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Carnaval 2023: análises do segundo dia de desfiles do Grupo Especial

Seis escolas fecharam os desfiles do Grupo Especial na Marquês de Sapucaí, neste segundo dia de apresentações: Paraíso do Tuiuti, Portela, Vila Isabel, Imperatriz Leopoldinense, Beija-Flor e Viradouro. Os comentaristas do SRzd acompanharam os desfiles e analisaram o desenvolvimento das agremiações. Veja abaixo: 

Paraíso do Tuiuti

Célia Souto: “Primeira escola do segundo dia dos desfiles entra na Avenida cantando o samba com força e garra. Os componentes demonstram comprometimento com a totalidade do samba e cantam em sincronia com o ritmo. A melodia cadenciada flui com naturalidade. A evolução da escola vai se desenvolvendo dentro de um bom andamento, porém não sustenta a dinâmica e regularidade do chão com frequência”.

Cadu Zugliani: “Afinação, alcance de voz, como é bom ouvir o Wander Pires. Melhor ainda ouvir cantando um bom samba como este do Tuiuti. Samba quem além de bonito, conta bem o enredo. Muito bem conduzido e ensaiado, andamento certinho. Um dos melhores sambas do ano”.

Junior Schall: A professora Rosa Magalhães é a maior contadora de histórias do Carnaval e, junto com o talentoso João Vitor Araújo, desde o início, na cabeça da escola, contou, de fato, um enredo. A pluralidade de cores utilizada por ambos se apresentou em harmonia visual com as alegorias, nas formas e dimensões, bem como nas fantasias, amplificando o poder narrativo da história contada. Esse encaixe visual encontrou bom apoio na obra musical, fazendo com que o universo audiovisual do desfile tivesse fluidez e conexão com a proposta apresentada. Dona Rosa e João, no Paraíso do Tuiuti, mostraram a importância vital de haver um enredo, de verdade, para ser desenvolvido”.

Jaime Cezário: “O enredo tem a chancela da carnavalesca Rosa Magalhães com João Vitor Araújo, isso significa um enredo altamente cultural e descritivo. E assim, vimos, em alas e alegorias a cultura indiana, lugar originário do Búfalo, até sua chegada na Ilha de Marajó, com o naufrágio na costa do estado do Pará. Finaliza com uma viagem ao folclore do boi da cara preta, e sua coroação em plena Sapucaí na alegoria denominada ‘Bufódromo’. Um desenvolvimento correto e tecnicamente perfeito. As fantasias foram claras nas suas representações, mas sem grandes ostentações em termos de materiais usados. As alegorias seguiram o mesmo padrão, corretas, objetivas nos seus enfoques, entregando tudo que foi proposto em sua defesa”.

Eliane Souza: “Raphael Rodrigues e Dandara Ventapane, o experiente casal da escola, dançou com elegância e suavidade, conduzindo e louvando o pavilhão da escola. Leonardo Thomé e Rebeca Tito, o segundo casal, dançaram livremente, demonstrando alegria e apresentando, ela, o abano com giros em translação, sendo cortejada pelo mestre-sala que, dançando para o pavilhão e para sua dama, elaborou um riscado com fugas e contra-fugas, numa aproximação galante e, realizando a carrapeta com passos miúdos e rápidos, para acompanhar o deslocamento da porta-bandeira”.

Wallace Safra: “Narrando a chegada dos búfalos a ilha do Marajó a comissão trouxe para Avenida um grande encontro da região brasileira com a Índia, onde podemos assistir um conto onde o boi é o grande protagonista dessa festa. Na primeira parte os coreógrafos Lucas Maciel e Karina Karina Dias apresentaram a Índia onde os bailarinos puderam evoluir de maneira mais discreta, mas com um bom resultado plástico. Já no segundo momento, os bailarinos surgem para revelar a cultura do Pará, onde foi apresentado uma coreografia mais enérgica, dinâmica, com elementos da cultura regional na dança envolvendo o boi em seu momento mais alto e na finalização os coreógrafos elevam a imagem de Iansã, agregando o fator religioso à apresentação. Faltou uma maior integração entre os dois atos. Bom trabalho plástico e destaque para o resultado do conjunto desenvolvido. Representando os povos indígenas a ala de passistas apresentou um trabalho bem enérgico, intenso e com grande desenvolvimento do samba no pé dos componentes. Gosto muito da maneira livre com que os passistas se apresentam e do comprometimento pessoal entre eles, demonstrando preocupação com o resultado e empatia. Movimentos plurais e o trabalho dos diretores são os destaques do trabalho apresentado”.

