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Carnaval 2023: análises do segundo dia de desfiles da Série Ouro

A segunda e última noite de desfiles da Série Ouro do Carnaval do Rio levou à Marquês de Sapucaí oito escolas: União de Jacarepaguá, Unidos da Ponte, Unidos de Bangu, Em Cima da Hora, Porto da Pedra, União da Ilha, Império da Tijuca e Inocentes de Belford Roxo. Os comentaristas do SRzd acompanharam as apresentações e analisaram o desenvolvimento das agremiações. Veja abaixo:

União de Jacarepaguá

Célia Souto: “A escola abre o segundo dia de desfile transmitindo vibração e energia. Os componentes estão comprometidos com o canto e a totalidade do samba, demonstram interesse para sustentar a tenacidade do canto. Destaque para a ala das baianas que sustenta o canto evoluindo com desenvoltura. O chão da escola apresenta algumas irregularidades no andamento da evolução, mas os componentes se empenham para manter o canto e a dança. As alas posteriores à bateria não sustentam o canto e a evolução com o mesmo empenho das anteriores”.

Jaime Cezário: “A homenagem aos dois heróis negros do Vale do Café, Manoel Congo e Mariana Criola, conseguiu se comunicar com facilidade com o público. Um enredo que começa homenageando a ancestralidade africana ao Quilombo criado por eles, terminando tudo numa grande mensagem de esperança por dias melhores, consagrando na Sapucaí por esses grandes heróis da liberdade. Foi uma agradável surpresa nessa abertura do segundo dia. Infelizmente, teve muitos problemas técnicos. As fantasias foram feitas com muito carinho, mesmo sem a utilização de materiais caros, conseguiram passar a mensagem proposta em sua defesa de enredo. Destaco a ala das baianas; a boa combinação das cores e o uso bem adequado dos materiais conseguiram encher nossos olhos com essa simplicidade elegante. As alegorias foram igualmente bem tratadas, tentaram fazer o máximo, mesmo com os poucos recursos que foram perceptíveis. Usaram e abusaram do famoso tecido esponjado, forrando tudo. Esse tecido sempre é um excelente recurso para camuflar defeitos de escultura, ferragens e tudo mais. A segunda alegoria teve muitos problemas para entrar na Sapucaí, causando um enorme buraco. Tiveram que quebrar uma parte da sua lateral para que seus diretores conseguissem levá-la adiante. Deverá ser bem penalizada por este problema”.

Eliane Souza: “Rogério Júnior e Natália Monteiro, o primeiro casal da escola, apresentaram o bailado com naturalidade, demonstrando uma boa sintonia durante sua performance. O par, em acordo com a letra do samba e seguindo o enredo, trouxe uma movimentação e um gestual da dança afro-religiosa que não descaracterizou o bailado. Observei que o espaço reservado para sua dança foi bem utilizado, e a forma diferenciada de, ao finalizar a coreografia, o casal realizar um giro ao fazer a apresentação da bandeira, no qual o movimento da porta-bandeira aconteceu em rotação e o mestre-sala se deslocou ao redor dela, segurando o pavilhão pela pontinha com zelo, para então se retirarem do espaço. Parabéns ao casal”.

Cadu Zugliani: “O samba correto da União de Jacarepaguá conta bem o enredo, mas não emociona. Prova disso, que a escola teve dificuldades para soltar a voz em algumas partes. O canto da escola também não foi uniforme. Algumas alas muito comprometidas e outras bem menos. Já o refrão principal, vale destaque, levantou bastante em uma melodia bem bacana. Andamento adequado ao desfile”.

Rachel Valença: “Uma pena que o desfile da União de Jacarepaguá tenha sido marcado por problemas nos carros alegóricos e, em consequência, tenha ultrapassado o tempo máximo de desfile. Porque a escola deu uma bonita demonstração de força e garra. Destaque para a excelente ala de passistas, muito numerosa e espontânea, o que é raro de ver atualmente”.

Wallace Safra: “Coroação dos Heróis da liberdade – por uma povo e sua bravura. Os coreógrafos Márcio Vieira e Fabrício Ligeiro apresentaram uma comissão singela e com fortes expressões na interpretação do enredo. Apresentando a trajetória de vida de Manuel Congo e Mariana Crioula, desde a escravização, passando pelos atos de resistência até a coroação. Acredito que a interação com o elemento coreográfico foi bem pequena e faltou força na coreografia, mas os bailarinos buscaram entregar uma interação com o público e com a cabine julgadora. Representando as mucamas e os escravos do feitor, a ala de passistas da agremiação apresentou uma boa plástica e um figurino leve que contribuiu para boa evolução dos componentes. Na ala, conseguimos ver, mesmo no setor 1, muito samba no pé e uma energia forte, assistimos componentes se divertindo e uma boa conexão com o público. Leveza, organização e ver uma ala bem calçada foram os destaques”.

Bruno Moraes: “A bateria da União de Jacarepaguá fez um excelente desfile, impressionou a segurança da bateria na apresentação dos módulos, a bossa que o agogô fazia na harmonia da melodia do samba é simplesmente uma dos coisas mais legais dos desfiles da Série Ouro. Mestre Marquinho é calmo e um talento. Da afinação das marcações, ala de tamborim, chocalho, cuíca, tudo no lugar, sem firula e com grande eficiência. A Ritmo União vai pra casa com a sensação de dever cumprido”.

Jacarepaguá. Foto: Juliana Dias – SRzd

Unidos da Ponte

Célia Souto: “Os intérpretes iniciam o desfile apresentando o samba-enredo com determinação e entrosamento entre ritmo e melodia. Musicalidade bem elaborada e ritmo cadenciado. Os componentes seguem o ritmo desenvolvendo o canto, porém, com algumas irregularidades em relação à totalidade do samba. Em algumas partes do canto, é possível observar uma perda na força devido alguns componentes que não estavam comprometidos em cantar o samba na sua totalidade. As alas posteriores à bateria apresentaram irregularidade e oscilação no andamento do chão interferindo num bom desempenho da evolução”.

Jaime Cezário: “A ideia do enredo em homenagear a luta de Mãe Meninazinha de Oxum na sua saga para resgatar os objetos sagrados que foram presos pela intolerância religiosa é excelente. Acompanhando o desfile apresentado com o roteiro fornecido, foi perceptível erros de posicionamento do primeiro tripé da escola, assim como a posição de várias alas que não obedeciam a ordem fornecida. Se essa alteração não foi comunicada aos julgadores do quesito, sofrerá penalidades. Inclusive com a falta da ala de passistas. As fantasias apresentadas primaram pela simplicidade, sem grandes lampejos criativos. Tudo foi feito com carinho, mas era notória a falta de recursos para voos maiores da arte criativa dos carnavalescos. O abre-alas da escola impressionou pelo destaque do dourado e branco e com muitas esculturas. Era perceptivo que no projeto das alegorias houve uma readequação de esculturas utilizadas em outros Carnavais, mas tudo muito bem adequado, e com novo tratamento”.

Wallace Safra: “A coreógrafa Alessandra Oliveira trouxe para Avenida uma homenagem a Marcolina de Oxum e os bailarinos demonstraram muita força nas expressões e no trabalho de corpo apresentado, mas faltou dinâmica na coreografia e agilidade na colocação de acessórios da Oxum, proposta pela coreógrafa, o que comprometeu o impacto no público e provavelmente na visão dos jurados. Trabalho plástico agradável e coreografia harmoniosa. Sobre ala de passistas, infelizmente não teve ala na Avenida”.

*segundo apurou a reportagem do SRzd, um atraso na entrega da roupa dos passistas foi a causa da ausência do segmento do desfile.

Cadu Zugliani: “Samba da Unidos da Ponte passou correto. Tiveram alguns momentos de brilho, outros nem tanto. Achei um pouquinho pra frente no andamento, mas nada que comprometesse. Uma coisa me chamou a atenção; a parte do final da segunda parecia mais forte no canto do que o próprio refrão. A melodia permitia que o componente soltasse o canto neste trecho. Por falar em canto, senti falta na escola no geral”.

Eliane Souza: “Emanuel Lima e Thaynara Matias, com leveza e graça, dançaram ocupando o espaço reservado para a realização de sua performance. O casal demonstrou excelente domínio de seus movimentos obrigatórios, que, lindamente sincronizados, construíram o bailado. Com cortesia e elegância, o mestre-sala conduziu a dança e a porta-bandeira, com destreza, realizou os giros do abano e foram muito competentes no sincronismo da pegada de mão com o aviãozinho. Destaque para a forma atualizada como foi realizado o balanço, quando a porta-bandeira se deslocou pelo espaço, num zigue-zague para então se posicionar em frente a seu cavalheiro que, atencioso, a aguardava, para então recomeçarem seu bailado. Um momento lindo”.

