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Cubango 2019: Na disputa pelo título, agremiação percorre sonhos e objetos de devoção

Na disputa pelo campeonato da Série A 2019, a Acadêmicos do Cubango fechou os desfiles do grupo em bom estilo, apresentando o enredo “Igbá Cubango – A alma das coisas e a arte dos milagres”, da dupla de carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora.

Para o Carnaval deste ano, os artistas decidiram contar a história por trás dos objetos de devoção, como imagens, que conectam os seres humanos aos sagrados, símbolos de diversas religiões. Para contar o enredo, a dupla percorreu crenças que movimentam milhões de pessoas e aquecem economias locais, como o turismo religioso em diversas regiões do mundo. O resultado foi um desfile louvável.

De fácil leitura, os carnavalescos brincaram com o sincretismo religioso desde o início do desfile, com a apresentação de imagens e representações de locais sagrados, e de práticas comuns a diversas crenças.

Vale ressaltar que, no segundo dia da Série A, esta foi uma das poucas agremiações que desfilou debaixo de chuva – quase uma garoa -, mas que deixou a Direção de Harmonia um pouco cautelosa com o andamento do desfile, principalmente em alas coreografadas e com a desenvoltura dos casais de mestre-sala e porta-bandeira.

Para a comentarista do SRzd, Rachel Valença, a Acadêmicos do Cubango fez um ótimo desfile: “Cubango teve tudo que se quer de uma escola de samba: beleza, qualidade e emoção. Muita emoção. Carnavalescos competentes que respeitam a comunidade e são reconhecidos e abraçados por ela. Receita simples”.

Comissão de frente

Desfile Acadêmicos do Cubango 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

Sob comando de Sergio Lobato, a Comissão de Frente da Acadêmicos do Cubango levou os sonhos de forma lúdica para a Avenida. Em se tratando de crenças, por que não mostrar aquelas que mantemos de forma mais remota em nossa mente, que acreditamos que nunca serão alcançadas, mas que há uma ponta de esperança de vê-las concretizadas?  Foi justamente isso o que a escola fez.

Trazendo romeiros com figurinos e elementos católicos, incluindo um grande santo da religião como elemento cênico, a Verde e Branca trouxe nas saias da indumentária reproduções de Carybé, artista que desenhou os “Orixás da Bahia”. E com bastões que se transformavam em um grande boneco que ganhava um coração, os bailarinos completavam a cenografia da ala.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Márcio Moura, a comissão de frente da Acadêmicos do Cubango foi uma obra de execução do coreógrafo: “Sergio Lobato trouxe uma romaria para apresentar sua comissão! O chão escorregadio dificultou um pouco a execução dos movimentos o que fez com que ele optasse em tirar as sapatilhas dos bailarinos. A manipulação de um enorme boneco foi o momento clímax da coreografia”.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Desfile Acadêmicos do Cubango 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

Primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Acadêmicos do Cubango, Diego Falcão e Patrícia Cunha deram um show superando o medo de uma possível queda ou escorregão devido à pista molhada. Representando “A alma de um pavilhão”, a dupla mostrou interação e apostou na sintonia. Estreando na Verde e Branca, Patrícia fez um ótimo desfile ao lado de Diogo, que já defendeu a escola em outros anos, ao lado de outra parceira. Para o desfile, a escola resolveu utilizar os polêmicos guardiões de casal de maneira tradicional.

Para a comentarista do SRzd no quesito, Eliane Santos Souza, o primeiro casal da Cubango teve uma boa execução dos passos: “Diego Falcão e Patrícia Cunha apresentaram o bailado, realizando os movimentos obrigatórios com perfeita harmonia, sincronismo nos movimentos coordenados, e uma excelente sintonia na finalização de cada momento da dança. A porta-bandeira rodopiou no ‘abano’ com giros anti-horário e horário demonstrando segurança, apesar do chão molhado. Diego, durante o cruzado, executou com elegância o ‘beija-flor’, com movimento em rotação e translação, desfazendo a roda e exibindo os passos rápidos e miúdos da “carrapeta” com destreza e segurança. Senti falta do leque, adereço de mão que este mestre-sala manuseia com muita habilidade, herança que lhe deixou seu padrinho Carlinhos Brilhante”.

