Acadêmicos do Cubango mostra que Carnaval se faz na Avenida

Desfile Cubango 2022. Foto: Bianca Guilherme/SRzd

Se isso é estar na pior… O que quer dizer estar bem? Segunda escola da Série Ouro a entrar na Avenida na noite de quarta-feira (20), a Acadêmicos do Cubango desfilou toda a sua herança quilombola ao cantar a história da atriz Chica Xavier.

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A verde e branca de Niterói viveu horas de aflição, após alguns perfis da internet decretarem sua queda com o vazamento de algumas imagens nada animadoras do que seria o barracão da escola.

Abrindo o desfile com um discurso enfezado da presidente Patrícia Cunha sobre a propagação de notícias falsas, a Cubango deu um banho de axé e de bom gosto com o enredo “Amor Preto Cura”, desenvolvido por João Vitor Araújo.

Fala, Rachel!

“Felizmente não se confirmaram os boatos que davam conta de grandes problemas na escola. A Cubango passou muito bem, embalada pelo lindo samba. Foi possível ao talentoso João Vitor mostrar sua criatividade. A homenagem ao SUS e a ciência e tecnologia foi oportuna”.

Fala, Luiz!

“Plasticamente muito bonita. Fantasias bem acabadas e não percebi muito enxerto. O que me incomodou muito foi a falta de leitura do enredo. Se você pega a Chica Xavier e substitui por Obama, Mandela ou qualquer outro, dá no mesmo. A Cubango deixa claro que quer chegar ao Especial, mas nisso deixou a desejar- e eu gosto muito do João Vitor, carnavalesco. Tá longe de descer, mas também não acho que dispute pra subir”.

Comissão de frente

Com a estreia de Fábio Batista à sua frente, a comissão “Em Cena, Mãe Chica Xavier, Seus Rituais de Elevação da Alma” trouxe as referências ao ballet afro, um dos pontos fortes do coreógrafo. Sobre uma árvore cenográfica, a coreografia falava sobre a vivência em terreiros de candomblé da homenageada. O público correspondeu à altura o forte bailado do orixá Obaluaê ao fim da apresentação do grupo.

Segundo o comentarista do SRzd,Marcio Moura, a comissão da escola foi forte:

“A Cubango acertou em cheio ao contratar Fabio Batista para coreografar sua Comissão de Frente. Um dos nomes mais representativos no estudo da dança afro do nosso estado. Diretor da CLAMN e da Escola Carioca de Danças Negras, sabe como ninguém explorar o tradicional e o contemporâneo em suas coreografias. E não foi diferente nessa apresentação em homenagem a Chica Xavier. Uma coreografia forte e muito técnica! Abusou na teatralidade o que aproxima em muito o público da narrativa. A utilização inteligente do Tripé (árvore sagrada) que possibilitava apresentação individual das entidades sincréticas da coreografia foi ponto importante para o entendimento do todo. Ponto alto para a transformação em Iansã da bailarina que interpretava Chica Xavier. O público amou”.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Diego Falcão e Aline Flôres, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Cubango, mostrou sincronia e leveza. Vestidos em tons de bege, a fantasia significava “Bahia de Todas As Crenças”e trazia signos da cultura africana, grande herança da homenageada. A dupla passou com bastante tranquilidade.

Para a comentarista do SRzd Eliane Souza, o casal fez uma bela performance: “Com uma bonita performance, o casal apresentou os movimentos obrigatórios bem sincronizados, revelando excelente entrosamento. Observou-se grande harmonia e naturalidade. O estilo de Diego Falcão, altivo e determinado, esbanjando alegria na condução da dança com um delicado adereço de mão: um bastão! Ele executou a Carrapeta com diversas piruetas e, no meio Sapateado, sincronizou o movimento com a pegada de mão, possibilitando que Aline Flores se exibisse com categoria no Balanço. O casal fez uma excelente ocupação do espaço destinado a dança, realizando a apresentação da bandeira de forma majestosa. Muito bonito de apreciar o bailado do casal”.

Alegorias e adereços

Com soluções criativas e muitas cores, o conjunto alegórico da Cubango foi uma grata surpresa na versatilidade e no acabamento. A escola trouxe para a Avenida três carros alegóricos e dois tripés. Destaque para o carro abre-alas que vinha nas cores da escola, emocionando o torcedor da Zona Metropolitana. A alegoria impressionou na Sapucaí.

“Acadêmicos do Cubango apresentou em suas alegorias uma boa qualidade e requinte visual, o entendimento não tão claro do enredo abordado. O Abre-alas passou apagado, a segunda alegoria também oscilou , mas conseguiu manter a iluminação após o setor 3″, disse o comentarista Jaime Cezario.

Fantasias

As fantasias eram puro luxo! Se em algum momento ousaram temer a falta do traje ou ausência de algum item, se enganaram! O desfile foi à moda João Vitor Araújo. As vestimentas apresentaram uma grande diversidade de cores,  formas e volumes pra ninguém colocar defeito. Atendeu bem aos fãs de uma visual plural, abusando da africanidade característica da escola.