Rachel Valença: “A escola de São Cristóvão fez um desfile excelente. Sem correria, sem atropelo, embalada pelo excelente samba, apresentou um bonito trabalho visual e um enredo de fácil compreensão, com desenvolvimento claro e linear”.

Bruno Moraes: “A bateria do Tuiuti é uma das melhores do Carnaval, ponto! Muito segura, com bossas inteligentes e funcionais, a do carimbó é muito oportuna e funcionou muito bem nos módulos de julgamento. A parte da frente da bateria (chocalho, cuíca e tamborim) se destacam pela qualidade e requinte da criação de seus desenhos. O andamento da escola foi sensacional, com a cozinha da bateria dando um swing incrível. Mestre Marcão arrebentou”.

Tuiuti. Foto: Leandro Milton – SRzd

Portela

Célia Souto: “A aniversariante entra na Avenida dando o tom, harmonia muito bem elaborada musicalmente, forte, empolgada e vibrante, dominando o canto com entrosamento entre ritmo e melodia. Devido a um problema técnico em um carro, a escola não conseguiu manter a regularidade e o ritmo, prejudicando a evolução. Apesar disso a escola manteve a garra na sequência da apresentação”.

Wallace Safra: “A comissão que celebra o centenário da Portela, apresentou na Avenida a história de como tudo começou, através da ótica poética dos momentos vividos por Paulo, Caetano e Rufino. Com uma apresentação sensível, leve e delicada, os bailarinos desenvolveram uma coreografia com movimentos sincronizados e direcionados ao comportamento social da época retratada. Os coreógrafos Léo Senna e Kelly Siqueira conseguiram externar a visão da agremiação sobre sua história e comemoração ao centenário. O elemento coreográfico foi palco de toda a história contada na avenida e foi fundamental para a apresentação executada. Destaque para a riqueza e precisão nos movimentos dia bailarinos e da plástica muito bem realizada. Belíssimo trabalho! Fazendo um tributo a história da ala de passistas da agremiação, a ala passou grandiosa. Com movimentos característicos do samba no pé e com muita energia, os passistas tiveram um excelente desempenho. Com uma fantasia leve, conseguiram desenvolver muito bem, com uma boa evolução e uma boa comunicação com o público. Destaque para a evolução da ala na avenida. Belo trabalho”.

Eliane Souza: “O mestre-sala Marlon Lamar e a porta-bandeira Lucinha Nobre, louvando o pavilhão, dançaram trazendo para a Avenida passos, gestos e movimentos obrigatórios do bailado, realizando-os de maneira atualizada, com as marcas do estilo do casal, que em sua forma de dançar acrescentam detalhes, como as nuances do personagem paulistano e formato ousado de desfraldar a bandeira que, enriquecem a dança sem descaracterizá-la. Traços que modernizam a performance do par. Destaque para a liberdade do segundo casal da escola, Emanuel Lima e Camyllinha Nascimento, que brincando, bailaram no desfile. Para rememorar o desfile de 1964, Vilma Nascimento ‘perfumou’ a Avenida, conduzida por Jerônimo Patrocínio. E bailando com muito vigor e alegria, pude apreciar a potente performance de Vinícius Jesus e Rosilaine Queiroz, o terceiro casal da escola”.

Jaime Cezário: “Um dos momentos para quem tem coração forte; foi o que a Portela causou aqui na Sapucaí com a comemoração do seu centenário! Digo que muitas vezes tive que segurar a emoção! Afinal, se nós amamos desfile de escola de samba, não podemos ficar insensíveis ao que foi visto e mostrado nessa noite. Carnaval é emoção! É a emoção que nos faz amar e é o amor que nos faz viver essas quatro noites ininterruptas de desfiles. Se olhar com o tecnicamente perfeito, vou ter que confessar chorando, não foi! A terceira alegoria tirou o sonho de ver uma escola fazendo o Carnaval que amamos, sem os famosos temas lacradores, que agora viraram moda. Campeã! A Portela foi a mais pura emoção do Carnaval. A história foi perfeita, enredo lindo, muito bem contado e mostrado pelos seus carnavalescos. Fantasias muito bem no ato de contar a história. As alegorias também seguiram esse padrão. Era notório que alguns problemas de acabamentos foram vistos e notados e, também por isso, não veremos ela Campeã. Independente da colocação, afirmo, sem medo de errar, ela foi a campeã da emoção! Foi lindo Portela”.

