Com grande samba, Mocidade tropeça em evolução e tem falhas em alegorias

Mocidade 2022. Foto: Matheus Siqueira/SRzd

Mocidade 2022. Foto: Matheus Siqueira/SRzd

Uma Avenida inteira em teu nome. Cercada de expectativa pelo seu grande enredo e samba, a Mocidade Independente pisou firme na Marquês de Sapucaí, neste domingo (24), como terceira a se apresentar no segundo dia de Grupo Especial.

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A agremiação teve uma imponente abertura, mas graves falhas de evolução e problemas em alegorias deixaram a verde e branca distante do campeonato. No entanto, a Avenida correspondeu e cantou forte a obra da agremiação.

Fala, Rachel!

Rachel Valença. Foto: Nicholas Barbosa
Rachel Valença é comentarista do SRzd

“Ouço falar que o desfile teve problemas com carros e com evolução. Nada disso eu vi. O que vi foi um maravilhoso trabalho de criação do carnavalesco, ao som de um samba excelente e com uma bateria que fez jus à homenagem. Cabeças raspadas e coroadas, show de cadência. Tomara que os acidentes de percurso não afetem os méritos de um lindo trabalho de equipe”.

Fala, Luiz!

Luiz Fernando Reis. Foto: Reprodução/Youtube SRzd
Luiz Fernando Reis é comentarista do SRzd

“Enredo confuso e complicado, mas passou. Não emocionou, não chegou a cativar. Foi muito confusa. Não vejo a Mocidade entre as seis”.

 

 

 

Comissão de frente

Desfile Mocidade 2022. Foto: Matheus Siqueira/SRzd

O grupo comandado por Jorge Teixeira e Saulo Finelon veio representado “Oxóssi é caçador de uma flecha só”, trajados com belo figurino e auxiliado por um bonito tripé. A apresentação ainda trouxe tambores, que interagiam e se movimentam sozinhos, comandados pelos componentes.

A dança, forte e marcante, simulava passos característicos do orixá. Ao final da coreografia, um drone em formato de flecha voava e atingia um componente vestido de ave-bruxa em cima do tripé, que caia sobre o elemento alegórico. O público aplaudiu e a passagem relembrou o efeito do Alladin, também com drone, no Carnaval 2017.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Desfile Mocidade 2022. Foto: Matheus Siqueira/SRzd

Uma dança forte, marcante e cheia de expressividade de Bruna Santos e Diogo Jesus, que vieram representando “Mutalambô”.

O casal passou vibrante com direito a gritos em determinadas partes da coreografia. Em alguns momentos, a porta-bandeira passou a impressão de uma demasiada força. A dupla foi bem aplaudida pela arquibancada e agradou a comentarista Eliane Santos de Souza.

“O casal da Mocidade, Diogo Jesus e Bruna Santos, apresentou o bailado bastante acrescido de movimentos, gestos e passos da dança afro-religiosa, em uma performance diferenciada. O cruzado foi realizado com cortesia, e pleno de gestos referentes a temática contida no enredo; as piruetas do dançarino, feitas de maneira agilíssimas, confirmaram seu estilo. A porta-bandeira desenvolveu o abano, rodopiando com segurança nos dois sentidos e apresentando um gestual bonito, também em acordo com o enredo, quando girava apoiando a mão nas costas, a altura da cintura. Na pegada de mão, rodopiaram com desembaraço e apresentaram a bandeira com entusiasmo, demonstrando cumplicidade na ação. Bem entrosados e harmoniosos, eles confirmaram, pela ótima coordenação de seus movimentos, a sintonia que construíram em sua performance: uma dança moderna, apresentada de forma alegre e segura”, disse a comentarista Eliane Santos de Souza.

Alegorias e adereços

A Mocidade apresentou um conjunto alegórico promissor, mas irregular. Após belo abre-alas, a qualidade caiu e a agremiação não manteve o mesmo padrão. A alegoria de número dois, do elefante, teve sérios problemas de acabamento. A terceira alegoria, passou com um escultura danificada e tombada.

“A Mocidade Independente trouxe a esperada homenagem ao orixá Oxóssi. A escola da Vila Vintém teve sérios problemas com suas alegorias. A começar pelo gigante abre-alas, um conjunto lindo mas que não andava, um desespero para a escola. Depois foi vez do segundo carro ter problemas para entrar na Avenida e finalizou com terceiro carro que teve problemas com a passarela, e que causou danos à alegoria. Fico aqui me perguntando, será que o Orixá não gostou da homenagem?”, indagou o comentarista Jaime Cezário.

Fantasias

Um belo conjunto apresentado pela verde e branco. O carnavalesco Fábio Ricardo soube explorar com criatividade, objetividade e qualidade os figurinos, que também mostraram um bonito colorido pela Avenida. Diferente de alegorias, a agremiação não deve ter problemas neste quesito visual na apuração.

