Mangueira 2019: Em grande desfile, samba emociona e público aclama verde e rosa campeã

Desfile Mangueira 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Apontada como uma das favoritas no pré-carnaval, a Mangueira confirmou as expectativas após desfile emocionante já perto do início da manhã desta terça-feira (5), quando apresentou o enredo “História pra ninar gente grande”, do carnavalesco Leandro Vieira. Apoiada em um dos melhores sambas do ano, que saiu da bolha dos sambistas e alcançou salas de aula, a verde e rosa entoou a obra junto do povo presente na Sapucaí e terminou a apresentação ovacionada pelas arquibancadas, frisas e até camarotes.

A agremiação contou “a história que a história não conta” ao trazer o protagonismo de índios, negros e pobres e criticar o heroísmo de personagens que, segundo a escola, não são tão heróis assim, como Duque de Caxias, Pedro Álvares Cabral, Padre José de Anchieta e Princesa Isabel.

Citada no samba-enredo, a ex-vereadora Marielle Franco, executada em março de 2017, ganhou espaço no desfile a Mangueira. A palavra “presente”, aberta na comissão de frente, evocou a famosa hashtag #MariellePresente. Nas frisas, placas da Rua Marielle Franco e cartazes com os dizeres “Justiça para Marielle” também foram vistos. Ao final do desfile, bandeirões com o rosto da vereadora nas cores da escola foram ovacionados pelo público. No time que desfilou no encerramento da apresentação, estavam a cantora Tereza Cristina, o ator Humberto Carrão, o deputado Marcelo Freixo e Monica Benício, ex-esposa de Marielle.

Desfile Mangueira 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

A comentarista do SRzd Rachel Valença ficou sem palavras para descrever a apresentação da escola de samba: “Que força teve esse desfile da Estação Primeira de Mangueira. Antes de qualquer outra coisa, a letra do samba é uma das mais belas que conheço. Ouço dizer que foi feita por mão feminina, cujo nome não consta entre os autores. Não admira. Observei também que de maneira inovadora os carros eram empurrados só por mulheres. Lindo isso. Somos capazes de tudo isso: como Dandara, Leci, Luísa Mahin, Marielle, podemos fazer tudo aquilo de que fomos excluídas. O ponto alto ficou também com mulheres, as baianas, que traziam na cabeça tabuleiros de quitutes! Nunca mais eu tinha visto na Avenida algo que antes era corriqueiro. Que coisa bela e natural é um tabuleiro na cabeça de baiana! Para finalizar – e muito mais poderia ser escrito -, observo que um desfile de qualidade faz o tempo passar sem que a gente sinta. O desfile da Mangueira, no meu sentimento, foi um piscar de olhos. Um breve momento que pode mudar corações e mentes”.

Comissão de frente

Desfile Mangueira 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Em meio a um Carnaval de truques e mais truques de mágica em comissão de frente, a Mangueira apostou na teatralização e criatividade para mostrar uma síntese do enredo. Os coreógrafos Priscilla Mota e Rodrigo Negri, estreantes na escola, trouxeram uma cena entre índios e heróis consagrados e utilizaram um recurso já utilizado no trabalho da dupla na Grande Rio em 2015 para fazer pessoas terem tamanho de ‘anões’. A solução serviu para exaltar a grandeza dos índios em comparação aos ‘heróis’.

A apresentação trazia figuras ilustres da história em molduras, da onde elas saíam para batalhar com os índios. No final, os índios venciam, rasgavam a página de um livro brasileiro e tomavam o lugar dos ‘heróis’ nas molduras. Também aparecia a cantora Cacá Nascimento, que abria um livro em verde e rosa e esticava a palavra ‘presente’. A passagem da comissão foi ovacionada pela Sapucaí.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Desfile Mangueira 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Vestidos de índios e vindo logo após a comissão de frente, Squel Jorgea e Matheus Olivério mostraram porque são o casal com melhor retrospecto em notas dos últimos anos. Apresentações seguras e precisas nas cabines os credenciam para mais uma apuração com grandes chances dos 40 pontos.

A comentarista do SRzd no quesito, Eliane Santos Souza, elogiou a dupla: “O bailado ancestral foi apresentado pelo casal da Mangueira. ‘Patinete’ sem deslocamento da porta-bandeira, uma releitura de minueto, passo marcado da dupla, foram recursos utilizados como pausa na dança, antes da ‘apresentação da bandeira’. Como no ensaio técnico, passos e gestual característicos dos dançarinos mangueirenses marcaram a coreografia de Matheus Olivério, e a porta-bandeira Squel Jorgea conduziu com garbo e determinação o pavilhão verde-rosa, desfraldando-o durante o ‘abano’, com giros precisos nos dois sentidos. Sincronismo perfeito na realização dos movimentos coordenados, sintonia do par nas integrações e finalizações dos movimentos obrigatórios”.

Alegorias e adereços

Desfile Mangueira 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Um trabalho totalmente diferente do que Leandro Vieira mostrou nos últimos anos na Mangueira. O desfile mostrou a versatilidade do carnavalesco, que, em mais um ano inspirado, mostrou seu talento e provou ser um dos grandes do ramo plástico da folia carioca.

O comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, fez ressalvas a alguns problemas nas alegorias, mas se rendeu ao ótimo trabalho plástico apresentado pelo carnavalesco Leandro Vieira.

“Um trabalho plástico limpo, grandioso, requintado e com bastante recorrência a mensagens textuais para, tal como exige a proposição do enredo, literalmente panfletar e caracterizar uma reflexão de cunho ideológico. Dois problemas de iluminação: o 1º carro passou sem iluminação e o 3º estava com os refletores apontados para a frente, como faróis. No geral, um exuberante trabalho alegórico do talentoso Leandro Vieira, confirmando seu nível de excelência.”

Fantasias

Desfile Mangueira 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Uma aula de figurinos do carnavalesco Leandro Vieira. Variação de utilização de materiais, boa leitura e excelente harmonia de volumetria e paleta de cores. A proposta de tornar índios e negros épicos funcionou nas roupas e colaborou para o bom entendimento de “História pra ninar gente grande”.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Wallace Safra, o conjunto de fantasias da Mangueira foi admirável, sensível e expressiva.

“Estação Primeira de Mangueira desenvolveu um belíssimo trabalho. Com forte e intenso trabalho com as penas artificiais e de acetato, Leandro mais uma vez impôs sua marca, através da construção de esplendores e cabeças com acabamentos de alto nível , o carnavalesco também conseguiu apresentar uma boa transição entre as cores e tonalidades. Destaque para as Baianas. Desfile primoroso e de bom gosto.”

Enredo

Desfile Mangueira 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

O carnavalesco Leandro Vieira desconstruiu personagens considerados históricos e coroou àqueles que sempre foram marginalizados. Com setores que valorizam os personagens deixados de lado pela história, a última parte do desfile se dedicou a satirizar os personagens históricos. O público conseguiu compreender a proposta e embarcou junto do desfile da verde e rosa.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o enredo da Mangueira se deu de forma clara: “A execução do enredo deu-se discursivamente contundente, com o carnavalesco utilizando as referências que contestam a história oficial em tom de protesto e indignação. A execução teve grande empatia com o público e a transposição das contestações históricas foi feita com muito didatismo pela escola”.

Samba-enredo

Desfile Mangueira 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

O já consagrado samba da Mangueira saiu eternizado da Avenida Marquês de Sapucaí. Impulsionada por uma bateria que abusou das bossas e jogou a obra para a galera cantar, a composição da verde e rosa dificilmente perderá pontos na apuração e foi ponto alto do desfile da escola na madrugada desta terça-feira (5).

Bateria

Desfile Mangueira 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

A Mangueira voltou a ter uma grande bateria na madrugada desta terça-feira (5), na Sapucaí. O estreante mestre Wesley confirmou seu ótimo trabalho a longo do ano e os ritmistas tiveram passagem exemplar pelas quatro cabines de jurados. Depois de muito tempo, a verde e rosa vai para a apuração confiante na nota máxima.

Harmonia

Desfile Mangueira 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Ponto alto do desfile da escola. As alas cantaram e ainda foram ajudadas pelo público, que comprou o samba-enredo e entoou a obra pela Sapucaí. Destaque também para a perfeita sintonia entre carro de som, bateria e comunidade.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, a harmonia da Mangueira funcionou muito bem no desfile:”A harmonia de Mangueira é a única que recebe o apoio de três alas técnicas, que são Boêmios, Periquitos e Só para quem pode, e desenvolveram esse trabalho com muita competência”.

Evolução

Desfile Mangueira 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Coesa e sem abrir buracos, Mangueira também não apresentou problemas no quesito e vai firme em busca do 10 na apuração. Os componentes passaram brincando e evoluindo, sem qualquer tipo de problema que atrapalhasse o desfile.

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