Rachel Valença: “A Unidos da Ponte fez um desfile surpreendente, com o samba rendendo mais do que se esperava e a bateria com performance coreográfica que sempre empolga a arquibancada. Mas é impossível não lamentar a ausência da ala de passistas, impedida de entrar pela falta de fantasia, não entregue a tempo. Decisão a lamentar: uma escola de samba sem samba no pé, é triste. No desfile de ontem, a Estácio de Sá teve coragem ao não privar seus passistas de desfilarem sem fantasia. Pode ser penalizada, mas não privou seus melhores bailarinos de celebrar com o resto da escola, por algo de que não tinham culpa. Axé aos passistas da Ponte”.

Cláudio Francioni: “A bateria da Unidos da Ponte fez um bom desfile. Apostando em um andamento bem acelerado que se sustentou bem durante a apresentação, a bateria de Mestre Branco trouxe bossas arriscadas, principalmente na questão coreográfica. Em uma delas, os ritmistas formavam uma fila e trocavam de lugar enquanto tocavam. Ainda no primeiro recuo, fora de desfile, a bateria executou uma outra bossa onde somente os atabaques tocavam e o cantor da escola acabou perdendo o click do andamento. Logo após a falha, Mestre Branco pediu novamente a mesma bossa, porém, desta vez, o cantor entrou na bateria para se aproximar dos atabaques e o problema foi resolvido. Ressalto a importância de Vitinho, mestre do Império Serrano que fez parte da diretoria da Ponte e auxiliou o intérprete em todas as vezes que a bossa foi feita durante o desfile”.

Unidos da Ponte. Foto: Leandro Milton – SRzd

Unidos de Bangu

Célia Souto: “Os componentes demonstram interesse no canto aproveitando o ritmo do samba para desenvolver o canto com empolgação, musicalidade e segurança. O canto tem força e vibração. A evolução da ala das baianas flui com leveza e várias delas cantam com segurança demonstrando domínio e independência entre canto e movimento. A evolução entre as alas apresenta oscilação e irregularidade no andamento, demonstrando alguns momentos de aceleração na dança e nos movimentos para acompanhar e manter o desfile, principalmente nas alas que antecedem os carros. Ainda assim, um desfile vibrante”.

Wallace Safra: “Com as forças dos vulcões a comissão apresentou a morada de Aganjú. Com uma coreografia delicada, sensível e precisa os bailarinos que estavam extremamente bem vestidos e bem maquiados, agregaram com beleza plástica e uma boa forma cênica. O coreógrafo Fábio Costa esbanjou sofisticação e suavidade nos movimentos propostos na dança de seus bailarinos. Destaque para o efeito visual dos figurinos da comissão que foi uma riqueza. Com a temática ‘O Ritual do Ajerê’ a ala de passistas da agremiação passou leve, solta e com muito samba no pé. Uma ala dinâmica, organizada e com boa comunicação com o público presente. Destaque para harmonização plástica da ala e a preocupação do coordenadores em executar um trabalho de qualidade”.

Jaime Cezário: “O enredo da escola da Zona Oeste homenageou uma qualidade do Orixá Xangô, conhecida como Aganjú. Foi mostrado, desde as origens, onde é conhecido como sentinela dos vulcões, terminando dando ênfase ao sincretismo com sua associação aos santos católicos: São João e São Pedro. A escola deu conta da sua proposta, mostrando de forma bastante digna seu Carnaval. No roteiro fornecido vimos uma inversão na posição de duas alas, que deveriam ficar atrás da terceira alegoria, e acabaram vindo na frente. Se isso não foi alterado no roteiro dos jurados, deverá sofrer punição. As fantasias da escola contaram a história proposta. Roupas das alas explorando materiais baratos como nylon dublado, tecido pastilhado e feltro. Recursos, geralmente utilizados, para combater a falta de grandes recursos financeiros. O projeto das alegorias utilizou o recurso de esculturas já vistas em outros carnavais, mais tudo muito bem adequado a proposta das alegorias com um novo tratamento de pintura de arte e de decoração. Alegorias grandes e com bom acabamento”.

