Cubango 2020: Verde e branco impressiona em luxo, mas sofre com problemas técnicos em alegorias

Desfile Cubango 2020 Foto: Leandro Milton/SRzd.

Custou caro

Quinta escola a desfilar na sexta-feira (21) de desfiles da Série A, a Acadêmicos do Cubango trouxe para a Sapucaí a história de Luiz Gama, importante líder abolicionista, e sua luta antirracista. O enredo “A Voz da Liberdade”, desenvolvido por Raphael Torres e Alexandre Rangel, passou pela Avenida marcado por uma comissão de frente emocionante e uma plástica exuberante. As alegorias grandiosas, no entanto, foram também o grande ponto negativo do desfile da escola niteroiense. Logo no início da apresentação, as duas partes do carro abre-alas desacoplaram e passaram separadas em frente à primeira cabine de jurados. Não fosse suficiente, uma parte do cavalo que vinha na frente do segundo carro também quebrou, e passou pela Avenida sustentada por integrantes da escola.

Fala, Luiz!

“A Cubango foi impecável plasticamente, tanto em nível de fantasias, como de alegorias. Se você comparar as fantasias com as outras da noite, as da Cubango são muito superiores. Ela teve falhas em quesitos como evolução, mas em nível de enredo, alegorias, fantasias, foi impecável. Ela deixa de disputar o Carnaval por esses erros, mas foi inegavelmente a melhor da noite”.

Comissão de frente

Um dos destaques do desfile da verde e branco foi a comissão de frente de Patrick Carvalho. Com integrantes simulando escravos, um juiz e o próprio Luiz Gama, a proposta foi contar de forma resumida a história do homenageado. Com muita dança em um teatro emocionante, a performance mostrou o papel de Luiz Gama na defesa de escravos pela Lei.

Em determinado momento, o juiz sentencia um escravo que é levado ao tripé utilizado pela comissão: um alto tronco de madeira. Preso em uma estrutura, o escravo é levado para cima do tronco enquanto Luiz Gama luta pela sua liberdade. Nessa hora, os outros escravos usam uma mordaça para simbolizar a voz reprimida da liberdade. Bem sucedido, Luiz Gama consegue libertar o escravo, as mordaças saem, e uma estrutura de madeira é levantada onde se lê “A Voz da Liberdade”.

A apresentação foi bem recebida pelo público e, segundo o comentarista do SRzd Márcio Moura, cumpriu o propósito de contar uma história:

“Patrick Carvalho mostra mais uma vez que sabe contar uma história com início, meio e fim. Muito fácil de entender, traz o público para dentro da cena. Obviamente é impossível não ter a sensação de um “Deja vu”. Isso não é demérito, simplesmente o fortalecimento de um estilo próprio ao lidar com enredos de temática envolvida em questões raciais”.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

O casal Diego Falcão e Patrícia Cunha bailaram pela Avenida com a fantasia “Nobreza do Benin” em tons de verde, preto e laranja, repleta de brilhantes que chamaram atenção por sua exuberância. Com muita sincronia, o casal que desfila pelo segundo ano consecutivo na agremiação mostrou estar preparado para garantir um bom resultado no quesito.

Para a comentarista do SRzd Eliane Souza, o casal apresentou uma ótima performance na Avenida:

“Pode ser observada uma sequência de movimentos coordenados, naturalmente executados e harmônicos, que evidenciaram integração e o sincronismo do par. O bailado foi acrescido de passos e gestos que remetiam a performance ao conteúdo do enredo. Houve sintonia e harmonia na performance do casal que utilizou o gestual e os passos inseridos no contexto, para a pausa no momento que antecedia a apresentação da bandeira aos julgadores. A ocupação do espaço para a dança foi muito bem realizada. O casal foi bastante simpático, cumprimentando e se dirigindo ao público que aplaudia sua evolução. O mestre-sala apresentou seu estilo vibrante de dançar ao traçar suas letras!”

Alegorias e adereços

O conjunto alegórico da Acadêmicos do Cubango veio rico e grandioso, mas pode custar alto à agremiação. A plástica bem trabalhada dialogou de forma coesa com a passagem do enredo pela Avenida, mas logo no início do desfile surgiram problemas com os carros alegóricos.

Antes de entrar na Sapucaí, o abre-alas começou a apresentar dificuldades que levaram ao desacoplamento das duas partes da alegoria, em frente à primeira cabine de jurados. Depois, uma parte de um dos cavalos que vinha à frente do segundo carro quebrou e a parte da alegoria passou pela Avenida sustentada por integrantes da escola.

