Estácio de Sá 2019: Em desfile emocionante, escola entra na briga pelo título

Desfile Estácio de Sá 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Demorou, mas chegou. Foi somente na terceira escola de sábado (2) que a Série A pôde ter a certeza que uma agremiação saiu da Sapucaí com todos os quesitos bem defendidos e com a grande possibilidade de conseguir o caneco do grupo: Estácio de Sá. Com o melhor desfile até o momento, a vermelho e branco uniu a técnica e a emoção na apresentação que falou sobre o Cristo Negro do Panamá, no enredo “A fé que emerge das águas”, do carnavalesco Tarcísio Zanon.

Dentre os vários pontos positivos da Estácio, se destacaram a comissão de frente, a ótima parte plástica e o desempenho da comunidade em harmonia e evolução. Na passagem do último carro pela pista, a escola saiu ovacionada pelo público das arquibancadas e frisas.

Para a comentarista do SRzd, Rachel Valença, a agremiação ‘sobrou’ em comparação às escolas de samba anteriores: “A Estácio veio num patamar de riqueza superior a tudo que se viu até agora. Bom enredo, bem original. A ala das baianas se destacou entre as fantasias, embora ‘Diablada’ também tenha chamado a atenção. Louvor à interpretação do samba, que ganhou valor apesar do andamento um tanto acelerado”.

Comissão de frente

Uma passagem emocionante da comissão de frente coreografada por Ariadne Lax. Os componentes representaram o próprio enredo “A fé que emerge das águas” e mostraram uma síntese de tudo que viria adiante. Baseada no teatro, a apresentação mostrou a crucificação do Cristo Negro e a aparição da Mãe Negra, Nossa Senhora Aparecida.

Sem erros, a exibição do grupo se deu de forma perfeita pela Avenida. No momento final da coreografia, quando entrou a Nossa Senhora, o público foi ao delírio. A comissão foi a que mais mexeu com o povo até então, e vai para a apuração com grandes chances de conseguir todas as notas 10.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Os experientes José Roberto e Alcione incorporaram a fantasia “O sagrado”. A roupa dourada, belíssima, trouxe a porta-bandeira com um véu de Nossa Senhora. Para a comentarista do SRzd no quesito, Eliane Santos Souza, o primeiro casal da Estácio teve boa passagem pela Sapucaí.

“O casal apresentou simpatia, tranquilidade e perfeita harmonia na execução da performance. José Roberto e Alcione Carvalho demonstraram uma grande sintonia quando finalizavam os movimentos coordenados, desenvolvendo com tranquilidade os passos característicos do bailado. Durante a “apresentação da bandeira”, a coreografia foi acrescida do movimento da dança afro-religiosa ao orixá Oxalá, no momento em que a letra do samba se referia ao ancestral Obatala.  Observei que o casal modificou o ritmo de sua evolução coreográfica, tornando-a mais morosa e delicada, todavia com o mesmo vigor, característico da forma de dançar o samba deste par.”

Alegorias e adereços

Tarcísio Zanon acertou em cheio nos carros alegóricos da Estácio de Sá no Carnaval 2019. Com cores vibrantes, boa leitura, bom acabamento e grandiosidade, o carnavalesco pode dormir tranquilo com a certeza de um trabalho de alto nível realizado. Única ressalva ficou por conta do segundo chassi do abre-alas, que passou apagado.

Confira o que representou cada alegoria:

Abre-alas: “Catedral aquática”
Segundo carro: “Paraíso panamenho”
Terceiro carro: “Orgulho panamenho: o canal de amor para unir dois oceanos”
Quarto carro: “Carnaval no céu de Ismael”

Para o comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o conjunto alegórico da Estácio se revelou um dos melhores da Série A e provou que Tarcísio Zanon atingiu um nível superior no seu trabalho plástico.

“Grandeza, requinte, apuro plástico e leitura absolutamente clara dos elementos do enredo. Tarcísio Zanon esbanjou grandiosidade e bom gosto em alegorias belíssimas, de grande efeito, com nuances de cores diversas e elementos visuais muito atrativos. Um marco de maturidade artística na carreira do carnavalesco.”

Fantasias

Com destaque à paleta de cores e formas dos figurinos, o conjunto de fantasias da Estácio foi satisfatório e tem tudo para render boas notas na Quarta-feira de Cinzas. A ala das baianas, que representou “Pássaro resplandescente”, trouxe uma proposta ousada, que, segundo a comentarista Rachel Valença, funcionou.

O comentarista do SRzd no quesito, Wallace Safra, elogiou o conjunto de fantasias da Estácio de Sá: “Com figurinos de maiores dimensões e cores explosivas, o carnavalesco desenvolveu um trabalho forte. Mesmo apresentando materiais alternativos, desenvolveu figurinos com grande utilização e variação em outros materiais. A palha se fez presente, somada a uma excelente plástica, de bom gosto e sensível ao enredo. Destaque para a vestimenta do primeiro casal de mestre sala e porta bandeira, José Roberto e Alcione Carvalho, com um trabalho rico em pedrarias, cores harmoniosas e uma arte primária muito bem executada”.

Enredo

“A fé que emerge das águas” contou a o Cristo Negro de Porto Belo, Panamá, na Marquês de Sapucaí. Um tema que, ao princípio, parecia de difícil compreensão pelo fato do país ser desconhecido e distante do Brasil, mas se mostrou de forma clara na passagem da Estácio graças ao trabalho do carnavalesco Tarcísio Zanon em alegorias e fantasias.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o enredo da Estácio de Sá se mostrou um dos “momentos sublimas da Série A em 2019”.

“Um enredo original, arrojado, com uma proposição de difícil aceno carnavalesco, brilhantemente defendido, narrado e executado no melhor trabalho da carreira de Tarcísio Zanon. As cores do Panamá se tornaram páginas de um livro aberto pelo Velho Estácio para contar com maestria a odisseia do Cristo Negro de Portobelo, de forma didática e fascinante.”

Samba-enredo

O ótimo samba da Estácio passou bem pela Avenida. Mérito do intérprete Serginho do Porto, muito firme na condução da obra. A composição apresentou letra e melodia condizentes com o enredo, com passagens inspiradas e emotivas, que facilitaram o desempenho da agremiação na Avenida.

Bateria

Vestidos de “Presidente Roosevelt”, os ritmistas de mestre Chuvisco levantaram o público na passagem da madrugada deste domingo (3). O destaque ficou para a bossa do refrão do meio, que simulou os ritmos de salsa e merengue.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Bruno Moraes, a bateria da Estácio pode sonhar com a nota máxima na apuração: “Os ritmistas fizeram um desfile com suas características. No retorno do mestre Chuvisco, bossas ousadas e bem executadas nos quatro módulos de julgamento”.

Harmonia

Não é novidade para ninguém que a comunidade estaciana é uma das mais fortes do Carnaval, e a escola provou isso novamente na madrugada deste domingo (3). Com destaque para o refrão do meio, os componentes mostraram bom volume de canto, e foram aprovados pelo comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos.

“A Estácio tem nos seus quadros diretores da sua origem, o que facilita todo trabalho. A escola conseguiu evoluir cantando com alegria e garra a composição sobre o Cristo Negro de Porto Belo.”

Evolução

Grande em número de componentes, a escola conseguiu imprimir um bom ritmo de desfile e não precisou parar nem correr para completar a apresentação. Coesa, também não abriu buracos. Vale destacar a espontaneidade dos integrantes, que evoluíram impulsionados pelo bom samba-enredo.