Eliane Souza: “O casal da escola, Anderson Abreu e Eliza Xavier, ocupando o espaço para dançar, apresentou sua performance de forma segura, com os movimentos obrigatórios bem realizados, permeados por gestual referentes ao enredo e em conformidade com a letra do samba. Destaque para a realização da ‘Bandeirada’, movimento criado pela porta-bandeira Lucinha Nobre, gesto ousado, que exige, para sua realização, a habilidade apresentada por Eliza Xavier, que sincronizando este ao movimento seguinte, o abano, realizou giros, desfraldando a bandeira com o apoio da mão esquerda, durante a ação. O mestre-sala conduziu a dança e a dama, manuseando um adereço de mão que, de ferramenta do Orixá se transformava num leque. Destaque para o segundo casal, Alessandro Silva e Layne Ribeiro, que livremente bailou, revelando alegria em sua passagem, durante a qual saudava o público”.

Rachel Valença: “Após um intervalo longo demais, que desanima o público, a Unidos de Bangu se apresentou com problemas em um de seus carros alegóricos. Sem ter um samba notável, conseguiu levantar o público em alguns setores, mas não houve equilíbrio na evolução, com correria em alguns setores”.

Cadu Zugliani: “Melhor samba da noite até agora, o samba de Bangu levantou os componentes e foi muito bem cantado. Boas sacadas como a intenção de repetição de melodia na cabeça do samba. A parte do meio bem boa também, apesar de lembrar trecho de Império Serrano 2022. Andamento muito bom, Pixulé é craque e casou muito bem com a bateria do mestre Laion”.

Bruno Moraes: “A bateria da Unidos de Bangu se apresentou muito bem nos módulos de julgamento, com direito a show pirotécnico e elementos cenográficos. Na parte musical também o trabalho foi muito bem executado. Uma curiosidade foi que, em frente ao setor 5, a pista estava molhada e com algum resquício de óleo, como o sapato da bateria era de sola lisa, alguns ritmistas caíram, o que acabou levando a um grande buraco no meio da bateria, o ritmo não foi prejudicado e não estava na frente da cabine de julgamento. As bossas eram muito bem encaixadas ao samba. Contudo, a bateria do Mestre Laion deve conseguir as notas máximas. Alô Bangu”.

Unidos de Bangu. Foto: Juliana Dias – SRzd

Em Cima da Hora

Célia Souto: “O desfile inicialmente apresenta as primeiras alas onde os componentes não demonstram completo comprometimento com a totalidade do canto, alguns não estavam cantando o samba na íntegra, valorizando apenas o refrão, devido a isso, o entrosamento entre ritmo e melodia ficam prejudicados. O canto da escola não demonstra clareza no desempenho do início ao fim. A evolução apresenta um bom desempenho, com pequenas irregularidades no andamento entre as alas”.

Jaime Cezário: “A homenagem a Esperança Garcia, tinha tudo para ser um grande enredo. Mulher negra escravizada no século XVIII, no Piauí, que se tornou uma voz da resistência contra a escravidão. Infelizmente, acredito que pela falta de recursos, apresentou um desenvolvimento de difícil entendimento. E para sintetizar, vou falar da penúltima ala, e a maior, formada por ciganos que não existia na defesa oficial apresentada. Fora isso, foi percebido ausência do destaque na terceira alegoria. Uma série de situações que devem causar severas penalizações. A proposta da escola foi prejudicada claramente pela falta de recursos. Alas com fantasias incompletas foram observadas ao longo do seu desfile. Algumas alas desfilaram sem seus chapéus. Além disso, foi notável a proposta de fantasias com dificuldade de entendimento do assunto que abordavam no enredo. O projeto das alegorias seguiu a tendência observada nas alas; falta de entendimento e clareza nos assuntos propostos na sua defesa. Na alegoria três, foi notada a ausência de destaque e composições”.

Rachel Valença: “Com um enredo excelente e original, a escola de Cavalcante apresentou as imperfeições que caracterizam as agremiações de seu porte: fantasias incompletas e carros com acabamento precário. O importante é que deem seu recado com entrega e paixão”.

Eliane Souza: “Suavidade e cortesia! Encantada, apreciei a apresentação do bailado do mestre-sala e porta-bandeira na singela performance de Jhonny Mattos e Jack Gomes que, com muita graciosidade, demonstraram harmonia e sincronismo nos movimentos obrigatórios que compõem o bailado. O casal fez uma boa ocupação do espaço destinado a sua exibição, deixando evidente a sintonia e a alegria do par em sua evolução. O mestre-sala, ‘riscando’ no modelo dos balizas dos ranchos, demonstrou toda elegância, dançando com garbo, sempre se direcionando ao pavilhão e a sua dama, que sestrosa, evoluía com suavidade durante seus giros precisos, no movimento abano. Muito lindo de apreciar. Destaque para o terceiro casal da escola, Leonam Santos e Clarice Nascimento”.