Rachel Valença: “Uma sucessão de infortúnios e erros marcou esse desfile destinado a ser histórico. Para quem ama o samba, uma pena. Mas a emoção não se perdeu e houve lindos momentos. Recuperar por um momento ‘a emoção de ver Vilma dançar’, não tem preço”.

Junior Schall: “100 anos de Portela, um momento histórico aconteceu na Sapucaí. Escrito por tintas ‘espaciais’ azuis e brancas da tradição, das raízes poderosas da sua origem e da tecnologia. O espetáculo do Carnaval aconteceu também fora do chão sagrado da passarela, no céu acima da Marquês, pelo bailado orquestrado de vários drones. Imponente, suntuosa e com extremo bom gosto na composição da narrativa visual, a Portela nos ofertou um desfile pautado em um alto grau de emoção e uma estética apuradíssima assinada pelo casal Lage. Vaidosa, a Águia altaneira, se vestiu, como manda a data, de forma primorosa. No desenvolvimento da sua apresentação percalços de ordem técnica, em duas alegorias, fizeram com que as equipes de apoio da Portela agissem de modo ordenado para reverter os problemas, solucionados pelo trabalho coletivo”.

Cláudio Francioni: “A bateria da Portela fez um bom desfile na segunda noite de desfiles. Com sua sonoridade mais aguda do que o padrão normal, Mestre Nilo trouxe um andamento pra frente e bossas longas que foram bem executadas nas cabines de julgamento. Entre a primeira e segunda cabine, longe dos julgadores, houve uma breve escorregada na levada rítmica que logo foi resolvida pelos diretores”.

Portela. Foto: Juliana Dias – SRzd

Vila Isabel

Célia Souto: “A escola canta o samba com musicalidade e demonstra sensibilidade para interpretar a obra demonstrando uma boa sustentação entre melodia e ritmo. Os componentes ouvem e acompanham o ritmo do samba com desenvoltura. A escola desenvolve uma boa evolução sincronizada com o ritmo e o canto. As alas fluem com leveza e regularidade demonstrando domínio no andamento do chão. Um lindo desfile, equilibrado entre harmonia e evolução”.

Rachel Valença: “Uma das belezas do Carnaval das escolas de samba é o imprevisível. Portela, de quem se esperava tanto, decepcionou. Mas surpresas boas também acontecem. A Vila Isabel, de quem nada ou quase nada se esperava, entregou bem mais do que prometia. Desfile correto, muito bonito, compacto. O samba fraco cresceu enormemente com Tinga e com a excelência da bateria de Mestre Macaco Branco. A Vila tirou onda”.

Cadu Zugliani: “Salve São Tinga! Que levada! O samba da Vila era considerado um dos piores da safra, não melhorou, mas deu conta do serviço, muito ajudado pelo cantor da escola e pela bateria do Mestre Macaco Branco. Aliás, vale ressaltar o trabalho musical feito em quase todas as escolas esse ano. Profissionalização forte. Sobre o Evoé, cumpriu seu papel embalando o que talvez tenha sido o melhor desfile estético de Paulo Barros”.

Junior Schall: “Barros fez uso de toda a sua inventividade nesse desfile. Com uma apresentação recheada de insights de criatividade pulsante o carnavalesco ofertou uma estética refinada e moderna para a composição das suas alegorias, com cuidado no volume e na construção também das fantasias. Carros e alas vestidos de Carnaval. Numa conexão que proporcionou um belíssimo trabalho de ordem visual, alicerce poderoso para o exercício da harmonia e evolução. Interações de elementos cênicos, alegorias e alas trouxeram ainda mais conexão e força para o desfile. Tendo na ousadia uma das suas assinaturas Paulo fez, até mesmo, uma ação interativa entre o primeiro Casal e os seus guardiões, numa ‘construção’ da fantasia de ambos nas apresentações diante das cabines julgadoras. A Vila Isabel e PB fizeram do desfile uma celebração genuína da folia”.

Jaime Cezário: “Nessa festa , eu levo fé… todos nós Vila. Acreditamos na magia dos enredos de Carnaval. A escola trouxe um enredo conceitual, com a temática Festa. Esse estilo característico do carnavalesco Paulo Barros, já vimos em outros tempos, dando muito certo, levantando inclusive, o título. Mesmo com muita gente torcendo o nariz para essa proposta, mostrou para o que veio. Contou de forma clara e perfeita o enredo. As fantasias traziam sua história de forma clara, mostrando um requinte de materiais e acabamentos dos melhores. As alegorias seguiram pela mesma trajetória, ricas e muito bem acabadas. Foi a escola que até o momento apresentou os melhores efeitos em alegorias. Destaco a abre-alas, que cultuava o Deus Baco, que além de se movimentar, ainda jorrava um chafariz de vinho (água com corante). E o carro da Festa de São Jorge, onde trazia uma escultura toda articulada? Puro requinte. Numa síntese desses três itens observados, a classifico como tecnicamente perfeita. A emoção que transbordou na Portela, ficou faltando na Vila”.