Alegorias e adereços

Desfile Acadêmicos do Cubango 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

Com quatro carros alegóricos, a Acadêmicos do Cubango resolveu apostar nas representações imagéticas em todo o seu desfile, tornando-o didático e de fácil identificação pelo público. Afinal, quem não acredita, não arrisca. E fazendo uma brincadeira com as diversas crenças e valorizações dos ancestrais, a escola trouxe em seu abre-alas diversos componentes mais antigos, mostrando sua importância.

Já o segundo carro, “Altar Brasileiro”, utilizou elementos conhecidos por crenças aqui no Brasil, como as tradicionais fitinhas de Senhor do Bonfim, um souvenir que todos os que visitam Salvador trazem consigo em suas malas, sob benção do padre da cidade.

Com muitos espelhos, o carnavalesco quis fazer uma homenagem à memória do carnavalesco Arlindo Rodrigues, que morreu em 1987, aos 56 anos. Arlindo foi um artista importante no segmento, e representou diversas agremiações, conquistando quatro campeonatos pelo Salgueiro (1963, 1965, 1969 e 1971), além de se consagrar dois anos à frente da Imperatriz Leopoldinense (1980 e 1981).

No terceiro carro, os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora representaram a “Sala dos Milagres”, também conhecida como “Sala de Promessas”, conhecido local em Igrejas Católicas onde acredita-se que milagres ou pedidos considerados impossíveis são concebidos, após muita fé. Normalmente, quando um romeiro ou peregrino faz uma promessa, este pedido está condicionado à retribuição, que deve ser paga como objeto de findar o resultado desta promessa. A alegoria, muito bem trabalhada, mostrou “partes de pernas” e pedaços de retalhos, como uma forma de elucidar a prática.

Desfile Acadêmicos do Cubango 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

A última alegoria da Cubango, “Acendo vela, peço salvação”, levou à Marquês uma grande imagem em representação ao Cristo Redentor, famoso cartão-postal do Rio de Janeiro, localizado no Morro do Corcovado, Zona Sul da cidade. Um dos monumentos mais famosos do mundo, a estátua foi estilizada com um grande penacho na cabeça.

Vale ressaltar que este carro sofreu problemas na Avenida, desde o início do desfile, quando elementos que simbolizavam jarros acabaram se partindo nas laterais da alegoria. Para solucionar de forma pontual o problema, a Direção de Harmonia colocou componentes da escola para escorar as esculturas.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o conjunto alegórico da Acadêmicos do Cubango foi muito bem trabalhado: “Um abre-alas de grande impacto visual, carros e fantasias de extremo capricho e leitura objetiva foram marcas de um desfile competente e criativo, consagrando a dupla de carnavalescos como a maior revelação do Carnaval carioca”.

Fantasias

Desfile Acadêmicos do Cubango 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

Com 20 alas e 1.800 componentes, a Acadêmicos do Cubango pareceu enxuta (no bom sentido da palavra), contando bem o propósito do enredo. Muito luxo, cores fortes, mas uma paleta que não fugia do tradicional e das próprias cores da escola, o verde e branco foram o grande destaque da apresentação.

De fato, não havia nada de excepcional, mas a sensibilidade dos carnavalescos com o tema fizeram com que a escola realizasse um grande e belo desfile, que fica para a história da agremiação. A dupla Gabriel e Leonardo trabalhou bem e deve deixar concorrentes de olho.