Wallace Safra: “A comissão de frente representava o despertar da justiça pela desonra vivida por grandes negros e negras. Os bailarinos apresentaram um bom trabalho cênico e buscaram agregar com expressões fortes e um intenso grito de lamento. Contudo, faltou diversificação nos movimentos e houve uma certa repetição de formatos já apresentados, o que causou um certo estranhamento, apesar da finalização inesperada e com um grande clamor por justiça e igualdade. Destaque para o resultado cênico dos bailarinos. Representando o poder da leitura e da escrita , a ala de passistas apresentou um trabalho simples, objetivo e sem muitas complexidades. Faltou energia e expressividade, mas os passistas buscaram ter uma boa comunicação entre si e com o público presente na Sapucaí. Destaque para a preocupação do coordenador em apresentar um trabalho harmonioso e organizado”.

Cadu Zugliani: “A Em Cima da Hora trouxe um samba denso, mais dolente, acompanhando a difícil história de vida da homenageada. O refrão do meio, curtinho, mas bem interessante, ajudou a levantar o canto. O único porém ficou por conta do refrão de baixo. Senti ele muito pesado. Principalmente nas duas linhas do meio”.

Cláudio Francioni: “Um bom desfile da bateria da Em Cima da Hora, sustentando bem um andamento pra frente com bossas de alta complexidade, com várias notas em contratempo. Mestre Leo puxou as paradinhas seguidamente durante todo o desfile e acertou nas execuções. Um detalhe que merece destaque é o curto desenho feito pelas cuícas no início da segunda do samba”.

Em Cima da Hora. Foto: Leandro Milton – SRzd

Porto da Pedra

Célia Souto: “A escola se apresentou desenvolvendo o canto com musicalidade, andamento cadenciado e sincronia entre ritmo e melodia. O canto soa com clareza, e podemos ouvir a voz e o desempenho dos componentes na totalidade do samba. As alas evoluem com regularidade e cadência sincronizadas com o canto do samba-enredo”.

Jaime Cezário: “Este enredo baseado no livro do Júlio Verne, ‘A Invenção da Amazônia’, é um dos achados do Carnaval 2023. Seu desenvolvimento era aguardado com grande expectativa, afinal, andamos em tempos que o ‘mais do mesmo’ anda em alta. E a surpresa aconteceu, enredo desenvolvido de forma clara e inteligente, sem precisar de dicionários para seu entendimento. Só posso parabenizar a todos os envolvidos, pois cumpriu com perfeição a proposta. O conjunto de fantasias foi uma surpresa das mais agradáveis até esse momento. Quem pensou que iria ver de começo ao fim uma repetição cansada da temática indígena, se enganou. Começou exaltando os povos andinos e a inspiração na sua estética visual. Trouxe, até o momento, a baiana mais bela da Série Ouro; uma fantasia com inspiração na temática indígena, sendo que o diferencial foi belo abuso dos tons avermelhados chegando até o preto. Um luxo de chique! Até o momento, o melhor conjunto de fantasias apresentado nesse dois dias. Seguindo a mesma qualidade das fantasias e enredo, as alegorias da Porto da Pedra deram um banho de qualidade e bom gosto. Perfeita utilização dos materiais, belas esculturas, excelente acabamento e ótimos efeitos. Não consegui achar um alfinete para reclamar aqui delas. O melhor é mais harmonioso conjunto de alegorias apresentado até esse momento”.

Cadu Zugliani: “O grande samba do ano na Série Ouro passou levado pelo Tigre. Confesso que o andamento do samba me surpreendeu positivamente. Era meu único receio pelo que se viu no ensaio técnico. Mas a ‘Ritmo Feroz’ achou a cadência perfeita para a obra. Aliás, como é bom ainda poder ver o Nego à frente de um carro de som. Ouso dizer que o refrão de baixo da Porto da Pedra está entre os melhores de todo o Carnaval”.