Cláudio Francioni: “Foi um grande desfile da bateria da Vila Isabel. Entraram em um andamento bem acelerado, num BPM desconfortável para os ritmistas, mas ainda no primeiro recuo encontraram a região perfeita para permanecerem até o fim. Excelente equilíbrio de timbres, de execução das bossas e uma frente muito forte, comandada por duas mulheres que hoje são referência no meio: Thayane (chocalhos) e Talita (tamborins)”.

Eliane Souza: “Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas, acatando a ousada proposta do carnavalesco de trocar de roupa diante dos julgadores, dançaram mostrando potência nos movimentos bem coordenados, dentro de uma coreografia na qual foram mantidos e preservados passos e gestos do bailado e, pude observar gentileza, cortesia e reverência do cavalheiro, ao pavilhão e sua dama. Destaco a presença de Jackson Senhorinho e Bárbara Dionísio, o segundo casal, que dançando livremente, executaram os gestos, os passos, e os movimentos com os quais construíram com alegria e forma atualizada, o bailado. Bárbara com seus giros precisos no movimento abano, abria espaço para seu mestre-sala, que manuseando um leque com destreza, dançou para cortejá-la e louvar o pavilhão que ela, desfraldava com galhardia”.

Wallace Safra: “Os coreógrafos Alex Neoral e Marcio Jahú trouxeram para Avenida um grande êxtase onde a corte de sátiros e ninfas, trazem o momo para comandar o espetáculo. A comissão apresentou um trabalho limpo e de muito bom gosto. O desenho coreográfico foi de fácil leitura, com um bom desempenho e um uma performance enérgica e bem sincronizada com o corpo de bailarinos. No segundo ato, os coreógrafos trouxeram efeitos visuais e uma maior complexidade na mobilização dos bailarinos, mas tudo muito bem executado. Destaque para a união dos efeitos visuais com a desenho coreográfico que encaixou muito bem. Um grande acerto. Com a temática “Casamento da roça” a ala trouxe para avenida uma celebração a Santo Antônio. Os passistas apresentaram uma dança leve, requintada, com muito samba no pé. Com uma fantasia leve a ala pode se desenvolver bem e assim, realizar um trabalho limpo e dinâmico na proposta de desenho de samba proposto pelo diretor Gabriel Castro. Sinto falta de energia na ala, mas em nada comprometeu o bom resultado. Destaque para a boa comunicação da ala com o público presente. Bom trabalho. Com a temática ‘Casamento da roça’, a ala trouxe para avenida uma celebração a Santo Antônio. Os passistas apresentaram uma dança leve, requintada, com muito samba no pé. Com uma fantasia leve a ala pode se desenvolver bem e assim, realizar um trabalho limpo e dinâmico na proposta de desenho de samba proposto pelo diretor Gabriel Castro. Sinto falta de energia na ala, mas em nada comprometeu o bom resultado. Destaque para a boa comunicação da ala com o público presente”.

Vila Isabel. Foto: Juliana Dias – SRzd

Imperatriz Leopoldinense

Célia Souto: “A escola canta com vibração o samba-enredo. Desenvolve a evolução com regularidade entre as alas. Canto e dança bastante equilibrados e sincronizados.

Junior Schall: “Leandro Vieira, dono de uma assinatura visual rica ao extremo, cheia de recursos, apresentou uma ilustração visual de múltiplas camadas. Finas e altamente refinadas para figurinos e construções alegóricas. Uma Escola desenhada à mão, num enredo (de verdade) narrado em suas formas, cores e obra musical de maneira formidável. Um teatro vivo e vibrante ao som de uma trilha sonora de alto gabarito. Toda essa arquitetura de LV trabalhou em sintonia fina e plena com o exercício da harmonia da Escola. Neste impulso conjunto a evolução da agremiação ocorreu com fluidez e uma dinâmica repleta de equilíbrio. O enlace estético e técnico sempre é potencializado por histórias bem contadas e cantadas. Um cordel fantástico, um Carnaval fascinante”.

