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2023, Mestre-Sala e Porta-Bandeira: o desejo sublime de brilhar

Laryssa Victória. Foto: SRzd – Leandro Milton

Eu começo a minha escrita com uma felicidade verdadeira: eu vi a eterna Squel Jorgea, porta-bandeira que tanto nos alegrou com seu bailado impecável, desfilando a convite da GRES Unidos da Viradouro, no grupo de mulheres negras lideranças femininas que lutam pela afirmação de seu legado e equidade em nosso país, em um tributo à Rosa. Squel, belamente trajada com a fantasia: “O Brasil de muitas Rosas”. Squel, sambista, mulher de lutas e de muitas construções, uma rosa para todos apreciarem. Fantástico!

Eu posso dar parabéns a Rodrigo França e Laryssa Victória, ao casal da GRES Porto da Pedra, competentes, que portaram com singeleza e harmonia o sagrado pavilhão da escola, receberam nota máxima dos julgadores e o título de casal campeão da Série Ouro.

Eu vi a G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense, campeã do carnaval 2023! Parabéns ao belíssimo casal, Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro, que executou o bailado de forma atualizada, preservando os movimentos característicos e fez a apresentação do pavilhão de forma muito elegante. Foi lindo de apreciar! E, eu vi que, a magia, as vezes se faz em dose dupla: a linda Laryssa Victória, foi novamente campeã, pois portou o segundo pavilhão da Imperatriz!

Eu vi Jackson Senhorinho e Manoela Cardoso, casal que eu acompanhei, porque fui convidada por eles para compor sua equipe, e que muito me orgulhou durante todo o tempo em que estive com eles, pela intensa dedicação, empenho, zelo com o bailado e principalmente com o pavilhão da SRES Lins Imperial. Um luxo de casal que me encantou plenamente. Vê-los tão de perto, uma aproximação tão íntima me fez extremamente feliz! Uma entrega de corpo e espírito, muita garra, plena de paixão pela arte do samba. Todos os julgadores lhes atribuíram nota 9,9. E atentos, já estão aguardando para saber os motivos que levaram os julgadores a lhes tirar os décimos valiosos.

As apresentações para nota acabaram. As notas foram dadas e, agora, vamos aguardar as justificativas para os décimos descontados dos sagrados casais que fervorosos, se dedicaram ensaiando, preparando seus corpos e suas emoções para com garbo e cortesia, desfilarem portando seus pavilhões! Todos igualmente sagrados, por portarem seus pavilhões.

Eu vivo esta ansiedade junto com cada um, pois tive a honra de portar um pavilhão. E sei, não só a grande responsabilidade assumida, mas, também sobre o desejo sublime de brilhar na trajetória entre o momento em que se atravessa a linha de início de desfile até se transpassar a linha de fim de desfile. O que pensam os julgadores sobre sonhos e desejos de um casal de mestre-sala e porta-bandeira? O que sabem os desfilantes sobre as emoções de cada um que porta um pavilhão de uma agremiação de samba? O que espera a plateia ao apreciar uma performance de um casal durante aqueles incríveis minutos nos quais, aquele par divino transcorre o sagrado solo do sambista?

Cada casal que ali se apresenta, traz para a avenida o sonho de sua comunidade: daqueles que já se foram, dos presentes e dos que ainda estão no porvir, quem sabe, já ansiosos pelo momento mágico de ver sua escola desfilar.

A nota importa, ela decide um campeonato, mas, não podemos ignorar que, o mais valioso para o coração do sambista é ver, no dia do desfile, na cabeceira de sua escola de samba, o seu casal de mestre-sala e porta-bandeira, pomposo, elegante em seus trajes, emocionado por portar o glorioso pavilhão – a esperança que uma comunidade inteira lhe confiou-, para diante dos olhos do mundo, apresentar a sua história bordada.

Meu coração disparou a cada nota lida! E ficava pensando qual seria o motivo para se descontar os pontos de cada par. Na expectativa do que poderei ler nas justificativas, eu busco a calmaria. Todos os casais são nota máxima, o bailado apresentado é a escritura poética do amor que eles têm por suas comunidades, representadas por seus pavilhões. O mesmo amor que Sidclei Santos e Marcella Alves transbordam pelo Salgueiro, para o qual colheram neste desfile, os 40 pontos, todos os demais o trazem dentro de seus corações, em todos os momentos nos quais portam seus pavilhões, em especial o do desfile, e também deixam esse amor se esparramar pela avenida!

Desfile do Salgueiro 2023. Foto: Leandro Milton/SRzd
Desfile do Salgueiro 2023. Foto: Leandro Milton/SRzd

Eu me emociono sempre e muito! E digo, se a nota for máxima, parabéns! Todavia, a maravilha que me toca é esta de apreciar em cada casal, que com majestade e zelo, tanto daquele que gabaritou, tanto dos que, por algum percalço perdeu algum ponto, a magia e o encantamento de trazer para a avenida o bailado do mestre-sala e porta-bandeira para louvar e bendizer seu pavilhão. E destaco aqui, o casal da GRES União da Ilha do Governador, Thiaguinho Mendonça e Amanda Poblete, por seu empenho e a alegria, pela entrega presente em seus corpos dançantes, que apreciei deslizando pela passarela.

Desfile da União da Ilha 2023. Foto: Leandro Milton/SRzd
Desfile da União da Ilha 2023. Foto: Leandro Milton/SRzd

E mais, a atitude do casal da GRES Portela, cuja indumentária lhes causou um “susto’ durante o desfile, de vir a público conversar com sua comunidade e com todos os sambistas, dividindo sua tristeza pelo ocorrido, que tendo lhes custado a perda de pontos, não retirou o brilho e orgulho de bailando, conduzir o pavilhão da escola.

E então, parabéns a todos os casais! e parabéns especial a Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro da Imperatriz Leopoldinense e do Porto da Pedra, a Rodrigo França e Laryssa Victória ( porta-bandeira duplamente campeã!) pela vitória de sua agremiações, neste desfile 2023!

Eliane Santos de Souza é professora e pesquisadora do tema: dança, dança do samba, bailado do mestre-sala e porta-bandeira. Lecionou, como substituta, no curso de Bacharelado em Dança da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ. É Doutora em Arte pelo PPARTES-UERJ com a tese: Daqui de onde te vejo: reflexões de uma porta-bandeira sobre o mestre-sala, com publicação em formato de livro com o mesmo título. É Mestre em Ciência da Arte- UFF com a dissertação: Uma semiologia do samba: O bailado do mestre-sala e da porta-bandeira. Ainda é especialista em Educação pela Universidade Federal Fluminense, Docente do Ensino Fundamental e especializada em Educação Infantil. Porta-bandeira aposentada, é apoio, orientadora e apresentadora de casais. Foi membro de comissões julgadoras do quesito mestre-sala e porta-bandeira, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, São Paulo e Uruguaiana.

Crédito das fotos: portal SRzd
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do portal SRzd

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