Claudio Russo faz homenagem poética à porta-bandeira Jéssica Ferreira

Acidente com Jéssica do Carmo. Foto: Reprodução TV Globo

Acidente com Jéssica Ferreira. Foto: Reprodução TV Globo

O compositor Claudio Russo, campeão em várias disputas de samba-enredo, é um dos profissionais mais respeitados da sua área de atuação. Ele fez uma linda homenagem à porta-bandeira da Unidos de Padre Miguel, Jéssica Ferreira, que por causa de uma entorse no joelho não pode prosseguir o desfile pela sua escola.

Apesar da contusão – e da dor profunda -, Jéssica não largou o mastro do seu pavilhão e manteve a bandeira em pé, mesmo que o seu corpo se dobrasse diante do inesperado. Pelo gesto,  e pela altivez, com que enfrentou a situação, ela e seu companheiro de dança, o mestre-sala, Vinícius Antunes e o mestre Manoel Dionísio, professor de várias gerações de casais, conquistaram o Prêmio SRzd Carnaval 2017.

Leia o texto do poeta Claudio Russo:

A história do samba por vezes confunde-se com a história do negro no Brasil…

O Samba, negro e liberto, nasceu da necessidade de expressar os costumes, da importância real e simbólica de conquistar o espaço público e principalmente da luta de resistência para reafirmar seus dizeres contra a iníqua condição social, seus olhares sobre um mundo que não o enxergava e sua fé nos Orixás que por tantos anos o braço da repressão, fosse ele através do feitor ou do chefe de polícia, tentou sem conseguir exterminar a sopapo.

Ode a Porta Bandeira
(Homenagem a Jéssica Ferreira Porta Bandeira da Unidos de Padre Miguel)

Samba é ritmo e dança…
Sacerdócio, sacrifício e Bandeira,
Samba é Batuque de Terreiro, Moleque Inzoneiro,
Mestre Sala das calçadas…
É a roda formada
E a roda Gira…

Gira!
Pra beleza ficar mais bonita,
Pra que seja a grandeza infinita
E mil vozes ecoem um canto…

Gira!
Pelo o rito dos iniciados,
Pra cadência dos sincopados
E pra quem porta-se de um manto

Gira!
Nestas ondas de saia rodada,
Enciúma a lua prateada,
Em que o cristal se avizinha ao faisão…

Gira!
E levanta-se em sua pujança
É rainha e corteja a elegância
Pra bandeira não tocar o chão

Gira!
Nos caminhos cruzados da Gira,
Na esquina onde a alma se inspira
Estão Unidos Padre e Orixá

E se por ventura!
Alguém duvidar deste ensaio
Sarta de banda incrédulo cambaio
Deixa a Porta Bandeira girar…

E se ora a sabatina do tempo negligenciar o que é ser uma Porta Bandeira
Tempo, tempo, tempo…
Pergunte a Jéssica Ferreira.

Rio, 15 de março de 2017.
Claudio Russo

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