A São Clemente previu o fim dos tempos?

28/05/2021 às 20h04 - Por Redação SRzd

São Clemente 1991. Foto: Reprodução do YouTube

“Avancei no tempo
O mundo parou, acabou!
Carnaval festa profana
Satã é o imperador”

Estes são os versos que abrem o samba da São Clemente, simpática escola da Zona Sul carioca, no ano de 1991. E são assustadores não?

De autoria dos compositores Manoelzinho Poeta, Jorge Moreira, Severo, Jorge Melodia e Haroldo Pereira, a música é o tema do enredo: “Já vi este filme”.

Certamente, uma alusão ao governo da época, do “caçador de marajás” da ocasião, o ex-presidente Collor. Eleito em 1989, nesta época, já dava sinais de que não havia sido a melhor escolha…

“Cansado, confiscado, sem saber o que fazer”, dizia outro verso, numa clara referência ao confisco das poupanças e de parte da grana dos brasileiros nas contas correntes.

Na verdade, a São Clemente cumpriu, ao longo de sua história, um papel fundamental na cultura popular, assim como outras escolas de samba; o social. Não só aquele de gerar emprego, de oportunizar um espaço para novos artistas ou promover assistência nas comunidades em que estão inseridas, quase sempre esquecidas pelo poder público. Mas o de fazer pensar, refletir, ter senso crítico.

O desfile, que não foi bem avaliado pelos julgadores, é uma pérola ao mesclar a realidade com uma história ficcional. Mas é também profético, provavelmente, sem intenção.

Ao olharmos em volta, neste 2021, temos a sensação de ter como trilha sonora a lenda clementiana.

“Vendo Clementius novamente no poder
É brincadeira, quá, quá, quá
Pau Brasil que nasce torto
Sempre torto vai ficar”

E quem pode contestar a dura verdade que o trecho final do samba descreve?

+ Se ainda não viu, veja, se já viu, relembre no vídeo da extinta TV Manchete: