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Conhecer e reconhecer o bailado do mestre-sala e porta-bandeira: o cruzado e o abano

MSPB. Foto: Arte

O que é o bailado? Uma dança composta pela coordenação dos movimentos de duas coreografias distintas e particulares, que pelo sincronismo destas ações obrigatórias, se concretizou. A sintonia do par faz surgir um encantamento que afeta aquele que aprecia a exibição: lembra uma conversa amorosa. Uma poesia de amor recitada pelo par!

Para melhor entender o texto desta poesia dançada, me dediquei a apreciar e estudar a movimentação de cada um dos dançarinos. E foi no livro Dança do Samba: exercício do prazer, de José Carlos Rego que o segredo do poema se revelou para mim, quando li o que Elson PV relatou sobre a coreografia do mestre-sala.

Ele afirmou que ela é composta por sete movimentos. O primeiro que ele descreve é o CRUZADO, no qual o mestre-sala dá um pequeno salto, planta a perna esquerda com o pé na horizontal. Na sequência, ele estica perna direita para frente, pé na vertical, arrastado miudinho até o pé esquerdo. O corpo cai para direita, para esquerda, num gingado, enquanto roda em volta da porta-bandeira.

Em seguida, me emocionei com a entrevista, ao Museu da Imagem e do Som, na qual, o Mestre-Sala Bicho Novo (Acelino dos Santos) descreve o ENCRUZA, um passo do mestre-sala, que ele dizia que deveria ser um movimento natural do dançarino. Consideramos ser possível que o CRUZADO descrito por Elson PV, seja proveniente deste que Bicho Novo nos apresenta, posto que a ação narrada consta de um “rodejo” sem enlace, no qual a dupla, realiza três voltas para a direita e três para a esquerda. Ele fala sobre uma movimentação igualmente descrita por Dodô da Portela, em depoimento ao Centro Cultural Cartola. Como uma expansão do movimento CRUZADO e quem sabe um complemento do ENCRUZA, surgiu no final dos anos oitenta o movimento “Beija-Flor”.

Esse movimento, realizado dentro do CRUZADO, possibilita ao mestre-sala demonstrar sua virtuosidade enquanto dançarino porque, após o gingado, ele realiza uma volta completa em torno da Porta-Bandeira, finalizando a ação com uma vigorosa batida de pé no chão, executa uma pirueta e desfaz a roda. O deslocamento do dançarino se faz pela lateral, na meia-ponta, com rapidez e fluência, leveza em ação indireta, como se flutuasse. O modo de execução é ondulante, revelando sua qualidade expressiva, criatividade, domínio corporal, demonstrando vigor e a graciosidade do pequeno pássaro que deu o nome a esta movimentação, de grau elevado de dificuldade em realização, exigindo técnica e muito treino, pois envolve velocidade e leveza, as características principais do “passo BEIJA-FLOR”.

Em harmonia com a movimentação do mestre-sala, poderemos observar que, nesta hora, a porta-bandeira executa um de seus movimentos característicos e obrigatórios, o ABANO (nome atribuído a movimentação por Vilma Nascimento), no qual se exibe desfraldando o pavilhão da escola, com giros nos sentidos horário e anti-horário.

A dançarina, nesse momento da coreografia, poderá realizar o movimento em rotação, sem deslocamento de seu eixo, para abrir espaço para o parceiro se deslocar com segurança em translação, porque muitas vezes, por conta das piruetas que poderá realizar, também estará em movimento de rotação.

Observando bem a movimentação, poderemos identificar uma verdadeira “engrenagem” acontecendo, pois, enquanto o dançarino se desloca pela esquerda, a dama deverá girar pelo sentido do horário, permitindo assim total coordenação dos movimentos com uma finalização perfeita e segura, que servirá de base para a próxima sequência coreográfica. Vibrante de ver, e emocionante de contar!

Eliane Santos de Souza é professora e pesquisadora do tema: dança, dança do samba, bailado do mestre-sala e porta-bandeira. Lecionou, como substituta, no curso de Bacharelado em Dança da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ. É Doutora em Arte pelo PPARTES-UERJ com a tese: Daqui de onde te vejo: reflexões de uma porta-bandeira sobre o mestre-sala, com publicação em formato de livro com o mesmo título. É Mestre em Ciência da Arte- UFF com a dissertação: Uma semiologia do samba: O bailado do mestre-sala e da porta-bandeira. Ainda é especialista em Educação pela Universidade Federal Fluminense, Docente do Ensino Fundamental e especializada em Educação Infantil. Porta-bandeira aposentada, é apoio, orientadora e apresentadora de casais. Foi membro de comissões julgadoras do quesito mestre-sala e porta-bandeira, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, São Paulo e Uruguaiana.

Crédito das fotos: acervo
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do portal SRzd

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