“As alas estavam ricas, bem acabadas, um belo conjunto, seguia perfeitamente o roteiro. O primeiro momento do enredo era uma sucessão de orixás, depois a lenda do surgimento da entidade, sua chegada ao Brasil e finalizaram com uma homenagem  a bateria do Mestre André, mostrando figurinos de enredos campeões da Mocidade, mas não deveria ser os anos de enredo onde Mestre André esteve a frente da bateria? Mocidade Independente passou, e digo uma coisa a vocês, muita gente queria gritar “é campeã” para ela, mas com tantos problemas esse grito foi silenciado”, afirmou Cezário.

Enredo

Com Batuque ao caçador, o carnavalesco Fábio Ricardo misturou a história do Oxóssi com a própria bateria da Mocidade Independente, que tem na sua batida o toque para o orixá.

Uma abordagem interessante e criativa, que se desenvolveu de forma boa e clara pela Avenida na opinião de Marcelo Masô, comentarista do SRzd no quesito.

“A Mocidade escolheu Oxóssi como tema de seu enredo. O Orixá foi o elemento condutor do enredo para trazer para a avenida a ancestralidade africana, sobretudo através da religião. A escola de Padre Miguel estava imponente, apresentou o enredo com muita clareza e beleza. O primeiro e segundo setores destacaram o Orixá e também suas relações familiares. O quinto setor conferiu ênfase ao sincretismo religioso de forma competente. Interessante a conexão do batuque evocação a Oxóssi com a bateria de Mestre André. Foi um bonito desfile”.

Samba-enredo

A Mocidade tem um dos melhores sambas do ano e pode ir tranquila para apuração. A obra passou cadenciada pela Avenida, como característico da bateria da escola, e foi bem cantada por escola e público, principalmente os refrões. Contudo, pela força da obra, se esperava uma explosão ainda maior, que não aconteceu.

“O samba da Mocidade teve a melhor recepção do público até agora. Um dos candidatos a melhor do ano ajudou muito na força do canto da escola e seguiu com força até o final do desfile”, pontuou Cadu Zugliani, comentarista do SRzd.

Bateria

Ótima exibição dos ritmistas de mestre Dudu, que aproveitaram a melodia envolvente do samba e levantaram o público com convenções em ritmo afro. Destaque para a caracterização dos ritmistas simulando uma careca – aqueles que não eram – e para a rainha Giovanna Angélica, que raspou a cabeça para encarnar “O espírito de Ketu”.

“A bateria da Mocidade fez uma bela apresentação nessa segunda noite de desfiles do Grupo Especial. Esbanjando todas as suas características, teve no andamento o seu ponto alto. A frente da bateria foi muito precisa e apresentou um belo desenho de tamborins. Conseguiu executar boas bossas em frente às cabines, com destaque pra sacada dos surdos soando sozinhos no trecho “inverteu meu tambor”, pra mostrar o resultado sonoro desta ideia”, afirmou o comentarista Cláudio Francioni.

Harmonia

Auxiliada por um grande samba, a Mocidade mostrou bom canto pela Avenida, com ênfase nos refrões. Algumas alas atrás do tripé, porém, deixaram a desejar.

A comentarista do SRzd no quesito, Célia Souto, gostou do que viu, mas fez ponderações em relação ao desempenho do carro de som: “A escola entrou cantando firme e demonstrando conhecimento do samba na totalidade, porém o entrosamento e a sincronia entre ritmo e melodia não foram bem desenvolvidos”.

Evolução

O grande calcanhar de aquiles da Mocidade e que trará graves problemas para ela na apuração. O início do desfile já começou com os tripés do abre-alas tendo problema de locomoção na Avenida.

A situação piorou no decorrer da pista e o carro estacionou na frente do último módulo, onde tem cabine dupla. Após um tempo parado, a escola precisou desacoplar os tripés e tirá-los da pista sozinhos, o que deixou um enorme buraco à frente.

Alguns carros também tiveram problemas para fazer a curva e entrar na Sapucaí, o que, somado ao abre-alas, gerou uma grande oscilação no andamento da Mocidade – parada por algum tempo e acelerava o passo em outras horas. Além disso, algumas alas passaram desalinhadas e com espaçamento equivocado. Na reta final do desfile, a agremiação ainda precisou ir mais rápido para não ter problemas com o tempo.

“O andamento do chão da escola ficou prejudicado devido a problemas técnicos, porém a escola se esforçou para manter a vibração durante o desfile com garra”, ressaltou Célia Souto.

Ficha técnica

Enredo: Batuque ao caçador
Presidente: Flávio Santos
Carnavalesco: Fábio Ricardo
Intérprete: Wander Pires
Mestre de Bateria: Dudu
Rainha de Bateria: Giovanna Angélica
Comissão de Frente: Jorge Teixeira e Saulo Finelon
Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Diogo Jesus e Bruna Santos

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