Cadu Zugliani: “Se a Santaria se fez de Bedel não sei, mas o samba da Imperatriz não tem como passar batido. Ou você ama ou não gosta. Eu gosto muito como samba-enredo, a história tá toda ali. Ele tem momentos que ajudam o canto e outros que parecem lamento. Acho que estes trechos não funcionaram. A escola passou muito certinha, mas não exalou empolgação. Mas o andamento do carro de som do estreante Pitty Menezes e a bateria do Mestre Lolo encontraram o embalo correto. Não arrastou e não correu. Foi trilha sonora para um ótimo desfile”.

Eliane Souza: “O casal da escola, Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro, apresentou uma performance bem elaborada, na qual podem ser observados os movimentos obrigatórios da porta-bandeira, o abano, com seus giros precisos nos dois sentidos do horário, e o balanço sem apoio, que marcou a delicadeza da dama com seu pavilhão, e assim abriu , um espaço para que seu cavalheiro pudesse cortejá-la durante a execução do cruzado, momento no qual circundava com leveza a porta-bandeira, louvando o pavilhão que ela portava. Em ações bem sincronizadas e com precisas finalizações, pude observar a pegada de mão que deu apoio a execução do aviãozinho da porta-bandeira. Um riscado cheio de mesuras e requebros sinalizou a forma criativa do dançarino se exibir livremente no espaço reservado para a dança, na qual a apresentação da bandeira foi feita aos julgadores com muita elegância. De forma atualizada, o casal dançou o bailado, preservando seus movimentos característicos. Lindo de apreciar”.

Rachel Valença: “Quando a gente acha que já viu tudo, vem essa maravilhosa Imperatriz Leopoldinense ao som do seu samba-enredo bem interessante, com elementos muito tradicionais do gênero mas algo moderno e inovador que é a incorporação de ritmos nordestinos alusivos ao enredo. Mas isso, embora importante, é apenas um detalhe. O que chama atenção e é decisivo é o visual da escola. A unidade estética da narrativa é impressionante. Nada está ali por acaso, tudo a serviço de contar a história. Que lição de desenvolvimento de enredo! Salve, Imperatriz! Salve, Leandro Vieira”.

Jaime Cezário: “Um dos desfiles mais aguardados desse Carnaval, pois teríamos a estreia do carnavalesco Leandro Vieira na escola. Novas cores, nova comunidade e também, um novo caminho de enredo. A proposta era contar de forma bem humorada a história delirante de cordel que fala da morte do cangaceiro Lampião, e sua chegada ao inferno e depois ao céu, terminando sua busca, encontrando seu lugar definitivo, na cultura nordestina. Tudo foi visto com muita clareza, seguindo perfeitamente o roteiro apresentado. Não tivemos nenhuma dúvida da proposta. A boa sacada, foi o bom humor. Adorei ver a Suzy Brasil, personificando o ‘Cramulhão’, um momento divertido do enredo. Achei muito interessante a paleta de cores utilizada, onde o verde tradicional da escola pouco apareceu de forma incisiva, somente na primeira ala. As fantasias estavam completamente adequadas a proposta e com excelentes acabamentos. As alegorias seguiram o mesmo padrão. Destaque para a coroa, símbolo da escola, vindo na última alegoria, celebrando o legado de Lampião de ‘Rei do Cangaço’. Tudo perfeito tecnicamente, nada foi observado que possa comprometer sua apresentação nesses três quesitos”.

Bruno Moraes: “A bateria da Imperatriz fez um excelente desfile nessa segunda noite. Impressiona bastante como essa bateria consegue manter esse elevado nível. Mestre Lolo é incrível! Nas apresentações aos julgadores chamou zabumbas, sanfona e o ótimo puxado Pitty para frente da bateria e fez uma bossa que levantou a Sapucaí, com técnica e perfeição na execução. Todos os naipes são de extrema qualidade. A Swing da Leopoldina e o bonde CPX está de alma lavada”.

Wallace Safra: “Com cenas da vida de lampião e seu bando a comissão trouxe para avenida a grande saga dos contornos lúdicos de lampião fugindo de uma perseguição. Morto ele vai aí céu e ao inferno em busca de guarida. Com muito bom humor e requinte o coreógrafo Marcelo Misailides, realizou um belíssimo trabalho ao integralizar a comissão ao elemento coreográfico, onde os bailarinos puderam trazer diversas encenações que mostraram as diversas fases da história contada na performance da comissão. Destaque para a plástica e para o desenho coreográfico de bom gosto proposto pelo coreógrafo. Representando a malícia fogosa, a ala de passistas da Imperatriz Leopoldinense apresentou um trabalho de qualidade, com movimentos limpos e uma alegria contagiante. Com um samba no pé característico da agremiação os passistas mostraram um trabalho simples mas funcional na avenida”.

