Grande Rio 2019: Tricolor impressiona nas alegorias, mas faz desfile morno

Desfile Grande Rio 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Com jogos de tabuleiro, acidentes de trânsito e poluição, a Acadêmicos do Grande Rio trouxe os maus hábitos dos brasileiros para a Sapucaí com o enredo “Quem nunca…? Que atire a primeira pedra”, dos carnavalescos Renato e Márcia Lage. Depois de ter sido rebaixada em 2018, mas ter permanecido no Grupo Especial, a escola veio com uma crítica aos julgamentos, como fala em seu samba: “falam de mim, eu falo de paz”. Terceira a desfilar na madrugada de segunda (04), às 00h34, a tricolor fez uma boa passagem pela Avenida, mas não levantou tanto o público.

Seu destaque ficou para a parte plástica da escola, que veio tecnológica e bem ornamentada. Bem diferente dos carnavais tradicionais, o conjunto de alegorias da Grande Rio surpreendeu pelo visual moderno e pelos carros grandiosos.

Ainda que tenha feito um desfile bem estruturado, a agremiação não empolgou tanto quanto podia. Para a comentarista do SRzd Rachel Valença, a escola foi prejudicada por ter vindo após a Unidos do Viradouro, que levantou o público da Sapucaí:

“Não fosse a sua posição de desfile, a Grande Rio seria mais bem recebida. Mas quis o destino que viesse após um desfile que agradou ao público. O excelente trabalho plástico de Renato ganhou um tom ingênuo ao ser comparado ao que antecedeu”.

Comissão de frente

Desfile Acadêmicos da Grande Rio 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

“O profeta on line”, comissão de frente da Acadêmicos da Grande Rio, buscou representar os Dez Mandamentos recebidos pelo Profeta Moisés com um toque de modernidade por meio dos emojis para falar sobre julgamento nos dias de hoje. A apresentação, coreografada por Hélio e Beth Bejani, contou com 15 componentes, na qual um representava Moisés e os outros 10 vinham com emojis na cabeça. Eles usavam roupas pretas brilhantes que contrastavam com a vestimenta tradicional do Profeta.

Em determinado momento da apresentação, Moisés traz um celular que começa a exibir os emojis, linguagem visual usada nos meios de comunicação por meio de figuras. Nesse momento, as cabeças animadas dos 10 componentes, que eram equipadas com drones, saíram voando pela Sapucaí para a surpresa do público que correspondeu bem ao truque dos coreógrafos.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Márcio Moura, a comissão trouxe a animação, marca da dupla de coreógrafos:

“Helio e Beth Bejani trouxeram uma comissão que tinha o humor como base. Profeta Moisés absolutamente conectado e atualizado interagia com os integrantes que perdiam suas cabeças que saíam flutuando como drones . Coreografia animada e precisa, marca nos trabalhos da dupla”.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Desfile Acadêmicos da Grande Rio 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

O mestre-sala Daniel Werneck e a porta-bandeira estreante na agremiação, Taciana Couto, vieram de “rei e rainha do jogo de xadrez”. Taciana bailava com um vestido vermelho com cavalos em sua saia, enquanto Daniel exibia uma fantasia verde cintilante com o auxílio do leque. Os dois brilharam pela Avenida em sua performance. 

O casal veio com guardiões vestidos de “proteção ao casal real”, seguindo a linha do primeiro setor, que abordava o jogo de xadrez num paralelo com o jogo que é a vida.

