Carnaval 2023: análises do primeiro dia de desfiles da Série Ouro

São Clemente. Foto: SRzd

Sete escolas abriram os desfiles da Série Ouro, nesta sexta-feira (17) de Carnaval, na Marquês de Sapucaí: Arranco do Engenho de Dentro, Lins Imperial, Vigário Geral, Estácio de Sá, Unidos de Padre Miguel, Acadêmicos de Niterói e São Clemente. Os comentaristas do SRzd acompanharam as apresentações e analisaram o desenvolvimento das agremiações. Veja abaixo: 

Arranco do Engenho de Dentro

Célia Souto: “A primeira escola a abrir a noite de desfile na Sapucaí demonstrou vibração e alegria, componentes animados, no entanto, pode se observar que o entrosamento entre ritmo e canto não esteve equilibrado. Devido a isso, o canto não demonstrou força e clareza. Destaque para a evolução que se apresentou bem desenvolvida no que se refere ao ritmo, leveza e fluência”.

Cadu Zugliani: “O samba do Arranco foi uma agradável surpresa, bem dividido entre letra e melodia e com belos momentos como; ‘Sou verso luzindo na alvorada, teu surdo infindo eterna morada, hei de voltar pro meu canto, raiz floresceu, adeus, escola de samba, adeus, venceu, a escola de samba venceu’. Pena que a escola não cantou o que poderia. A missão de abrir os desfiles tem desses desafios”.

Wallace Safra: “O coreógrafo Fábio Batista trouxe em sua dança elementos fortes da cultura africana, tudo com leveza e suavidade na apresentação. Com um elemento coreográfico que representava ‘O Barraco e os Barracões’, os dançarinos efetuaram uma troca de roupa com alguns contratempos, mas conseguiram superar e fechar a coreografia com sorriso no rosto e de maneira rápida finalizaram com um convite ao carnaval da agremiação. Sobre os passistas: a ala transmitiu animação, samba no pé e muita alegria ao passar na Avenida. Com uma ala plasticamente harmonizada e bem calçada, os passistas estavam leves para evoluir e mostrar sua arte. Sorrisos de extrema felicidade marcaram a identidade da ala que homenageou o morro de Mangueira”.

Eliane Souza: “Yuri Souzah e Gislaine Lira, o casal do Arranco do Engenho de Dentro apresentou uma performance na qual apreciei os movimentos obrigatórios bem realizados, demonstrando segurança e excelente habilidade. Lindo de ver o bailado preservado e atualizado! Destaque para o segundo casal Walber Negreiros e Anderson Morango, na condução de seu pavilhão”.

Rachel Valença: “Com um dos melhores enredos do Carnaval de 2023, o Arranco fez um bom desfile, em que se destacou a criatividade das fantasias”.

Jaime Cezário: “O enredo em homenagem ao Zé Espinguela foi uma ótima escolha para esse retorno à Série Ouro. Conseguiu, de forma clara, contar a história desse ilustre morador do bairro do Engenho de Dentro. O enredo começa homenageando a ancestralidade do Samba na Mãe África, passando pelo início da folia dos blocos de rua no Rio de Janeiro até a criação das primeiras escolas de samba. Destacando ainda a primeira disputa de samba-enredo, que aconteceu no terreiro de Zé Espinguela, com a vitória do conjunto Oswaldo Cruz, liderados por Paulo da Portela. E tudo terminando na comemoração dos 50 anos da escola de samba do Arranco. Um enredo que teve um desenvolvimento claro e sem complicações. O conjunto das fantasias trouxe um belo colorido, soube explorar materiais alternativos, principalmente tecidos com padronagens onde predominava a geometria e o colorido típico africano. Essas estamparias trouxeram agradáveis soluções, como visto e observado em sua ala de baianas. No conjunto apresentado, mesmo com a falta de grandes recursos, zelou por um bom acabamento e pela uniformidade. Nas alegorias, conseguiu reutilizar adequadamente esculturas já vistas na Sapucaí. Muito bem aproveitadas as necessidades dos carros na proposta defendida pelo seu roteiro, Explorou tecidos com padronagens africanas e outras soluções que fizeram dar conta da proposta. Acabamento simples, mas bem feitos. Tudo muito bem apresentado, sem nenhuma falha aparente. Explorou a grande quantidade de composições nas alegorias, trazendo um bom efeito no conjunto apresentado e disfarçando qualquer falta de recursos”.