Desfile da Imperatriz Leopoldinense 2023. Foto: Gabriel Monteiro/Riotur

Beija-Flor

Célia Souto: “A escola inicia o seu desfile demonstrando comprometimento e concentração em relação ao canto, componentes dominam o samba-enredo e vão preenchendo a Avenida com musicalidade, andamento moderado e sincronia entre ritmo e melodia. A evolução segue o ritmo do canto e vai se estruturando pela Avenida demonstrando equilíbrio entre as alas”.

Cadu Zugliani: “Samba com cara de Beija-Flor, com jeito de Beija-Flor, ritmo e andamento. A novidade estava no carro de som, Ludmilla dividindo o microfone com Neguinho. Foram bem, ela parecia bem empolgada com a novidade. Aliás, o nosso Carnaval precisa de mulheres como primeiras vozes. Uma apresentação corretíssima. Samba que contava bem o enredo e com a característica do que a escola tem feito nos últimos anos”.

Bruno Moraes: “A bateria da Beija-Flor veio com sua batucada tradicional, ao longo da pista, apresentou uma bateria com um andamento mais baixo, porém cheio de swing. O bom desenho de tamborim e o entrosamento com o chocalho ajudaram bastante no todo da bateria. Sua terceiras com sua levada que dão identidade a essa bateria, deram mais um show. Ritmo e apresentações aos julgadores foram bem eficientes. Mestre Rodney é experiente e sabe o que fazer para conseguir as notas tão sonhadas.

Jaime Cezário: “O grito dos excluídos foi ouvido na Sapucaí! A escola levantou a bandeira das minorias que sofrem com o descaso dos governos desde tempos idos. Começa exaltando as revoltas ocorridas no país no século XIX, como a Cabanagem e a Revolta dos Malês, entre outras. Nesse ritmo atravessou o século XX, chegando aos dias de hoje. Cobrando igualdade de direito, justiça social e tudo mais que podia. Podemos dizer que criou um novo estilo de desfile: o passeata. Vimos faixas com cobranças, mostrando que o povo tem fome, quer mais educação e que acabem a discriminação e o racismo. Nossas lutas diárias foram vistas nesse desfile. A Beija-flor sempre faz uma apresentação de excelência, mas fiquei curioso em saber o porque da utilização de tanto ouro, até a primeira metade do desfile, mostrando fantasias e alegorias requintadas falando desses movimentos do povo humilde e guerreiro do nosso país. Inclusive, após um início de incêndio no conjunto alegórico do abre-alas, o carro do meio desfilou apagado e com a estrutura do queijo central mostrando as ferragens. A partir da metade da sua apresentação, as fantasias começaram a entrar mais no clima povão, e aí sim, nos identificamos. Uma mensagem de basta de opressão e que sejamos valorizados e não mais excluídos, ficou clara. A alegoria que retratava o período dos anos de chumbo no Brasil, trazia dragões que apresentavam um acabamento precário, que não condiz com o padrão Beija-Flor de se apresentar. Dessa forma, a ‘subversiva’ Beija-Flor fez sua apresentação”.

Junior Schall: “A Beija-Flor, quinta escola da noite, desenvolveu com a sua tradicional técnica apurada de desfile um enredo forte, com um viés de crítica social exposto de modo vigoroso, ao longo de toda ilustração visual da composição do seu cortejo, apoiado, como de costume, pela sólida base da sua comunidade. A agremiação de Nilópolis foi a segunda entidade a fazer uso da interatividade da iluminação cênica da Avenida com a sua apresentação. Indo além, no entanto, da utilização desse recurso somente na Comissão de Frente. Em diversos momentos a cena da escola teve essa intervenção, de modo pontual, criando uma outra via de observação para a sua evolução e a construção dos seus cenários de alas, segmentos e alegorias”.

Rachel Valença: “A Beija-flor precisou superar um princípio de incêndio em um de seus carros no início de seu desfile. É espantoso como o fez rapidamente e quase sem consequências. Impossível saber até que ponto esse incidente abateu o ânimo da escola, que não apresentou o desempenho comprometido, que é sua característica. Foi, sem dúvida, uma noite difícil para as escolas concorrentes”.

