Perfil: Gabriel Gomes, o passista que nasceu para sambar

Imagine um artista que desde pequeno demonstrasse aptidão para ser um dia um grande passista. Imaginou? Pois é, ele cresceu, mas não tanto assim, afinal, só tem hoje 19 anos de idade. Mas chegou lá! Estamos falando de Gabriel Gomes da Silva, nascido no dia 19 de março, do signo de peixes.

Quem olha aquele rapaz sorridente, simpático, operador de telemarketing na empresa Legião da Boa Vontade, nascido e criado no Morro da Formiga, onde morou por 18 anos da sua vida, e hoje residente no bairro de Oswaldo Cruz, não tem ideia o quanto ele samba.

Ele samba “muiiiito”, diriam os cariocas com o sotaque arrastado.

“Minha família já tem um grade histórico dentro da Império da Tijuca. Minha avó foi uma das baianas mais dedicadas às festividades da escola [podendo-se dizer que a Império seria sua segunda casa], minha mãe foi porta-bandeira da escola por anos e, por sinal, muito bem premiada, e sou afilhado do atual mestre da Bateria Sinfonia Imperial, o Paulinho”, recorda com emoção.

“Todos os meus primos já fizeram parte da escola e comigo não seria diferente. Em 2005, foi meu primeiro ano na Império da Tijuca, integrando na ala das Crianças com a Tia Lucia Ignácio e Vânia Martins. Sempre gostei de sambar junto com os passistas, e Marcia Vitorino sempre me deixando dar ‘uma palhinha’.

Mas em 2009, com Magno Show, iniciei minha carreira como passista, cargo no qual me mantenho até a presente data junto com meu coordenador queridíssimo Odimar Silva”, conta.

Gabriel Gomes deixa claro que, sem amor, sem emoção, nada é bem feito. “Império da Tijuca pra mim é mais do que um escola do coração. Eu não sei definir o que eu sinto por esta bandeira. É um amor de outras vidas. Com o passar dos anos, foi me despertando um grande interesse de conhecer um nova agremiação. Até que, no final do ano de 2013, fui ao teste para ser passista na Unidos de Vila Isabel e me juntei à malandragem de Noel. Foram dois anos consecutivos e muito intensos”.

Gabriel Gomes. Foto: Alex Nunes
Gabriel Gomes. Foto: Alex Nunes

Dado o extraordinário talento “nato”, não chega a ser surpresa o avanço da carreira: “Em janeiro de 2014, recebi um convite do coordenador Alex Coutinho para fazer parte da ala de passistas do Paraíso do Tuiuti e não medi esforços. Me juntei onde também tive uma passagem de dois anos e reencontrei um grande amigo chamado Wallace Azevedo, que me intimou no ano de 2015 ser passista dele na ala de passista da São Clemente e não neguei o convite”.

Após a passagem do Carnaval de 2015, Gabriel Gomes chegou a conclusão que a sua vida estava muito corrida e decidiu que ficaria na sua escola de coração [Império da Tijuca] e a Unidos de Vila Isabel, que também tem dois coordenadores que ele considera “maravilhosos” que são Edson Cunha e Claudinha Chocolate. “Eles são amigos que levarei pro resto de minha vida”, se derrete.

Mas o destino reservou a Gomes mais emoções. Ele próprio faz questão de contar o que aconteceu. “O gênio Carlinhos Salgueiro fez uma divulgação para a vaga masculina que estava disponível e, por achar grandioso o seu trabalho, tentei uma oportunidade. Disposto a ser passista do Salgueiro, foram semanas ou meses de avaliação, mas não desanimei e me mantive forte no meu foco e ciente que, mesmo se não tivesse essa oportunidade, levaria todo aquele aprendizado para sempre”.

Repare como é a vida. No dia de um dos testes, Carlinhos chamou Gabriel e fez aposta que mudaria sua vida:

“Amanhã tem apresentação do Salgueiro, na Estácio, e quero levar você comigo para avaliar sua performance numa apresentação, dê o melhor de si, pois sua vaga esta na sua mão”.

São daqueles desafios que a perna treme e as mãos (ou os pés?) ficam suadas: “Confesso que fiquei muito tenso, nervoso, até que chegamos na quadra da Estácio e, antes que iniciasse a apresentação, ele reuniu toda a ala e me anunciou como passista do Acadêmicos do Salgueiro. Só eu sei o quanto foi emocionante fazer parte deste elenco que, sem desmerecer as outras alas, é um dos melhores do Carnaval carioca”.

Falemos um pouco de filosofia. O que será que sambar representa para este jovem talento, hoje já consagrado por quem realmente entende do riscado?

“Resumo a dança do samba na minha vida como ‘TUDO’, porque através dela tive grandes oportunidades que muitos passistas sonham em ter, mas um conselho que eu entrego a todos os passistas é ‘aprendam a respeitar seus colegas de trabalho como gostariam de ser respeitados’. Todos nós somos passistas, somos guerreiros e batalhadores, então, o mínimo que pode existir entre nós mesmos é o respeito”.

George Gomes tem fé? O rosto se abre, volta o sorriso largo e a cabeça abaixa um pouco para refletir melhor: “Sou grato a Deus por cada conquista que tive no samba, por cada passagem, cada experiência e minha mãe por sempre ter acreditado em mim. Jamais vou desistir. Não posso esquecer que a educação que a minha mãe me deu: ‘é para todos os lugares’, ‘é pro resto da vida’, porque a educação é o passaporte pra qualquer lugar”.

Agora, vocês conhecem um pouco mais de Gabriel Gomes, o garoto que sempre teve jeito para passista. Hoje é uma realidade, e, tudo indica, tem cabeça no lugar. O futuro está aberto para este menino crescer mais. Só depende dele.

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