Eliane Souza: “Rodrigo França e Laryssa Victória, singelos e harmoniosos, os competentes dançarinos apresentaram sua performance revelando destreza na realização de seus movimentos obrigatórios. Um mestre-sala cortês e atencioso, que dançou para seu pavilhão e sua dama de forma especial, ‘riscando’ suas letras, em meneios, fugas e contra fugas e muitas reverências. A performance do par deixou um encanto no ar! Responsáveis pelo segundo pavilhão, vivi a emoção de apreciar a exibição do mestre-sala Pedro Figueiredo e sua porta-bandeira Gabriela Monerat, segundo casal da escola que desfilou com galhardia, apresentando com segurança os movimentos do bailado. Performance livre e igualmente encantadora”.

Rachel Valença: “Quando uma escola de samba traz em seu desfile escultura de um indígena com um livro nas mãos, imagens de ativistas da ecologia e uma bandeira do Brasil manchada de sangue, ela fala de maneira sutil, com arte, de algo que fala claramente à nossa sensibilidade. Se for campeã, terá feito por merecer. Além do mais, a Porto da Pedra tem seus trunfos: o excêntrico Mestre Pablo, o insubstituível Nego e uma comunidade orgulhosa de sua escola. Ingredientes que constroem uma possível vitória. Merecida”.

Bruno Moraes: “A Ritmo Feroz de São Gonçalo fez um desfile primoroso, com um andamento um pouco mais baixo do que de costume de Mestre Pablo, encaixou perfeitamente com o belo samba. As bossas com característica e estilo próprio marcante, funcionaram bem nas apresentações aos julgadores. Infelizmente, o som atrapalhou a bateria no segundo módulo e ficou muito trepado por falha do sistema, que só foi corrigido após uns 5 minutos. A bateria fez um desfile de campeã”.

Wallace Safra: “Com a representação dos espíritos sagrados, os Kanamari que atenderam ao chamado da Mãe-Terra para um ritual em busca da proteção da floresta, a comissão de frente apresentou um trabalho bem construído, de bom gosto e de fácil leitura. Com uma boa plástica coreográfica e bailarinos se mostraram bem atuantes, com uma dança enérgica e bem executada. O coreógrafo Paulo Pinna trouxe para avenida um elemento coreográfico no qual os bailarinos puderam executar uma excelente interação, provocando surpresas visuais e um resultado bem interessante. Destaque para o trabalho de criação do coreógrafo e para o trabalho de dança dos bailarinos. Representando os Quíchua ou Runakuna, os guardiões das tradições culturais e linguística dos andinos, os passistas da Porto se apresentaram com uma fantasia leve e fresca, o que somou para a boa apresentação e para a boa comunicação da ala com o público. Leveza, bom humor e bom samba no pé, mas senti falta da energia explosiva e cativante da ala. Bom trabalho apresentado”.

Unidos do Porto da Pedra. Foto: Juliana Dias – SRzd

União da Ilha

Célia Souto: “A escola inicia a sua apresentação na Avenida demonstrando canto forte, cadenciado, andamento equilibrado e ritmo bem definido. Componentes cantam o samba com segurança, clareza e domínio. Evoluem com alegria e a leveza dos movimentos equilibrados entre as alas faz o chão fluir. A escola desenvolve um desfile equilibrado em relação ao canto, dança e evolução. Destaque para o domínio do canto na totalidade sustentando todas as partes do samba enredo”.

Jaime Cezário: “Um dos grandes enredos dessa Série Ouro. Aproveitou o centenário da sua madrinha Portela e criou o enredo ‘O Encontro das Águias no Templo de Momo’. Enredo perfeito para esse ano de celebração do centenário da Águia de Madureira. E por tudo que foi apresentado, conseguiu dar bem seu recado. O conjunto de fantasias não foi harmônico, começou muito bem com belas fantasias, mas passado o primeiro setor, apresentou algumas fantasias que davam a sensação de estarem inacabadas, chegando ao ponto de apresentar uma ala inteira, ‘bufões anunciadores’, sem o chapéu. Este fato comprometeu seu conjunto. A Ilha apresentou o abre-alas mais imponente da Série Ouro. Alegorias bem acabadas, com bons materiais, efeitos e iluminação. Bom conjunto de alegorias. A última alegoria foi o momento emocional da apresentação. Nela, além de uma enorme Águia, personagens ilustres, portelenses e insulanos, numa proposta de união à celebração do centenário da Portela”.