Eliane Souza: “Na performance apresentada por Claudinho e Selminha, eu confirmo que é possível preservar o bailado, seus movimentos, passos e gestual, conforme descritos e nomeados por Vilma Nascimento e Elson PV e, apresentá-los de forma atualizada e dinâmica. O mestre-sala apresentou em sua performance os movimentos obrigatórios da coreografia. Atualizando a execução e utilizando o movimento para fazer a corte à porta-bandeira e saudar o pavilhão, ele realizou o cruzado com o passo ‘beija-flor’, quando rodeou a porta-bandeira. Os passos miúdos do currupio foram feitos, sem o enlace, numa abreviação do movimento, porque o volume da saia da porta-bandeira não permitiu, mas ele o sincronizou à carrapeta, quando olhando para o pavilhão e para sua dama, se movimentou em piruetas simples, se deslocando no espaço, para em seguida, sapatear plantado no espaço, e oferecer a mão a sua dama, sincronizando assim seu movimento ao dela, que se deslocava nos giros do abano; gentil, ele depositou um beijo na mão da dama! E nessa pegada de mão, possibilitou a sua dama fazer seu movimento aviãozinho e, então juntos, ele fez a apresentação da bandeira para Selminha, marcou seu gestual, apoiando sua mão esquerda, em repouso, na cintura durante seus giros no abano. E, bailando, num formato moderno e demonstrando potência em sua performance, o casal demonstrou um perfeito entrosamento nas sequências de movimentos naturalmente realizados, deixando evidenciada sua integração e sintonia. Pude apreciar a postura zelosa na condução do pavilhão e, o estilo definido na sua singularidade de bailar, numa desenvoltura adquirida pelos anos de parceria e cumplicidade”.

Wallace Safra: “Representando a trajetória de uma brava gente que luta por igualdade e protagonismo da história, a comissão surpreendeu e executou um trabalho diferenciado. Usando as luzes da avenida a seu favor, os coreógrafos Jorge Teixeira e Saulo Finelon trouxeram para avenida uma encenação que integralizou os bailarinos ao elemento coreográfico, com uma boa plástica, um desenvolvimento simples, mas objetivo. Com movimentos resgatados da época refratada, os bailarinos entregaram o que foi necessário para uma boa apresentação. A luz que foi motivo de surpresa, também atrapalhou o resultado visual da comissão, que, em determinado momento, se apresentou no escuro, dificultando a leitura dos movimentos. contudo, o resultado final é bom e direto. Destaque para a inovação proposta pelos coreógrafos. Representando a magia negra e evocando a cultura afro-brasileira, os passistas desfilaram contra o código Penal de 1890. Com um samba característico da agremiação, a ala teve uma boa apresentação, com uma boa comunicação entre si e com o público. Falta energia e explosão nos movimentos, mas a ala compensa com entrega e canto. Destaque para a fantasia leve que contribuiu para a boa realização do trabalho apresentado pelos passistas”.

Desfile da Beija-Flor 2023. Foto: Gabriel Monteiro/Riotur

Viradouro

Cadu Zugliani: “O samba da Viradouro já era um dos melhores no pré-carnaval e com o casamento Ciça/Zé Paulo ao vivo, arrebentou. Diferente do ano passado quando a escola parece não ter achado o andamento mais correto para a carta, esse ano encontrou com sobras. A obra tem momentos que ajudam demais o canto da escola, tanto que a bateria abusou de paradinhas longas. Como é bom cantar um bom samba. Espetacular”.

Célia Souto: “A última escola dos desfiles entra na Sapucaí se empenhando para cantar o samba-enredo com garra e empolgação, os componentes demonstram concentração em relação a totalidade do samba. A evolução se desenvolve com domínio para manter a regularidade no andamento entre as alas. Um lindo desfile equilibrando harmonia, ritmo, melodia e evolução”.

Junior Schall: “Encerrando os desfiles do Grupo Especial, a Viradouro, com todo o poder da sua comunidade, trouxe um enredo belíssimo. Uma história muito rica, contada com sensibilidade e muita força na composição dos seus elementos visuais. Todo projeto de Carnaval da escola compreende, com raro equilíbrio de potências, as vertentes estéticas e técnicas que servem com muita eficácia ao exercício de chão da entidade. Tudo fruto de trabalho intenso, comunicação em alto grau de resolução e entendimento pleno do seu corpo de componentes. Um fechamento com alma e vigor, num gabarito de sarrafo altíssimo. Tarcísio Zanon, generosamente, ofereceu um universo incrível de cores, formas e imagens. Viradouro propôs e fez um desfile enorme”.