Bruno Moraes: “A bateria do Arranco fez um bom desfile na difícil tarefa de abrir o Carnaval. As apresentações aos julgadores foram muito eficientes, principalmente na primeira cabine de julgadores, que é dupla. A bateria apresentou bastante ritmo e colocou bossas somente em momentos estratégicos, ajudando na performance do samba-enredo. Destaque para excelente ala de cuíca e ala de tamborim coesa. Os jovens diretores fizeram um bom trabalho na parte da ‘cozinha’ da bateria. Os mestres Cabide e Marley estrearam na Sapucaí com o pé direito”.

Arranco do Engenho de Dentro
Arranco do Engenho de Dentro. Foto: SRzd

Lins Imperial

Célia Souto: “Lins Imperial entra na Avenida chamando a escola para a vibração, garra, canto forte e superação. A escola demonstra maior empenho no refrão do canto, porém não se observa o mesmo empenho na totalidade do samba em relação ao canto, alguns componentes desconcentrados quanto a totalidade do samba. Destaque para os intérpretes que dominam o samba com musicalidade. Em relação a evolução, o ritmo se apresenta com pouca fluência e leveza, sendo assim podemos notar uma irregularidade no ritmo do desfile em relação ao chão”.

Cadu Zugliani: “O samba da Lins, que para mim é um dos melhores da safra da Série Ouro, passou com um andamento um pouco pra frente, o que tira um pouco da beleza dele. Mas a escola cantou bastante e ajudou a levar o desfile que começou com alguns problemas. Muitas partes do samba valem destaque, mas, a que eu mais gosto é; ‘A sua vida foi um palco de teatro, negro drama do asfalto, flor que ensina a resistir, ó entidade, de bonecas e mendigos, renegados e vadios, baixe na Sapucaí’”.

Rachel Valença: “Com um desfile cheio de incidentes, como quebra de carro, a Lins não perdeu o pique. Embalados por um excelente samba, os componentes se empenharam para superar os imprevistos”.

Jaime Cezário: “A Lins Imperial trouxe o enredo a homenagem à Madame Satã. Uma excelente proposta de recontar a vida deste personagem folclórico da cidade do Rio de Janeiro. A ideia é ser um enredo manifesto, exaltando essa ‘Bicha Malandro’. Uma proposta completamente adequada a modernidade atual, onde os enredos em defesa das minorias, como racismo, xenofobia e homofobia estão no topo da moda carnavalesca. Esse enredo junta todas essas fobias, pois Satã era nordestino, preto e homossexual. Na apuração, deverá perder uns décimos pela falta da segunda alegoria, melhor dizendo, a segunda parte da alegoria. No abre alas foi percebida a ausência de um destaque. Atrás da segunda alegoria, havia uma ala que no roteiro fornecido não estava explicada. Nos figurinos, trouxe um belo colorido inicial, causando um impacto visual. Destaque para a ala das baianas com um belo colorido. Mas em termos do conjunto visual, cometeu pequenos pecados de acabamento, assim como, resplendores dobrando nas costas dos componentes das alas. Sobre as alegorias; teve impacto o colorido utilizado no seu abre alas, embora perceptíveis algumas falhas no acabamento. No conjunto, foram notadas que algumas esculturas apresentaram pequenos problemas de acabamento e falhas na pintura de arte”.

Wallace Safra: “Com o figurino “Madame Satã em atos – Tesistie para existir”. A comissão do coreógrafo Carlos Bolacha apresentou uma coreografia divertida, conectada ao enredo, trazendo vida à história de Madame Satã, agregando elementos religiosos como força da homenageada. Os componentes da comissão apresentaram uma dança tênue e faltou sincronismo na corografia, mas buscaram somar energia e intensidade nas expressões, interagindo também com o elemento coreográfico que expressava o palco da homenageada em forma de chapéu”.

Cláudio Francioni: “A bateria da Lins Imperial fez um desfile correto, porém, com algumas oscilações normais para a Série Ouro. Mestre Atila optou por bossas longas e, uma delas, em particular, dialogava muito bem com o público, quando os ritmistas abaixavam-se durante o refrão de baixo. Algumas dificuldades apareceram na compreensão nas nuances de chocalhos e tamborins que foram se acertando no decorrer do desfile. Pouco após a apresentação na primeira cabine de julgamento, percebe-se um desencontro entre as caixas de som, prejudicando por alguns segundos a levada rítmica. Em frente ao setor 5, o ritmo foi corrigido”.