Eliane Souza: “Thiaguinho Mendonça e Amanda Poblete, maravilhosos! Eles apresentaram o bailado do mestre-sala e da porta-bandeira com naturalidade e muita determinação, num aproveitamento excelente do espaço determinado para apresentar o pavilhão aos julgadores. Pude apreciar a realização dos movimentos obrigatórios dos dançarinos. O mestre-sala manuseando o leque com habilidade, conduziu a dança, reverenciou seu pavilhão e cortejou sua dama, demonstrando gentileza. A performance do casal evidenciou sua sintonia, garantida pela perfeita finalização de seus movimentos que, coordenados de forma impecável, permitiu o sincronismo das ações distintas realizadas por cada um, e no momento em que voltavam a se encontrar, a ação acontecia de maneira primorosa. O casal apresentou um bailado atualizado, sem acréscimos de passos alheios à coreografia descrita no livro de Rego (1996), deixando “assinado” no chão da avenida a poesia contida na performance primeira. Obrigada, Thiaguinho e Amanda! Perfeitos. Destaco a presença do segundo casal, igualmente dedicado ao pavilhão, Yuri Pires e Cassiane Figueiredo, que livremente dançaram, distribuindo alegria pela passarela”.

Rachel Valença: “No desfile de hoje a União da Ilha do Governador fez jus, mais uma vez, ao epíteto que a caracteriza: a escola da alegria. Ao falar da madrinha Portela, é de só mesma que fala, de seus carnavais, de sua Baterilha. Nesse quesito alegria, a escola é insuperável. Depois de tanta escola, tanto atraso, tanto problema, alegria era tudo que queríamos”.

Cláudio Francioni: A bateria da União da Ilha, vencedora do Prêmio SRzd de 2022, fez mais um desfile espetacular. Mestre Marcelo deu um show de andamento, de afinação, de bom gosto e execução das bossas e de equilíbrio de timbres. Trata-se de uma bateria de Grupo Especial perdida na Série Ouro.

Cadu Zugliani: “O samba da União da Ilha ficou no meio do caminho entre a característica da escola e o peso de um samba homenagem para a Madrinha Portela. Apesar do andamento perfeito e de um carro de som com um bom trabalho, o samba não levantou. Passou correto”.

Wallace Safra: “O coreógrafo Márcio Moura trouxe para Avenida uma grande homenagem ao centenário da Portela com uma comissão leve, suave e de bom gosto. Com um laço que uniu o batizado de honra à bandeira do samba, os bailarinos mostraram uma dança enérgica, forte, mas singela. Os figurinos que representavam ‘A Benção de Dindinha’ eram simples, porém bem construídos. O elemento coreográfico onde vinha o Rei Momo, também trazia a ilustre Tia Surica simbolizando a homenageada. Destaque para a harmonia, transparência e coerência do trabalho apresentado. Representados os grandes bailes de Carnaval a ala de passistas se apresentou de maneira linear e com um samba no pé retilíneo, mas com uma boa comunicação com o público. O figurino estava leve, o que contribuiu para uma maior espontaneidade nos movimentos. Destaque para a harmonia no conjunto dos passistas”.

União da Ilha do Governador. Foto: SRzd

Império da Tijuca

Célia Souto: “Os componentes cantam o samba, porém não mantém a vibração do canto, oscilando entre estrofes mais destacadas em relação a outras menos vibrantes. A evolução da escola flui com regularidade”.

Cadu Zugliani: “A tradição de bons sambas recentes do Império da Tijuca está mantida. Samba forte, muito bem interpretado pelo Daniel e pela forte comunidade da escola. O único porém do samba é que, talvez pelo andamento pra frente, as frases ‘pinta meu corpo retinto macumbeiro’ e ‘mamãe Oxum guiando o amanhã’, ficaram um pouco atropeladas. Mas não tiram o brilho do grande desfile que o samba fez”.

Jaime Cezário: “A proposta defendida pelo enredo era usar como fonte inspiradora a obra do pintor Carybé e viajar na mística baiana. Mas o que foi apresentado, foi muito mais a mística baiana fundamentada no culto dos Orixás e o do Candomblé. Seria uma proposta sensacional ver em pinceladas criativas isso tudo descrito em fantasias e alegorias. A excelente ideia do enredo, talvez tenha ficado um pouco difícil de ser traduzida, pois esbarrou nas dificuldades financeiras de uma escola que desfila nesse grupo. O que vimos como enredo apresentado na sua totalidade, foi a força da cultura mística baiana. Ficou faltando ver o colorido das pinturas do Carybé, transformados em cores desse Axé. As fantasias foram resolvidas dentro do roteiro fornecido, não usaram requintados materiais, mas o que foi apresentado, foi de boa qualidade e com bom acabamento. As alegorias eram grandes, com bom acabamento, e apresentavam ótimos destaques, os quais ajudaram a dar um toque especial no conjunto geral. Destaco o destaque do abre-alas, com a fantasia de Oxalá, roupa requintada e rica, que chamava atenção”.

