Imperatriz 2019: Escola empaca e abre buraco após problemas com abre-alas

Desfile Imperatriz 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Penúltima escola a desfilar no primeiro dia do Grupo Especial, a Imperatriz Leopoldinense levou à Marquês de Sapucaí uma grande brincadeira. Com o enredo “Me dá um dinheiro aí”, dos carnavalescos Mário e Kaká Monteiro, a agremiação teve problemas logo no início do desfile, com a entrada do abre-alas.

Ainda no Setor 1, a alegoria que remetia à “Lenda do Rei Midas”, o carro que trazia uma grande coroa à frente, símbolo da escola, não funcionou corretamente e deixou um grande buraco após a segunda ala. Correndo para corrigir o problema, o Diretor de Harmonia, Júnior Escafura, passou por apuros, e a escola pode acabar despontuada.

Apesar dos esforços, o belo desfile foi prejudicado por conta do mau funcionamento do carro, que foi percebido nos dois primeiros boxes de jurados, fazendo com que a escola corresse para preencher o espaço vazio.

Mas o buraco não deixou de lado o brilho da Verde e Branca, que passou fazendo uma grande crítica social com as desigualdades provocadas pela concentração financeira, uma bela sacada da dupla de carnavalescos.

Para a comentarista do SRzd Rachel Valença, o desfile da Imperatriz foi bastante assertivo, apesar de ter apresentado problemas: “A boa bateria e o samba leve, quase marchinha, proporcionaram aos componentes a oportunidade de brincadeira. Apesar de um conjunto visual bem irregular, com cores escuras em carros e fantasias, a alegria foi a tônica, o que é sempre positivo no Carnaval”.

Comissão de frente

Desfile Imperatriz 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Uma das comissões de frente que mais chamaram atenção no primeiro dia do Grupo Especial, a ala coreografada por Fábio Batista trazia a retratação de Robin Hood, famosa lenda de um justiceiro que rouba dos ricos e distribui aos pobres, foi reproduzido com um momento “uau!”. Com uma espécie de grua, o ator foi içado na Marquês de Sapucaí por um gancho, “andando” sobre a plateia e “dando dinheiro”, soltando notas cenográficas de R$ 100.

O impacto visual da comissão foi o suficiente para deixar todos os olhos aos céus, um elemento surpresa que deu um tom diferente ao desfile.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Márcio Moura, a comissão da Imperatriz Leopoldinense marcou uma boa estreia do coreógrafo: “Fabio Batista estreou maravilhosamente como coreógrafo do Grupo Especial. Baseado na história de Robin Hood, trouxe bailarinos muito integrados na proposta. Soube orquestrar lindamente os três tripés na sua evolução. Em frente à cabine, o voo do Robin Hood por cima das frisas, soltando dinheiro, fez a plateia ir abaixo”.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Desfile Imperatriz 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, formado por Thiaguinho Mendonça e Rafaela Theodoro, apresentou um bailado tradicional. Na Verde e Branca desde 2017, a dupla desempenhou um bom desfile, que rendeu aplausos, defendendo o Pavilhão.

Para a comentarista do SRzd no quesito, Eliane Santos Souza, o casal da Imperatriz Leopoldinense apostou na destreza e parceria: “Thiaguinho Mendonça e Rafaela Theodoro bailaram com garbo e destreza demonstrando grande harmonia ao desenvolver os passos, gestos e movimentos característicos do bailado ancestral. Rafaela, determinada e firme em sua coreografia, apresentou giros horário e anti-horário com leveza e fluidez quando executou o ‘abano’, assim como, na realização do ‘balanço’. Thiaguinho, manuseando habilmente um leque, com perfeita destreza e cortesia, conduzia a dança e a porta-bandeira; seus giros e passos rápidos foram realizados de forma segura durante a ‘carrapeta’; o ‘voleio’ com o toque sutil do pé direito atrás do joelho esquerdo; o equilíbrio impecável ao se elevar na meia ponta para então realizar a falsa queda, e assim encadear-se no ‘cruzado’ com um gracioso e fruitivo ‘beija-flor’, no qual, a inversão do movimento realizado em giros de rotação e translação de forma segura com fluidez e leveza, embelezaram a performance do par.”

Desfile Imperatriz 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Segundo a especialista, apesar de não ser avaliado no desfile, o segundo casal da agremiação deve ser louvado, devido ao trabalho do segundo mestre-sala, Marcílio Diamante: “Destaque para o excelente Marcílio Diamante, o culto e estudioso segundo mestre-sala da escola, gentilíssimo, que veio manuseando um bastão. Conforme ele me disse em entrevista, este adereço de uso real remete à forma determinada com a qual o mestre-sala dançava para defender o pavilhão e proteger a porta-bandeira nos desfiles iniciais, quando esta era a função principal do mestre-sala”.

Alegorias e adereços

Desfile Imperatriz 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Com carros de fácil leitura, grande apelo popular e diversas críticas sociais, a Imperatriz Leopoldinense padeceu perante à parada do primeiro carro no Setor 1. Uma alegoria majestosa, de tamanho impressionante, apostou em um acoplado com uma grande coroa na cor branca. Se não fosse o problema na execução, teria sido um resultado incrível.

O segundo carro da Imperatriz trouxe um grande navio negreiro, falando sobre a venda de escravos como um método comercial.

Já a terceira alegoria fez uma brincadeira com os banqueiros, e o sistema bancário, trazendo o “Thesouro Nacional”. Para coroar, com uma grande crítica, mostrou um grande cofre em sua parte frontal com seis fundos, tratando o dinheiro como sujo, representado por ratos.

Quarto carro da Verde e Branca, a Bolsa de Valores foi apresentada como um sistema de especulação monetária. Fazendo um jogo com a queda e ascensão da bolsa, muitos gráficos e porcentagens foram apresentados na lateral do carro. Não era grande, mas bem interessante de se ver.

Desfile Imperatriz 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Mostrando o “sonho da casa própria”, e o contraste social entre um apartamento de classe média alta e a vida nas favelas, a dupla de carnavalescos ousou bastante na brincadeira e nas riquezas dos detalhes, como elementos característicos e estigmatizados: caixas d’água expostas, fiação desordenada, canos, toalhas de banho nas janelas, e um gato (animal) representado em cima de um transformador de energia deixaram um tom engraçado e de fácil identificação.

No último carro, a história da escola mostrou o dinheiro virtual, Bitcoin, tratado como “moeda do futuro”. A alegoria trouxe figuras ilustres da agremiação, como o cantor Elymar Santos.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o conjunto alegórico da Imperatriz Leopoldinense, surpreendeu: “Criatividade, bom gosto, leitura fácil e requinte no conjunto alegórico da Imperatriz. Destaque para a originalidade do navio negreiro, uma recorrência de vários desfiles, apresentado em cores e acabamento inéditos na Avenida, além das velas do barco trazerem versos de Castro Alves ilustrando a narrativa. Um desfile surpreendente!”.

Fantasias

Desfile Imperatriz 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Criatividade não faltou para desvendar um assunto bastante legal. Com uma paleta de cores simples e bastante clara, uma das características dos Carnavais da escola, a Imperatriz seguiu o tradicional e apostou um pouco na inovação neste sentido, trazendo alas completas com componentes com partes do corpo expostas, o que é uma característica um pouco além do que a Verde e Branca apresenta tradicionalmente.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Helio Rainho, o conjunto de fantasias da Imperatriz Leopoldinense, o trabalho, no entanto, acabou pecando pelo excesso. “Em mais um momento surpreendente de seu desfile, a Imperatriz conseguiu se mostrar bastante criativa e competente no uso de suas fantasias para narrar seu enredo. Com boa volumetria, bom acabamento e imponência, fez uma bela variação de cores com passantes harmônicas de diferentes tons, entrando para o time das escolas que fugiram com elegância dos exageros policromáticos que há algum tempo vêm poluindo muitos desfiles”.

Enredo

Desfile Imperatriz 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Um enredo muito interessante, executado de forma tão crítica quanto cômica, falar sobre dinheiro é sempre algo muito polêmico. Uns têm muito, outros pouco ou nada, a grande pegada do enredo foi a diversão apresentada no desenrolar do desfile. Neste processo, a escola acertou em cheio.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o enredo da Imperatriz Leopoldinense, o mérito é todo do carnavalesco: “O enredo, cuja sinopse parecia econômica, mostrou-se generosamente farto em desenvolvimento na Avenida. Mário Monteiro soube dosar a leveza e a irreverência do tema com um conjunto plástico vistoso, trazendo um encadeamento perfeito do tema e de sua execução”.

Samba-enredo

Desfile Imperatriz 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

De longe, não foi o samba mais cantado no primeiro dia dos desfiles, mas foi, de fato, um dos que mais brincaram com a realidade de grande parte dos brasileiros: o dinheiro. Quem não quer, não é? Uns trabalham demais, outros sonham em ganhar na loteria, mas é fato que é desta forma que as relações profissionais e econômicas são realizadas em troca de dinheiro.

E falando sobre o escambo, o refrão forte “Troca-troca ê na beira da praia / Troca-troca ê na beira da praia / Um espelho por cocar / O negócio do pecado / Ouro no mercado negro, negro é ouro no mercado” rompeu paradigmas em relação ao comércio negreiro, uma das principais formas de se ganhar dinheiro até o fim do século XIX.

Bateria

Desfile Imperatriz 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

A experiente “Swing da Leopoldina” acompanhou o samba com garra, sob comando de Mestre Lolo. O empenho dos componentes gerou um ótimo resultado em todo o desfile, que deve ser louvado.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Bruno Moraes, a bateria da Imperatriz Leopoldinense deve conseguir boas notas: “A Swing da Leopoldina teve a árdua missão de levar esse samba. Mestre Lolo colocou o andamento para frente, com bossas bem executadas e muito firmes. Fez ótimas apresentações nos quatro módulos”.

Harmonia

Desfile Imperatriz 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

A escola até que evoluiu bem, com um bom trabalho do carro de som, defendido com garra na Avenida, mas não empolgou. Talvez o cansaço, por ser a penúltima escola, mas com uma força tão tradicional, foi difícil ver um desfile que tinha tudo pra dar certo, sofrer grandes penalizações.

Evolução

Desfile Imperatriz 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Prejudicada pelo andamento do desfile, com problemas em relação à chegada do enorme abre-alas na Armação, a Harmonia deve sofrer uma grande perda de pontuação em pelo menos dois dos quatro jurados no quesito. A quebra de um componente responsável pelo andar do carro fez com que ele parasse ainda na entrada na Marquês de Sapucaí, tendo um novo episódio após a passagem pelo Setor 1.

Pesou. De fato, pesou. Mas não deixou de fora o belo Carnaval que a Imperatriz Leopoldinense levou à Avenida neste ano. Diversos problemas atrapalharam o compasso.

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