Laíla e suas forças ocultas na terra e no céu, por Sidney Rezende

Laíla abre o sorriso. Está feliz da vida na Ilha. Foto: SRzd

Chegou o dia de dar adeus ao mestre, uma das lendas do Carnaval brasileiro.

Laíla e eu nos dávamos muito bem. Sempre foi assim. Certa vez ele me pediu um favor pessoal, algo particular, e que não me custava atendê-lo. Para ele aquilo teve grande significado. E dali para frente foi uma das melhores fontes.

Eu sempre soube com antecedência tudo o que envolvia o seu nome e a grande festa do país. Ele dizia que confiava na nossa amizade. E provava isso na prática. Um exemplo: a sua saída da Beija-Flor. Um rompimento muito dolorido. Laíla ficou profundamente triste por ter sido fritado internamente.

Laíla não compreendia porque o presidente de honra da escola, Anísio, transferira o poder ao filho Gabriel David – e prepostos – e não optou por uma transição mais cuidadosa e lenta. Por que? Nem os santos lhe ajudaram a explicar este enigma.

No pescoço de Laíla circundavam vários colares de proteção com o propósito de fechar o corpo e trazer luz para o caminho a ser trilhado. Mas a mágoa de sair da escola de Nilópolis ultrapassou tudo isso como se fosse uma fumaça invisível.

No Barracão em que ele trabalhava na Cidade do Samba, tinha um altar com imagens que eram o retrato do sincretismo religioso tão vivo nos  lares pobres do Brasil.

A real expressão da fé de Laíla nas religiões de matriz africana. Mas seus santos não deram respostas para perguntas que o levaram embora, e muito menos evitaram que um vírus perverso interrompesse a vida de um mais um talentoso expoentes da cultura popular brasileira. Muito obrigado por tudo, Laíla.

E que Deus e os seus santos cuidem da sua alma.

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