Império Serrano 2019: Pequena, Verde e Branco não faz jus ao legado, em tentativa de driblar crise financeira

Desfile Império Serrano 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Uma das escolas mais tradicionais do Carnaval carioca, o Império Serrano abriu os desfiles do Grupo Especial em 2019, na noite deste domingo (3). Com o enredo “O que é o que é?”, do carnavalesco Paulo Menezes, o Império entrou na Avenida com 45 minutos de atraso, após uma forte chuva que caiu na região da Marquês de Sapucaí. De forma enxuta, com carros pequenos, a Verde e Branca de Madureira tentou driblar problemas derivados da falta de verbas, que ficaram evidentes em sua passagem.

Em entrevista exclusiva ao SRzd, a atual presidente da Escola, Vera Lúcia Corrêa, falou sobre o processo de superação financeira da Agremiação: “Foi muito difícil! Um ano de superação, mas nós conseguimos. O enredo é a vida. Esse enredo foi bem aceito pela escola. Quem já conhece o Império Serrano vai ver que a escola é igual uma vara de marmelo: enverga, mas não quebra”.

Comissão de frente

Desfile Império Serrano 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Trazendo um enorme tripé em sua Comissão de Frente, Claudia Motta, conhecida por seus trabalhos no Carnaval, encenou um nascimento. Com 15 bailarinos, dentre eles duas crianças, uma personagem deu a luz à um bebê, que foi envolvido pela bandeira da escola.

A ideia era trazer uma imersão do processo criacional, brincando com o nascimento do ser humano em condições de pobreza, retratado pelos bailarinos em suas vestimentas e caracterização.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Márcio Moura, a comissão de frente do Império Serrano contou com um ótimo trabalho da coreógrafa: “Claudia Motta fez um trabalho bastante teatralizado. Trouxe um grupo de moradores de rua, que pareciam traduzir o sentido do samba em intenções e movimentos. O ápice era o nascimento de uma criança na apresentação aos jurados, que arrancou aplausos. A encenação aconteceu num palco a mais de 2 metros de altura, o que deve ter favorecido a troca de olhar com a cabine”.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Desfile Império Serrano 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Estreando na Verde e Branca, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diogo Jesus e Verônica Lima, protagonizou um dos maiores destaques do desfile. Inovando e sob ideia do carnavalesco da escola, Paulo Menezes, decidiu trazer a dupla em um local fugindo completamente do tradicional.

Utilizando o tripé da comissão de frente, um elevador levava o casal ao topo do elemento cênico, com 2 metros de altura. Para apresentar seu bailado em frente aos jurados, a dupla era içada por um elevador, que chegava a elevá-los a 4 metros de altura.

Para a porta-bandeira, Verônica Lima, a ideia do carnavalesco foi abraçada, mas também foi um desafio: “A ideia foi do Paulo Menezes, e nós compramos a ideia. Pode dar errado até um casal vindo no chão, qualquer casal vindo no chão, pode dar problema. Já tem tanta coisa diferente, que a gente resolveu fazer a dança tradicional do mestre-sala e porta-bandeira. Para mim, o maior desafio, é a altura, porque eu tenho fobia de altura”.

Para a comentarista do SRzd no quesito, Eliane Santos Souza, o casal foi prejudicado pela inovação já que, a esta altura, o vento exigiu muito mais do casal: “A ousadia sempre tem um preço! O casal formado por Diego Jesus e Verônica Lima, dupla experiente de valorosos sambistas, trouxe para o desfile o bailado desenvolvido por movimentos, passos e gestos característicos da dança. Todavia, a performance do par se desenvolveu em dois planos, literalmente, no chão e no elemento alegórico que serviu de palco a comissão de frente. Houve quebra de coreografia, posto que, não constante, devido a parada para subir pelo elevador, fazia uma descontinuidade dos movimentos da dança. O espaço físico modificado, pareceu desestabilizar a harmonia e a sintonia do par, sendo que a porta-bandeira, apesar de dominar os movimentos em seus giros no ‘abano’ teve de se desdobrar para manter a bandeira desfraldada por causa da maior incidência de vento no alto do carro. Senti falta da exibição detalhada e exuberante do mestre-sala, pois o deslocamento de espaço deve ter ocupado mais seu pensamento, do que a realização de sua encantadora coreografia”.

Alegorias e adereços

Desfile Império Serrano 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Com alegorias pequenas e apostando bastante no trabalho corporal, o Império Serrano deixou a desejar na execução de seus carros. Uma escola com o porte da Verde e Branca pede um trabalho magnânimo à altura, afinal, com quase 70 anos de história e 9 campeonatos nas costas, a escola é sempre uma referência em Carnaval.

O primeiro carro, “Ele é a batida de um coração”, trouxe à frente um grande coração que se abria, dando espaço à uma coroa, símbolo da agremiação. Como não poderia ser diferente, a menção simbólica teve uma ótima sacada. Mas o tamanho do elemento poderia ser maior, diante do tamanho e do peso da agremiação.

O segundo carro, explicando a Teoria da Criação, “O sopro do criador”, trouxe a representação de Deus de Michelangelo, conhecida pintura presente na Capela Cistina, em Roma. Nas laterais, grandes vitrais foram representados, em uma alegoria onde se viu o peso da economia financeira, já que em toda sua parte interna havia espaços não preenchidos. Os grandes vitrais ocupavam as laterais, “tapando” a parte interna do carro.