Eliane Souza: “Com uma performance criada pela dupla Jackson Senhorinho e Manoela Cardoso, o primeiro casal da escola atravessou a Avenida com alegria e potência, apresentando um bailado atualizado no qual a manutenção dos movimentos obrigatórios da coreografia de cada um foi preservado. Profissionais de Educação Física e cultivadores das artes corporais, o casal fluiu com graça, demonstrando grande felicidade por portarem o glorioso pavilhão de sua escola! E eu, emoção pura, conduzida por Magno, nosso diretor de harmonia e apresentador do casal, acompanhei de perto a evolução do mesmo pela Avenida! Uma travessia mágica! Viva Jackson e Manoela”.

Lins Imperial. Foto: SRzd

Vigário Geral

Jaime Cezário: “O enredo da Vigário Geral viaja no universo lúdico infantil. Proposta leve e divertida que não tem nenhuma bandeira levantada em termos dos modismos que fazem sucesso no atual momento. Proposta é de se divertir, numa verdadeira Fábrica de Alegria. Nesse sentido, cumpriu bem seu objetivo. Nos proporcionou momentos leves e divertidos, dando conta do recado. explorou bem personagens e brincadeiras infantis. A simplicidade nas soluções criativas e nos materiais utilizados nas fantasias, demonstraram dificuldades financeiras. A ala do bilhete dourado, ala 2, entrou sem chapéu. A ala dos funcionários da fábrica da alegria, ala 4, era tão simples que nos dava a sensação de faltar algo. O destaque “fofos” do desfile ficaram por conta da ala das crianças vestidas de “Marcha Soldado”. As alegorias, com bom acabamento, seguiram a simplicidade na utilização dos materiais, o mesmo padrão usado nas fantasias de alas.

Cadu Zugliani: “Apesar do samba não estar entre os melhores da safra, o trabalho da escola foi impecável no que se refere ao canto. Algumas construções melódicas não traziam nada de novo, como o começo da segunda parte. Refrão do meio bem encaixado ao clima do enredo. Refrão de baixo que ajudou muito na empolgação dos componentes. Aliás, este samba da Vigário Geral é a prova de que nem sempre o samba precisa ser uma obra prima para carregar uma escola. Mas eu prefiro de obras primas”.

Wallace Safra: “Na comissão de frente, o coreógrafo Handerson Big trouxe para Avenida uma comissão construída por um conceito e criação da “Fantástica Fabrica da alegria”. Com esse resgata aos brinquedos e brincadeiras, os componentes da comissão apresentaram uma coreografia leve, singela e com movimentos que remetiam a infância como base em suas expressões. Destaque para as perucas verdes, peles alaranjadas e figurinos prateados com pedrarias que trouxeram um tom ainda mais lúdico ao que foi apresentado. Com uma homenagem aos ícones da televisão a ala de passistas da agremiação apresentou as paquitas e paquitos do programa da Xuxa. Com uma boa harmonia e domínio de espaço a ala se mostrou feliz com o trabalho apresentado, mas faltou energia, o calçado não contribuiu para a boa evolução dos componentes”.

Rachel Valença: “Após um samba-enredo maravilhoso no Carnaval passado, Vigário Geral não foi feliz este ano, mas contou com seu componente para cantar com disposição. A escolha de enredo infantil é sempre um elemento facilitador da comunicação com o público, talvez cansado de decifrar sinopses complexas”.

Célia Souto: “Os componentes demonstram entusiasmo e se empenham para cantar o samba com vibração na sua totalidade. O chão da escola demonstrou força e alegria. A evolução das alas acompanha o ritmo do samba, demonstrando atenção e concentração para manter a regularidade entre as alas. Uma vibrante apresentação”.

Eliane Souza: “Diego Jenkins e Thayna Teixeira desfilaram com muita graça e simpatia, conforme a determinação do enredo que exigiu alegria. Apresentando um bailado atualizado, no qual apreciei a realização natural dos movimentos obrigatórios de cada um dos dançarinos. Destaco a presença do quarto casal, em sua alegria por bailar, as crianças Josias Araújo e Sophya Canuto. Uma presença linda que muito me emocionou”.