Enredo

Desfile Acadêmicos do Cubango 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

O enredo “Igbá Cubango – A Alma das Coisas e a Arte dos Milagres” foi bastante aclamado desde o anúncio e deixou os componentes animados com sua execução, que fez jus à expectativa.

Despontando entre as favoritas, mesmo a pequena incidência de uma chuva leve que caía no sambódromo no encerramento da Série A, a Cubango não se deixou prejudicar, fazendo um belo desfile.

Houve problemas, mas foram tão pontuais que podem facilmente passar batido, diante o tamanho com que a escola defendeu seu enredo na Avenida.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o enredo da Acadêmicos do Cubango foi uma ótima união dos carnavalescos: “Gabriel Haddad e Leonardo Bora confirmam a cada ano seu talento e criatividade. Reforçando a verve africanista da escola niteroiense, desenvolveram um belo enredo sobre objetos místicos e religiosidade, com uma pesquisa e uma divisão temática bastante interessantes”.

Samba-enredo

Desfile Acadêmicos do Cubango 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

Com toda devoção à seu favor, a Cubango teve um bom desempenho de seu samba-enredo tocado na Avenida, o que deve gerar boa pontuação. Não foi a desenvoltura com canto mais forte, mas cumpriu o prometido com uma comunidade que abraça a escola em todos os desfiles.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, o samba da Cubango foi bem executado. “Belo samba, foi bem cantado e tocado, casou o canto e o ritmo, dando suporte para o trabalho da Harmonia e da Evolução da Escola.”

Bateria

Sob comando de Demétrius Luiz, a bateria da Acadêmicos do Cubango teve um bom andamento e compasso durante o desfile. Pelo terceiro ano à frente da Verde e Branca, o ritmista apresentou a bateria de forma mais acelerada em relação a 2018, quando esteve em seu segundo ano na escola.

Já a rainha de bateria, Maryanne Hipólito, sofreu. Com a fantasia “As Flores da Berlinda”, Maryanne teve seu samba prejudicado com um elemento de sua indumentária, que pesava muito nas costas.

Durante todo o desfile, a rainha teve de parar de sambar – ou deixar de fazer os passos – para ajeitar sua fantasia.

Ao SRzd, Maryanne confirmou que a indumentária era excessivamente pesada.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Claudio Francioni, a bateria da Acadêmicos do Cubango se saiu bem: “A bateria da Cubango veio com um andamento bem mais acelerado do que no ano passado, porém não comprometeu o desempenho. Executou muito bem as bossas e as levadas rítmicas”.

Harmonia

Um enredo de inúmeras possibilidades: ao tratar sobre imagens que remetem à fé, os carnavalescos da Cubango tiveram uma bela e acertada escolha, que funcionou bem na Avenida. Sem grandes problemas, a Direção de Harmonia, comandada por Daniel Katar e Allan Guimarães, teve um ótimo desempenho, fechando o desfile dentro dos parâmetros previstos.

A chuva que caía desde o início da apresentação não atrapalhou a passagem da escola pela Passarela do Samba.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, a harmonia da Acadêmicos do Cubango pode se orgulhar: “Mesmo com a fina chuvinha que caiu consagrando o término dos desfiles do Grupo de Acesso A, a Harmonia da Cubango cumpriu e bem a sua missão de montar e conduzir a escola”.

Evolução

Com 1.800 componentes, a Acadêmicos do Cubango conseguiu controlar bem os desfilantes desde a entrada na Marquês de Sapucaí. E apresentando o samba na ponta da língua, os componentes fizeram jus ao desfile, que foi muito bem executado, contagiando o público já na manhã deste domingo (3).

Para o comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, a evolução da Acadêmicos do Cubango foi resultado da garra dos componentes: “A evolução aconteceu com a garra apresentada pelos componentes”.

Daniel Outlander

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Daniel Outlander
Tags: Acadêmicos do CubangoCarnaval 2019Desfiles da Série A 2019 - RJdestaque-4destaque2-carnaval-rj

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