Eliane Souza: “Renan Oliveira e Laís Lúcia fizeram uma apresentação com leveza e simpatia, com gestos e passos da dança afro acrescentados aos movimentos do bailado. O casal desenvolveu sua coreografia com grande habilidade, coordenando os movimentos e demonstrando a excelente sintonia em suas finalizações. A porta-bandeira realizou com destreza seus giros, sempre cortejada e conduzida pelo mestre-sala, que reverenciava o pavilhão com galhardia. Destaque para Fábio Rodrigues e Mônica Menezes, o experiente segundo casal da escola”.

Rachel Valença: “O Império da Tijuca tem o peso de uma escola tradicional e isso é sem dúvida um trunfo. Mas fica a um passo do peso excessivo que não conquista o torcedor contemporâneo. Além disso, foi possível entrever traços de carência de recursos bravamente escondidas pela elegância da escola, à exceção do presidente Tê, que parece ter perdido o cuidado com a aparência que o cargo exige”.

Wallace Safra: “A comissão de frente se apresentou em três atos, trazendo a cada ato Orixás distintos e movimentos inerentes a cada um deles de maneira orgânica e identitária ao cunho religioso, com uma reprodução leve e de fácil leitura para o público. O coreógrafo Jardel Augusto Lemos conseguiu traduzir de forma objetiva o enredo e nos figurinos que representavam ‘as cores do sagrado’ deu início ao enredo da escola de maneira direta. Destaque para a objetividade e transparência na comunicação e mensagem da comissão”.

Império da Tijuca. Foto: Juliana Dias – SRzd

Inocentes de Belford Roxo

Célia Souto: “A última escola a se apresentar entrou na Avenida ao raiar do dia demonstrando garra, vibração, emoção, canto forte e determinação para cantar o samba-enredo na sua totalidade. As alas se movimentam com vibração sustentando o ritmo da dança demonstrando uma regularidade muito boa em relação a evolução”.

Eliane Souza: “Matheus Machado e Jaçanã Ribeiro, juventude e experiência na performance do casal que trouxe para o desfile um bailado atualizado, com a preservação dos movimentos obrigatórios de cada um dos dançarinos. Os giros seguros da porta-bandeira foram acompanhados pelo mestre-sala que, com galhardia e muita corte, conduziu a dança, louvou o pavilhão e traçou seus riscados, meneios, mesuras, sapateados miúdos coordenados a piruetas simples e giros curtos, seguidos da falsa queda do voleio. Um bailado bonito, realizado com gentileza e elegância, e muito bom de se apreciar”.

Rachel Valença: “Na ingrata situação de encerrar um desfile que se prolongou excessivamente, a Inocentes desfila para arquibancadas vazias, o que é sempre triste. O enredo é lindo, mas as circunstâncias não ajudaram a tornar o desfile interessante”.

Cadu Zugliani: “O samba da Inocentes é um samba bastante correto, conta bem o enredo, apesar de um pouco longo, mas tem nuances interessantes de melodia que atenuam a questão do tamanho. A escola tem uma comunidade forte que ‘compra o barulho’ e se entrega no canto”.

Jaime Cezário: “O enredo ‘Mulheres de Barro’ foi uma homenagens as mulheres artesãs na arte de fazer panelas do barro. Vai buscar inspiração na arte ancestral indígena até chegar aos dias de hoje com o galpão das paneleiras. As fantasias usaram tons terrosos e, com o atraso do desfile, teve de enfrentar a luz do dia, perdendo muito do possível encantamento que poderia causar com a iluminação artificial. Esse fato tirou o brilho do conjunto apresentado, pois nitidamente foi um Carnaval pensado para desfilar a noite. Usaram materiais alternativos nas roupas e os acabamentos não foram dos mais caprichados. O conjunto alegórico da escola sofreu o mesmo problema que suas fantasias. Alegorias pensadas para desfilar com luz artificial. A luz do dia trouxe estranhamentos em algumas propostas, especialmente no caso da segunda alegoria, onde predominaram cores do marrom, ao terra. E essa paleta de cores, obviamente não funciona com a luz do dia”.

Inocentes. Foto: Reprodução

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