Bruno Moraes: “A bateria da Vigário deu um verdadeiro show em seu desfile. Mestre Luygui e seus Chapolins passaram com muita segurança e muito swing no ritmo. A bossa ousada funcionou bastante estabelecendo uma boa comunicação com o público. A ala de cuíca apresentou um bom volume e as alas de tamborim e chocalho passaram tirando onda com uma sincronia sonora destacando bastante a melodia do bom samba. A afinação dos surdos foi outro destaque positivo. A bateria está de parabéns pelo belíssimo trabalho apresentado”.

Vigário Geral. Foto: SRzd

Estácio de Sá

Célia Souto: “Estácio chega dando o tom com muita alegria, segurança, samba no pé e canto vibrante. Os componentes demonstram domínio e entrosamento entre canto e ritmo. As alas se empenham para manter a regularidade da evolução demonstrando um desfile equilibrado e empolgante”.

Eliane Souza: “Feliciano Júnior, um gentil mestre-sala, dançou para o seu pavilhão e para sua dama. Ele a cortejou e conduziu em sua dança, edificando o bailado, de forma atualizada e com muita elegância e determinação. A linda Alcione, que domina sua coreografia, se deixou seduzir e dançou lindamente! O belo casal, moderno em sua performance, bailou preservando os movimentos obrigatórios do bailado! Lindeza de apreciar”.

Jaime Cezário: “O enredo da Estácio de Sá passeou pelo folclore maranhense, abordando as festas juninas da cidade de São Luís. Uma ótima escolha para a escola com pouco recurso financeiro. Foi claro e explicou corretamente tudo que foi fornecido em seu roteiro. Nos figurinos, apresentou, do início ao fim do desfile, um colorido exuberante. Combinação ousada que deu o toque diferenciado, até esse momento dos desfiles da noite. Materiais baratos utilizados e muito bem combinados, como pastilhados, nylon dublado, cetins e feltros. O detalhe chato, ficou por conta da ala de passistas que desfilou sem fantasias. As alegorias seguiram o colorido exuberante das fantasias e a utilização de materiais baratos e bem adequados. Carros grandes, porém, com pequenos problemas de acabamento”.

Cadu Zugliani: “O samba da Estácio cresceu demais na Avenida. Carro de som e bateria encontraram uma cadência que funcionou do início ao fim do desfile. Tiganá, que já conquistou o prêmio SRzd, fez uma boa apresentação com um carro de som bem ensaiado. Voltando ao samba, destaque para o refrão do meio com uma melodia mais dolente. O refrão de baixo teve a pegada característica da Estácio de Sá. Belo desfile na parte musical”.

Cláudio Francioni: “A bateria da Estácio de Sá fez um bom desfile. Com um andamento um pouco mais conservador em relação às suas tradições, a Medalha de Ouro trouxe um bom equilíbrio entre os timbres e uma excelente ala de tamborins, com um bom desenho e excelente execução. Mestre Chuvisco buscou adequar ao enredo a maioria das bossas, executando levadas de ritmos tradicionais e populares no Maranhão, como o reggae, o xote, o xaxado e o boi bumbá. Desta última manifestação, trouxeram também alguns instrumentos típicos, como o pandeirão na frente da bateria e as matracas nas mãos dos diretores. Com pouca emissão sonora, estes instrumentos serviram mais como elemento cênico e para marcar tempo para os ritmistas no fim de uma das bossas. As convenções foram bem executadas na frente dos três módulos”.

Wallace Safra: “Os Santos e os brincantes; a comissão de frente apresentou um cortejo sagrado com aspectos de uma festa popular do Maranhão. Com uma coreografia repleta de sons, energia e impactos positivos no público. A coreógrafa Ariadne Lax, trouxe um time forte e homogêneo de bailarinos, agregou uma boa plástica e simplicidade nos figurinos, mas faltou um pouco de interação com o elemento coreográfico. Comissão se resume a intensidade e um bom resultado. A ala de passistas representaria em suas fantasias a figura indígena e os saberes dos povos originários, mas, infelizmente, passou sem o figurino por problemas com a entrega das fantasias. Contudo, a ala mostrou força, garra, simpatia e muito samba no pé! Uma ala de passistas merece ser respeitada. Fica aqui todo nosso carinho e admiração a ala de passistas da Estácio de Sá e a queridíssima Aldione Senna”.

Rachel Valença: “Com visíveis problemas de fantasias inacabadas ou não entregues – na ala de passistas, por exemplo -, a Estácio de Sá desfilou como grande escola de samba que é. Isso faz toda a diferença. Única da Série Ouro a ostentar o título de campeã do carnava, em 1992, desfilou soberana, minimizando os problemas que a atrapalharam”.