Para o comentarista do SRzd Jaime Cezário, o conjunto de fantasias não era de fácil leitura:

“As fantasias seguiram o mesmo padrão das alegorias, apresentando uma qualidade das Escolas que sonham em conquistar um bom lugar na apuração do grupo Ouro. O entendimento dos assuntos abordados nas alas, não ficaram tão claros, quanto a beleza visual”.

Enredo

O Amor Preto Cura foi o enredo desenvolvido pelo carnavalesco João Vitor Araujo para o desfile da Cubango. O artista escolheu a trajetória da atriz Chica Xavier para buscar o campeonato da escola.

Ialorixá, atriz e defensora da educação, ela carrega em si muitas bandeiras e também, um grande leque de assuntos para abordar na Avenida.

De acordo com o comentarista do SRzd, Marcelo Maso, o enredo do não ficou na vida artística da atriz: “O Enredo da Acadêmicos do Cubango tem como cerne a vida da icônica mulher, atriz e Mãe de Santo Chica Xavier. O enredo da Cubango foi desenvolvido tendo como objetivo principal destacar a resistência da mulher negra em uma sociedade machista e racista a partir dos diversos prismas da vida de Chica Xavier, sobretudo o religioso e o artístico. A religiosidade de Chica Xavier foi abordada de forma plena na avenida. Entretanto, infelizmente ocorreu um sensível equívoco de proporcionalidade no desenvolvimento do enredo, o lado artístico de Chica Xavier ficou em segundo plano em relação à sua religiosidade. A única menção clara na avenida foi a alegoria dois que transparecia ser um palco, teatro, residindo neste ponto a patente desproporcionalidade”.

Samba-enredo

Não tem jeito! Cubango é uma escola que não cansa de cantar sua raiz africana. Somado ao talento de Pixulé, que também é marcado por grandes apresentações quando o assunto é negritude, o carro de som está entre um dos grandes momentos da agremiação.

Segundo o comentarista do SRzd, Cadu Zugliani, a bateria fez uma ótima apresentação: “Cubango tem um dos melhores sambas desta safra. Andamento excelente escolhido para o desfile. Pixulé muito bem e um Carro de som entrosado, especialmente com as bossas e ajudando a puxar o canto da escola. Letra bem construída e variações melódicas bem interessantes. Segurou bem até o fim do desfile”, disse Cadu Zugliani.

Bateria

A bateria de Mestre Demétrius fez uma bela apresentação, agradando os ouvidos mais atentos. A Ritmo Folgado, manteve a cadência característica da escola, levantando o público das arquibancadas, tocando para o orixá Obaluaie em uma das suas bossas.

Segundo o comentarista do SRzd Cláudio Francioni, a bateria da escola foi um destaque positivo: “A bateria Ritmo Folgado da Cubango fez boas apresentações nos módulos de julgamento, com destaque para a bossa em que todos se abaixavam e somente o atabaque sustentava o ritmo, uma bossa muito arriscada e que deu certo, inclusive comunicando-se bem com o Público. A bateria do Mestre Demétrius em alguns momentos apresentou desencontro rítmico entre marcação, repique e caixas, mas felizmente não foi na frente dos julgadores. No segundo box, lugar onde não há avaliação da bateria, a bateria foi instável. Mestre Demétrius usou toda sua calma e experiência para usar as bossas certas, nos lugares certos. Outro destaque positivo, foi a ala de tamborim, que fez um belíssimo trabalho com o diretor mais novo do carnaval”, afirmou o comentarista.

Harmonia

A Cubango teve o canto um pouco inconstante. Algumas alas cantavam, outras nem tanto. Alinhadas, mas ao mesmo tempo soltas. Porém, faltou um pouco de força e altivez que requer um samba da musculatura do hino escolhido.

Segundo a comentarista do SRzd Célia Souto, a harmonia foi razoável: “Os componentes estavam comprometidos com o canto, demonstraram conhecer bem o ritmo e a melodia do samba, porém faltou mais garra e força no desempenho do canto, o mesmo não soou forte e vibrante”.

Evolução

Não foi uma das grandes apresentações da verde e branca. Assim como a voz da escola, a dança pode ser um problema na Cubango. De forma conjunta, a bateria de mestre Demétrius e o carro de som fizeram o dever de casa, mas, infelizmente, faltou movimento no corpo do cortejo.

Ainda de acordo com Célia Souto, a evolução também não foi um dos pontos altos da apresentação: “A escola apresentou uma irregularidade no início do desfile ocasionando um aceleramento na evolução. No desenvolvimento do desfile houve um maior empenho em uniformizar o entrosamento entre as alas”, pontuou a comentarista

Ficha técnica

Enredo: “Amor Preto Cura”
Presidente: Patrícia Cunha
Carnavalesco: João Vitor Araújo
Intérprete: Pixulé
Mestre de Bateria: Demétrius
Madrinha da Bateria e Rainha da Escola: Maryanne Hipólito e Mariane Marinho
Comissão de Frente: Fábio Batista
Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira:  Diego Falcão e Aline Flôres

Fique por dentro da programação:

+ Ouça os sambas de enredo da Série Ouro 2022

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