. O ponto alto que destaco é o belo conjunto de fantasias apresentado. Simples e de grande efeito, permitiam que o componente brincasse à vontade. E este não se fez de rogado, brincou, se emocionou. Aí incluída a carnavalesca, extravasando no segundo carro, como figura de composição, sua alegria pelo dever cumprido.”
Comissão de frente
Coreografada por Carlinhos de Jesus, a comissão de frente da Portela trouxe “O ritual do entardecer” e impressionou a plateia do Sambódromo. Guerreiras de Iansã e Ogãs contracenavam com um tripé que representa a orixá. O ápice da coreografia se dava nos refrões. No do meio, a escultura emitia sons de raios e trovões. No refrão principal, a Iansã se desfazia e surgia a cantora Mariene de Castro, cantando o samba da Portela.
Para o comentarista do SRzd no quesito, Márcio Moura, a comissão teve ótima passagem pela Sapucaí: “Carlinhos de Jesus traz uma comissão de frente composta de homens e mulheres reverenciando a cantora Clara Nunes. Uma coreografia afro religiosa bastante forte e com figurinos impactantes. O último momento levantou a plateia. A escultura mecânica impressionou pela beleza e funcionalidade”.
Casal de mestre-sala e porta-bandeira
A união da experiência com a jovialidade parece que deu certo no casal da Portela. Lucinha Nobre e Marlon Lamar, vestidos de “Seres de Luz”, fizeram boas apresentações na Sapucaí. Destaque para a caracterização da porta-bandeira, que lembrou bastante a homenageada do enredo – a cantora Clara Nunes.
A comentarista do SRzd no quesito, Eliane Santos Souza, elogiou a dupla portelense: “O casal de mestre-sala e porta-bandeira Marlon Lamar e Lucinha Nobre, com firmeza, garbo e empatia dançou durante todo o percurso. O mestre-sala, hábil e lampeiro, desenvolveu seus passos com destreza no momento da “carrapeta” e do “meio sapateado”. Lucinha Nobre, veterana experimente, deslizou na passarela no “balanço” sem apoio, cortejada pelo mestre-sala que exibiu gestos cavalheirescos, e do ijexá do candomblé dos ketu. A porta-bandeira realizou seu gesto diferenciado de desfraldar o pavilhão – pela esquerda – para a pegada do mestre-sala, no momento da “apresentação da bandeira” e executou com fluidez o “abano”, com os giros característicos da coreografia. A dupla demonstrou sincronismo nos movimentos coordenados e muita sintonia na dança”.
Alegorias e adereços
Não foi o conjunto alegórico que todo portelense espera para uma homenagem à Clara Nunes. Com exceção do abre-alas, os carros eram pequenos e não conseguiram chamar tanta atenção, apesar da boa leitura do enredo e soluções interessantes.
O destaque negativo ficou por conta da águia. O símbolo da escola, sempre muito aguardado, veio tímido, sem destaque entre os outros adereços do primeiro carro, e não impactou como de costume. A escultura, no entanto, emitia os sons do animal.
Também faltou maior referência à homenageada. Com exceção da última alegoria, em que trazia uma destaque vestida da cantora, a figura de Clara Nunes não se fez presente no conjunto alegórico da escola.
Para o comentarista do SRzd no quesito, Wallace Safra, as alegorias da Portela, apesar das ressalvas, cumpriram seu papel: “As alegorias estavam compactas, mas com acabamentos minuciosos e precisos. Boa distribuição da paleta de cores, harmonização e eficácia no desenvolvimento. Belo trabalho e de extremo bom gosto”.
Fantasias
Trabalho da carnavalesca Rosa Magalhães superior ao realizado no quesito Alegorias e Adereços. As roupas conseguiram expressar a temática, com soluções interessantes e boa harmonia visual. A leveza dos figurinos também colaborou para a ótima evolução da escola.
Para o comentarista do SRzd no quesito, Wallace Safra, o conjunto de fantasias da Portela foi homogêneo: “Uma boa plástica, apresentando um grande resultado na Avenida. Rosa trabalhou com uma vasta diversificação de materiais, com foco no desenvolvimento das cabeças e costeiros, possibilitando bom acabamento, altura e maior dinâmica às fantasias. A carnavalesca usou e abusou das penas artificiais lisas e estampadas, placas e galões dourados, enriquecendo as vestimentas. As artes plumarias deram à Escola um toque ainda mais nobre, desde as fantasias até as composições. No último setor com um trabalho em acetato holográfico finalizou com simplicidade”.
Enredo
“Na Madureira moderníssima, hei sempre de ouvir canta uma Sabiá” não falou exatamente da cantora Clara Nunes, o que, antes o desfile, já havia divido opiniões entre portelenses, sambistas e crítica. No desfile, o tema que não se restringiu à cantora ficou ainda mais claro e teve boa leitura.
A proposta foi bem desenvolvida e trouxe o tom modernista e toda brasilidade que fizeram a artista ser quem ela é. Mas para aquele torcedor que esperou tanto por essa homenagem, faltou o principal: Clara Nunes. Contudo, como o jurado julga o que passa na Avenida e não o que poderia passar, a escola não deve ter problemas em garantir boas notas.
Samba-enredo
O excelente samba-enredo da Portela passou muito bem na Avenida. Mérito da ótima interpretação de Gilsinho, aliada à bateria de mestre Nilo Sérgio e o forte canto da comunidade portelense. Em termos de letra e melodia, dificilmente a escola perderá pontos e tem grandes chances de conseguir a nota máxima na apuração.
Contudo, o comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, sentiu que a obra portelense poderia ter rendido ainda mais, principalmente na parte final do desfile, quando a escola teve problemas com andamento de alegorias e precisou acelerar o passo. Fato que, segundo ele, prejudicou a manutenção do samba-enredo.
Bateria
Vencedora do Prêmio SRzd-Carnaval 2019 no quesito, a bateria da Portela teve uma passagem na Sapucaí como há anos não tinha, e ainda contou com uma rainha pra lá de inspirada: Bianca Monteiro. A beldade incorporou “Oyá Onira” e sambou muito.
Para o comentarista do SRzd no quesito, Bruno Moraes, os ritmistas de mestre Nilo foram perfeitos: “A bateria da Portela fez um excelente desfile, sem nenhum problema e com ótimas apresentações nos quatro módulos de julgamento. Destaque para a bossa do refrão do meio que levantou a Avenida. A bateria do mestre Nilo teve um final de desfile apoteótico”.
Harmonia
Ponto alto do desfile da Portela, e não por menos. A comunidade que tanto sonhava em cantar Clara Nunes pôde soltar a voz na Avenida com o excelente samba-enredo. Não deu outra. Ótimo volume em todas as alas da escola, que ainda conseguiram comunicação com o público presente nas frisas.
Evolução
Um quesito pode afetar a águia na Quarta-feira de Cinzas. Não por culpa dos componentes, que desfilaram com garra e vigor, mas sim pelos problemas de andamento que a escola enfrentou. Símbolo da escola no abre-alas, a águia teve problemas para passar pela torre de imprensa. Pouco antes do recuo da bateria e no momento em que a manobra foi realizada, também houve uma correria que fez algumas alas embolarem e perderem o alinhamento.
Para o comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, a evolução da azul e branco pode comprometer sua briga por melhores posições: “O que aconteceu com a Portela poderá punir a harmonia da escola e a evolução. Vinha bem a agremiação, até a quebra ou enguiço de um carro, o que fez com que os diretores perdessem o controle do desfile”.
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