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A poeira que subiu foi mais rosa do que verde neste domingo

Mangueira arrasta o povo no final do ensaio técnico deste domingo na Sapucaí

Mangueira arrasta o povo no final do ensaio técnico deste domingo na Sapucaí

Saudações meu povo do samba e do Carnaval! Esse domingo de ensaio técnico foi de pura magia. Nas redes sociais, as torcidas já anunciavam que seria uma noite na “PernamBahia”, pois ensaiariam a Mocidade Independente, com a temática voltada para exaltar as Artes Figurativas do Alto do Moura, em Pernambuco, com o enredo: “Terra do meu céu, estrelas do meu chão”, e a Estação Primeira de Mangueira, com o Carnaval de rua da Bahia e o tema “As Áfricas que a Bahia canta”.

Coração pulsando forte, adrenalina alta, Sapucaí recebendo um excelente público e podíamos ver nitidamente nas frisas e arquibancadas, o “verde e branco” de um lado, e o “verde e rosa”, do outro. Haja coração!

A primeira a fazer seu ensaio técnico foi a “Estrela de Padre Miguel”. Já no esquenta, foram lembrando de memoráveis carnavais como “Vira, Virou, a Mocidade chegou” e “Ziriguidum 2001 – Um Carnaval nas estrelas”.

Bastaram os primeiros acordes para a Avenida em peso vir abaixo cantando e esquentando de vez o ensaio. A Mocidade Independente sonha em voltar a ser a Estrela mais brilhante dessa constelação de escolas de samba. Todos tem muita saudade dos anos 80 e 90, quando dominava plasticamente, com suas propostas de Carnaval.

Uma década Tropicalista e outra High Tech, realmente inesquecível! Hoje, o “povo da Vila Vintém” faz suas apostas na arte do carnavalesco Marcus Ferreira.

No domingo, chegava o momento de mostrar seu samba-enredo no “Templo do Samba”. O ensaio técnico mostrou uma comunidade feliz e orgulhosa, cantando com vontade. Alas com adereços, algumas mostrando as coreografias que vão apresentar no desfile oficial. Tudo bem incorporado à temática nordestina.

Destaque para sua comissão de frente; os componentes estavam com fantasias inspiradas nas vestimentas do povo do Alto do Moura, que trabalha o barro e o transforma em arte, arrancando muitos aplausos. Uma escola muito organizada, sinalizando que quer dar a volta por cima. O samba tem uma belíssima letra, onde em alguns momentos, chega a lembrar uma oração. Recorto como exemplo esta passagem:

“Senhor que fez da arte mundaréu

Em suas mãos Padre Miguel

Concebeu a criação

Plantou sua missão”

A Mocidade sempre vem com belos sambas, basta lembrar o do ano passado, que era considerado, antes do Carnaval, como um dos melhores, senão o melhor, trilha do enredo “Batuque ao Caçador”. Mas com os problemas ocorridos em seu desfile, nada pode ajudar.

Domingo, particularmente, teve momentos que senti a escola muito lenta na sua evolução. Garra e valentia não faltaram a sua comunidade, mas em nenhum momento, conseguiu levar a Sapucaí ao clímax. Soube que no final teve que acelerar o andamento. Que seja ligado o sinal de alerta para sua direção de harmonia e diretoria. Sempre digo que o ensaio técnico é para isso, identificar problemas.

Claro que todos nós gostamos de elogios, sem dúvidas, mas que isso fique para o final do seu desfile oficial, com tudo saindo perfeito no domingo de Carnaval.

A próxima escola a se apresentar era ela, a Estação Primeira de Mangueira. Momento em que o coração do público presente já pulsava no ritmo da “Tem que respeitar meu tamborim”.

Todos com grandes expectativas, afinal, é aquela agremiação que é considerada “a maior escola de samba do planeta”. Esse ano, trás o enredo inspirado na história do Carnaval de Rua da Bahia, dos carnavalescos Annik Salmon e Guilherme Estevão.

Amigos, o alvoroço começou já na entrada da bateria. Todos vestidos com trajes que lembravam a Banda Timbalada, shorts verde e rosa, descalços e pintura tribal no corpo. Na frente dos ritmistas, estava sua Rainha de Bateria, Evelyn Bastos, personificada de Oyá. O público veio abaixo, alucinados com a energia trazida do Carnaval baiano. Quando começou o esquenta, ah, que esquenta!

Minha gente! A Mangueira lembrou o samba campeão de 2019, “História para ninar gente grande”, que já fez a Avenida sacudir. Finalizando, o samba: “Exaltação à Mangueira”, que em seus versos diz:

“Todo mundo te conhece ao longe

Pelo som dos seus tamborins

E o rufar do seu tambor”

Chegou a Mangueira, a Mangueira chegou! A poeira definitivamente subiu, e era de pura magia e encantamento. Quando o intérprete oficial começou a cantar o samba de 2023, “o bagulho ficou muito doido”!

Amigos, o samba-enredo de Mangueira é altamente combustível! A medida que a escola evoluía com suas alas, seus componentes pareciam estar possuídos, foi uma catarse! Que ensaio técnico foi esse Mangueira? Estou aqui com dificuldades em traduzir em palavras a química ocorrida na Sapucaí. Só posso dar os parabéns a todos os envolvidos, em especial a sua comunidade, que cantou, sambou, chorou e nos emocionou do início ao fim de seu ensaio técnico. Termino, citando três frases desse samba-enredo, que coloriu a todos em verde e rosa, na noite de domingo:

“Sou eu, Mangueira, flecha da evolução”

“Quando o verde encontra o rosa, toda preta é rainha”

“O samba foi morar onde o Rio é mais baiano”

Jaime Cezário é arquiteto urbanista, carnavalesco, professor e pesquisador de Carnaval.

Começou sua carreira como carnavalesco no ano de 1993, no Engenho da Rainha. Atuou em diversas escolas de samba do Rio de Janeiro, entre elas, a Estação Primeira de Mangueira, São Clemente, Caprichosos de Pilares, Paraíso do Tuiuti, Acadêmicos do Cubango, Leão de Nova Iguaçu e Unidos do Porto da Pedra. Fora do Rio, foi carnavalesco da Rouxinóis, da cidade de Uruguaiana, e União da Ilha da Magia, de Florianópolis.

Em 2007 e 2008 elaborou o trabalho de pesquisa que permitiu a declaração das escolas de samba que desfilam na cidade do Rio de Janeiro como Patrimônio Cultural Carioca, junto da Prefeitura do Rio de Janeiro e do IRPH, o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.

Em 2013, a fantasia da ala das baianas – criada por Jaime para o Carnaval de 2012 para a Acadêmicos do Cubango –, entrou para o acervo permanente do Museu de Arte Moderna de Iowa, no EUA.

Essa fantasia está exposta no setor dedicado as festas folclóricas da América Latina e representa o Carnaval das escolas de samba do Brasil. Esse feito fez de Jaime o primeiro carnavalesco a ter uma obra exposta em acervo permanente num museu internacional.

Crédito das fotos: divulgação
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do portal SRzd


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*Atualizada às 21h58

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