Crítica de Luiz Antonio Simas expõe os erros mais eloquentes na condução do Carnaval

Luiz Antonio Simas. Foto: Reprodução/Facebook

Luiz Antonio Simas. Foto: Reprodução/Facebook

1 – Não haverá mobilização popular efetiva em defesa das escolas de samba; dentre outras coisas porque as agremiações perderam suas características comunitárias mais fortes. Elas não representam mais as suas comunidades de origem.

2 – Não haverá mobilização popular de setores de fora das agremiações para que as escolas de samba desfilem. As agremiações apostaram em um sambódromo elitizado, priorizando turistas e uma parcela da população que não moverá uma palha para que os desfiles ocorram.

3 – Os donos da Liesa falam em importância cultural das escolas de samba da boca pra fora e não querem mudar o Carnaval. O horizonte limitado dessa turma é só garantir que o dinheiro entre e arregar para a televisão. Se o prefeito tivesse mantido a subvenção, eles ainda estariam cantando “pega no ganzê”, fazendo o dez com cara de palhaços, pensando em suas lavanderias de grana e gritando aleluia!

4 – O esvaziamento do Carnaval não é fato isolado. Crivella avançou o pião e moveu as torres para impor a agenda da IURD ao Rio de Janeiro. A lei que engessa os eventos de rua e a desidratação de órgãos em defesa das minorias indicam isso.

5 – Há alguns anos, o prefeito exorcizava pessoas na África. Dezenas de vídeos na rede mostram pastores da designação do prefeito “expulsando os demônios orixás ” dos corpos de fiéis. A Liesa achou que esse exorcista era amigo do samba. O máximo que eles podem admitir é o samba como negócio, não como cultura afro-carioca.

6 – Feitas essas breves considerações – para que não tenhamos ilusões quanto as bravatas infantis da Liesa de que as escolas não irão desfilar -, a hora é de pensar e agir.

7 – A cultura de rua do Rio de Janeiro sobreviveu a um estado republicano racista e policialesco ao longo da Primeira República. Entre conflitos, negociações e festas na fresta, a cidade inventou a vida na precariedade criativa de suas esquinas. Essa tarefa de sobrevivência criativa está de novo colocada.

8 – Já que a Liesa não tem a menor credibilidade, a hora é da união entre o que restou do nosso exército. Sambistas, pastoras, trabalhadores do samba , dirigentes comprometidos, jornalistas que cobrem desfiles, acadêmicos que estudam o Carnaval… Ou vai ou racha. Simbora fazer barulho.

9 – O mundo do samba gosta de brigar entre si. Aviso logo que briga entre nós, neste processo, é o abraço dos afogados. A briga, na rua, mas redes e na justiça, é contra a agenda do prefeito. Devemos saber escolher os nossos inimigos. Pensem nisso.

10 – A maioria da sociedade ignora há anos os ataques a filhas de santo, depredaçoes e incêndios de terreiros promovidos por fiéis de algumas (não são todas, que fique claro, sei de muito evangélico que não compactua com isso) denominações neopentecostais, incitados por seus líderes. O ovo da serpente foi chocado, com a conivência muda, inclusive, de segmentos progressistas.

11 – Sobrou pras escolas de samba. Tá sobrando pro funk, vai sobrar pro Carnaval de rua. Tá sobrando pra quem aposta na diversidade e defende a expressão soberana das minorias. Os funcionários públicos estaduais estão morrendo, ferrados. É hora de saber que o problema de um é o problema de todo mundo.

12 – Não sei por que diabos ainda me dirijo aos donos da Liesa, mas vamos lá. Essa nota de cancelamento não passa de jogo de cena para botar o prefeito em xeque com a indústria do turismo. Ok, pode funcionar a partir da lógica do grande “negócio” do Carnaval. Mas tomem vergonha, reconheçam a burrada que fizeram, escutem as críticas e sugestões para os desfiles de 2018. Saiam de seus gabinetes, onde os senhores são adolados por puxa-sacos, e escutem o povo do samba .

13 – As escolas de samba estão entre duas opções: a reinvenção como instituições comunitárias e associativas ou a morte como cadáveres ou empresas turísticas.

14 – O Rio de Janeiro subverteu a chibata que bateu nos corpos em baqueta de bater no couro do tambor. Vai ter que fazer isso novamente.

Texto de Luiz Antonio Simas

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