Para a comentarista do SRzd no quesito, Eliane Santos Souza, o casal fez uma apresentação com sintonia exemplar, e ainda ressaltou o belo manuseio do leque por Daniel:

“O casal da Grande Rio, Daniel Werneck e Taciane Couto, dançou durante todo o tempo em estava no meu campo de visão (setor 4). Demonstrando perfeita sintonia, realizou a “apresentação da bandeira”, ação obrigatória na coreografia do mestre-sala, com harmonia e sincronismo dos movimentos coordenados, ocupando bem o espaço reservado para a dança. Destacou-se a gentileza e serenidade na postura e habilidade do mestre-sala na condução de Taciane, que realizou seu ‘abano’ com segurança e firmeza, e no manuseio do leque. Espalhando amabilidade para com sua dama e o pavilhão, Werneck trouxe também um lenço, sinal de sua delicadeza. Dançarino experiente, ele deixou ser observado em sua performance a execução dos movimentos característicos: riscados, mesuras, falsas caídas , giros e conta-giros e fugas. Realizou o “beija-flor” durante o “cruzado” com elegância e cortesia. Com excelência e extremo zelo, conduziu a dama durante a “pegada de mão” e ela, assim apoiada, deslizou no “aviãozinho”.

Alegorias e adereços

Desfile Acadêmicos do Grande Rio 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Ponto alto do desfile, as alegorias tecnológicas e de estética moderna da escola de Caxias chamaram a atenção do público da Sapucaí. Em seus 6 carros, os carnavalescos Renato Lage e Márcia Lage abusaram do uso de luzes e movimento com carros e tabuleiros que giram e peixes de garrafa pet que nadavam. Grandes, as alegorias contaram o enredo de forma simples. Todas eram facilmente lidas pelos espectadores e passaram a mensagem que era proposta.

Os destaques ficaram para o quarto carro, que trazia animais marinhos de cores exuberantes feitos de garrafas pet para simbolizar a poluição nos mares, e para o último carro todo branco que simbolizava esperança para os novos tempos.  

Os 6 carros alegóricos foram:

“Vivendo e aprendendo a jogar”

“Perda total”

“Deu ruim na rede”

“Cardumes de garrafas pelo mar”

“O céu é o limite”

“Nada será como antes”

Para o comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o conjunto alegórico da Acadêmicos da Grande Rio surpreendeu pela plástica excelente:

“Grandeza, suntuosidade, esplendor de requinte e acabamento. Uma aula de artes plásticas em carros como o dos peixes e o último, dos Arlequins, Colombinas, Pierrôs. Em nenhum momento as soluções de decoração e acabamento repetiram estilos ou usos de materiais recorrentes. O último carro foi uma obra de raríssima beleza digna de um discípulo de Arlindo Rodrigues como é Renato Lage. A dupla Lage brilhou! Vale destacar um trabalho alegórico que, numa era de epidemia de um multicolorismo muitas vezes exagerado e de gosto duvidoso, Renato e Marcia Lage apresentaram verdadeiras obras-primas alegóricas com equilíbrio de cores perfeito e o carro mais bonito – o último, já citado – praticamente monocromático e branco. Um espetáculo de artes plásticas na Avenida!

Fantasias

Desfile Acadêmicos do Grande Rio 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

O conjunto de fantasias da verde, vermelho e branco acompanhou a estética moderna das alegorias e trabalhou bem as suas 30 alas para a fácil interpretação do enredo proposto. As baianas, que vieram com figurino preto e branco de “rainhas do jogo”, exibiram uma bela fantasia pela Avenida. Outra ala interessante foi a das “correntinhas do bem”, com capturas de tela de conversas no aplicativo whatsapp para criticar as correntes que são passadas no meio de comunicação para criar mentiras.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Wallace Safra, o conjunto de fantasias da Acadêmicos da Grande Rio foi um trabalho muito bem realizado pelos carnavalescos da agremiação:

“A escola apresentou o enredo “Quem nunca… ? Que atire a primeira pedra”, dos carnavalescos Renato Lage e Márcia Lage, e fez uma crítica leve e divertida às gafes, deslizes e ao famoso jeitinho brasileiro. Apresentou um trabalho plástico perfeito, construído com fantasias bem executadas, desenvolvendo vestimentas luxuosas. A escola personificou a execução de muitos leques com penas artificiais, mas com um diferencial que foram os paetês holográficos, material que possibilita um efeito visual de maior proporção na Avenida e valoriza o processo de finalização. Trabalho também muito bem realizado em artes plumárias das alas e composições, que em sua totalidade foram utilizados em costeiros, concluindo uma sistemática ainda mais técnica e brilhante.”