Estácio de Sá. Foto: SRzd

Unidos de Padre Miguel

Célia Souto: “A escola veio preenchendo a Avenida em frente ao setor 4 da Sapucaí evoluindo com regularidade e uniformidade, apresentando equilíbrio entre as alas definindo assim uma ótima evolução num andamento moderado. Em relação ao canto, os componentes desenvolvem a as nuances do samba num andamento cadenciado demonstrando domínio entre ritmo e melodia”.

Eliane Souza: “Que lindeza de bailado! Atualizado, com gestos e nuances referentes ao enredo e em acordo com a letra do samba, todavia preservando os movimentos obrigatórios da coreografia de cada um dos dançarinos. O mestre-sala executou seus passos, demonstrando grande habilidade e destreza, dançando para o pavilhão e para sua dama que, faceira, realizou seus giros com segurança, apresentou um gestual refinado e sinalizando a letra do samba! O casal demonstrou bastante sintonia, finalizando seus movimentos com elegância em perfeita sincronia. Notei a grande alegria em sua dança, um entusiasmo por portar o sagrado pavilhão de sua escola! Apresentação maravilhosa para se apreciar! Amei”.

Jaime Cezário: “O enredo Baião de Mouros foi um belo achado para UPM, pois areja com novidade a tradicional sequência de enredos afro-brasileiros trazidos até então. A influência árabe na cultura nordestina é marcante e, assim, encontraram um celeiro fértil para buscar uma plástica visual nessa rica cultura. Meu registro fica por conta do caminho “cult” buscado pelo enredo, tornando em alguns momentos algo de difícil compreensão, para aquele que não possuir o roteiro em mãos, com toda explicação do caminho buscado para a história. As fantasias foram com o padrão Grupo Especial. Belos acabamentos e tecidos de qualidade. Registro algo observado na ala 7, onde 10% dos componentes estavam sem a camisa da fantasia, algo surpreendente e quase inadmissível para o seu padrão de qualidade. As alegorias seguiram o mesmo padrão das fantasias: qualidade e riqueza visual. Até esse momento da noite, foi aquela que demonstrou que não sofreu com problemas financeiros para realizar seu projeto Carnaval”.

Cadu Zugliani: “A Unidos de Padre Miguel apresentou um samba com uma letra interessante. Não tem um estilo para ‘sacudir a Avenida’, mas tem história, enredo e fez a escola cantar bastante, o que é obviamente bem importante. Achei o andamento bem encaixado entre bateria e o carro do som do super experiente Bruno Ribas. O samba tem vários pontos bons, como a sacada do refrão de baixo. Só uma parte do samba me incomoda; ‘Vi camelo no agreste, sultão cabra da peste, são 1001 noites de histórias ao luar’. Encaixe difícil de letra e melodia. Por sinal, era a única parte menos cantada pela escola”.

Bruno Moraes: “A bateria da UPM fez um desfile técnico com boas e seguras apresentações nos módulos, porém, no último, foi um pouco mais prejudicada pela harmonia da escola e não teve um tempo satisfatório para sua apresentação. Suas bossas eram funcionais e muito firmes. Destaque para boa ala de tamborim com um desenho sensacional. Mestre Dinho usou sua experiência e mais uma vez usou o artifício da paradinha 7 para levantar a Sapucaí, e levantou”.

Rachel Valença: “Unidos de Padre Miguel Sede de vitória, garra, empenho. Palavras que definem o que se acaba se assistir na Marquês de Sapucaí. Se houve em toda a escola cinco pessoas que não passaram cantando, foi muito. A sensação era de que até as esculturas nos carros alegóricos entoavam o samba. Um desfile emocionante”.

Wallace Safra: “O coreógrafo David Lima trouxe para Avenida o mistério que levou a serpente a se encantar pelo Rei do Baião e com muito luxo e fantasias ricas em detalhes apresentou um belíssimo show. Com uma dança enérgica, forte e ágil, os bailarinos puderam mostra elementos do sertão entrelaçados com elementos e expressões árabe. O coreógrafo conversou muito bem com o elemento coreográfico de maneira simples, mas funcional e objetiva, cumprindo muito bem seu papel. Trabalho de muito bom gosto e requinte”.

Unidos de Padre Miguel. Foto: SRzd

Acadêmicos de Niterói

Célia Souto: “Niterói iniciou o seu desfile na Avenida apresentando componentes empolgados, cantando com tenacidade e vibração, entretanto, algumas alas apresentam componentes descomprometidos com a totalidade do samba, cantando e valorizando apenas alguns trechos do samba-enredo. A evolução da escola apresentou algumas”.

Cláudio Francioni: “Excelente desfile da bateria da Acadêmicos de Niterói. Mestre Demétrius, que já venceu o Prêmio SRzd em sua passagem pela Cubango, trouxe marcações altas e um andamento bem pra frente, que se sustentou bem durante o desfile. A frente da bateria teve um desempenho espetacular, com três fileiras de cuícas executando uma levada precisa e de muito volume, chocalhos perfeitos e tamborins limpos e com um ótimo desenho. As bossas, especialmente a da cabeça, arriscada com notas muito próximas uma a outra, foram executadas sem problemas em frente às cabines”.

Wallace Safra: “Passistas com muito samba e um requinte nos movimentos. Excelente trabalho. Com figurinos que representavam “O Caminho para a alegria está na folia da cidade sorriso” a comissão de frente apresentou um resgate a tradição dos carnavais que embalaram os fólios de Niterói. Os figurinos não contribuíram para uma plástica que resultasse em um real efeito visual, como desejado, mas os bailarinos dedicaram energia, movimentos cênicos e de grande valor para a coreografia como um todo.  Trazendo sua contribuição para a tradição da arte do samba, a ala de passistas passou de maneira enérgica e esbanjando simpatia com o público. Senti falta de samba e de diversidade nos movimento, além de acreditar que ainda pode haver uma maior dinâmica na organização da ala. Trabalho simples, mas funcional dentro do apresentado”.

Rachel Valença: “Com um samba animado, a escola estreante não fez feio, embora sua apresentação veio logo após o rolo compressor do Boi Vermelho e tenha ficado comprometida”.

Eliane Souza: “Fantástico! O casal experiente e conhecedor da coreografia do par, dominando seus movimentos obrigatórios, realizando o bailado com atualização, encantou meus olhos! A sestrosa porta-bandeira Giovanna Justo bailou com a determinação de uma veterana e o encanto jovial. Força e energia! Cortejando a dama e comandando a dança, Fabrício Pires, elegante e garboso, (belo de ver, quando faz a elevação de perna, uma pausa em busca de equilíbrio, para retornar na dança, tornou-se característica de seu estilo) confirmou sua função e tarefa atual: dançar para louvar seu pavilhão. Um show de apresentação, no qual foi ratificada que, pode ser atualizada a forma de bailar, preservando os movimentos obrigatórios da coreografia do mestre-sala e da porta-bandeira! Ao casal, meu carinho e todo respeito! Encantador”.

Jaime Cezário: “A novata da Série Ouro trouxe um enredo que prometia muito, pois fazia referência aos grandes carnavais de rua da cidade de Niterói, assim como os grandes desfiles das escolas de samba. A expectativa era grande para assistir ‘O Carnaval da Vitória’. Infelizmente, expectativa sempre é complicada de ser atendida, e assim foi com esse enredo. Uma temática incrível falando de antigos carnavais, mas acompanhando o roteiro com a sucessão de alas e alegorias, o que poderia ser uma sensação, foi apenas normal. O enredo não ficou claro. Enredo sobre Carnaval tem isso, ou encanta ou passa batido. As fantasias não tiveram o uso de requintado de tecidos e acabamentos, mas foram buscadas soluções que não comprometeram. Tudo dentro do padrão apresentado até o momento, com exceção da UPM. As alegorias surpreenderam pelo tamanho e pelas grandes esculturas trazidas no abre-alas e na segunda alegoria, sendo essa grandiosidade, o destaque do seu conjunto alegórico”.

Cadu Zugliani: “O samba de Niterói é muito animado e foi bem sustentado pelo canto e pela bateria. Cadência bem pra frente que não deixou que o samba caísse em nenhum momento. Mas tem construções complicadas e  acentuações de palavras que comprometem a divisão do canto. As últimas linhas antes do refrão do meio passam uma ideia de que a primeira do samba poderia ter terminado antes no Coreto”.

Acadêmicos de Niterói. Foto: SRzd

São Clemente

Célia Souto: “A escola apresentou bom desempenho no canto, forte, fluente e animado, os componentes mantiveram a regularidade do canto entre as alas. Em relação a evolução componentes, dançaram acompanhando o ritmo da melodia demonstrando vibração e samba no pé”.

