LUPA Carnaval: o protagonismo dos enredos na terceira noite de desfiles do Grupo de Acesso Virtual 2020

A terceira noite de desfiles do Grupo de Acesso do Carnaval Virtual, nesta sexta-feira, foi marcada pela força das grandes histórias contadas na passarela, cada uma à sua maneira. A série de análises elaboradas pelos integrantes da Liga Universitária de Pesquisadores e Artistas de Carnaval da UFRJ (LUPA Carnaval) discorre sobre os destaques de cada agremiação.

Em uma agradável e correta exibição, com destaque para seu samba-enredo, a Império da Alegria abriu a terceira noite de desfiles cantando para “Logun Edé – Menino doce mel, meio Oxóssi, meio Oxum”. Segunda escola a cruzar a passarela virtual, a Unidos de Franco da Rocha defendeu o enredo “Cocanha, um Paraíso pra lá do Inferno – 520 Anos de Brasil” numa apresentação interessante, que teve justamente nas boas sacadas da irreverente narrativa do enredo o seu destaque positivo.

Na sequência, a Tradição Imperial desfilou com o enredo “Prepara, roda, trava e senta… A Pornochanchada vai começar”. A proposta ousada e autêntica, no entanto, acabou contando com um desenvolvimento visual burocrático e menos transgressor do que aquilo que o texto suscitava. A Nação Imperial desfilaria em seguida com o enredo “‘Libertas quae sera Tamen’, a Nação Imperial canta as Minas Gerais”, numa apresentação regular e sem grandes momentos de brilho na homenagem ao importante estado brasileiro.

Ungidas, desfile 2020.

Quinta escola, a Ungidas realizaria o melhor desfile da noite até então, na condução do maravilhoso enredo “Triste fim do cidadão médio”. A brilhante narrativa que relacionava eventos da nossa história recente contou com criativas soluções estéticas, propiciando uma leitura clara e coesa da proposta. Coroando a arrebatadora apresentação, o melhor samba-enredo da noite: bonito melodicamente e irreverente na menção às alegorias políticas do enredo. E cantando em louvação à força feminina com “Mil Mulheres, em Uma”, a Praia da Brisa no entanto acabaria entregando na sequência um desfile abaixo dos demais nos aspectos visuais e também nos musicais.

A próxima escola virtual seria a Astro Rei da Folia, com o enredo “Bolos para a Rainha do Céu, quem não comeu que se lambuze”. A instigante proposta narrativa, apesar de não ter tido uma leitura tão clara visualmente, foi representada por um conjunto lindíssimo de alegorias e fantasias. Quem também realizou um belo desfile em termos visuais foi a Deixa de Truque, que cantou “Bem-vindo a Korkovado” em uma apresentação onde a própria originalidade da narrativa foi o destaque principal.

A Acadêmicos de Madureira foi a nona agremiação virtual a se apresentar, cantando para a grande dama do samba brasileiro em “Dona Ivone Lara, uma joia rara”. Como destaques positivos, a relevância máxima da homenageada e o desempenho do belíssimo samba-enredo. Em seguida, a Império de Niterói realizou um bom desfile abordando as histórias de bruxaria com o enredo “Malleus Maleficarum”, especialmente pela autenticidade da proposta e por sua comissão de frente, uma das mais impactantes da noite.

Me Chama Que Eu Vou, desfile 2020.

A Me Chama Que Eu Vou brilhou na avenida virtual na homenagem a um dos maiores ícones do universo carnavalesco, com “Milton Amado Cunha – O Fabuloso Paraense que Nasceu para Brilhar”. Com uma excelente exibição visual e um ótimo samba, o desfile teve como ponto alto a facílima leitura do enredo. Já a Eldorado do Samba trouxe em “Quem quer brincar de boneca neste carnaval? Histórias que vão dar o que falar” um divertido tributo aos bonecos: uma apresentação mais simples, porém leve como o tema pedia.

A penúltima escola da noite foi a Acadêmicos da Primavera, que com o enredo “Salve Jorge! – O Santo Guerreiro encontra os Dragões da Avareza” driblou alguns problemas visuais com o competente desempenho de seu samba-enredo. E encerrando com chave de ouro, a Saudade narrou divinamente o enredo “Engula-me com o mar do seu olhar tal como Quebradeira”, premiando os que permaneceram até o fim dos desfiles com uma apresentação visual excepcional, um ótimo samba e uma arrebatadora comissão de frente. A profundidade da proposta narrativa impulsionou um deslumbrante desfile, coroando a escola como a melhor da noite.

Saudade, desfile 2020.

Sem dúvidas, o quesito enredo, protagonista absoluto nas apresentações, foi o responsável pelo êxito da maioria dos desfiles nesta terceira noite. Das alegorias políticas inteligentemente utilizadas à poeticidade dos discursos profundos, as escolas virtuais comunicaram em muitos sentidos e se fizeram ouvir. Apostar no poder das mensagens se provou um excelente negócio para a folia das telinhas.

 

Texto elaborado coletivamente pelos pesquisadores da LUPA Carnaval (@lupacarnaval):

Ayrã de Oliveira Ribeiro (Licenciando em Letras pela UFJF, professor de Interpretação de Texto e Literatura no GARRA Cursinho / Juiz de Fora – MG e pesquisador-artista da LUPA Carnaval)

Gabriel Henrique Caldas Pinheiro (Bacharel e Licenciado em História pela UFRJ, professor, idealizador e pesquisador-artista da LUPA Carnaval)

Ricardo da Silva Ferreira (Licenciando em História pela UFRJ, professor e pesquisador-artista da LUPA Carnaval)

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