Inocentes 2019: Casal e comissão se destacam no sexto desfile da noite

Penúltima escola a desfilar na sexta (1), Inocentes de Belford Roxo entrou às 04h13 e trouxe a história de nordestinos que escondiam suas riquezas enterradas nos quintais em “O frasco do Bandoleiro – Baseado num causo com a boca na botija“, enredo desenvolvido pelo carnavalesco Marcus Ferreira. Colorida e animada, a agremiação fez um desfile exemplar no primeiro dia do Carnaval 2019.

O destaque ficou para a comissão de frente, que apresentou uma coreografia envolvente, sem apoio de tripé, e para o casal de mestre-sala e porta-bandeira, que cativou o público com uma dança bonita e sincronizada. Para a comentarista do SRzd, Rachel Valença, a criatividade do carnavalesco foi a principal característica da passagem da escola de Belford Roxo:

“O desfile da Inocentes de Belford Roxo teve seu ponto alto na criatividade do carnavalesco Marcus Ferreira. Principalmente no tocante a fantasias, de cores fortes e formas nada banais. Talvez na ala de baianas a ousadia tenha sido excessiva, mas funcionou”.

Comissão de frente

Os integrantes da comissão de frente da azul, vermelho e branco vieram vestidos de cangaceiros com fantasias douradas em que diversos frascos estavam pendurados. Em seu segundo ano de volta à escola, o coreógrafo Patrick Carvalho trouxe um elenco bem ensaiado e apostou apenas na dança para conquistar o público e os jurados, sem usar artifícios como tripés ou ilusões.

Apesar de arriscada, a aposta foi um sucesso e envolveu o público que assistia à escola. Para Márcio Moura, comentarista do SRzd no quesito, a comissão de frente deu um show com dança forte:

“Patrick Carvalho fez o que mais gosta: colocou sua equipe pra dançar. Isso pode parecer pouca coisa, mas no caso foi uma escolha bem acertada. Uma dança forte, muito bem marcada e com uma teatralidade muito evidente. Lampiões e Marias Bonitas deram um show, ocupando todo o espaço à frente da cabine com desenhos bem diversificados.”

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Peixinho e Jaçanã Ribeiro, mestre-sala e porta-bandeira da escola, também surpreenderam com uma dança cheia de sintonia e uma apresentação impecável. Enquanto Jaçanã veio com um vestido vermelho forte, Peixinho a complementava vestido com um azul profundo e, juntos, chamavam atenção pela beleza do figurino.

O casal se destacou não apenas na passagem da escola, mas também entre os desfiles da noite. Para a comentarista do SRzd no quesito, Eliane Santos Souza, o primeiro casal da Inocentes de Belford Roxo realizou uma performance exemplar:

“O casal bailou! Peixinho apresentou os movimentos, passos e gestos característicos da performance do mestre-sala, realizando o ‘cruzado’ com um beija-flor bem elaborado e fluente. Seus passos miúdos e rápidos, com olhos sempre postos no pavilhão e na porta-bandeira, a troca rápida dos pés no chão, a pirueta desenhada com segurança em seu ‘meio sapateado’, engendraram na ‘pegada de mão’ para que a porta-bandeira com este luxuoso apoio deslizasse serenamente no ‘aviãozinho’. Ela, com segurança e equilíbrio girou no sentido horário e desfez no anti-horário, durante a ‘apresentação da bandeira’. O casal demonstrou sintonia na realização dos movimentos obrigatórios e muito sincronismo nos movimentos coordenados.”

Alegorias e adereços

Com quatro carros alegóricos, ultrapassando os três que a maioria das escolas trouxe, a agremiação se destacou pela plástica satisfatória recheada de cores vibrantes, característica do desfile. As alegorias não eram de fácil interpretação, devido à alta complexidade do enredo, mas agradaram o público da Sapucaí pela criatividade.

