Império da Tijuca 2019: Escola tijucana desfila com comissão de frente emocionante e alegorias luxuosas

Desfile Império da Tijuca 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Da escravidão às cidades do Vale do café, Império da Tijuca conta a história da semente que desenvolveu a economia do país e mostra que veio à luta para estar entre as primeiras colocadas. Penúltima escola a passar pela Sapucaí nos desfiles das escolas de samba da série A, na madrugada do domingo (03), a verde e branco narrou o enredo de Jorge Caribé, “Império do café, o vale da esperança”, com plástica exuberante, carros grandes e fantasias ricas. A escola mostrou que soube se sobressair frente à crise financeira que assombra as agremiações.

Inspirado no Carnaval da Paraíso do Tuiuti de 2018, que ficou em segundo lugar falando sobre a escravidão nos dias de hoje, Junior Scapin trouxe uma comissão de frente surpreendente que falava sobre a exploração dos escravos, mão de obra primária nas colheitas de café, que foi um dos destaques do desfile da escola tijucana.

Para a comentarista do SRzd, Rachel Valença, a Império da Tijuca, apesar de alguns problemas, fez um bom desfile:

“Com um enredo dúbio, que vai do ataque à exploração da mão de obra escrava à defesa do agronegócio, a Império da Tijuca mostrou seu chão desfilando com bom resultado. A comissão de frente segue a linha do Tuiuti 2018, e o samba tem problemas de versos de pé quebrado, mas nada disso comprometeu o bom desfile.”

Comissão de frente

Desfile Império da Tijuca 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Um dos elementos que mais chamaram a atenção durante a passagem da Império da Tijuca foi a sua comissão de frente. Com 15 integrantes homens e mulheres fantasiados de “celebração aos deuses pela colheita do café”, o coreógrafo Junior Scapin preparou uma apresentação baseada na dança e apostou numa performance teatralizada que buscava intrigar seus espectadores.

Os componentes representavam danças ritualísticas realizadas por escravos e usavam figurino vermelho que mudava de estampa no decorrer da apresentação. Em determinado momento, alguns membros da comissão puxavam um tecido de uma componente, de maneira a simular que estavam arrancando a pele dela. A componente em questão veio com uma mordaça pela Avenida.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Márcio Moura, a comissão de frente da Império da Tijuca se destacou pelo impacto no público:

“Junior Scapin trouxe uma coreografia muito teatralizada. Vigor e entrega dos bailarinos não faltaram. O público ficou impactado com a interpretação e reagiu muito bem em cada cabine. Destaque para a maquiagem de Jorge Abreu.”

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Desfile Império da Tijuca 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

O casal Renan Oliveira e Gleice Simpatia veio como “Omi Dun Dun – tributo ao povo africano”, com fantasia exuberante cheia de brilhantes e rica em detalhes laranja, marrom e branco. O mestre-sala e a porta-bandeira desfilaram sem guardião, fato que não influenciou na apresentação da dupla.

Com um bailado que deixava explícita a parceria entre os dois, o casal teve um excelente desempenho que arrancou muitos aplausos do público. Para a comentarista do SRzd no quesito, Eliane Santos Souza, o primeiro casal da Império da Tijuca foi excepcional, mas também destacou a bela performance do segundo casal:

“Renan Oliveira e Gleice Simpatia dançaram com animação, vitalidade e galhardia. O casal apresentou os movimentos, passos e gestos do bailado, realizando a ‘apresentação da bandeira’ com elegância. Pôde ser observado o sincronismo do par durante a realização dos movimentos coordenados, na excelente performance do par. Destaco a performance do segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, Fábio e Vitória, que trazendo o bailado original, com coreografia realizada com firmeza, gentileza e elegância, foram uma festa para apreciação do público”.

Alegorias e adereços

Desfile Império da Tijuca 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Outro ponto forte do desfile da verde e branco foram as suas alegorias luxuosas, em contraste com a crise financeira atual pela qual as escolas passam.

Com 4 carros alegóricos e um abre-alas, “O império do café”, que chamou atenção por seu tamanho, a escola trouxe alegorias que contavam o enredo de forma simples e de fácil interpretação. O carnavalesco Jorge Caribé soube utilizar os elementos alegóricos de forma clara e trouxe uma plástica exuberante.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o conjunto alegórico da Império da Tijuca agradou:

“O Império da Tijuca surpreendeu ao abrir seu desfile com luxo e grandiosidade. Os dois primeiros carros tinham gigantismo e muito requinte na concepção e no acabamento, primando também por soluções originais”.

Fantasias

Desfile Império da Tijuca 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

De acordo com as alegorias da escola, as fantasias também apresentaram bastante luxo e dialogaram com o enredo. O grande número de alas, 24, serviu para contar a história do café, até seus impactos nos dias de hoje, de forma clara e bela.