Enredo

Desfile Acadêmicos do Grande Rio 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

“Quem nunca…? Que atire a primeira pedra” foi a aposta dos carnavalescos Renato Lage e Márcia Lage para a Grande Rio em 2019. Um enredo que ao mesmo tempo que buscava criticar os maus hábitos dos brasileiros, como infringir leis e poluir os mares, condenava o julgamento alheio, pode ter despertado confusão pelo tom crítico e ao mesmo tempo irônico. Apesar disso, o enredo foi bem desenvolvido no Sambódromo, com alegorias e fantasias simples que ajudavam na fácil interpretação do público presente na Sapucaí. 

Depois da vitória da Beija-Flor e do vice-campeonato da Tuiuti em 2018 com enredos que exibiam críticas sociais, a Grande Rio segue essa tendência com um tom ameno, condenando o famigerado “jeitinho brasileiro”.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o enredo da Acadêmicos do Grande Rio pode não ter sido tão bem aceito pelo público, mas teve uma boa execução:

“Atrevo-me a dizer que, não obstante a grandeza de seus autores, o samba da escola “traiu” seu enredo. Com uma proposta temática cuja sinopse em todo tempo pareceu dúbia quanto a criticar ou exaltar o “jeitinho”, a execução foi perfeita tanto no contexto crítico quanto irônico. Um enredo quase de denúncia, que acertou nos aspectos descritivos quase em tom de denúncia, sem cair no pieguismo ou nos lugares comuns do fatalismo ou do dramalhão. Bela execução, embora pareça não ter sido “aceito” pelo público presente, que parece ter entendido a mensagem mais pelo samba de refrão controverso do que pela primorosa execução plástica da proposta”.

Samba-enredo

Desfile Unidos Acadêmicos do Grande Rio 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

“Quem nunca…? Que atire a primeira pedra”, samba-enredo da Grande Rio em 2019, não empolgou o público da Sapucaí como a escola esperava. Ainda que cantado com força pelos componentes da agremiação durante o seu desfile, ele não foi bem recebido e já era considerado um samba fraco na temporada.

Puxado pela primeira vez por Evandro Malandro, o samba tem Moacyr Luz, Claudio Russo, André Diniz, G. Martins, Licinho júnior e Elias Bililico como seus compositores.

Bateria

Desfile Unidos do Viradouro 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

A bateria do mestre Fafá veio de “fiscal da natureza” para simbolizar o setor que critica os ataques ao meio ambiente. Bem organizados, os ritmistas fizeram uma boa apresentação pela Marquês de Sapucaí, embora o samba fosse fraco.

O que levantou o público foi a rainha de bateria, a atriz Juliana Paes, que recebeu diversos aplausos ao passar pela Avenida com fantasia exuberante e rica em detalhes.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Bruno Moraes, a bateria da Acadêmicos da Grande Rio teve uma boa execução:

“Bateria da Grande Rio foi muito bem, resgatando algumas características da época do Mestre Odilon. Muita limpeza em todos os toques e segurança nas paradinhas”.

Desfile Grande Rio 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Harmonia

Desfile Acadêmicos da Grande Rio. Foto: Leandro Milton/SRzd

A escola desfilou com componentes animados, que cantaram forte o samba, embora não tenha contagiado o público nas arquibancadas. Talvez, por esse motivo, não teve o efeito que esperava em sua passagem pela Avenida. Ainda assim, é válido ressaltar a animação dos integrantes da escola de Caxias.

Evolução

Desfile Acadêmicos da Grande Rio 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

A vermelho, verde e branco passou pelo Sambódromo sem abrir buracos e bem organizada. Com um ritmo adequado para os 75 minutos permitidos para seu desfile, a escola não correu e evoluiu de forma excelente pela Marquês de Sapucaí.

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