Carnaval e política: desfiles definitivos e a missão social das escolas de samba

Desfile do Império Serrano de 1969 exaltou os ‘Heróis da Liberdade’. Foto: Reprodução

Desde que se viu desobrigado de exaltar o nacionalismo ufanista, lá pelos anos setenta, o Carnaval carioca pode dar uma importante contribuição social e cultural ao país.

Entre as muitas funções de quaisquer manifestações culturais e de seus agentes, está, imperativo, provocar reflexões, protestar e recontar histórias oficiais, por vezes, mistificadas pelo status quo.


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Talvez, tenha sido aquela que é considerada a mais democrática das escolas do Rio de Janeiro, o Império Serrano, a primeira a romper com um modelo e iniciar uma escalada de ruptura ideológica na folia. Com seu histórico Heróis da Liberdade, desafiou a Ditadura Militar em 1969 no auge da repressão.

Depois, livres das amarras de um regime opressor, artistas puderam, tendo como instrumento os desfiles de Carnaval, retratar livremente a realidade brasileira.

Nesse contexto, não há como deixar de registrar uma escola da Zona Sul carioca, a São Clemente. Por tantas vezes, usou do humor para satirizar e propor o debate sobre o cotidiano das cidades, do Brasil. No cardápio, destaque para Capitães do asfalto, abordando a questão do menor abandonado.

“Seu moço, dê-me um trocado!
Eu quero comer um pão!
Sou menor abandonado
Neste mundo de ilusão”

No ano de 1991, mesmo com um resultado negativo no concurso, levou para à Sapucaí Já vi este filme, lamentando os desenganos da política nacional.

Criticada por exaltar os militares na sua origem, a Beija-Flor reencontrou-se com as causas sociais e emocionou com o tema; Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu.

A dona da maior torcida do universo do Carnaval, a Mangueira, pelas mãos do carnavalesco Leandro Vieira, produziu desfiles com cara de manifesto importantes na história recente; História pra ninar gente grande e A verdade vos fará livre.

Similar em muitos aspectos com a São Clemente, a Caprichosos de Pilares caiu no gosto do povo por gritar, com fina ironiza, as mazelas de uma pobre nação com Brasil com “Z” não seremos jamais, ou seremos?, Eu prometo e O que é bom todo mundo gosta.

A Vila Isabel colocou a boca no mundo em plena Avenida com o enredo Com a boca no mundo, Direito é Direito e Se esta terra, se esta terra fosse minha.

Entre tantos outros momentos que poderiam ser lembrados pinçando as últimas cinco décadas, ainda vale voltar ao pioneiro Império Serrano. Com Eu quero e Verás que um filho teu não foge à luta, a verde e branca de Madureira mostrou que a beleza estética e a opulência que o dinheiro pode proporcionar na confecção de um espetáculo não são mais ricas que o conteúdo e uma das mais nobres missões que as escolas de samba podem dar.

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