Beija-Flor 2019: Escola apresenta problemas e desaponta em desfile em homenagem aos seus 70 anos

Desfile Beija-Flor 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Em homenagem aos seus enredos marcantes, Beija-Flor de Nilópolis levou seus 70 anos de história para Avenida com o enredo “Quem não viu vai ver… as fábulas do beija-flor”, a aposta da comissão de Carnaval da azul e branco, que conta com Cid Carvalho, Bianca Behrends, Victor Santos, Rodrigo Pacheco e Léo Mídia para tentar o bicampeonato. A escola, que foi campeã em 2018 com o enredo “Monstro é aquele que não sabe amar (os filhos abandonados da pátria que os pariu)”, quando emocionou os espectadores, foi a quinta a passar pela Marquês de Sapucaí, na madrugada da segunda (4), com um desfile que deixou a desejar em determinados aspectos. 

Apesar de fantasias exuberantes, do enredo que exalta a agremiação e da comunidade nilopolitana que sempre marca presença, a azul e branco veio com alegorias pouco impactantes e teve problemas de evolução. O samba-enredo, que é considerado fraco entre as obras do Carnaval 2019, não conseguiu emplacar na Avenida e afetou diretamente a harmonia da escola, que estava acostumada a não ter problemas nesses quesitos.

Para a comentarista do SRzd Rachel Valença, o desfile da Beija-Flor apresentou diversos erros que, infelizmente, afetaram a sua passagem pela Sapucaí:

“Vários detalhes denotam que a Beija-Flor deixou de ser a fábrica de perfeição de outrora. O mestre-sala Claudinho teve sua exibição prejudicada em alguns momentos por problemas com sua fantasia. Numa escola desse porte, falhas como essa são inadmissíveis. Da mesma forma, um rápido descompasso entre canto e ritmo não é comum em escola desse porte, mas pôde ser verificado no desfile. O problema mais aflitivo foi o baixo rendimento do samba, ao qual faltou luz. A mesmice e a falta de explosão do samba condenaram ao tédio. Uma pena”.

Comissão de frente

Desfile Beija-Flor 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Pela quinta vez com Marcelo Misailidis à frente, a comissão de frente “o bloco dos animais” trouxe os tradicionais beija-flores para a Avenida, com 15 componentes. As fantasias, em tons de preto, marrom, amarelo e verde, representavam o símbolo da escola e acompanhavam uma estrutura azul deitada, seguindo a marca do coreógrafo que não utiliza grandes tripés.

Durante a apresentação, a estrutura se elevou e se transformou numa árvore de Natal azul para representar a data de fundação da escola, 25 de dezembro de 1948. Depois, os componentes entraram no elemento alegórico e saíram vestidos de diferentes animais, como urubu, leão e jacaré, e, com um estandarte do “bloco da beija-flor”, representaram o início da história da agremiação de Nilópolis.

Desfile Beija-Flor 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Para o comentarista do SRzd no quesito, Márcio Moura, a comissão da Beija-Flor de Nilópolis manteve a marca do coreógrafo e valorizou os integrantes:

“Marcelo Misailidis fez uma homenagem à origem da agremiação. Bailarinos vestidos de beija-flor iniciavam uma dança, e uma estrutura, que veio remotamente controlada, virava uma árvore de Natal, lembrando a data de formação da escola. Após uma troca de roupa, surgem animais fazendo reverência à fábula ‘Carnaval dos animais’. Marcelo repete a fórmula de não utilizar grandes tripés, mantendo a beleza da frente da escola e valorizando o trabalho dos integrantes”.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Desfile Beija-Flor 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

O casal da Beija-Flor Claudinho e Selminha Sorriso, que está na azul e branco desde 1996, é sempre um dos pontos altos do desfile. Com uma sintonia impecável, a dupla passou pela Avenida de “casal de beija-flores encantados bailando e rodopiando pelos ares” com figurino estonteante em tons de roxo, lilás, prata e azul.

Apesar do esplendor do mestre-sala ter se soltado no início do desfile, o problema não influenciou tanto na performance do casal, que realizou uma bela apresentação e arrancou aplausos.