Jaime Cezário: “Com o enredo inédito a Viradouro apresentou à Sapucaí Rosa Maria Egipcíaca. Com a suntuosidade costumeira, contou a história da primeira mulher preta a escrever um livro no Brasil. O que foi proposto pelo roteiro, foi muito bem visto aqui em fantasias e alegorias. A proposta do enredo era de realizar uma canonização popular no Templo do Samba. E utilizando uma paleta de cores, onde o vermelho foi suavizado com toques de rosa, trouxe um ar feminino de início ao fim da sua bela apresentação, emocionando a todos. Fantasias e alegorias muito acima do padrão da maioria das escolas que se apresentaram nesses dois dias de desfiles. Um ponto a ser destacado, foram os acabamentos preciosos que todas as alegorias, incluindo suas composições, apresentaram, algo que nos trouxe encantamento. Por tudo isso, merece os parabéns pelo conjunto da plástica apresentada”.

Eliane Souza: “Simplesmente, uma linda apresentação do casal! Trazendo para avenida um bailado atualizado, dinâmico e alegre, Julinho Nascimento e Rute Alves, apresentaram os gestos, passos e movimentos em uma performance potente, porém afável, na qual houve o zelo de preservá-los! Destaque para a execução do VOLEIO com elevação de perna para um toque sutil na perna de apoio, a falsa queda muito bem realizada e sua recuperação sincronizada as piruetas vigorosas. Um cruzado em deslizamento na meia ponta, com movimentos em rotação e translação, demonstrando total domínio do movimento. Na pegada mão, o sincronismo perfeito com a execução do aviãozinho da porta-bandeira, que girando com apoio de seu cavalheiro, desfraldou seu pavilhão. Nos giros do abano, nos dois sentidos, Rute exibiu sua qualidade e destreza, pela firmeza na ação. A apresentação da bandeira foi feita com cuidadoso toque pelo mestre-sala, que a seguir exibiu seu ‘riscado’, escrevendo frases coreográficas plenas de meneios, mesuras, fugas e contra-fugas, ações que Julinho domina de forma impecável. O meu encantamento ao apreciar o desempenho deste casal, acontece pela confirmação de que podemos e devemos conservar as características do bailado do mestre-sala e da porta-bandeira, atualizá-lo em conformidade com as modificações acontecidas no espaço para a dança acontecer, a indumentária do casal, o andamento da bateria e as exigências impostas pelo enredo e pelo samba enredo. Foi uma alegria imensa apreciar a performance do par. Destaco a bonita performance do segundo casal, Thiaguinho Mendonça e Amanda Poblete. E muito me alegrou que, a eternizada porta-bandeira, símbolo do samba e do carnaval carioca Squel Jorgea desfilou na escola, emprestando sua beleza e carisma ao desfile”.

Wallace Safra: “Através da visão poética da menina Rosa Courá, a comissão passa por diversos momentos de sua vida. Com movimentos precisos e uma plástica de invejar, a dupla de coreógrafos Priscilla Motta e Rodrigo Neri surpreendeu positivamente com uma apresentação arrepiante. Transições ágeis, boa dinâmica nas movimentações, encenação expressiva, integralização com o elemento coreográfico que se tornou o grande palco para realização da proposta dos coreógrafos, e um conjunto harmonioso de bailarinos são alguns dos destaques desta comissão. Excelente trabalho plástico e cênico. Representando as possessões e feitiçarias de Rosa, a ala de passista apresentou um bom trabalho, com samba no pé e movimentos leves nas transições entre samba e performance da ala. Dinâmicos e harmoniosos, os passistas da Viradouro têm uma entrega em conjunto bem interessante. Conseguimos ver dedos e braços marcantes aplicados nos direcionamentos técnicos do diretor Valci Pelé. Forte e disciplinada, a ala desenvolve bem na avenida e mostra cada dia mais melhorias em sua evolução. Destaque para renovação e juventude à frente da ala. Bom trabalho apresentado”.

Desfile da Viradouro 2023. Foto: Juliana Dias/SRzd

Análise geral do segundo dia

Luiz Fernando Reis: “Vila Isabel: apesar de seu samba contar muito pouco do enredo, fez um desfilaço. Imperatriz: excelente desenvolvimento de enredo, fez um grande desfile. Tuiuti: um belo trabalho de Rosa e João Victor. Portela: merecia em seu centenário um desfile melhor, por isso fora das campeãs. Beija Flor: muito aquém de suas possibilidades. Pode não estar nas campeãs. Viradouro: desfile correto e sem falhas. Deve disputar com Vila e Imperatriz o Carnaval 2023″.


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