“Você diz que é luta e prazer”, o terceiro carro, trouxe um grande jogo de xadrez iluminado, com grandes cavalos, uma das peças mais imponentes do tabuleiro.

Chamando a atenção pela grande brincadeira apresentada, “Somos nós que fazemos a vida”, trouxe um labirinto que era percorrido pelos componentes da escola. Uma grande sacada do carnavalesco em uma das alegorias mais bonitas da escola em 2019.

Já o quinto carro, “Eu fico com a pureza da resposta das crianças” mais parecia um tripé. Talvez grande para um tripé e pequena para um carro, a escola trouxe crianças com representações de palhaços, com a ideia de mostrar a vida sob os olhares dos pequenos, da maneira mais pura possível. A ideia era legal, mas gerou um pouco de confusão com sua leitura.

Já o último e belo carro, que trouxe a Velha Guarda, fez uma homenagem à Dona Ivone Lara, com uma grande coroa com personalidades da escola estampadas.

Fantasias

Desfile Império Serrano 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

As fantasias do Império Serrano estavam bonitas, com plástica simples, e apostado na fácil leitura do enredo. Com bastante tecido, trouxe um trabalho de formiguinha realizado pelo carnavalesco.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Wallace Safra, o conjunto de fantasias teve ótimo desenvolvimento: “A agremiação iniciou seu desfile com o casal de mestre-sala e porta-bandeira, com uma fantasia tecnológica, bonita e imponente. Plástica simples, com um forte trabalho em varetas e penas paradas, que valorizou e acrescentou altura às fantasias, cores harmoniosas, mas que poderiam transitar melhor. No segundo momento, a escola desenvolveu um trabalho diferente, apresentando fantasias com maiores volumes em tecidos, mas sem acabamento nas placas, no entanto, com chapéus bem acabados e bem realizados. Destaque para a ala 16 que, com um trabalho simples, desenvolveu um efeito visual impactante no público, com uma fantasia somente em tecidos e aplicação de fasfalhos em babados de tule”.

Enredo

Desfile Império Serrano 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Com um enredo que conta com um forte lado lúdico, o Império Serrano explicou o processo do nascimento e criação e evolução do ser humano. Foi bem dividido, com ênfase no ótimo trabalho do primeiro setor, que é o grande fator positivo do desfile.

No desenvolver, pesou a falta de verbas, explicação dada pela própria presidente da escola, Vera Lúcia Corrêa, que assumiu que não teve dinheiro para investir mais no Carnaval. Triste, porque não foi a melhor execução de uma das mais tradicionais agremiações do Carnaval.

Samba-enredo

Desfile Império Serrano 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Apostando em um dos hinos de Carnaval mais tradicionais e bem-sucedidos da história, o Império Serrano levou à Marquês a versão original de uma das músicas mais conhecidas de Gonzaguinha, apostando nesse trunfo para cativar o público. E deu certo!

Os versos “Viver e não ter a vergonha de ser feliz / Cantar e cantar e cantar / A beleza de ser um eterno aprendiz”, foram cantados, tanto pelo público, quanto pelos componentes em uníssono, gerando momentos bastante emocionantes.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, o samba-enredo do Império Serrano, inovou em levar na íntegra uma música já conhecida pelo público: “Está entrando para a história do Carnaval um samba que se transforma em Samba de Enredo e ajuda o Império Serrano a realizar um bom desfile, Samba esse que foi bem cantado pelas vozes guia em sintonia com o chão da Escola”.

Bateria

Desfile Império Serrano 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

A Sinfônica rugiu, e fez um ótimo desfile, sob comando do Mestre Mestre Gilmar Cunha, que trouxe uma cadência bem adaptada à sonoridade do samba-enredo.

O retorno de Quitéria Chagas à frente da Sinfônica foi outro ponto positivo, que deve ser mensurado. Ajudando a escola à colocar o Carnaval na Avenida, a modelo pagou mais de R$ 200 mil por sua fantasia. Desfilando debaixo de chuva, a Rainha assumiu que prefere desfilar com chão molhado.

“Na verdade, ajuda na minha dança, que é mais passeada. Eu estou usando saltos com emborrachado no solado, então não tem problema”, disse a rainha de bateria.

Desfile Império Serrano 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Para o comentarista do SRzd no quesito, Claudio Francioni, a bateria do Império Serrano foi um destaque positivo: “A bateria do Império Serrano fez uma apresentação bem superior à do ensaio técnico. Além das caixas soando bem mais alto e bem executadas, Mestre Gilmar abusou das bossas, não só em frente às cabines”.

Harmonia

Desfile Império Serrano 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Compacta, pareceu fácil manter uma boa harmonia no Império Serrano durante sua passagem pela Marquês de Sapucaí. Com alas enxutas e carros bem pequenos, a Direção de Harmonia manteve bem o ritmo do andamento da escola, sem apresentar grandes problemas.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, a harmonia do Império Serrano se destaca pela assertividade: “Conseguiu a Diretor de Harmonia e seus comandados levar o Império de forma organizada e compacta, ajudados que foram pelo canto e pelo ritmo, trabalhou a Harmonia mostrando assim que os ensaios realizados em Madureira não foram em vão”.

Evolução

Desfile Império Serrano 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

O canto foi forte, não dá para negar, de uma das músicas mais famosas de Gonzaguinha, que foi abraçado pelo público na Avenida.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, a evolução do Império Serrano foi um trabalho bem-executado: “A Escola acompanhou o que determinou a Diretor de Harmonia, os componentes evoluíram sem deixar de cantar e dançar o Samba de Enredo”.

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