Para a comentarista do SRzd no quesito, Eliane Santos Souza, o casal da Beija-Flor de Nilópolis se destacou pela graciosidade e determinação:

“O casal deslizou na passarela exibindo o autêntico bailado do mestre-sala e da porta-bandeira. Pode ser observada a realização harmônica dos movimentos coordenados que revelou a sintonia do par na perfeita sincronização de passos, gestos e movimentos obrigatórios que caracterizam o bailado. Os deslocamentos de Selminha, em diagonal e o ‘balanço’ foram realizados livremente; o ‘aviãozinho, com apoio luxuoso do mestre-sala, em movimentos coordenados com os passos do dançarino durante o ‘carrapeta’ e o ‘meio sapateado’ evidenciaram a parceria construída em anos de dança! Da mesma forma, o mestre-sala ao executar o ‘cruzado’ com o desdobramento do ‘beija-flor’ com giros em rotação e translação, e sua inversão, ao desfazer do mesmo, com total domínio do movimento, confirmou a integração do par, que finalizava os movimentos obrigatórios de forma elegante, demonstrando segurança e serenidade. E mesmo o problema ocorrido com o esplendor, que arriou na fantasia de Cláudio Souza, não serviu de pretexto para quebra ou alteração de sua performance. Autoconfiança, determinação e graciosidade foram as marcas para a efetivação do bailado de Claudinho e Selminha Sorriso, o casal da Beija-Flor!”

Alegorias e adereços

Desfile Beija-Flor 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

O conjunto alegórico da Beija-Flor de Nilópolis trouxe 5 carros para Avenida que apresentavam fábulas relacionadas à temática de cada setor do desfile. Essa decisão da comissão de Carnaval deixou uma certa confusão sobre como os carros se encaixavam no enredo da escola, uma vez que não eram diretamente relacionados aos desfiles históricos da agremiação.

A azul e branco apostou numa interação dos componentes que vinham nos carros com o chão, como no segundo carro em que a atriz Cláudia Raia descia e subia da alegoria. Com muita luz e movimento, houve também aposta numa dinamicidade que não causou o impacto que poderia na Avenida. Os carros foram apresentados em tamanhos menores do que normalmente são vistos na escola nilopolitana e com um acabamento que deixou um pouco a desejar.

As 5 alegorias foram:

“O vento norte e o sol”

“A raposa e as uvas”

“A galinha dos ovos de ouro”

“A cigarra e a formiga”

“A assembleia dos ratos”

O comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, ressaltou a forma como o conjunto alegórico da Beija-Flor de Nilópolis não dialogou tão bem com o enredo:

“Apesar da leitura fácil, os elementos cenográficos pareceram pouco impactantes, e mesmo quando criativos não primavam pelo bom gosto. Esculturas com acabamento sem muito requinte e carros com cores de gosto duvidoso pontuaram o desfile. Alegorias como “A Galinha dos Ovos de Ouro” e “A cigarra e a formiga” pareceram totalmente desnecessárias à ilustração do enredo”.

Fantasias

Desfile Beija-Flor 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

As fantasias exibidas durante o desfile da Beija-Flor representaram bem os seus enredos marcantes nas 37 alas trazidas pela escola. Cada ala dos 5 setores vinha com um figurino simples que podia ser facilmente interpretado pelo público. Com cores vibrantes que caracterizam o desfile da agremiação, o conjunto de fantasias agradou.

O destaque vai para a ala das baianas que vieram de “o mundo místico dos caruanas nas águas do patu-anu (1998)”, com fantasia azul e laranja que chamou a atenção ao passar pela Sapucaí.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Wallace Safra, o conjunto de fantasias da Beija-Flor utilizou materiais interessantes que resultaram num desfile homogêneo:

“A agremiação apresentou o enredo ‘Quem não viu, vai ver … As fábulas do Beija-flor’, da comissão de Carnaval composta por Cid Carvalho, Bianca Behrendes, Victor Santos, Rodrigo Pacheco e Léo Mídia. Com uma plástica simples, a escola apresentou um trabalho singular no desenvolvimento das fantasias, com a utilização de diversos materiais de acabamento. Em sua totalidade, os figurinos exploraram o uso das artes plumarias em costeiros, golas e cabeças, apresentando um resultado homogêneo em suas finalizações”.

Enredo

Desfile Beija-Flor 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

O enredo “Quem não viu vai ver… as fábulas do beija-flor” se propunha a realizar uma homenagem aos 70 anos da Beija-Flor ao relembrar os desfiles marcantes da história da agremiação. Apesar de soar simples, o enredo acabou sendo desconexo ao confundir a história da escola com a história dos desfiles.