Com destaque para as fantasias dos mestre-salas e porta-bandeiras que vieram trazendo as cores da escola e as cores do café. A fantasia do segundo casal, que trouxe as cores da escola com detalhes em dourado, representou a “Sra. Eufrásia e Sr. Nabuco”.

O comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, ressaltou que o conjunto de fantasias da Império da Tijuca acompanhou as alegorias num belo desfile que trabalhou bem as cores da escola:

“As fantasias acompanharam o didatismo e o requinte do início de desfile, que perdeu um pouco de volume a partir do terceiro setor, mas manteve o bom gosto e a clareza na leitura. Uma observação: até seu desfile, o Império da Tijuca foi a única escola que soube preservar com mais firmeza as cores de seu pavilhão, embora mescladas a outros pantones, bem como a materiais rústicos e tecidos em tons terrosos, tudo com extremo bom gosto”.

Enredo

Desfile Império da Tijuca 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Com “Império do café, o vale da esperança”, Jorge Caribé propôs contar a história do café na Avenida. Os 4 setores foram bem claros em suas propostas, e deram ao enredo a facilidade de interpretação que foi presenciada na Sapucaí.

Os 4 setores foram:

“O nêgo tá cansado de trabaiá… trabaia nêgo”

“Na hora em que a terra dorme, enroladas em frios véus, eu ouço uma reza enorme enchendo o abismo dos céus…(Castro Alves)”

“Não cadeia clementina… fui feita pra vadiá… (Clementina de Jesus)”

“O legado deixado pelo café”

Partindo de uma homenagem aos escravos que foram mão de obra da produção cafeeira, passando por uma atenção ao luxo advindo da riqueza do café e finalizando na região do Vale do Café hoje, a escola tijucana trouxe um enredo simples que possibilitou o seu bom desenvolvimento pela Sapucaí.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o enredo da Império da Tijuca foi bem desenvolvido por Caribé, que mostrou um lado interessante de um enredo não muito original:

“Embora o café não fosse um tema original, o carnavalesco Jorge Caribé criou uma interessante narrativa destacando a contribuição do elemento negro à riqueza cafeeira no Brasil, diferenciando seu enredo por uma temática afirmativa da contribuição dos afrodescendentes em nossa cultura. Bem encadeado e de clara proposição, o enredo teve execução e leitura perfeitos”.

Samba-enredo

Desfile Império da Tijuca 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Levado no Sambódromo por Daniel Silva, o samba-enredo da Império da Tijuca, “Império do café, o vale da esperança”, foi bem recebido pelo público da Sapucaí que cantou junto com os componentes da escola. O samba, que já era considerado um dos fortes dessa temporada, teve Diego Nicolau, Pixulé Braguinha Cromadinho, Jota e Tinga como seus compositores e foi executado com uma pegada mais acelerada pela avenida.

O comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, ressaltou como o samba pôde ser ouvido pela escola, “foi cantado pelos componentes e pela voz guia com muito empenho”.

Bateria

Desfile Império da Tijuca 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

A bateria do trio Jordan, Júlio e Paulinho desfilou como “os foliões”, fantasiados com ternos nas cores da escola. Apesar de ter acompanhado o samba com boa execução e ter animado o público, a bateria da Império da Tijuca não atingiu o seu potencial, como afirmou o comentarista do SRzd no quesito, Bruno Moraes:

“A bateria do Império da Tijuca, a Sinfonia Imperial, começou o desfile com o andamento bem pra frente, e manteve durante o desfile, porém com alguns problemas ao longo da pista”.

Já a rainha da bateria Laynara Teles veio com bastante samba no pé e abriu o caminho para os ritmistas da verde e branco. Vestida de “diabo”, Laynara desfilou com um tridente vermelho e chifres, numa fantasia luxuosa vermelha e roxa.

Desfile Império da Tijuca 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Harmonia

Desfile Império da Tijuca 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Ser a quinta escola a desfilar muitas vezes desanima o público e os componentes da escola, coisa que não aconteceu com a Império. A agremiação passou animada, com todos os seus integrantes cantando forte e contagiando os espectadores da Sapucaí.

Com destaque para a ala de passistas que apresentou uma pequena coreografia, a harmonia da verde e branco foi um ponto alto no penúltimo desfile das escolas da série A.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, a harmonia da Império da Tijuca foi boa:

“A harmonia fez seu trabalho com muito empenho e conseguiu cumprir bem com sua missão”.

Evolução

Desfile Império da Tijuca 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Resultado da harmonia bem executada, a escola que contava com um número grande de integrantes não abriu buracos e estava bem organizada em suas alas.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, a evolução da Império da Tijuca “aconteceu dentro da proposta do desfile”.

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