Cubango 2018: Plástica surpreende, mas evolução prejudica e carros emperram na dispersão

Desfile Acadêmicos do Cubango. Foto: Juliana Dias/ Srzd

Num ano de tantas dificuldades na Série A, a Acadêmicos do Cubango deu uma aula de como solucionar os problemas na parte plástica. Com materiais reutilizáveis, bordados e estampas, a escola apresentou um conjunto visual surpreendente. Os responsáveis pelo feito foram Gabriel Haddad e Leonardo Bora, carnavalescos estreantes na agremiação em 2018. Apesar disso, graves problemas de evolução prejudicaram a escola, que chegou a emperrar carros na dispersão.

A Cubango foi a quinta a pisar no Sambódromo da Marquês de Sapucaí neste sábado (10) de desfiles da Série A e, apesar do bom rendimento em alegorias e fantasias, apresentou problemas que podem comprometer o seu resultado na apuração desta quarta-feira (14). Os principais destaques negativos ficaram por conta de comissão de frente e evolução.

A agremiação também sofreu na concentração e dispersão. A segunda alegoria demorou a entrar e atrapalhou o andamento da escola, que precisou correr. No fim, os carros foram mal posicionados na Praça da Apoteose e não conseguiram sair. Um deles teve que ser serrado. Tal fato atrasou o início da próxima escola: Inocentes de Belford Roxo. O presidente da Lierj, Déo Pessoa, garantiu que nenhuma delas será lesada: “Nem a escola anterior (Cubango), nem a próxima (Inocentes) perderão pontos”.

Desfile Acadêmicos do Cubango 2018. Foto: Juliana Dias/ Srzd

Enredo

O enredo “O rei que bordou ao mundo”, em homenagem a Arthur Bispo do Rosário, fez jus ao tema e apresentou todas as características do artista ao longo da plástica da escola. Segundo o carnavalesco Leonardo Bora, a identificação com o assunto ajudou o trabalho dele e de Gabriel Haddad. “Facilitou bastante. Quando o profissional se identifica com o tema, é meio caminho andado. A vontade de fazer um enredo sobre o Bispo é antiga, eu e Gabriel tínhamos guardado desde 2012. Então, é fruto de uma profunda pesquisa.”

O tema foi dividido em quatro setores. O primeiro, “Ode marítma”, fez uma referência a Nau dos Insensatos, um navio na Idade Média que aprisionava loucos e jogava-os no mar. O segundo setor, “Peregrinação”, mostrou a caminhada do Bispo até o Mosteiro de São Bento, local onde foi preso e levado ao manicômio. A terceira parte, “Inventário”, mostrou as criações e bordados do artista. Por fim, “Chegança” retratou as lembranças de infância do Bispo.

De acordo com Hélio Rainho, comentarista do SRzd, o enredo foi bem desenvolvimento e passou de forma clara pela Avenida.

Desfile Acadêmicos do Cubango 2018. Foto: Juliana Dias/ Srzd

Comissão de frente

Um dos quesitos que mais prejudicou a apresentação da Cubango foi a comissão de frente. Nas palavras do coreógrafo Sérgio Lobato, os dançarinos representaram Exu e roupas feitas pelo Bispo do Rosário. Ao longo da coreografia, os integrantes formavam o símbolo da mandala.

Nos dois primeiros módulos de julgamento, a dança ficou comprometida pelo figurino e adereços. Na primeira cabine, um dos integrantes trocou de roupa de forma errada. Na segunda, os problemas foram maiores. Além de, novamente, o componente ter trocado erroneamente o figurino, houve uma falha em um dos adereços que formavam a mandala. Ao fim da coreografia, os componentes tiveram que recolher todos os adereços e enfiar na caixa. A pressa acabou sendo inimiga da perfeição e um dos integrantes teve a roupa grudada na caixa. Sérios problemas que acarretarão em perda de décimos.

Na opinião do comentarista do SRzd Márcio Moura, a comissão “Senhores do Labirinto”, apesar dos problemas, se destacou pela expressividade e encenação do personagem principal que incorporou Arthur Bispo do Rosário. Márcio também elogiou o trabalho de Sérgio Lobato: “Acho que os jurados vão gostar”, apostou.

Desfile Acadêmicos do Cubango 2018. Foto: Juliana Dias/ Srzd

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

A apresentação de Thaís Romi e Diogo Jesus, estreantes na Cubango, foi marcada pela expressividade do mestre-sala. Diogo gritava em determinados momentos e fazia gestos faciais de chamar atenção. Na primeira cabine, no entanto, a bandeira esbarrou levemente no mestre-sala, o que poderá ser penalizado pelo julgador do quesito.

A dupla representou “Romeu e Julieta (Bispo do Rosário e Rosângela Maria)” e teve guardiões ao redor que ilustraram a “Rosa dos Ventos”. Diogo Jesus, mestre-sala, contou como é a preparação antes da Avenida e ressaltou a tranquilidade da escola: “Tem sempre aquele ritual que faz parte da preparação, tem que aquecer o corpo. Temos que aquecer para chegar aquecido e não dar aquela dorzinha, né? A diretoria, a comunidade, tudo ajudou para essa tranquilidade. Estamos bem 100% com tudo”.

Desfile Acadêmicos do Cubango 2018. Foto: Juliana Dias/ Srzd

Bateria

Os ritmistas da Cubango vieram para o Sambódromo representando os “Fardões” do Bispo do Rosário e tiveram a ilustre presença da rainha de bateria Cris Alves com uma fantasia ousada sobre “Os fios dos bordados”. Comandada por mestre Demétrius, a bateria teve a aprovação do comentarista do SRzd Bruno Moraes.

“Se existisse nota 11, a bateria da Cubango conseguiria tal nota. Um excelente desfile da bateria do Mestre Demétrius. Muito seguro nas bossas, andamento confortável e ‘swingado’. O trabalho conseguiu ser ainda melhor do que o ano anterior”, comentou.

Desfile Acadêmicos do Cubango. Foto: Juliana Dias/ Srzd

Samba e carro de som

A obra dos compositores Gabriel Martins, Bello, Wagner Big, Junior Fionda, Marcio André Filho, Jairo e Gigi da Estiva, com participação especial de Rafael Mikaiá, Neyzinho do Cavaco, William Rodrigues, deu o tom do desfile da escola. De acordo com Wanderley Monteiro, compositor e comentarista do SRzd, o samba, apesar de grande, não prejudicou a Cubango. Wanderley também elogiou a atuação do intérprete e do carro de som.

Samba com mudanças de tom maior para menor. Três refrões, o primeiro praticamente com a mesma melodia do terceiro. Eu, particularmente, não acho que seja ser um pecado musical. Achei o samba um pouco grande, mas isso não prejudicou a interpretação do Evandro Mallandro e seus cantores de apoio e nem o canto da Escola.”

Desfile Acadêmicos do Cubango 2018. Foto: Juliana Dias/ Srzd

Fantasias e alegorias e adereços

A parte plástica foi o principal destaque positivo da Cubango no desfile desta sábado (10). Um trabalho surpreendente dos carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad. A fidelidade ao enredo foi tanta que o estilo das alegorias e fantasias lembrou o trabalho de Arthur Bispo do Rosário, homenageado pela agremiação no enredo: “O rei que bordou o mundo”.

Leonardo Bora conversou com o SRzd minutos antes da Cubango entrar na Avenida. O carnavalesco acredita que, em meio a tantas dificuldades, foi uma vitória tudo que foi mostrado pela agremiação: “Dentro das dificuldades que todas as escolas da Série A tiveram esse ano, acredito que saiu o que foi possível. Muito pé no chão. O projeto que apresentamos para a diretoria foi realizado, claro que sempre tem um pequeno corte, mas tudo que queríamos está aqui na Avenida”.

O primeiro carro foi entitulado: “Das Narrenschiff – Nau dos Insensatos”, em referência ao navio que aprisionava loucos na Idade Média. A segunda alegoria, “Revelação: Da riqueza do mosteiro à crueza do manicômio”, trouxe anjos barrocos e escrituras do Bispo. O carro três, “Cela-forte, tabuleiro de xadrez”, privilegiou o preto e o branco e relembrou as criações que o artista fez no manicômio. A alegoria “Apresentação” fechou o desfile e trouxe um carrosel em alusão à infância do homenageado.

O comentarista do SRzd Hélio Rainho aprovou a plástica simples da escola e achou interessantes algumas soluções utilizadas pelos carnavalescos.

Desfile Acadêmicos do Cubango. Foto: Juliana Dias/ Srzd

Harmonia e evolução

Sem dúvidas, evolução será o ‘calcanhar de Aquiles’ da Cubango na apuração. A escola iniciou o desfile já com 2 minutos passados no relógio. Pelo ritmo lento, precisou correr no final. Também foram reparados espaçamentos demasiadamente grandes entre as alas e os carros. A segunda alegoria, inclusive, teve problemas para entrar na Avenida e precisou ser empurrada. Alas que se localizavam à frente e atrás não acompanharam o passo e foram formados ‘buracos’.

Além disso, a escola teve graves problemas na dispersão. Os carros foram mal posicionados e um deles teve que ser serrado para que a Cubango conseguisse retirar todas as alegorias. No que se refere à harmonia, a escola oscilou entre alas que cantavam e outras que deixaram a desejar.

Desfile Acadêmicos do Cubango. Foto: Juliana Dias/ Srzd

– Vídeo: Porta-bandeira Taís Romi fala sobre retorno à Sapucaí após um ano longe
– Vídeo: Sérgio Lobato detalha comissão de frente da Cubango

Galeria de fotos

Ficha técnica

Local: Cubango, Niterói
Fundação: 17 de dezembro de 1959
Cores: Verde e branco
Símbolo: Partenon
Campeonatos no Especial: Nenhum
Colocação em 2017: 8º Lugar – Série A
Presidente: Rogério Belizário
Carnavalesco: Leonardo Bora e Gabriel Haddad
Intérprete: Evandro Mallandro
Diretor de Carnaval: Alexandre Brittes
Diretores de Harmonia: Daniel Katar e Allan Guimarães
Mestre de Bateria: Demétrius
Rainha de Bateria: Cris Alves
1º casal de mestre-sala e porta-bandeira: Thaís Romi e Diogo Jesus
Comissão de frente: Sérgio Lobato
Enredo 2018: “O rei que bordou o mundo”
Número de carros alegóricos: 04

Samba-enredo

Compositores: Gabriel Martins, Bello, Wagner Big, Junior Fionda, Marcio André Filho, Jairo e Gigi da Estiva
Participação especial de Rafael Mikaiá, Neyzinho do Cavaco, William Rodrigues

Velas ao mar que o vento leve
Por mares da insanidade navegue
Delírios, sonhos, devaneios
Por sete anjos me guiei
Num sopro divino, segui peregrino andei
E não me fiz entender
Pensamento aprisionado por meus irmãos
Na mente, a procura de ser
Enviado pela voz, o rosário da razão
Mas a arte irrompe a pele
Bordando o destino, a direção

O bem e o caos, rainha ou peão
No bispo, senhor, a salvação
O inventário em jogo, a luz dos olhos meus
Ao tabuleiro as mãos de Deus

Parti pra fazer a minha chegança
O mundo enfim pude recriar
A emoção nos tempos de infância
Sagrado samba que faz relembrar

O manto e suas coroas
Tambores em procissão
Quilombos e cabaças
Alma do sertão

Sou mais um negro
Orgulho dos meus ancestrais
A vida eu colori de paz
Nas páginas brancas da memória
Tingi de verde a minha história

Resgata Cubango o meu grande amor
Insano nessa avenida eu vou
Trançando em arte o sentimento mais profundo
Eu sou o rei que bordou o mundo

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