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Cubango faz desfile digno e dá um recado: ‘Meu chão é mais forte do que tudo’

“Versando Nogueira nos 100 anos do ritmo que é nó na madeira”. Foi com este título que a Acadêmicos do Cubango cruzou a Marquês de Sapucaí, sendo a segunda escola da Série A a desfilar na noite deste sábado (25). Fez uma homenagem a João Nogueira, sambista e compositor ligado à Portela.

Foto: Jeanine Gall

O enredo, de autoria de Cid Carvalho e com pesquisa do jornalista Fábio Fabato, foi desenvolvido pelo carnavalesco Lúcio Sampaio. O SRzd Carnaval acompanhou que, desde o início dos trabalhos, a verde e branca de Niterói enfrentou diversos problemas relacionados à questão financeira, que culminou até mesmo na saída do talentoso Cid Carvalho, além de atrasar a confecção das alegorias no barracão. A escola, porém, não deixou se abater e deu um recado a todos através de um desfile plasticamente simples, porém, bem resolvido e digno: “A nossa comunidade, o nosso chão é maior do que tudo”, exclamou Olivier Luciano Vieira, o presidente Pelé.

Tensão na concentração e emoção ao ver um trabalho de ano inteiro passar dignamente

O SRzd acompanhou a aflição dos componentes, inclusive do carnavalesco e sua equipe de aderecistas, em tentar finalizar a parte plástica ainda na concentração. Segundo informações apuradas pelo portal, a Prefeitura de Niterói teria repassado uma verba de R$ 300 mil para o Carnaval da escola. Isto porém, teria acontecido em três etapas e a última parcela só teria sido paga na tarde da última sexta-feira (24) e em cheque, o que, segundo depoimentos, teria prejudicado ainda mais o difícil momento da agremiação.

Mesmo sem receber, a equipe de artistas ainda assim teria aceitado finalizar as atividades e dar à Cubango um desfile digno. Um grupo, porém, não teria entrado em acordo e ameaçou não finalizar a parte de iluminação dos carros alegóricos caso a escola não pagasse uma quantia de R$ 20 mil. O dinheiro chegou em cima da hora e, aparentemente, o problema teria sido resolvido. Na Avenida, porém, a iluminação funcionou precariamente, talvez sendo o ponto mais baixo do desfile.

Foto: Jeanine Gall

Samba, carro de som e bateria

No geral, a Cubango teve bons quesitos. A começar do samba, considerado um dos melhores da safra deste ano na Série A. Entoado pelo intérprete Hugo Júnior e seus companheiros de carro de som, recebeu muitos elogios de comentaristas do SRzd: “O samba funcionou muito bem. A escola cantou e isso emocionou. É um belo samba!”, afirmou o comentarista Carlos Fernando Cunha, que em seguida fez apenas uma ponderação: “O carro de som teve alguns problemas  técnicos: estalos e microfonias”.

Foto: Jeanine Gall

A bateria de Mestre Demétrius foi outro ponto alto: seus 260 ritmistas levam o mérito, o que pode culminar, segundo o comentarista Bruno Moraes, até mesmo nos 40 pontos dos jurados.

Foto: Jeanine Gall

Comissão de frente simples e bem resolvida

A comissão de frente da Cubango veio representando a resistência negra, com a fantasia intitulada “Através do espelho, do sonho à realidade”. Quinze componentes coreografados pelo casal Hélio Bejani e Beth Bejani deram o tom. Com figurino simples e bem acabado, houve também homenagem a João Nogueira e à Portela. Em alguns momentos, uma águia-drone saía de dentro de um tripé em forma de tambor, arrancando aplausos do público.

Foto: Jeanine Gall

O comentarista Márcio Moura opinou sobre o trabalho dos Bejanis: “Hélio e Beth trouxeram para a Avenida um grupo de bailarinos que passavam do figurino  formal ao de gafieira com uma troca de roupa que levantou o público.  A troca dos malandros à frente do público não comprometeu o espetáculo graças à desenvoltura dos bailarinos.  Três deles  vestidos de africanos faziam a ponte para o aparecimento de um drone com a águia, símbolo da Portela”, complementou.

Foto: Jeanine Gall

Primeiro casal nota dez segundo Mestre Dionísio

A Cubango teve mais um quesito forte, segundo o comentarista Mestre Dionísio. Foi o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, representado por Diego Falcão e Jackeline Gomes. Ao SRzd, o mestre, ofegante, resumiu o que viu: “Foi dez! Que apresentação maravilhosa. Não tenho mais nada a comentar”. O casal desfilou com fantasia que remete às raízes africanas: promoveram um grande encontro com a ancestralidade do nosso povo.

Foto: Jeanine Gall

Abre-alas  também exaltou resistência

No abre-alas, a Cubango trouxe a resistência do negro através de rituais ligados à cultura, tal como o samba e outros aspectos. Veio em tons marrons e com um boneco em movimento no centro da alegoria. Uma iluminação simples destacava os principais pontos deste carro.

Foto: Jeanine Gall

No segundo setor, foi citada a fundação do Clube do Samba e seus espetáculos como “Orquestra Tabajara”, “Malandros e Cabrochas” e “Mineira Guerreira”, este último em homenagem à Clara Nunes. A cantora também foi lembrada na ala de baianas, composta por 50 mulheres vestidas a caráter: uma bela fantasia com direito à enorme peruca.

Foto: Jeanine Gall

O segundo carro mostrou o próprio Clube do Samba. Bastante colorido, com mulatas e outros itens que fazem referência ao gênero samba. O ponto fraco deste momento foi a iluminação, que passou parcialmente apagada.

Foto: Jeanine Gall

No terceiro setor, a Cubango tratou a religiosidade de João Nogueira. A alegoria correspondente a este momento era belíssima, em tom prateado e com muitos anjos. Mas, também houve problema na iluminação.

Foto: Jeanine Gall

A escola encerrou seu desfile com uma belíssima homenagem à Portela. O quarto carro veio com uma águia prateada, anexada ao trem de Madureira. Ao redor, vários componentes da azul e branca, entre velha-guarda, passistas e outros sambistas de coração portelense, inclusive o atual presidente Luiz Carlos Magalhães.

Foto: Jeanine Gall

Sobre alegorias e fantasias

A Cubango cumpriu de forma bela a missão de desfilar, mesmo sem dinheiro para investir em materiais mais luxuosos. As fantasias, bastantes simples, tiveram bom acabamento, tal como os carros alegóricos: com tamanhos um pouco abaixo do que a escola costuma apresentar, passaram de forma bastante clara o enredo proposto. Plasticamente, também estavam satisfatórios. O único entrave na nota dos jurados pode ser a iluminação em alguns deles, que deixou de funcionar e que pode comprometer em tal quesito.

A escola terminou o desfile com 49 minutos, dos 55 previstos pelo regulamento. Ou seja, dentro do tempo, sem correria e sem problemas de evolução. Uma curiosidade é que a bateria optou por não fazer o segundo recuo, na Avenida Salvador de Sá. Passou direto. Vale ressaltar que a parada não é obrigatória e cada agremiação tem o poder de decidir se quer ou não realizar a parada.








Foto: Jeanine Gall


Rodrigo Trindade

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Rodrigo Trindade
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