Na Avenida, a má relação entre as alegorias e a proposta da escola gerou um certo estranhamento ao enredo trazido pela comissão de Carnaval.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Hélio Rainho, o enredo da Beija-Flor de Nilópolis foi mal executado:

“A reedição de enredos dentro do próprio enredo não pareceu a melhor forma de contar a história de uma escola gloriosa como a Beija-Flor na Avenida. Embora seja um critério subjetivo, causou estranhamento a ausência de alguns tão nobres ante à lembrança de alguns nem tanto. A fusão de ideias e de referências prejudicou, em alguns momentos, o encadeamento temático por setores, tornando a narrativa um mero derramar de lembranças. Uma certa obsessão com os ratos de Joãosinho Trinta também foi injustificada. A execução pecou por não alcançar seu objetivo de emocionar, apenas rememorar os enredos históricos”.

Samba-enredo

Desfile Beija-Flor 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Problemático, o samba-enredo da Beija-Flor em 2019 foi uma das principais causas para o desandar da harmonia da escola e do desfile morno. “Quem não viu vai ver… as fábulas do beija-flor” já mostrava uma resistência no ensaio técnico, quando não contagiou o público, assim como no desfile.

O samba podia ser ouvido pelos componentes, que como sempre vieram cheios de garra para desfilar pela azul e branco, mas não era entoado pelas arquibancadas como em outros anos.

Com Di Menor BF, Júlio Assis, Kiraizinho, Diego Oliveira, Fabinho Ferreira, Diogo Rosa, Dr. Rogério, Carlinho Ousadia, Márcio França, Kaká Kalmão, Jorge Aila e Serginho Aguiar como compositores, a obra foi levada pelo intérprete que está na escola desde 1976, Neguinho da Beija-Flor, mas nem ele conseguiu fazer o samba empolgar.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, o samba-enredo influenciou negativamente no desempenho da escola:

“O samba da Beija-Flor não aconteceu, prejudicando assim o trabalho da harmonia e da evolução, respectivamente”.

Bateria

Desfile Beija-Flor 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

A bateria dos mestres Plínio de Morais e Rodney Ferreira veio de “a saga de agotime, maria mineira naê (2001)”, com fantasia azul e máscara de pantera negra. Os ritmistas fizeram uma boa execução do fraco samba e mantiveram o padrão da agremiação.

A rainha Raíssa Oliveira veio com um figurino exuberante de “a rainha agotime e a eterna rainha soberana de daomé”, com uma fantasia de pantera negra que se transformava em rainha quando ela colocava uma capa e uma coroa. Rainha da escola desde 2003, Raíssa chamou a atenção do público com seu carisma.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Bruno Moraes, a bateria da Beija-Flor de Nilópolis teve um bom desempenho na Sapucaí:

“A bateria da Beija-Flor fez um bom desfile, com andamento mais pra frente do que o usual, mas a batucada de sempre. Mestre Rodney estava mais solto, usando e abusando das bossas”.

Desfile Beija-Flor 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Harmonia

Desfile Beija-Flor 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

A harmonia da Beija-Flor foi diretamente prejudicada pelo andamento do samba, mas o canto forte da comunidade nilopolitana que desfila sempre cheia de garra deve ser ressaltado. De maneira diferente de outros anos, a “deusa da passarela” não conseguiu empolgar os espectadores que estavam animados no início do desfile, mas esfriaram com o passar da agremiação.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, a harmonia da escola enfrentou problemas também pela troca de liderança:

“Ficou muito claro neste desfile da Beija-Flor que a mudança de uma liderança pode, sim, causar algum transtorno para uma grande empresa. A harmonia não veio como em outros momentos absoluta, pois a escola entrou na Avenida apática, não fazendo aquele desfile onde se mostrava como um autêntico rolo compressor”.

Evolução

Desfile Beija-Flor 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

Quesito que normalmente é tirado de letra pela azul e branco, a evolução foi um dos pontos fracos no desfile de 2019. Com uma passagem arrastada no início, a escola teve que correr do meio para o fim para conseguir chegar antes do fim dos 75 minutos permitidos.

Para o comentarista do SRzd no quesito, Rômulo Ramos, a evolução da Beija-Flor de Nilópolis foi prejudicada pelo andamento do samba.

Comentários

 




    gl