Apesar disso, segundo o comentarista do SRzd Wallace Safra, o conjunto alegórico veio luxuoso e bem trabalhado pelos carnavalescos:

“As alegorias apresentaram um bom conjunto, coeso, forte e com uma plástica harmoniosa. Apesar do incidente com a quadra do segundo carro, a agremiação não deixou a desejar em seus acabamentos e dinamismo em suas demais alegorias. Destaque para o trabalho de total homogeneidade apresentada pelos carnavalescos Raphael Torres e Alexandre Rangel”.

Fantasias

O conjunto de fantasias da Acadêmicos do Cubango seguiu a exuberência exibida nas alegorias. De fácil leitura, elas dialogavam com o enredo diretamente e proporcionavam ao público uma boa interpretação da história de Luiz Gama. Com cores chamativas, puxadas para os tons da escola, e bom acabamento na utilização de materiais, as fantasias impressionaram e mostraram o bom trabalho feito pela agremiação.

Para o comentarista do SRzd Wallace Safra, as fantasias da Cubango foram um dos destaques do desfile da escola:

“A Escola apresentou uma belíssima harmonia na plástica de suas fantasias, explorando uma grande diversificação de materiais, com acabamentos bem realizados, um excelente trabalho de adereços e costeiros com uso de penas artificiais e espumas, além do grande uso dos partes holográficos que trouxeram aí da mais sofisticação aos acabamentos”.

Enredo

Desenvolvido por Raphael Torres e Alexandre Rangel, o enredo “A Voz da Liberdade” levou a história de Luiz Gama para a Marquês de Sapucaí. O famoso líder abolicionista, filho de um português e da ex-escrava Luiza Mahin, foi homenageado no ano em que faria 190 anos. O propósito do enredo foi cumprido, a escola entregou um desfile coeso e de fácil leitura que mostrava a trajetória do homenageado e sua luta antirracista.

Samba-enredo

Considerada uma das melhores obras da Série A, o samba-enredo “A Voz da Liberdade” contagiou o público da Sapucaí. Interpretado por Thiago Brito, o samba teve Robson Ramos, Junior Fionda, Rildo Seixas, Sardinha, Sérgio Careca e Duda Tonon como seus compositores. A obra evoluiu bem na Avenida, tanto pelos componentes da escola, como pelo público que rapidamente reproduzia os versos a plenos pulmões durante o desfile.

Bateria

Vestidos de “Escravos nas Minas de Diamante”, os ritmistas da Ritmo Folgado deram um bom andamento ao samba na Sapucaí com a mestre Demétrius. À frente dos ritmistas, estava a rainha Maryane Hipólito que veio de “Diamante Reluzente”, com uma fantasia prata clara brilhante. Segundo o comentarista do SRzd Bruno Moraes, a bateria da verde e branco teve uma boa performance na Avenida, apesar de algumas complicações ao fim do desfile:

“A bateria Ritmo Folgado do Mestre Demétrius se apresentou com bossas e ritmo muito ricos. Com uma introdução muito interessante e bem executada, a largada do samba foi com o andamento pra frente. Na segunda parte da Sapucaí, a bateria perdeu um pouco de rendimento, mesmo assim, o casamento entre o bom samba e uma boa bateria, deu muito certo”.

Harmonia

Outro destaque da agremiação niteroiense foi o bom desempenho de sua harmonia. O samba-enredo podia ser escutado por toda a Avenida que abraçou a história de Luiz Gama. Os componentes desfilaram animados, contagiando o público da Sapucaí que correspondia à animação da escola.

Evolução

Devido aos problemas técnicos com as alegorias, a evolução da Acadêmicos do Cubango foi um ponto fraco do desfile. O desacoplamento das duas partes do carro abre-alas gerou buracos na Avenida que tiveram que ser compensados com uma mudança no andamento da escola. Apesar disso, a agremiação conseguiu encerrar sua passagem pela Marquês de Sapucaí no tempo certo, sem criar maiores problemas.

Ficha técnica

Enredo: “A Voz da Liberdade”
Presidente: Rogério Belizário
Carnavalesco: Raphael Torres e Alexandre Rangel
Intérprete: Thiago Brito
Mestre de Bateria: Demétrius Luiz
Rainha de Bateria: Maryane Hipólito
Comissão de Frente: Patrick Carvalho
Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Diego Falcão e Patrícia Cunha

Nota da galera

A cobertura dos desfiles do Carnaval RJ do SRzd tem o apoio de: