Beija-Flor reúne artistas negros em equipe de criação para desfile sobre o racismo

Rodrigo Pacheco, Alexandre Louzada, Fabynho Santos e André Rodrigues. Foto: Eduardo Hollanda/Beija-Flor

Com objetivo de empretecer o pensamento, como propõe o enredo para o próximo Carnaval, a Beija-Flor de Nilópolis convidou três artistas para formar uma equipe de criação responsável por contribuir com o desfile da escola. O trio, que tem ampla experiência na criação de fantasias e alegorias para a folia, atuará em conjunto com o carnavalesco Alexandre Louzada, que assina o segundo desfile consecutivo após seu retorno à agremiação azul e branco.

O tema, divulgado em junho, é uma construção coletiva e foi intitulado “Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor”. Através dele, o público da Marquês de Sapucaí acompanhará — quando a realização do evento for possível, devido à Covid-19 — uma exaltação à intelectualidade negra, tornada invisível em inúmeros momentos da história do Brasil.

“Fazer parte desse projeto é se orgulhar de ser negro e estar dentro de uma das maiores escolas de samba do país, classificou Fabynho Santos, de 40 anos, que começou a trabalhar em 1998 pela Beija-Flor: “O que mais me encanta no convite, além do enredo, é a liberdade de criação que encontramos no trabalho com o Alexandre. Ele não é taxativo e pensa fora da caixinha, para além das plumas e paetês”.

Nos bastidores do barracão da Beija-Flor, na Cidade do Samba, Santos carrega a bagagem de um currículo que inclui trabalhos com o próprio Louzada, Cid Carvalho (carnavalesco da Beija-Flor no Carnaval passado), Joãosinho Trinta, Milton Cunha e Mauro Quintaes. O artista acumulou passagens por São Clemente, Império da Tijuca, Unidos de Padre Miguel e agremiações de Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, e do Espírito Santo. Desde 2018, atua na confecção de fantasias para a comunidade nilopolitana, incluindo figurinos de destaques e composições de alegorias.

Outro integrante do grupo de criação, André Rodrigues, de 29 anos, também soma trabalhos em escolas de samba cariocas e de outra localidade. Figurinista e projetista há 13 anos, ele já atuou na Unidos de Vila Isabel, Grande Rio, Mocidade Independente de Padre Miguel, União da Ilha e Império Serrano, bem como nas paulistas Vai-Vai e Mocidade Alegre. Hoje, além do novo trabalho na Beija-Flor, é responsável pelos desfiles da Acadêmicos do Sossego e da Mocidade Unida da Mooca, essa última na chamada “Terra da Garoa”.

“Faz um tempo que tenho vontade de trabalhar na Beija-Flor e esse convite foi irrecusável”, contou Rodrigues, que também já esteve em um time comandado por Louzada. “Esse enredo tem tudo para ser um grande marco na narrativa preta nos desfiles de escola de samba e do entendimento do nosso papel na construção inteligente dessa sociedade. Nós, negros, além de representatividade, procuramos igualdade e reparação histórica”, disse.

Quem completa o trio é Rodrigo Pacheco, de 36 anos, que possui 15 anos de experiência em criações para a Passarela do Samba, começou a carreira na Vila Isabel e, depois, integrou a hoje extinta Comissão de Carnaval da Beija-Flor. Ele também já trabalha com Louzada.

“Fazer parte do momento em que a escola levará para a Sapucaí um enredo com tamanha relevância é um privilégio para qualquer artista”, completou Pacheco, fazendo coro aos colegas.

Apresentação virtual

Desfile da Beija-Flor de 2015, último Carnaval ‘afro’ da escola. Foto: Riotur

Com o objetivo de aproximar a equipe de criação da comunidade e dos admiradores da Beija-Flor, a escola promoverá, na próxima quinta-feira (16), uma transmissão ao vivo com os membros, junto com o carnavalesco Alexandre Louzada. O papo, marcado para começar às 14h, acontecerá no barracão da Deusa da Passarela e contará com perguntas feitas por torcedores por meio das redes sociais.

Os encontros virtuais têm sido a alternativa escolhida pela Beija-Flor para manter seu calendário de atividades. Desde março, quando foram implementadas pelas autoridades as medidas de distanciamento social para o combate ao coronavírus, a agremiação realiza digitalmente uma série de transmissões ao vivo, assim como coletivas de imprensa, e publicações que mantêm o engajamento de seus apaixonados.

Ainda não há previsão de retomada dos trabalhos presenciais, que aguardam uma definição da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) sobre a data de realização da festa.










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