Paro a comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o conjunto alegórico da Inocentes foi bem elaborado, mas o carnavalesco pode ter cometido alguns excessos no uso das cores:

“Nesse quesito, Marcus Ferreira mostrou um conjunto caprichoso e com efeito, realizando um de seus melhores trabalhos na avenida. Talvez tenha excedido o uso das cores, além de algumas escolhas aparentemente injustificadas, como a Cobra-Grande cor-de-rosa e os tons azuis num carro que mencionava um tesouro. A cabeça do último carro tinha uma falha na emenda do pescoço e havia vários queijos sem componentes. Mas o conjunto alegórico, no geral, foi criativo e bem elaborado, com destaque para o belíssimo carro dos caixotes.”

Fantasias

O trabalho de cores ousado apresentado nas alegorias da escola de Belford Roxo também esteve presente em suas fantasias. Nas suas 16 alas, os figurinos utilizados pelos componentes vibravam e dialogavam bem com o resto da escola, que buscou contar a história dos frascos dos bandoleiros de maneira lúdica.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Wallace Safra, o conjunto de fantasias da Inocentes foi bem elaborado e apostou nas cores fortes:

“Com o Enredo ‘O Frasco do bandoleiro’, do carnavalesco Marcus Ferreira, a escola trouxe para a avenida um paralelo entre crendices, Nordeste e cenas de corrupção. A escola, que ousou na aplicação nas paletas fortes, exibindo cores diferenciadas, apresentou um trabalho limpo, bem realizado, com utilização de materiais alternativos como saídas para melhores desenvolvimentos em algumas fantasias. Destaque para a execução dos chapéus e o desenvolvimento na finalização das roupas”.

Enredo

Aposta arriscada do carnavalesco Marcus Ferreira, “O frasco do Bandoleiro – Baseado num causo com a boca na botija” buscou apresentar a história das crendices de pessoas que guardavam suas fortunas enterradas em seus quintais no Nordeste. A proposta do enredo era criar um paralelo entre os tesouros enterrados com os casos de corrupção do país. Entretanto, essa relação não ficou clara na Avenida. O enredo pareceu focar apenas nos causos dos bandoleiros. Considerado confuso por diversas pessoas, o enredo, que foi dividido em quatro setores, funcionou  graças à capacidade do carnavalesco de incorporá-lo a alegorias e apresentações cativantes.

O comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, ressaltou a complexidade do enredo e elogiou a maneira como foi desenvolvido:

“O enredo proposto pareceu, desde a sinopse, um pouco complexo e difícil de possibilitar uma leitura. Apesar disso, a execução de Marcus Ferreira foi consistente e o carnavalesco conseguiu apresentar com boa desenvoltura sua proposição, embora a subjetividade do tema pareça não ter envolvido muito o público”.

Samba-enredo

Puxado por Nino do Milênio, que após um ano volta à Inocentes, o samba-enredo teve uma repercussão boa pela Avenida, mas não chegou a empolgar. O samba foi considerado um dos mais fracos da noite e não correspondeu ao imaginado.

Bateria

Com Washington Paz à sua frente, a bateria da Inocentes de Belford Roxo surpreendeu com bons resultados. Para o comentarista do SRzd no quesito, Claudio Francioni, ela veio equilibrada e com boa apresentação ao passar pela Avenida:

“A bateria da Inocentes teve um ótimo desempenho no desfile. Bem equilibrada nos timbres, os ritmistas de Mestre Washington executaram com excelência bossas de altíssima complexidade”.

Em seu primeiro ano na azul, vermelho e branco, Thayná Oliveira desfilou como “a joia do bando”, com fantasia deslumbrante que seguia a estética da escola. A estreante passou carismática, mas poderia ter investido mais no samba no pé.

Harmonia

A harmonia da escola, ainda que tenha sido boa, não correspondeu ao potencial que poderia ter atingido. Muitos componentes da escola pareciam já estar cansados e o samba não contagiou o público. Ainda assim, a escola passou vibrante com suas cores fortes e manteve o clima nas arquibancadas.

Evolução

Em um dia em que diversas escolas estouraram o tempo permitido de 55 minutos, a Inocentes realizou uma boa evolução pela Marquês de Sapucaí. Cuidadosa com buracos, a azul, vermelho e branco passou de forma exemplar e se destacou na abertura do Carnaval 2019.