Cadu Zugliani: “É muito bom ver e ouvir a irreverência da São Clemente, sem deixar a crítica de lado. E o samba 2023 é a prova disso. Bem divertido, carnavalesco, leve. Confesso que não gostei nas primeiras audições, mas hoje mostrou a que veio. Andamento muito bem encaixado que ajudou a dar mais peso à obra. Um presente bacana para quem ficou até o final”.

Eliane Souza: “Trazendo sua marca estilosa, o manuseio impecável do adereço de mão – o bastão -, o mestre-sala, Alex Marcelino conduziu a dança e cortejou com elegância sua dama! E Raphaela Caboclo, a porta-bandeira, realizando giros impecáveis, assim em perfeita sintonia, deslizaram pela Avenida! Elegantes e garbosos, apresentaram uma performance, na qual acrescentaram passos referentes ao enredo e a letra do samba, mas, tiveram o zelo de preservar os movimentos obrigatórios de cada um, finalizando-os com grande sincronismo. Bonito de apreciar”.

Jaime Cezário: “A São Clemente fechou o primeiro dia dos desfiles em absoluto alto astral. O enredo faz uma paródia com a história do descobrimento do Brasil. A proposta seria a inversão, nossos índios descobrem o Velho Mundo. Assim começa a história contada. Divertido, gaiato, carioca e carnavalesco. A temática indígena costura todo seu desenvolvimento, onde mostra coisas típicas da nossa carioquice: o mate gelado, o biscoito de polvilho, a caipirinha e por aí vai. Historia clara, bem resolvida, sem precisar fazer os espectadores pensarem demais para entender. Uma inspiração da alegria carioca sendo celebrada em plena Sapucaí. A temática indígena predominou de início ao fim nas fantasias do conjunto. Bom acabamento, materiais variados. Mesmo com a repetição padrão da temática, não ficou chato, nem enjoativo de se ver. Brincou o tempo todo com os mais variados assuntos da nossa caroquice. As alegorias foram grandes, com bom acabamento e sempre abordando uma temática específica e clara. Cores vibrantes e com efeitos de iluminação. A única coisa que pode desabonar o que foi apresentado, está no formato padrão ‘quadradão’ de todas as alegorias. O que conhecemos como os famosos caixotões”.

Bruno Moraes: “Muito bom ver a bateria da São Clemente de volta! Começo assim, pois estava saudade dessa bateria da época de 2014 e 2015. Mestre Caliquinho acertou na mosca, com bossas muito bem elaboradas e executadas. Que ala de tamborim forte e coesa. Parabéns aos diretores, que mesmo sem apito, fizeram acontecer e não houve sobras nas bossas. No último módulo, embora a harmonia da escola tenha prejudicado a apresentação da bateria por estar estourando o tempo, Caliquinho usou de toda sua experiência e lançou uma bossa andando mesmo, e acabou dando certo. Faço uma observação que não tem a ver com a bateria em si, mas o som da Avenida, que ficou bom hoje, parabéns para a equipe que está trabalhando na sonorização da Sapucaí”.

Rachel Valença: “Quase dez anos de Grupo Especial deram à São Clemente aquilo que chamamos ‘chão’: uma familiaridade com o desfile, um misto de correção e empolgação, na medida certa. A apresentação foi correta, ainda que lhe tenha faltado brilho. Na noite de altos e baixos, ela sem dúvida se situa entre as melhores”.

Wallace Safra: “Através de um grande encontro entre a cultura nativa do pindorama e a cultura europeia, misturado com referências do passado e do presente, a São Clemente brincou de Carnaval. Com uma coreografia leve, divertida e alto astral, a comissão mostrou versatilidade e muito bom humor em contar muito dessa mistura, trazendo referências culturais, musicais e cotidianas dos cariocas. Com uma licença poética o coreógrafo agregou simbologias indígenas ‘cariocando’ e mostrando a versatilidade e união entre os povos. Pra fechar a presença do ator Marcelo Adnet somou a plástica e trouxe ainda mais humor ao trabalho apresentado. Bom resultado. Representando os embaixadores de pindorama, a ala de passistas da São Clemente trouxe irreverência e muita animação ao público presente na Avenida na manhã deste sábado. Acredito que a ala ainda pode evoluir melhor, mas os passistas entregaram um bom trabalho, organizado e harmonioso”.

São Clemente. Foto: SRzd

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